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A Psicologia como alternativa de intervenção no judiciário

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ESTUDOS SOBRE FAMÍLIAS: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA E DAS

2.1.5 A Psicologia como alternativa de intervenção no judiciário

Em linhas gerais, a Psicologia, atrelada às práticas jurídicas no Brasil, tem seu surgimento recente, data da década de 80, no Tribunal de Justiça de São Paulo. Um grupo de psicólogos voluntários acompanhavam pessoas encaminhadas pelo próprio Tribunal, a fim de dar suporte quanto às questões relacionadas aos conflitos familiares, objetivando principalmente a permanência da criança no seu lar. A consolidação da profissão se deu em 1985, quando foi apresentado um projeto à Assembleia Legislativa, criando o cargo de Psicólogo Jurídico (CESCA, 2004).

Não cabe nesse espaço dar atenção ao surgimento da Psicologia no âmbito jurídico, mas considerar sua importância e contribuições nas demandas de conflitos familiares que chegam à justiça. O próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) reconhece a importância da equipe interprofissional composta por profissionais de Psicologia, Serviço social e Pedagogia, cabendo ao poder judiciário elaborar uma proposta que garanta recursos para manutenção do assessoramento da equipe (BRASIL, 1990).

Em Pernambuco constatou que há concordância entre a posição tomada no parecer psicológico e a decisão judicial, em torno de 70% dos processos que envolveram violência sexual intrafamiliar. Cabe salientar também que, na maioria dos relatórios analisados, além de concordar com o parecer técnico, as autoridades (juízes, advogados, promotores) se utilizaram dos argumentos contidos nos relatórios para embasar o posicionamento adotado (SANTANA, 2009).

A partir destes dados é possível dimensionar a importância dos conhecimentos “psis” dentro do universo da justiça. Sobre essa atuação, Costa, Pesno, Legani e Sudbrack. (2009) afirmam que a performance do psicólogo jurídico foi delineada em torno da perícia e do assessoramento judicial. Hoje, tem-se um trabalho voltado ao estudo psicossocial, o que indica um afrouxamento das fronteiras entre o psíquico e o social. Em uma perspectiva mais complacente, o diálogo entre a Psicologia e o Serviço Social possibilitou às instâncias decisórias ampliação compreensiva nas questões de cunho criminal e demais conflitos.

Miranda-Júnior (1998), em uma perspectiva psicanalítica, afirma que é preciso ultrapassar o reducionismo da prática pericial. Ao conceder o espaço de escuta, o psicólogo abre possibilidade para que o sujeito elabore novos significados na sua relação com a lei simbólica e com a lei jurídica.

O que vem a ser, então, o ofício do profissional de Psicologia dentro das Varas de Família e Varas de Infância e Juventude? Segundo Silva (2003, p. 39) o objetivo do Psicólogo Jurídico é

[...] destacar e analisar os aspectos psicológicos, das pessoas envolvidas, que digam respeito a questões afetivo-comportamentais da dinâmica familiar, ocultas por trás das relações processuais, e que garantam os direitos e o bem- estar da criança e/ou adolescente, a fim de auxiliar o juiz na tomada de uma decisão que melhor atenda às necessidades dessas pessoas.

Miranda-Júnior (1998) afirma que os processos de litígio familiar são recorrentes no cotidiano do Psicólogo Judiciário. Questões mal resolvidas entre o ex-casal, em geral relacionadas a uma separação malsucedida, se revertem no relacionamento com os filhos e se materializam nas ações de guarda, acusações reciprocas em que os filhos, em segundo plano,

passam a ser objeto de negociação. Nesses contextos, o psicólogo deve realizar intervenções que desconstruam o litígio, abrindo espaço de escuta para ambas as partes. Sem que haja uma intervenção clínica, o litígio poderá perdurar mascarado em diversas ações judiciais intermináveis.

Há ocorrências em que os pais não se permitem dialogar, nesses casos a melhor intervenção é focar na criança, posto que elas podem se contrapor ao conflito dos pais na tentativa se se isentar dos danos subsequentes. Infelizmente são casos raros, visto que na maioria das vezes os filhos entram em uma dinâmica de se aliar a um dos pais (MIRANDA- JÚNIOR, 1998).

Costa et al. (2009, p. 238) afirmam que um dos maiores desafios no trabalho com famílias em conflito é promover transformações e atitudes no casal, em vista do melhor interesse da criança.

O limite entre compreender os sentimentos e necessidades de cada um e a solicitação de que esses aspectos sejam colocados de forma clara nos pareceres sobre a guarda ou a regulamentação de visitas, entre outras questões, tem sido relatado pelos técnicos como gerador de muito sofrimento.

É nesse sentido que as intervenções psicossociais devem ultrapassar as barreiras judiciais e adentrar em seu papel terapêutico, com vistas a gerar possibilidades para que os pais encontrem a melhor maneira de retomar suas funções parentais. Segundo Costa et al. (2009) o papel terapêutico baseia-se em uma mudança de paradigmas, na qual o conceito de culpabilização da família transforma-se em responsabilidade conjunta perante os filhos. No que concerne aos processos de disputa de guarda, não há ganhadores nem perdedores, mas pessoas que precisam consolidar a responsabilização conjunta sobre o bem-estar dos filhos.

A atenção do profissional de Psicologia deve estar centrada nas relações que a família estabelece com os parentes extensos, nas narrativas criadas frente ao contexto e a potencialidade de criar novos caminhos ante os desafios da nova rotina familiar, uma vez que a discussão está na reorganização do sistema familiar (COSTA et al., 2009).

Portanto, nos encontros e desencontros entre a Psicologia e o Direito, o grande desafio é encontrar um caminho no qual as duas disciplinas possam trabalhar conjuntamente na constante busca de melhor atender ao bem-estar da população. Para tal, há de haver mudanças nas formações tanto dos profissionais psis, quanto nos operadores da lei. Estas terão que abarcar uma concepção de justiça que englobe o cuidado e a cidadania (COSTA et al., 2009).

2.2 O DESENVOLVIMENTO EM PAUTA: CONFLUÊNCIAS ENTRE A PSICOLOGIA