• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II- O DESAFIO DO PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO E A

2.3 A qualidade de vida como resultado da certificação

Segundo Pelicioni (1998), a abordagem sobre qualidade de vida pode estar relacionada a partir de vários fatores. Aqui, no entanto, se limitará no que se refere a alimentos orgânicos e agroecológicos e o retorno benéfico da certificação dos mesmos. A qualidade de vida estudada a partir da certificação pode estar dentro do determinante material, ao qual pode incluir a auto “sustentação”, a economia privada e a renda.

A relação que existe entre os benefícios da produção agroecológica e os benefícios que a certificação dessa produção trás, é muito tênue, fazendo com que isso reflita sob diversos setores da vida social das pessoas. Para melhor entender, um alimento certificado pode significar muito, como a garantia de alimento seguro e de origem agroecológica.

Para a Organização Mundial de Saúde (1998, p.31 apud Pelicioni 1998, p.22) “qualidade de vida reflete a percepção dos indivíduos de que suas necessidades estão sendo satisfeitas e que eles não têm negadas oportunidades para atingir a felicidade e a plenitude, com relação ao status físico de saúde, ou as condições sociais ou econômicas”. Em tal sentido, para o trabalho tem-se tomado como base o conceito que menciona a OMS (1998) e, fazendo assim uma correlação com a agroecologia.

A abordagem torna-se ampla na medida em que relacionamos o tema com a questão da presença de agrotóxicos nos alimentos e o risco para a saúde,

tanto do agricultor quanto do consumidor. Nesse sentido cabe ressaltar, segundo um estudo realizado pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), que, “um terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado pelos agrotóxicos, segundo análise de amostras coletadas em todas as 26 Unidades Federadas do Brasil”. ABRASCO (2012, p. 15). Portanto, a relação qualidade de vida e alimentação está diretamente ligada, pois a saúde e bem-estar passa por essa instância.

A partir desse estudo pode-se fazer uma análise crítica no sentido de como é importante os indivíduos terem acesso a informação e poderem fazer suas escolhas alimentares de maneira digna e satisfatória no sentido de qualidade alimentar. Mesmo que seja difícil esse processo, a informação é fundamental e, auxilia nas escolhas alimentares.

Segundo Batalha (2000), a preocupação em relação a alimentação

saudável está cada vez mais ressaltada na sociedade, fazendo com que haja mudanças no modo em que os produtos alimentícios são produzidos ao longo da cadeia produtiva, ou seja, alguns produtores rurais já estão buscando mudar de racionalidade em busca de uma produção que melhor se adapte à demanda atual. O debate acerca da produção agroecológica vem ganhando destaque, por ser uma produção que tende a preservar o meio ambiente, focando na produção de alimentos saudáveis. Para Caporal (2009, p.9) “desde muito tempo a sociedade vem buscando estilos de agricultura que sejam menos agressivos ao meio ambiente e capazes de proteger os recursos naturais, assegurar maior longevidade...]”.

Frente a esse debate não é difícil constatar os retornos que a produção agroecológica pode trazer em relação à qualidade de vida do agricultor e do seu entorno, nesse sentido, (AZEVEDO 2004, apud Schottz 2014, p. 6), destaca que “a diversificação da produção, associada à utilização de técnicas de manejo sustentável do solo e dos recursos hídricos e à baixa dependência de insumos externos, garante a produção de alimentos saudáveis e nutritivos”. Dessa forma também podemos constatar que, o agricultor não dependendo tanto de fatores externos para sua produção, terá menores custos produtivos, deduzindo um fator custo benefício viável em sua produção.

Dentro desse contexto, podemos também fazer uma conexão do debate da certificação e seus retornos para a qualidade de vida. Segundo Santos (2005),

a descentralização da CPR, traz vantagens no processo produtivo, como a diminuição dos custos, pois ser uma produção que se aproxima mais do consumidor, além de respeitar a realidade local e reforçar o conhecimento. Por outro lado, a certificação também entra como coadjuvante, pois uma vez que o agricultor é detentor de uma produção agroecológica, que, não possui altos custos produtivos e, ainda possui o privilégio de certificar, acaba somando no sentido de qualidade de vida. Pois um fator está relacionado com o outro. Portanto, a certificação é garantia de qualidade e somente se dá, se a produção for agroecológica ou orgânica.

Para Elaine Azevedo (2012), nutricionista, diante do estudo de caso que analisou a partir de agricultores familiares orgânicos no interior de Santa Catarina, a mesma pôde elucidar as complexas relações sobre qualidade de vida no meio rural, por outro lado também evidenciou como uma estratégia, a prática da Agricultura Familiar Orgânica, onde essa, portanto, contribui na construção dos valores sociais nesse meio ao mesmo tempo promove qualidade de vida.

Diante do que representa a Rede Ecovida de agroecologia, nota-se que, as relações sociais que se estabelecem em relação a troca de experiências e conhecimentos, se torna um esforço conjunto em busca de um objetivo comum, o fortalecimento da certificação, da produção agroecológica e, sobretudo da qualidade de vida. Perez (2012).

Para o agricultor Giovani L. C. que faz parte da Rede no interior do munícipio de Foz do Iguaçu, “os benefícios da certificação vão além do econômico, significa a própria qualidade de vida”.

Em se tratando de uma abordagem tão significativa em termos de saúde para a população como um todo, a produção de alimentos com conotação saudável, vem somar de modo positivo, ainda que, em tempos tão conturbados em relação ao demasiado uso de agrotóxicos. Segundo a ABRASCO (2012, p. 15) os dados da ANVISA confirmam que, “[...nos últimos dez anos, o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, o mercado brasileiro cresceu 190%. Em 2008, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e assumiu o posto de maior mercado mundial de agrotóxicos”.

Nesse sentido, a luta a favor da produção de alimentos sem agroquímicos, dos benefícios que essa pode trazer e dos mecanismos de controle, tornam-se

fundamentais para a concretização e expansão da agricultura mais sustentável e menos agressiva tanto para a natureza quanto para o ser humano.

Correlacionando qualidade de vida num contexto agroecológico, Ana Maria Primavesi, precursora da agroecologia no Brasil, lembra o seguinte: “ O segredo da vida é o solo, porque do solo dependem as plantas, a água, o clima e nossa vida. Tudo está interligado. Não existe ser humano sadio se o solo não for sadio e as plantas, nutridas”. Primavesi nos remete, claramente então, à uma conexão que existe entre natureza equilibrada, produção saudável de alimentos, igual ser humano saudável. (Cherubini, 2012, s/p).

Os produtores rurais que fazem parte da rede, de modo geral, demonstram todo esse compromisso com uma produção alimentar que respeita os princípios agroecológicos e estão em constante busca do aperfeiçoamento e do conhecimento aliado aos retornos benéficos dessa produção.

Pode-se dizer que esses agricultores se encaixam no conceito de qualidade de vida que Forattini (1991, p.23) menciona, “qualidade de vida, em sua essência, se traduz então, pela satisfação em viver”. O mesmo autor ainda destaca que:

O estado de satisfação ou insatisfação constitui na verdade, experiência de caráter pessoal e está ligado ao propósito de obtenção de melhores condições de vida. O grau de ajustamento às situações existentes, ou então, o desejo de mudança, poderão servir para avaliar a presença ou ausência de satisfação. (FORATTINI, 1991, p. 23). Portanto, é importante compreender que, cada agricultor reage de forma diferente às diversas situações que podem ocorrer no interior de sua propriedade rural, se adaptando melhor ao que para ele é satisfatório.

CAPÍTULO III- NÚCLEO FOZ DO IGUAÇU DA REDE ECOVIDA:

Documentos relacionados