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A QUEM CABIA OS SERVIÇOS POLICIAIS

No documento danielletristaobittar (páginas 68-72)

A primeira lei que tratou dos serviços policiais foi a Lei Imperial de 1º de outubro de 1828 e dizia em seu artigo 66: “Terão a seu cargo tudo quanto diz respeito à polícia, (...) pelo que tomarão deliberações”, delegando às Câmaras Municipais o exercício do poder de

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Homem, com mais de 25 anos de idade e que comprovasse renda mínima. Em uma sociedade escravista, o voto censitário excluía a maioria da população.

polícia76. Os chamados “homens bons” podiam nomear juízes, julgar pequenos delitos e cuidar do patrimônio das cidades.

Em 1834, a Lei Imperial nº 16, uma espécie de emenda à constituição do Império, delegou às Assembleias Legislativas Provinciais a competência para legislar sobre a polícia e a economia municipal, criando as Forças Policiais.

Em 1840, a Lei Imperial nº 105, de 15 de novembro, definiu o termo polícia, ficando as atividades de polícia judiciária a cargo dos magistrados, em especial dos juízes de paz. “O juiz de paz era, de fato, a autoridade policial local, condição que permaneceu até a década de 1840” (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2008, p. 36)

Considerado um juiz “policial” pelas atribuições administrativas, policiais e judiciais, o juiz de paz eleito acumulava amplos poderes, até então distribuídos entre as várias autoridades – juiz ordinário, almotacés e juiz de vintena – ou reservado aos juízes letrados...(FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2008, p. 35)

A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada pela Assembleia Nacional Francesa, logo no início da revolução (1789-1799), já impunha um sistema de segurança, separando a polícia da magistratura.

O processo de criação das polícias foi condicionado pela realidade social e econômica da época, permanecendo alguns elementos que tiveram suas origens no período colonial. A história da Polícia Civil está intimamente relacionada com a história da Polícia Militar e da justiça. Não havia uma delimitação entre as atividades executivas e judiciárias, nem uma polícia profissional e uniformizada. De acordo com Mariano (2004), as forças policiais demonstravam características de polícia judiciária e investigativa, antes mesmo da República. O intendente-geral era um juiz com funções de polícia. “Nessa fase da história do Brasil, os serviços policiais e jurídicos se confundiam...” (JOÃO PINHEIRO, 2008, p. 23)

No Brasil, esse formato ainda vigorou até 1841. Com a promulgação da Lei nº 261, de 03 de dezembro de 1842, foi criada a figura do delegado e subdelegado de Polícia, escolhidos entre os cidadãos e que passavam a ter as atribuições criminais e policiais, antes pertencentes aos juízes de paz. A primeira tentativa de mudança no sistema jurídico foi a criação da função de Chefe de Polícia, marcando uma linha divisória entre as duas instituições.

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Direito que tem o Estado de limitar o exercício dos direitos individuais, a liberdade e a propriedade, em benefício do bem-estar coletivo.

O Decreto nº 120, de 1842, passou a dar real prestígio ao Chefe de Polícia da província, concedendo maiores poderes e autoridades a este. Autorizou a criação de uma Secretaria de Polícia na Corte e em cada uma das províncias, sendo a de Minas Gerais situada em Ouro Preto. Esta foi instalada em uma sala exclusiva, na própria casa do Chefe de Polícia. Trata-se da semente a partir da qual se desenvolveu a Polícia Civil que conhecemos.

O decreto consagrou a divisão das funções policiais em Polícia Administrativa, quando agia na prevenção do crime (vigilância e prevenção de desordens, termos de

segurança e bem-viver77, evitar e dispersar ajuntamentos ilícitos e sociedades secretas,

repressão à vadiagem e mendicância, cumprimento das posturas municipais, inspecionar prisões, teatros e espetáculos públicos, além de regimentar a Secretaria de Polícia, as prisões, dar instruções aos delegados, organizar mapas e fazer relatórios de estatística criminal,

arrolamento78, enfim manter a qualidade a qualidade e a segurança públicas) e Polícia

Judiciária, quando atuava para trazer o criminoso ou infrator à sanção penal (diligências necessárias para investigação de crimes comuns, como corpo de delito, levantamento de provas, conceder fianças provisórias, proceder à prisão de culpados, fazer buscas e

apreensões, além do julgamento de alguns crimes, degredo79, desterro80, casa de correção ou

oficina pública). Essas alterações são consideradas os alicerces da Polícia Civil que temos hoje.

A organização policial também sofreu mudanças com o advento da Lei n° 233, de 20 de setembro de 1871, que estabeleceu novas regras, acabando de vez com a fusão entre as autoridades judicial e policial, dando aos chefes de polícia o poder de reunir provas e de indiciar suspeitos relacionados a algum desvio. A reforma aumentou os poderes e o prestígio dos delegados e subdelegados, mas nada fez para conferir-lhes independência. O sistema judicial foi ampliado, de forma que os inquéritos deveriam ser entregues à justiça para a decisão final.

A reforma judiciária do Império institucionalizou essa “mistura” de atribuições, criando em 1871, por meio da Lei n 2033, de setembro de 1871 (regulamentada pelo Decreto n 4824, de 22 de novembro do mesmo ano), o instituto do inquérito policial, que conferiu natureza inquisitorial à investigação preliminar realizada pela autoridade policial. (MARIANO, 2004, p. 22)

77 Instrumento de punição de indivíduo de vida desqualificada. 78

Inventariar partilha de bens de pessoa falecida.

79 Afastamento imposto judicialmente como punição de um crime grave. 80 Expatriação, exílio, deportação.

O decreto de 1889 passou a responsabilizar os governos estaduais pela manutenção da ordem e segurança públicas, defesa e garantia da liberdade e dos direitos dos cidadãos. A atribuição de legislar e regulamentar a área competia então aos estados, configurando as forças públicas quase como exércitos estaduais.

...responsabilizava os governos estaduais pela manutenção da ordem e segurança públicas e pela defesa e garantia da liberdade e dos direitos dos cidadãos. (art. 5º) Autorizava ainda aos governos estaduais a criação de guardas cívicas para o policiamento de seus territórios (art. 8º) (MARCINEIRO, 2007, p.22)

A diversidade de responsabilidades e atribuições era uma situação que continuava a atingir a PCMG, mais especificamente em relação à sua identidade e missão institucionais. O Chefe de Polícia tinha as mais variadas competências, dentre elas, emitir passaportes; cuidar de mendigos, loucos e embriagados; vigiar o deslocamento das pessoas e fiscalizar diversões públicas. Essas funções antecedem a criação da PCMG.

O volume de atividades e a diversidade das áreas de atuação levaram à transformação da Chefia de Polícia em Secretaria de Assistência e Segurança Pública, em 1926. Ela deixou de se vincular à Secretaria do Interior para adquirir maior autonomia e poder político.

A instituição ganhou contornos específicos no período republicano. “A expressão “Polícia Civil” aparece oficialmente na administração pública do Estado no relatório de 1924,

enviado pelo presidente de Estado, Raul Soares81 (1922-1924), à Assembleia Legislativa.”

(FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2008, p. 21) Tal designação foi usada para distinguir-se da antiga “Força Policial”.

Nessa época, a PCMG era formada pelo Chefe de Polícia e seus delegados, advindos da elite política, que trabalhavam nas delegacias distribuídas pelos municípios do estado, acompanhados de um escrivão, e em alguns casos, com o auxílio de investigadores, agentes de polícia, peritos, médicos legistas e carcereiro, cargos criados no império. “... refere-se no período imperial, ao chefe de Polícia, delegado, subdelegado, investigador, agente de polícia e carcereiro, cargo criado ao longo dos anos em diferentes contextos...” (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2008, p. 21)

81 Pertenceu ao Partido Republicano Mineiro (PRM).

No documento danielletristaobittar (páginas 68-72)

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