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3 A SEGURANÇA PÚBLICA NO URUGUAI

3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA SEGURANÇA PÚBLICA URUGUAIA

3.2.1 A questão dos municípios no campo da prevenção da violência

A República Oriental do Uruguai compõe-se de 19 Departamentos, que no Brasil equivalem aos Estados Membros da Federação e, quanto ao poder local, em março de 2015 o parlamento uruguaio aprovou a criação de 23 novos municípios, passando dos 89 existentes anteriormente para os 112 atuais.

Há uma peculiaridade na estruturação dos municípios no Uruguai, pois através da Lei nº. 18.567, de 13 de setembro de 2009, foram criadas naquele país novas entidades territoriais chamadas de “municípios”, sendo que isto implicou uma mudança na denominação das instituições governamentais departamentais, uma vez que antes dessa lei as denominações “departamentais” e “municipais” eram usadas de maneira quase indistinta. Outra peculiaridade reside no fato de que atualmente apenas os Departamentos de Montevidéu, Canelones e Maldonado, (capital, área metropolitana e região turística respectivamente), possuem todo o seu território coberto por municípios, por serem os mais populosos e necessitarem de um foco maior de atenção de políticas públicas locais em razão de terem os mais altos índices criminais e/ou terem essas incidências em constante ascensão.

O atual regime legal adotado para a criação de municípios uruguaios tem recebido apoios de um lado e fortes críticas de outro. Os defensores dessa mudança consideram muito válido que este “terceiro nível de governo” se junte à administração departamental e nacional, descentralizando funções e criando uma importante atividade democrática e um fórum de discussão permanente e participativo com o poder local, visando a implantação de políticas públicas efetivas

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e pontuais, inclusive no campo da segurança pública, já que o aumento da criminalidade é motivo de grande preocupação no país.

Por outro lado, as principais críticas acerca desta normatização atual são: a) os órgãos municipais estão totalmente subordinados aos departamentos; b) os municípios não possuem orçamento e nem recursos fiscais próprios; c) falta de funcionários locais, pois os que desempenham as funções são cedidos pelos Departamentos; d) a qualificação deste terceiro nível de governo que deveria ser dos municípios têm sido questionada, porque, mesmo tendo eleições próprias, estão integrados a estrutura de administração departamental e subordinados a ela; e) no atual formato de criar e gerenciar os municípios estão sendo infringidas normas constitucionais uruguaias; e f) não há garantias de que a implantação dessas políticas públicas no âmbito municipal venham a reduzir a violência e a criminalidade ou as desigualdades entre os departamentos.

A estruturação dos 112 municípios nos 19 Departamentos nos apresentam situações bastante diversificadas, pois alguns tem quase 30 entes municipais, como é o caso da região metropolitana de Canelones (com 29), enquanto que outros tem apenas um ou dois municípios, como é o caso de Flores com um, Durazno e Treynta e Tres com dois municípios cada, mais a peculiaridade de alguns espaços departamentais não pertencerem a nenhum município, não sendo atingidos por ações comunitárias e implantação de políticas públicas locais, o que demonstra que a questão municipal ainda não é pacificada no Uruguai.

Por outro lado, a divisão dos municípios que compõem a capital do país é única e peculiar (conforme estrutura orgânica dos oito governos municipais representados na figura 4), além do fato de seus habitantes não se sentirem moradores da cidade “A”, “B”, “C” ou “D”, ou de pertencerem apenas a um “Centro Comunitário Zonal” (CCZ) numerado, para onde suas demandas são encaminhadas e as questões locais discutidas de forma participativa e sim da grande metrópole que é Montevidéu.

A figura 4 que apresenta a estrutura orgânica dos 8 governos municipais e seus respectivos CCZ de Montevidéu, num total de 18, sendo que cada zona está regida por uma junta, um governo local, diretamente ligados a um municipio que é comandado por um Alcalde (função que no Brasil é exercida pelo prefeito), e os “Consejales” (os vereadores), todos eleitos por voto direto dos cidadãos na mesma data em que se elegem os Intendentes das Juntas Departamentais. Este processo

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de descentralização municipal dos serviços em Montevidéu, busca a participação de todos os cidadãos, a proposição de políticas públicas pontuais e necessárias àquela zona ou comunidade, a integração política, além da responsabilidade na tomada de decisões de forma conjunta, numa iniciativa que se deu nos anos 1990, através do Decreto nº 26.017/93 e vêm se mantendo até os dias atuais. Há também os conselhos de bairro que se reúnem em organizações sociais e cooperativas, visando o controle e a fiscalização das ações dos governos locais e o encaminhamento de pleitos decididos conjuntamente por aquelas comunidades.

Figura 4: Estrutura orgânica dos oito governos municipais de Montevidéu e seus respectivos Centros Comunitários Zonais (CCZ)

Fonte: Organograma da Estrutura Orgância Governos Municipais de Montevidéu. Disponível em: http://www.montevideo.gub.uy/institucional/transparencia/organigrama. Acesso em: 02.05.2015

Acerca da não competência dos municípios para atuação no campo da segurança pública alguns técnicos uruguaios pesquisados assim se manifestaram:

Rafael Paternain, ex-Sociólogo do Ministério do Interior, Professor do Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais da Udelar e autor de vários livros sobre a atual situação da segurança pública no Uruguai, em entrevista no dia 27/02/2014, informou que os municípios uruguaios, no que tange à segurança agem de acordo com o que lhes é determinado pela Chefatura de Polícia Departamental local, que coincide com a circunscrição política daquele Departamento, sem poder de polícia nenhum, considerando que os policiais que lá atuam pertencem à Polícia Nacional. Destacou que o município pode atuar apenas administrativamente no gerenciamento das questões de trânsito como multas e estacionamentos, ressaltando que nem se cogita a municipalização da segurança

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pública ou dar poder de polícia a estes agentes municipais de trânsito. Os municípios, na sua grande maioria, são pequenos e deficitários em termos de autonomia e de políticas públicas no campo da segurança. Destaca que há corpos militarizados dentro da polícia nacional, como o caso da Guardia Republicana, que atua em todo o território uruguaio, inclusive nos municípios mais longínquos e fronteiriços, de acordo com a necessidade. Não há nenhum corpo municipal de polícia no país e o que se têm discutido é um aumento de poder local em função da lei de criação de novos municípios, mas nada relacionado exclusivamente à segurança pública, apenas se pensando em algumas estratégias próprias e peculiares de cada departamento ou município, como por exemplo, a questão turística no Departamento de Maldonado (Punta del Este e Piriápolis) e a questão fronteiriça nos Departamentos de Rivera, Cerro Largo (Rio Branco e Aceguá) e Rocha (Chuy). Acredita que no Uruguai não vai prosperar a carreira de Guardas Municipais como está ocorrendo no Brasil, até porque a Constituição uruguaia proíbe taxativamente este poder dado exclusivamente à Polícia Nacional, instituição da qual os uruguaios gostam e confiam bastante. (PATERNAIN, 2014).

Outro pesquisado, Alejandro Vila, Cientista Político do Ministério do interior, mestre e doutorando na temática de segurança pública junto à Udelar, se manifesta de forma semelhante, negando a existência de qualquer movimento de implantação de políticas municipais de prevenção à violência ou envolvendo questões de segurança pública, dizendo que simplesmente não há e nem vai haver, considerando ser um país pequeno, um estado unitário, onde os municípios ainda estão se estruturando, com pouca autonomia e buscando espaço de poder local. Que a Polícia Nacional já é suficiente, pois além de cada Chefatura Departamental há a Guardia Republicana, que é uma espécie de polícia de choque e especializada em grandes eventos e situações de risco que atua nacionalmente, onde houver necessidade, inclusive em pequenos municípios e na fronteira com o Brasil. (VILLA, 2014).

Conclui-se este ponto, sobre a estrutura da polícia e órgãos de segurança no Uruguai, com a visão de que, diferentemente do Brasil, que contava com 5.570 municípios (segundo IBGE, em agosto de 2015) e onde há um movimento crescente no sentido de implantar políticas municipais de prevenção à violência, já se conta com experiências precursoras nesta área, inclusive com o fortalecimento das Guardas Municipais brasileiras com a recente aprovação do seu Estatuto Geral

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(Lei nº. 13.022, de 08 de agosto de 2014), no Uruguai os municípios não tem estas atribuições e prerrogativas no campo da segurança pública, considerando haver uma única polícia, que é nacional, conta com o reconhecimento da populaçao e não haver guardas municipais e nem se pensar na sua criação.