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A racionalidade e a intencionalidade no comportamento informacional

Johnson (2009) apresenta e leva ao debate várias teorias, conforme observa- se na Figura 2. O autor detalha seu posicionamento nos quadrantes (Q1, Q2, Q3 e Q4) formados pelos motivos para se evitar ou adquirir informação (eixo vertical) e pelas razões para a ocorrência do comportamento em informação de modo acidental ou intencional (eixo horizontal). Em suma, Johnson (2009) alerta que o estado da arte do processo de busca de informação tem o lado racional praxiológico coberto, mas não se tem uma compreensão abrangente de todos os quadrantes possíveis.

Observando a Figura 2, percebe-se que o eixo vertical é determinado pela relação da pessoa com a informação, com necessidades de informação frequentemente caracterizadas por estados motivacionais internos (CASE, 2006), mostrando se as pessoas desejam adquirir informações em uma extremidade ou estão motivadas para evitá-la, na outra. O eixo horizontal é determinado pela relação da pessoa com o suporte da informação e mostra se o encontro com a informação é proposital ou acidental (CASE, 2006).

O eixo vertical, segundo Johnson (2009), está fundamentalmente associado a questões de motivação e desejo, os motores geradores de busca de informação. Ainda segundo o autor, a aquisição geralmente é privilegiada nas culturas ocidentais, com ações vistas como mais virtuosas do que a passividade, duas palavras-chave na definição de comportamento humano em informação de Wilson (2000).

Figura 2 – Mapa do comportamento humano em informação

Fonte: Elaboração própria (2018), adaptado de Johnson (2009).

Pesquisas inseridas nesse eixo vertical reconhecem um espectro de definições de comportamento informacional, dentre eles, Wilson (2000), Case (2007; 2012), Fisher e Julien (2009), concebendo-o como busca ativa de informações, esforços conscientes, objetivos intencionais, busca motivada para solução de problemas, busca de informações semi-dirigidas, escolha de fontes de informação, preferências por fontes. A busca ativa de informações também está associada à mudança potencial, à questão central das pesquisas organizacionais no campo da administração, pois os processos de busca ativa podem levar os indivíduos a serem

muito mais receptivos a qualquer informação que adquiram, resultando em maior probabilidade de ganho de conhecimento, mudança de atitude ou mudança de comportamento (JOHNSON, 1996). Um corolário importante disso é a persistência obstinada até que uma resposta de alta qualidade seja encontrada como o comportamento de busca ideal, observa Jonhson (2009). Este é também o reino da curiosidade – e até da obsessão.

Há também que se considerar o uso de modelos, como o processo de busca de informação de Kuhlthau (1991; 2004) que geralmente se encontram no quadrante 2 (Q2). O modelo centrado no indivíduo leva em consideração os sentimentos, pensamentos e ações que ocorrem durante os estágios de iniciação, seleção, exploração, formulação, coleção e apresentação (KUHLTHAU, 1991; 2004). Também os modelos de fluxogramas são restritos ao Q2.

Esses modelos clássicos de fase ou etapas quase sempre enfrentam problemas de forma empírica, uma vez que as pessoas não se engajam em abordagens ordenadas, sequenciais e mecanicistas dos problemas, avalia Johnson (2009). Outra fraqueza, segundo esse autor, é que assumem que as fontes profissionais autorizadas são as primeiras consultadas. Esses modelos oferecem interpretações racionais para problemas irracionais e, como resultado, não capturam a "florescente confusão" do mundo real (JOHNSON, 2009).

Assim, os quadrantes à direita (Q2 e Q3) centram-se na questão subjacente da intencionalidade, na extensão em que os indivíduos têm abordagens racionais de seu comportamento em relação aos suportes, um componente central do comportamento em informação (CASE, 2007). O lado direito do continuum horizontal subentende teleologia (explica a busca de informação pelo propósito que ela serve, explica a finalidade da busca) e um propósito para selecionar suportes, em particular. Os quadrantes à esquerda (Q1 e Q4) refletem aleatoriedade, acaso e destino. Qualquer exposição a informações úteis deste lado do continuum é vista como fortuita e casual. Na concepção de Johnson (2009), as pesquisas na CI são mais orientadas para os quadrantes superiores (Q1 e Q2) da Figura 2; sobretudo o Q2, que se concentra na busca de informações que trata, na sua própria definição, da aquisição intencional de informações. Nos quadrantes abaixo da linha horizontal (Q3 e Q4 da Figura 2), poucas tentativas foram feitas para desenvolver conceitos mais abrangentes (CASE et al., 2005).

Contudo, determinar vínculos claros e ligados a fatores contextuais oferece o potencial de mover a pesquisa de busca de informações a partir do nível descritivo para um nível teórico mais explícito. Assim, à medida que os pesquisadores ampliaram suas pesquisas sobre busca de informação, eles entenderam que pode haver uma gama mais ampla de comportamento em informação. Além disso, tem havido uma apreciação crescente dos três problemas teóricos centrais e emergentes que qualquer desenvolvimento promissor que a teoria de comportamento em informação deve enfrentar: contexto, ignorância e irracionalidade.

2.3.2 Evitar a informação e a irracionalidade no comportamento informacional

No outro extremo do continuum do eixo vertical tem-se o comportamento de evitar a informação, visto como uma atitude quase covarde ou, no mínimo, preguiçosa (JOHNSON, 2009).

Embora a busca de informações organizacionais tenha sido um foco tradicional da CI, Savolainen (1995; 2005) chamou a atenção para a variedade de domínios em que a busca de informações ocorre em nossas vidas no dia a dia. Essa atenção aumentada é refletida no International Information Seeking in Context Conferences (DERVIN, 1997). Essencialmente, esse movimento argumenta que uma visão ampliada dos contextos em que ocorre o comportamento em informação pode aprofundar a nossa compreensão (SAVOLAINEN, 1995). Também serve para sugerir os elementos ativos que podem servir como os fundamentos essenciais de explicações de contingência mais sofisticadas. Ao fazer isso, as coisas que não mudam de contexto para contexto destacam o que pode ser o invariante, o núcleo, o cerne essencial do comportamento em informação.

Uma concepção específica de um contexto de informação é a do campo de informação dentro do qual o indivíduo está incorporado (COOL, 2001). O campo de informação de um indivíduo fornece o ponto de partida para a busca de informações. Segundo Cool (2001), representa o arranjo típico dos estímulos de informação a que um indivíduo é exposto regularmente. De certa forma, na análise de Jonhson (2009), a totalidade dos campos de informação de alguém faz menção ao seu capital social, na medida em que descreve os recursos que um indivíduo precisa recorrer ao se confrontar com um problema. Quanto mais contextos sociais, políticos, econômicos

ou legais compartilham pessoas e organizações, mais perto elas estão e é mais provável que elas estejam conectadas, relacionadas a determinados objetivos.

Todavia, o campo do comportamento em informação ainda enfrenta o pressuposto de que o comportamento em informação é altamente racional e dirigido a objetivos, observam Spink e Cole (2006). Na análise de Johnson (2009), a racionalidade pode estar no cerne de alguns dos "pressupostos duvidosos" incorporados na literatura articulada por Dervin (1976): há informações relevantes para cada necessidade, sempre é possível disponibilizar ou acessar a informação e as pessoas fazem conexões fáceis e sem conflitos entre informações externas, "objetivas" e sua própria realidade interna. Ou seja, segundo Jonhson (2009), a racionalidade reflete essencialmente motivos, causas e explicações aceitáveis e muitas vezes está profundamente enraizada nas tecnologias. Igualmente, para outros pesquisadores, o racional subentende pensar, pesar, refletir, enquanto a irracionalidade reflete intuições, emoção e subjetividade (NAHL; BILAL, 2007).

Como já vimos antes, grande parte da busca de informação da literatura ainda é baseada na redução da incerteza (KUHLTHAU, 2004), essencialmente uma redução dirigida (CASE, 2005) para atingir uma meta ou uma necessidade de informação, uma abordagem de solução de problemas, que é aceita como fundamentalmente racional. Esta é a força subjacente das lacunas de informação do estado anômalo de conhecimento de Brookes (1980)11F

12. Nessas visões, a mera ignorância, por si só, não

é tipicamente um motivador para a busca de informações. As pessoas só são motivadas a buscar informações quando elas sabem que são ignorantes e as informações que faltam se tornam salientes (JONHSON, 2009).

Outras teorias desafiam a racionalidade convencional ou pelo menos sugerem a necessidade de uma compreensão mais ampla disso, para articular motivos subjacentes menos racionais para a busca de informação. Jonhson (2009) cita o Princípio do Menor Esforço de Zipf (1949). Quanto menos esforço se gasta, menor probabilidade de se decepcionar ou arrepender com a escolha feita, com

12 Brookes (1980) contribuiu para a construção do Paradigma Cognitivo, que tem como principal objeto

de análise as estruturas de conhecimento dos usuários de informações. Na teoria do Estado Anômalo de Conhecimento (Anomalous State of Knowladge – ASK), Brookes (1980) defende que a busca por informação tem origem numa necessidade ou situação problemática no estado de conhecimento do indivíduo. Logo, para suprir esta necessidade, a pessoa se apropria da informação necessária para construir um novo conhecimento ou modificar um conhecimento já existente, e, desse modo, preencher as lacunas que estavam em aberto.

maximizadores que dedicam o esforço ideal mais propensos a estarem deprimidos, infelizes, arrependidos e pessimistas (SCHWARTZ, 2004). Com maior esforço também vem maior responsabilidade pelas escolhas e pelos erros, afirma esse autor. De fato, ignorar pode ser uma estratégia muito racional, como pode ser o emprego do menor esforço para chegar a uma resposta. Do mesmo modo, as informações que ameaçam enfrentar o desempenho do trabalho podem não ser procuradas (ASHFORD; BLATT; VANDEWALLE, 2003).

Jonhson (2009) alerta que é necessária uma compreensão mais profunda da racionalidade para contestar alguns achados comuns na literatura sobre busca de informação. Alguns pesquisadores tendem a assumir que as pessoas irão gastar muita energia para atacar problemas importantes e, também, para assegurar a qualidade das fontes e das respostas – mas elas claramente não o fazem assim (CASE, 2006; JOHNSON 2009). Muitas vezes a acessibilidade das fontes é determinante fundamental do seu uso (BATES, 2005), mesmo para engenheiros altamente racionais. E a maioria dos buscadores vai parar de procurar quando descobrem a primeira resposta plausível à sua consulta. Pode, de fato, ser profundamente racional preservar a ignorância, para experimentar seus muitos benefícios (JOHNSON, 2009).