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1 A COMUNICAÇÃO SOCIAL NO BRASIL: os interesses do capital,

1.3 AS DEMANDAS POR UMA RADIOFUSÃO HUMANA E O PODER

1.3.2 A radiofusão comunitária: uma história de luta

Ousar. Resistir. Transmitir Sempre, foi o slogan do Congresso Nacional da ABRAÇO NACIONAL, em Brasília, em 2010 e que demonstra o sentido da história das emissoras comunitárias brasileiras; começaram ousando, enfrentando problemas com resistência, conseguem hoje transmitir em todo o Brasil,em número superior às emissoras comerciais.

O surgimento das rádios comunitárias ficou marcado por dificuldades que permanecem até hoje, mesmo depois da regulamentação. Momesso (2008, p. 51) recorda o percurso histórico da radiofusão comunitária:

historicamente o uso de tecnologias aplicadas à comunicação pelas organizações de trabalhadores, pelos movimentos sociais e mesmo pelo povo de forma geral tem se caracterizado por ser marginal ou subversivo, ou ambos simultaneamente. Marginalidade em parte decorrente da desigualdade na distribuição da riqueza, o que dificulta o acesso aos meios técnicos, e em parte pelo seu domínio, ou pela falta de compreensão de sua importância. Subversiva porque o seu acesso, quando possível especialmente a partir de organizações de trabalhadores ou populares, é sistematicamente dificultado pela ação direta e indireta das classes dominantes, através de suas organizações classistas, de suas empresas, principalmente de comunicação, que desenvolvem persistentes campanhas ideológicas objetivando criminalizar esse acesso aos meios tecnológicos. Mais contundentemente e violento é o ataque que essas classes promovem através do Estado, que para isso utiliza a legislação e o sistema repressivo, além da constante ação ideológica e dos grupos de pressão sobre as instâncias de governo.

Momesso (2008, p. 82-91), em diálogo com Bourdieu (1997), observa de forma enfática e direta:

Tudo isso pode parecer bem abstrato; vou repeti-lo mais simplesmente. Em cada um dos campos, o campo universitário, o campo dos historiadores etc., há dominantes e dominados, segundo os valores internos do campo. [...]. Chego bem depressa ao exemplo da política. O próprio campo político tem certa autonomia. Por exemplo, o parlamento é uma espécie de arena no interior da qual se vai regular, pela linguagem e pelo voto, segundo certas regras, certo numero de disputas entre pessoas que supostamente exprimem interesses divergentes ou mesmo antagônicos.

Apesar dos problemas e entraves ao seu desenvolvimento, as rádios comunitárias são mais representativas, hoje, do que na sua origem clandestina, em termos numéricos; a radiofusão comunitária expandiu-se, como vamos verificar no quarto capítulo desta pesquisa, em tabelas e gráficos. Entre outras informações, o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2006) afirma que as rádios comunitárias cresceram.

O rádio no Brasil, segundo a pesquisa, continua constituindo um importante veículo de informação e cultura, com diferenças marcantes entre regiões e estados. A novidade é a existência das rádios comunitárias, encontradas, conforme a pesquisa, em 48,6% dos municípios brasileiros, superando as estações comerciais de rádio FM (34,3%) e AM (21,2%).

É importante notar que no Brasil e, com maior destaque para Pernambuco, em relação ao número de veículos (incluindo rádios FM/AM, entre outros) as emissoras comunitárias representam, relativamente a cada um deles, um maior percentual. Ao compreender esse quadro constatado pelo IBGE (2006), percebe-se a força da radiofusão comunitária em termos de cobertura do Estado de Pernambuco. Portanto é com facilidade que entende-se o (os) porque(s) da invasão desse campo pelos políticos, grandes empresários e instituições religiosas.

No ponto em que se encontra a radiofonia nacional, é impossível negar o sentido que resulta da ação das grandes corporações de mídia sobre os meios de comunicação, tem revelado, de forma recorrente, que a política de concessões, apesar de ter dados alguns passos na direção de melhorias, ainda é incipiente para o desenvolvimento da radiofusão comunitária. Entre as melhorias o Governo criou, 2011, o Plano Nacional de Outorgas da Radiofusão Comunitária (PNO).

O Plano Nacional de Outorgas 2012-2013, em consonância com a Norma nº 1/2011, aprovada pela Portaria nº 462, de 14 de outubro de 2011, tem um duplo objetivo: contemplar, em avisos de habilitação, tanto as cidades onde ainda não existem emissoras outorgadas, quanto aquelas em que há uma demanda reprimida para a prestação do serviço (AGÊNCIA ABRAÇO, 2013).

O problema, entretanto, não se resolve com o PNO, há, ainda, outras questões principalmente aquelas ligadas ao emperramento da burocracia da máquina estatal, que mantém engavetados um número altíssimo de processos de autorização e renovação de outorgas. Não há, a rigor, um plano de desenvolvimento da radiofusão comunitária que contemple, por exemplo, uma ação nacional de formação e especialização dos radiofusores; não, nem um simples esboço indicando a decisão de elaborar um plano no sentido de aportar recursos técnicos e financeiros que objetivem a sustentabilidade e qualidade de produção dessas emissoras.

Como já foi referido, em relação à democratização da comunicação, há ainda muitas questões sem resposta; por exemplo: é lamentável que depois de tanto tempo de atraso, tenha sido realizada a I Conferência Nacional de Comunicação em 2009 e, até este momento, quatro anos depois, a única medida tomada nesse sentido, foi a campanha da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), veiculada pelas rádios públicas, pedindo que as propostas da I CONFECOM saiam do papel.

A radiofusão comunitária coloca-se como uma força mobilizadora e mediadora das ações que possam caracterizar a elevação social humana dessas comunidades periféricas. Entretanto, não se pode efetuar esse corte – produtor da superação imediata – sem recorrer à história do desenvolvimento social, à época do surgimento dos primeiros meios, caminhando par e passo com a sociedade civil, para compreender o contexto com qual nos deparamos no campo da comunicação social. Um recuo na história da comunicação, como foi visto no detalhamento de Sodré (1966) em diálogo com Momesso (2008, p. 52),

Dizemos historicamente porque já com o surgimento da imprensa, no nascer do capitalismo ainda mercantilista, a nobreza e o clero trataram logo de limitar e controlar o uso dessa inovação técnica revolucionária através da censura e da instituição do Index de livros proibidos e do controle imperial da tipografia. Mas naquele contexto, o parque gráfico se desenvolvia por toda a Europa, no formato das empresas capitalistas, cujos proprietários constituíam a burguesia que se insurgia. [...] O desenvolvimento do capitalismo trouxe também o crescimento da classe operária, que começou a desenvolver suas lutas e constituir suas organizações como sindicatos, partidos, centros culturais, associações de bairro etc. e com elas a necessidade de criar veículos de comunicação, legais quando possível, quando não, clandestinos.

A era da clandestinidade das rádios comunitárias teve uma maior representatividade política do que nos dias atuais. O problema da ilegalidade foi substituído pela legalidade do bom comportamento; a legalidade representou a criação de uma burocracia, agora dominada pelos órgãos do Governo, a qual permite dois tipos de ação que vão de encontro aos interesses da radiofusão comunitária: a) a permissão legal para transmitir é estabelecida através de um fluxograma carregado de pontos de controle – o mais crítico deles é a aprovação pelo Parlamento brasileiro e; b) o controle que deveria ser social resume-se às condições técnicas que a emissoras devem obedecer; a falta de um controle efetivo vem causando prejuízos graves para o setor, sendo o maior deles a invasão impune do coronelismo eletrônico de novo tipo (LIMA; LOPES, 2007). Esse ponto tornou-se

um dos mais fortes da luta pela democratização da comunicação, demandado pela Sociedade Civil: um novo marco regulatório.

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