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A reabilitação e reconversão do espaço: de local industrial a espaço de artes

3. Capítulo 3 – A Fundação José Rodrigues: reabilitação de património industrial e

3.2. A reabilitação e reconversão do espaço: de local industrial a espaço de artes

A Fábrica Social/Fundação José Rodrigues insere-se nesta temática de reconversão de um edifício de tipologia industrial, mais especificamente uma fábrica, num espaço dedicado às artes, promovendo as obras do responsável pela reabilitação deste espaço, o escultor José Rodrigues, e incentivando novos artistas a exploraram aqui a sua arte.

Este espaço era uma unidade fabril, como anteriormente mencionado. A primeira vez que a Fábrica Social aparece registada numa planta da cidade do Porto é em 1892, através do

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levantamento topográfico de Telles Ferreira. Em termos de alvarás, não foi possível, através da pesquisa arquivística, encontrar a licença para construção. No entanto, durante este processo, uma planta relativa à instalação de uma máquina a vapor, em 1868, nesta fábrica, requerida pelo seu proprietário à época, Jacinto José Gonçalves, foi encontrada, e é possível ver com clareza a estrutura deste complexo industrial, assim como as suas delimitações191. Hoje, o espaço ocupa cerca de meio hectare, possuindo uma entrada principal única, destinada à entrada de veículos e a pessoas que se desloquem por outros meios. A sua composição resulta de um conjunto de edifícios que foram surgindo através das suas constantes alterações e ampliações, mediante a mudança de proprietários.

Constituído por pavilhões amplos, com orientação norte-sul, tem uma grande continuidade espacial através de ligações transversais.

Figura 7 – Constituição da Fábrica Social/Fundação José Rodrigues

Fonte: RUIVO, Ana; CARVALHO, Pedro, CARVALHO, Samuel & RODRIGUES, Samuel (2008). Fábrica Social.

Trabalho de Projecto do Curso Superior de Arquitectura. Porto: Escola Superior Artística do Porto.

O alçado sul, fachada principal da Fábrica, com dois arcos de entrada, destaca-se pela sua escala e relação com uma praça. O conjunto 2, de área mais reduzida, encontra-se ligado ao conjunto 1, tendo, no entanto, os pavilhões uma orientação este-oeste. O conjunto 3, de escala mais reduzida e carácter mais íntimo, localiza-se na parte norte da Fábrica. Construído numa fase posterior, é uma tipologia mais próxima da residencial. Constitui-se por um edifício com dois pisos que se organiza em volta de um pátio e um grande tanque. O edifício A corresponde a uma pequena habitação de um piso, junto a uma pequena praça. O edifício B, localiza-se junto ao

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acesso principal da Fábrica, correspondendo a uma habitação extensa com dois pisos e um terraço amplo na cobertura. O edifício C, ligado ao conjunto 1, trata-se de uma torre de habitação de três pisos. O edifício D, situado no centro do complexo e ligado ao conjunto 1, corresponde a uma torre de escritórios de três pisos e um terraço acessível com vista panorâmica sobre a cidade. O edifício E, no extremo norte da Fábrica, apresenta-se como uma pequena torre arte deco, da qual se destaca uma pérgula na cobertura com vistas sobre a cidade192.

Até à reabilitação preconizada por José Rodrigues, que resultou no que hoje é a Fábrica Social/Fundação José Rodrigues, este edifício de caráter industrial albergou outras atividades, que sempre se pautaram por manter este cunho, como já se disse atrás.

Em 1940, porém, inicia-se nova atividade neste edifício,ainda relacionada com a indústria encerrando-se a chapelaria. Trata-se de uma empresa de equipamentos têxteis, TOPIM, Lda., dedicada ao fabrico de teares. A partir de relatos de alguns elementos da população e da direcção do atelier José Rodrigues, foi possível averiguar que esta atividade terá laborado até meados de 1976193.

Em meados da década de 80 do século XX, José Rodrigues, mediante o conselho de uns amigos com quem mantinha uma relação de afinidade, decidiu utilizar um dos espaços deste edifício para aí se dedicar à realização das suas obras, estabelecendo ali o seu atelier. Por fim, volvidos alguns anos, o escultor empreende uma reabilitação neste espaço, após a compra do mesmo aos seus amigos, fundando o que hoje é o espaço artístico e de criatividade Fábrica Social/Fundação José Rodrigues. Esta reabilitação representa uma viragem no historial deste edifício que, pela primeira vez, deixa de existir como um espaço voltado para a indústria, constituindo-se como um espaço de artes, propício à criatividade e à captação de novos artistas194. De uma forma progressiva, a Fábrica Social foi sendo reabilitada no sentido de acolher uma boa parte das obras do escultor José Rodrigues. Em 2009, é institucionalizada oficialmente, o que coincide com a compra, na sua totalidade, dos terrenos que constituem este espaço, que mantêm os seus traços arquitetónicos tradicionais, preservando a memória do lugar. Com um financiamento praticamente suportado, somente, pelo próprio escultor, a Fundação, além de ter a missão de expôr e dar a conhecer a obra do Mestre José Rodrigues, perpetuando a sua arte, promove os trabalhos artísticos dos jovens, acolhendo no seu seio várias demonstrações e formas de arte, desde a dança à escultura. Constituiu-se, desta forma, como um centro criativo, cujas atividades visam a participação da comunidade (local e visitantes) no processo de criatividade e divulgação de iniciativas nas suas mais variadas vertentes, aparecendo assim como um pólo

192 RUIVO, Ana; CARVALHO, Pedro, CARVALHO, Samuel & RODRIGUES, Samuel (2008). Fábrica

Social. Trabalho de Projecto do Curso Superior de Arquitectura. Porto: Escola Superior Artística do Porto,

p. 36.

193 Idem, Ibidem, pp. 36-38. 194 Idem, Ibidem, pp. 36-38.

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atrativo, passível de potenciar um cescimento territorial e uma oferta turística de património cultural diferenciada no panorama turístico do Porto.