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Capítulo 2 – O MUSEU MUNICIPAL DE ARQUEOLOGIA E ETNOGRAFIA DE BARRANCOS (MMAEB) NA REALIDADE

2.2. A Realidade da Museologia Contemporânea em Portugal

No ano de 1974, com a instauração da democracia, outros valores emergiram no panorama cultural e intelectual português. E é com esta nova realidade, com uma nova consciência institucional, que surge uma preocupação maior no que respeita à área da Museologia, mais concretamente a criação de uma Rede de Museus à escala nacional. Esta rede apresentava como principais objetivos a estruturação e organização patenteada em pilares comuns que permitissem o bom funcionamento dos museus. Apesar de em tempos anteriores a 1974 ter sido abordado este tema, só no ano de 1976, pelas mãos do Doutor David Mourão-Ferreira7 esta iniciativa ganhou bases e coerência. Podendo ser considerado como alguém atento às práticas internacionais e à nova realidade. Mourão- Ferreira, determinado a fazer um trabalho coeso, opta por estruturar grupos de trabalhos diferentes que cooperariam para este projeto. Assim estes grupos de trabalho debruçam- se sobre o estudo da legislação; da orgânica; do ensino e das carreiras do pessoal dos museus. Como citado anteriormente, Mourão-Ferreira é conhecedor das realidades internacionais, e desta forma decide avançar com um pedido de cariz científico junto da UNESCO visando colmatar as lacunas ainda existentes em Portugal. Esta ação visava concretamente “ (…) melhorar a coordenação entre os museus existentes; descentralização da sua ação e a criação de museus de tipo novo em larga participação popular”8. A UNESCO responde ao pedido de aconselhamento e destaca o ICOM na

pessoa de Per-UnoAgren9. Agren faz um estudo através de várias ações de levantamento de informação e chega a algumas conclusões. Primeiramente, existem problemas nas instalações e problemas de cariz científico; posteriormente, conclui que existe uma

6 Atualmente existem muitos museus temáticos de Norte a Sul de Portugal, como por exemplo o Museu

do Pão; o Museu do Fado; o Museu da Caça; o Museu da Chapelaria.

7 Secretário de Estado da Cultura entre 1976/1979 era conhecido como um Homem do Mundo Real. 8 Cf. Camacho, C. F. (2014). Na senda das redes: Caminhos e Descaminhos da Museologia no Portugal

Democrático. The networks path: Museological advances and retrocessionsin Portuguese democracy,

Revista da Faculdade de Letras-ciências e técnicas do Património, 13, p.250,251.

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ausência acentuada nas atividades educativas. Perante a identificação dos problemas foi elaborado um plano para ser posto em prática a longo prazo. Este plano, segundo alguns especialistas na matéria, era muito semelhante com o modelo instaurado na Suécia, uma vez que defende a articulação entre os museus nacionais, regionais e locais de modo a criar uma rede coerente onde a informação relativa à história cultural possa ser passada de forma justa e equilibrada, conforme é afirmado no artigo designado Na Senda das Redes: Caminhos e Descaminhos da Museologia no Portugal Democrático.10 Contudo, no ano de 1979 a UNESCO saiu do terreno e o plano delineado não foi alcançado. Perante esta situação, entra-se numa nova era correspondente á década de 1980. Neste período de tempo existiram avanços e retrocessos, sendo que o primeiro retrocesso adveio da tentativa de criação de um Plano Museológico Nacional que visava a conceção de uma Rede Museológica Nacional onde algumas instituições desempenhariam a função de “Museus Coordenadores Regionais” e outros de “Museus Especializados”, sendo que o plano também asseguraria a coordenação dos Monumentos pelo IPPC. Infelizmente, e devido à conjuntura do País no ano de 1983 o plano sofre um retrocesso.

Na década de 1990, mais concretamente no ano de 1991, mencionemos a institucionalização da área da Museologia, apresentando-se consolidada num organismo próprio, designado IPM (Instituto Português dos Museus). Este instituto tinha o “objetivo de superintender, planear e estabelecer um Sistema Nacional de Museus, visando a coordenação e execução de uma política museológica integrada.”11 Ao

estabelecimento deste sistema não foi dada a relevância necessária, apresentando-se como fracassado. Contudo, no ano de 1995 passa a existir um documento intitulado de “Documento Preparatório para uma Lei de Bases do Sistema Museológico Português”, da responsabilidade da Associação Portuguesa de Museologia e da Comissão Nacional do ICOM, e tinha como principal objetivo conseguir objetivar a realidade museológica portuguesa. O termo sistema entra em confronto com o termo rede, provocando a manifestação de opinião de algumas personalidades enaltecendo a definição e o campo de ação de cada termo.

Perante um quadro cultural onde o termo “rede” alcançava outras instituições, como as Bibliotecas e os Arquivos, é decidido dar continuidade a esta política cultural e instaurar

10 Camacho, C.F. (2014). Na Senda das Redes: Caminhos e Descaminhos da Museologia no Portugal

Democrático. Pp.249-59.

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uma Rede Portuguesa de Museus e não um Sistema Museológico Português. Assim, no ano de 2000 dá-se início á criação de uma rede oficial dos Museus Portugueses. A sua institucionalização ocorreu em três dimensões: a orgânica (administração central); a sistémica (adesão voluntária dos museus e posterior credenciação) e a jurídica (Lei- Quadro dos Museus Portugueses). O quadro real desta rede foi bastante positivo ao longo de dez anos. Ao fim destes dez anos, mais concretamente em 2012, existe uma reformulação no que respeita à reestruturação administrativa, que provocou a extinção do IMC e consequente criação da DGPC. Com estas alterações os anos de 2012 e 2013 foram alvo de uma estagnação, suscitando a desconfiança futura neste projeto.

Em Março de 2013 é formada uma nova equipa que devolve a sua credenciação à RPM com a finalidade de ultrapassar esta última fase menos positiva. Desde 2014 até a atualidade a realidade mantêm-se, mas apesar dos avanços da sociedade e dos meios disponíveis, a realidade é que os recursos são menores do que antes de 2012 e o funcionamento administrativo mais lento.

Em termos legais, a principal lei portuguesa que permite entender e aplicar os requisitos necessários e imprescindíveis para o bom funcionamento dos museus a nível nacional é a Lei-quadro dos Museus Portugueses – Lei nº. 47/2004: “Museu é uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite: a) Garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-los através da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação, exposição e divulgação, com objetivos científicos, educativos e lúdicos; b) Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade. Consideram-se museus as instituições, com diferentes designações, que apresentem as características e cumpram as funções museológicas previstas na presente lei para o museu, ainda que o respetivo acervo integre espécies vivas, tanto botânicas como zoológicas, testemunhos resultantes da materialização de ideias, representações de realidades existentes ou virtuais, assim como bens de património cultural imóvel, ambiental e paisagístico”.

2.3. Estrutura Hierárquica do Museu Municipal de Arqueologia e Etnografia de