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Capítulo IV- Fundamentos metodológicos

4.2.2 A realização do grupo focal

A técnica do Grupo Focal foi aplicada apenas com o terceiro subgrupo de entrevistados (reservistas), por dois motivos: primeiro, em função da disponibilidade de horário dos policiais para comparecerem ao encontro, principalmente em relação àqueles que compõem o CVMI e o AIPSA, pois, nesse caso, por estarem trabalhando tornou-se difícil ajustar um horário em que todos estivessem disponíveis. O segundo motivo é que pelo fato de haver dois grupos de policiais militares, CVMI e AIPSA, que escolheram continuar na ativa, obteve-se uma amostra maior de policiais nessas condições e, consequentemente, uma quantidade significativa de informações. Por isso, acreditou-se que seria relevante coletar mais informações em relação aos policiais militares que escolheram não voltar à corporação, no caso, os reservistas.

Com a técnica do grupo focal, buscou-se contrapor opiniões e identificar percepções da realidade que contribuíssem para a compreensão do objeto de pesquisa. As questões que nortearam a discussão referiram-se, principalmente, às disposições para agir e crer do policial, que o levaram à decisão de não retornar e nem de permanecer na corporação, após completar o período de tempo necessário para ingresso na reserva remunerada. Para tanto, foram abordadas as seguintes temáticas: vida pessoal e instituição e, vida profissional e instituição.

Acredita-se que o grupo focal é ―uma ferramenta particularmente efetiva para interrogar a própria relação entre agência e estrutura‖ (BARBOUR, 2009, p. 64), na medida em que os participantes desta técnica podem se sentir mais seguros e menos constrangidos a emitir suas opiniões e atitudes quanto a situações vividas no dia a dia da atividade policial e da vida familiar.

Assim, enquanto as entrevistas individuais aprofundadas elucidaram aspectos individuais, a construção do grupo focal proporcionou uma maior discussão

em torno das ideias, das tomadas de posição, dos questionamentos e da lógica por trás dos comportamentos dos participantes que ―estão dispostos a apresentar em situações de grupo‖, como sugere Barbour ( 2009, p. 70- 83).

O grupo focal contou com a participação de 5 (cinco) policiais da reserva e foi formado na sala de reuniões do GGI-M, no período da manhã, em 12 de janeiro de 2016, tendo duração de 2 horas e 30 minutos.

Antes de os participantes se encaminharem para a sala de reuniões, o ambiente já tinha sido preparado para recebê-los: sala bem iluminada e climatizada, cadeiras dispostas em volta de uma mesa retangular, onde os participantes sentaram-se uns de frente para os outros, inclusive a pesquisadora, a fim de que todos tivessem um contato visual do mesmo ângulo, evitando a ideia de hierarquia e autoridade. No centro da mesa, estavam dispostos snacks acompanhados de café, água e refrigerante.

Após se acomodarem nos lugares, solicitou-se que colocassem os celulares no silencioso para evitar distrações; como os policiais se conheciam, seja do quartel ou do batalhão, foi desnecessária a utilização de crachás; inclusive a pesquisadora já era conhecida de quando ocorreram as entrevistas.

Para dar início ao trabalho de discussão, a pesquisadora novamente se apresentou e falou acerca dos objetivos da pesquisa. A seguir, solicitou aos policiais licença para gravar em áudio, tendo explicado que a gravação facilitaria a análise dos dados coletados. Além disso, a pesquisadora enfatizou que ficavam assegurados o sigilo e o anonimato dos informantes. Mesmo assim, percebeu-se uma certa preocupação de mais de um policial em relação a manter-se o anonimato. Fora isso, não houve objeção em gravar a atividade em grupo.

Na condição de moderadora, a pesquisadora esclareceu que estava ali para estabelecer um diálogo, ou seja, não estava em pauta avaliar se as respostas certas ou erradas; o importante era não só ouvir os pontos de vista, mas também registrar as suas percepções.

Solicitou-se que, dentro do possível, os policiais falassem um de cada vez, para que todos pudessem se manifestar, e, além disso, facilitar o entendimento da gravação.

Depois dessas breves considerações, pediu-se que cada um dissesse o que estava fazendo, naquela época, e há quanto tempo estava na reserva. Esse tópico foi levantado em função de tratar-se de um grupo com período de tempo de

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ingresso, na reserva, diferente já que estavam participando da discussão desde policiais com apenas um mês de ingresso na reserva remunerada até aqueles que já eram reservistas a mais de cinco anos.

A partir daí começou-se a desenvolver os tópicos de discussão com as perguntas norteadoras (Apêndice D).

Ao final, agradeceu-se a participação dos cinco policiais da reserva e solicitou-se que assinassem o termo de consentimento (Apêndice E); considerou-se que esse procedimento realizado no final da discussão em grupo e, não no início, evitaria a ressalva quanto ao anonimato, já manifestada pelos policiais no momento inicial da atividade do grupo focal.

Além das técnicas de questionário, entrevista e grupo focal, realizaram-se leituras e consultas a documentos para conhecimento das diretrizes, das leis, dos estatutos e das normas que fornecem informações a respeito da Instituição Brigada Militar.

O Estatuto dos Servidores Militares da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, Lei Complementar nº 10.990 de 18 de agosto de 1997, serviu como base de consulta, principalmente em relação ao tempo em que o policial militar pode ingressar na reserva remunerada, e, ainda, em relação às normas de disciplina e hierarquia.

Quanto aos programas de governo — CVMI, criado através da Lei Ordinária nº 10.297/94, e AIPSA, através da Lei Complementar nº 12.351/05 — que preveem a possibilidade de o policial militar que completou o tempo de serviço necessário para entrar na reserva remunerada requerer sua continuação ou permanência na corporação, teve-se acesso não só a legislação e as atualizações correspondentes a cada um deles, mas também a outras leis que lhes dizem respeito (Leis nºs 14.385/13, 10.916/97, 14.449/14) e a Notas de Instrução administrativas pertinentes (NI nº 023.3 de 25/11/14 e NI nº 004.4 de 30/09/14).

A análise das leis que criaram o CVMI e o AIPSA, bem como suas atualizações, possibilitou que fosse construído, no capítulo I, um quadro comparativo para melhor entendimento de cada um desses programas.

Importante esclarecer que a grande maioria dessas leis foi acessada pelo

site oficial da Assembléia Legislativa do Estado41, ao passo que o Regimento da

41

RIO GRANDE DO SUL. Assembléia Legislativa. Disponível em: <http://www.al.rs.gov.br/site/>. Acesso em: 22 jul. 2014

Brigada Militar, situado na cidade de Bagé, nos permitiu o conhecimento das Notas de Instrução e do Memorando nº 079/SEL/03, onde consta a origem histórica do Regimento em Bagé.

Também foi consultada a Lei Provincial nº 7, de 18 de novembro de 1837 (Anexo-J), a qual criou a denominada Força Policial da Província que seria o embrião da Brigada Militar, conforme descrição feita por Mariante (1972, p.65,66).

Quando, no capítulo II, fez-se referência à desmilitarização da polícia, foram consultadas as Propostas de Emenda à Constituição nº 430/2009, nº 102/2011 e nº 51/2013, às quais teve-se acesso através do site oficial do Senado Federal42 e da

Câmara dos Deputados43.

Acredita-se que utilizando a metodologia acima elucidada, ter-se-á fôlego bastante para responder com tranquilidade, coerência e imparcialidade às inquietações que essa pesquisa científica apresenta.

42

BRASIL. Senado Federal. Disponível em: <http://www12.senado.leg.br/hpsenado>. Acesso em: 17 out.2015

43

BRASIL. Câmara dos Deputados. Disponível em:< http://www2.camara.leg.br/> . Acesso em: 17 out. 2015