• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV – A CIDADE DO ENSINO, DA PARTILHA E DA EVOLUÇÃO

4.3. A REALIZAÇÃO DA VIAGEM

4.3.2. A recolha das pedrinhas em contratempo

Como qualquer viagem que fazemos ao desconhecido, enveredamos por caminhos mais acidentados e encontramos alguns obstáculos que temos de contornar para chegar ao destino. O ano de estágio foi assim mesmo. Infelizmente, condicionado pela minha falta de tempo devido à minha condição de trabalhadora estudante, o estágio não decorreu da melhor forma pois não pude aproveitar todos os momentos que este me proporcionava e a minha evolução podia ter sido diferente. Foram meses e meses de difícil gestão das 24 horas que tinha disponível para cada dia. Entre o meu emprego, que muito de mim exigia e continua a exigir, e o EP que não se prendia apenas com as aulas

44

lecionadas, era pouco o tempo que sobrava para as restantes tarefas inerentes ao EP e o tempo de descanso ficava limitado às horas de sono que, na maioria das vezes, não eram suficientes. Avaliando a multiplicidade e simultaneidade de tarefas inerentes ao estágio, é desencadeado um elevado nível de cansaço não só físico como também leva a um desgaste psicológico resultante das tensões aliadas a este período de intensa experimentação e aprendizagem (Caires, 2001). Se me for colocada a questão de qual foi a minha principal barreira durante este ano, e o que poderia ter sido modificado para um melhor rendimento e resultado, eu responderia que, sem dúvida, teria sido o tempo disponível para viver intensamente todas as ações envolvidas na viagem maravilhosa ao mundo do ensino constante e recíproco.

A perceção das minhas principais dificuldades levava-me para o ‘vale’. De seguida, a procura incessante de contornar ou mesmo eliminar essas mesmas dificuldades conduzia-me a conseguintes progressos, os denominados então de ‘picos’. O que eu queria era sair rapidamente desse vale e procurar soluções para regressar novamente ao pico. Apesar de constantes intervenções minhas, do meu NE e dos meus orientadores sempre na tentativa de melhorar, este ciclo repetia-se inúmeras vezes constituindo um processo de construção e desconstrução que me preparou para ser melhor profissional e melhor pessoa, na busca incessante da minha identidade profissional.

A minha principal dificuldade era a comunicação com os alunos. Existem variadíssimas formas de comunicação, entre elas duas fundamentais no processo de ensino e aprendizagem, a comunicação verbal e a comunicação não verbal, através de linguagem corporal. Inicialmente, tive de trabalhar bastante a informação que pretendia transmitir num determinado exercício, de modo a poder selecionar aquela que considerava mais relevante. Assim, e como o nível de atenção dos alunos variava significativamente não só entre eles como também de aula para aula, tornou-se pertinente melhorar a instrução para facilitar as aprendizagens e evitar tempos mortos. Essa barreira foi sendo ultrapassada, no entanto, ao longo das sessões, era necessária uma reflexão específica sobre novas estratégias para melhorar o feedback (frequência e qualidade), o meu tom de voz (um pouco baixo) e a linguagem mais adequada a

utilizar, representando grandes desafios para mim. Como tal, a minha estratégia foi principalmente, avaliar os comportamentos e reações dos meus alunos perante as minhas ações, comportamentos e decisões e, analisar o que poderia ser alterado e o que estava a resultar, ou seja que poderia manter.

“Nem sempre temos o comportamento desejado e/ou esperado dos alunos bem como as suas reações de aula para aula a exercícios parecidos ou mesmo iguais, podem variar substancialmente, como aconteceu durante esta aula. O professor tem um papel fundamental neste sentido, pois deve ser incisivo naquilo que quer ver e na forma como o transmite e eu falhei nesse aspeto pois o que eu observei nos alunos não foi aquilo que pretendia, o que me faz pensar que devo melhorar a minha comunicação e transmissão de informação.

Tenho a vantagem de poder individualizar bastante o trabalho com os alunos devido ao reduzido tamanho da turma e por isso vou apostar mais no feedback individual e caso observe que o erro é comum a toda a turma reúno os alunos e emito um feedback mais grupal fazendo, se necessário de demonstração.

Em suma, nas próximas aulas vou recuar um pouco na aprendizagem e, passo a passo, corrigir as lacunas para poder avançar com calma e proporcionar uma aprendizagem gradual, consistente e eficaz dos meus alunos, proporcionando um bom ambiente de aula em simultâneo.”

(17 de janeiro de 2014, reflexão de aula nº 45)

Por outro lado, a aprendizagem só é conseguida caso haja uma relação recíproca entre o querer ensinar e o querer aprender. A relação professor aluno é fundamental nesta dualidade, a que chamo de simbiose.

De acordo com Mesquita e Rosado (2009), aquilo que o aluno vai ouvir pode não ser aquilo que compreende e por conseguinte, o que compreende pode não ficar retido. Daí resultava a minha constante preocupação em proferir as palavras certas e em transferir as situações para uma visualização da ideia em causa pois “retemos, (…), melhor o que vemos do que aquilo que ouvimos; recordamos ainda melhor o que vemos e ouvimos”. (Mesquita & Rosado, 2009)

46

Na realidade, a minha comunicação com os alunos não estava de acordo com estas premissas da clareza. A instrução como processo formativo e informativo estavam a ser os principais pontos a prejudicar a passagem da teoria para a prática. A instrução refere-se a comportamentos de ensino que fazem parte do reportório do professor para transmitir informação diretamente relacionada com os objetivos e os conteúdos do ensino (Siedentop, 1991), da qual também fazem parte todos os comportamentos, verbais ou não verbais (e.g., exposição, explicação, demonstração, feedback, entre outras formas de comunicação, nomeadamente não verbal) que estão intimamente ligados aos objetivos da aprendizagem (Mesquita & Rosado, 2009). Denotava alguma desorganização nas ideias que pretendia transmitir no meu discurso, ficando um pouco confuso. Consegui identificar esse erro, com ajuda também do meu NE e melhorei bastante ao longo do ano. Assim, um dos meus objetivos ao nível da minha intervenção foi melhorar a minha comunicação, não só ao nível da instrução verbal, como também ao nível da transmissão de feedbacks durante a aula.

O cenário foi-se alterando ao longo do ano. Conforme o meu desenvolvimento profissional foi sendo posto à prova, apercebi-me que estas dificuldades a nível de expressão e comunicação, bem como a colocação da voz de forma clara e audível foram deixando de ser o centro das minhas limitações. Felizmente, penso ter conseguido corrigir algumas destas falhas, nomeadamente na transmissão do conteúdo, pois adotei várias estratégias. Uma delas consistiu na preparação das palavras-chave para transmitir durante a explicação do exercício e na melhor forma para a sua introdução. Dependendo da sua complexidade, poderia recorrer à demonstração imediata dispensando muita informação verbal. Assim, consegui fazer a transferência de uma instrução longa e pouco clara para uma instrução mais curta, concisa e objetiva utilizando então, as palavras-chave mais frequentemente em conjunto com a comunicação não-verbal. Sinto que já consigo comunicar de forma mais efetiva onde a resposta dos alunos teve grande influência nesta conclusão.

Inicialmente, sentia-me um pouco perdida pelo meio das minhas crenças e pensamentos. Algumas vezes limitavam-me e outras vezes faziam-me dar um

‘saltinho’ e libertar-me um pouco mais. Quando me libertava e deixava de pensar nos aspetos que me prendiam e impediam de dar um passo em frente, o resultado era completamente distinto daquele que obtinha quando me agarrava a pensamentos negativos e limitativos. Era um misto de sensações, emoções, dúvidas e inseguranças que pairavam sobre cada planeamento, intervenção e reflexão. Mas este será um compartimento que vou preencher posteriormente.