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A REDE EM SAÚDE DO TRABALHADOR EM CORUMBÁ

No documento ILIDIO RODA NEVES.pdf (páginas 196-200)

4 CORUMBÁ-LADÁRIO E A SAÚDE DO TRABALHADOR

5. O CEREST CORUMBÁ

5.2 A REDE EM SAÚDE DO TRABALHADOR EM CORUMBÁ

De acordo com o que propõe a portaria 2728 (BRASIL, 2009) e a PNST (BRASIL, 2012) deve-se reforçar a ação em rede, fazendo com que a saúde do trabalhador seja um aspecto presente em toda a atenção a saúde, nas ações de vigilâncias e no planejamento de saúde.

Três são os aspectos destacados nesta proposta de rede: articulações intra e intersetoriais, a rede Sentinela e a rede de Cerest.

Articulações internas, no Cerest

Internamente ao Cerest esta concepção de trabalho em rede não era aplicada. As ações em saúde eram vistas e tratadas de forma fragmentada, departamentalizada por categorias profissionais e por cada um deles individualmente. Como pudemos expor anteriormente, na atenção o trabalho era atomizado, tendo cada profissional autonomia e independência para atuar dentro da sua especificidade. O atendimento seguia um fluxo serial onde quem carregava o histórico das ações era o usuário-trabalhador. O prontuário, que poderia ser um documento de registro, que historicizasse a atenção era exclusivamente médico, não agregando informações do que fora realizado pelos demais profissionais de saúde.

Articulações intersetoriais

De acordo com um ex-conselheiro e profissionais de saúde com quem conversamos a respeito, a mesma falta de articulação que identificamos no Cerest era encontrada no restante da saúde pública de Corumbá. Havia uma deficiência de

comunicação na SMS que dificultava a integração dos serviços entre si e, internamente, em cada um deles. O que, em última instância, inviabilizava a existência de uma Rede de Atenção à Saúde em Corumbá, como deliberado pela portaria 4279 (BRASIL, 2010)65. O mesmo foi observado na saúde pública de Ladário por Santana (2013). Se, por um lado, o Ministério da Saúde, propõe a organização da atenção no SUS em rede, por outro, observamos Corumbá organizada de maneira distinta, mais próxima da forma tradicional de ver e tratar a saúde pública.

Mesmo em termos conservadores havia pouco diálogo e integração do Cerest com os outros serviços de saúde de Corumbá e Ladário. Quando da discussão sobre o plano de ação do serviço, os profissionais de saúde expressaram sobre a falta de relação do Cerest com as demais unidade de saúde: “Falta uma proposta de fluxo de referência e contra referencia à saúde do trabalhador.”

Articulação intra-setoral

Com dificuldades de integrar os profissionais do serviço e com outros setores da saúde pública era de se esperar que o mesmo ocorresse no campo intra-setorial.

A auditoria do Denasus não identificou que o Cerest tivesse articulações com outros órgãos demandantes de serviços, sejam eles da saúde, prefeitura ou de outros órgãos públicos, afirmando que o Cerest “não atua como agente facilitador na descentralização das ações relativas à saúde do trabalhador instituída pelo Ministério da Saúde” (BRASIL, Denasus, 2010, p. 11). E o relatório da SES sobre a microrregião de Corumba dizia que: “Não há articulação com demais órgãos

65 Lembrando que a Prefeitura de Corumbá, de acordo com relatório sobre a microrregião de saúde de Corumbá (MATO GROSSO DO SUL, 2012) assinou o pacto pela saúde de 2006,

envolvidos na área do trabalho e emprego.”(MATO GROSSO DO SUL, 2012, p.33). Em nosso tempo de pesquisa não observamos a concretização de ações neste sentido, no entanto, quando do início das observações fomos informados de que eram feitas ações conjuntas com o Ministério Público do Trabalho, confirmadas por representantes do Cerest Estadual em visita ao município, em abril de 2010, onde apontaram que eram poucas e necessárias e que deveriam expandir e envolver outros setores.

Durante o “I Seminário em memória às vítimas de acidentes e doenças do trabalho”, ocorrido em 2011, houve uma aproximação com o corpo de bombeiros, mas não tivemos nenhuma notícia de desdobramentos. De acordo com um dos profissionais do Cerest: “Falta a participação de mais segmentos como: MTE, INSS, Associações, gestores de Saúde, Assistência, Educação, meio ambiente, coordenadores de EBS, SIAT e representantes da Bolívia”.

A rede sentinela

A rede sentinela, formada por unidades de saúde responsáveis pela notificação compulsória de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, como previa a portaria 777 (BRASIL, 2004), era composta, em Corumbá, de acordo com o que foi colocado na Cist, pelo Pronto-Socorro Municipal, a Santa Casa de Corumbá e o Centro de Referência em DST/AIDS Dr. João de Brito (para os casos de acidentes com perfurocortantes envolvendo profissionais de saúde).

Apesar de determinada, esta rede apresentava dificuldades para funcionar na prática. Entre as que nos foram apresentadas estava a de aproximar as pessoas e serviços da saúde da proposta da saúde do trabalhador. Por exemplo, em 2009 o

Pronto Socorro, apesar da definição de sentinela, não realizava o preenchimento das Cat como parte da sua rotina, ou comunicava o Cerest para que este o fizesse: “Eles nem precisam preencher nada”. Isso foi parcialmente contornado com a delegação da identificação dos acidentes, orientação e encaminhamento ao Cerest à um conjunto de Assistentes Sociais, em plantão na unidade, como já colocado anteriormente (das informações de acidentes de trabalho), no entanto com irregularidades. Entre janeiro e abril de 2010, por exemplo, em decorrência da falta de pagamento dos plantões às assistentes sociais, o serviço de notificação foi descontinuado. Desta forma acidentes e doenças relacionadas ao trabalho (com óbitos ou não) deixaram de ser notificados. Segundo um dos profissionais do serviço este era um problema comum na prefeitura.

Em oposição às informações que colhemos junto aos membros do Cerest e ao Dant, relatório da auditoria feita pelo Denasus (BRASIL, Denasus, 2010) apontava que até 30/10/2010 não havia em Corumbá uma rede sentinela voltada à saúde do trabalhador, identificando a sub-notificação ou ausência de notificação de acidentes e doenças do trabalho para a região. O que é confirmado pelo relatório sobre a saúde na microrregião de Corumbá emitido dois anos depois, que constatou: “que não há definição da rede sentinela de notificação dos agravos da Portaria 104/2011, mesmo após vários treinamentos realizados em Campo Grande dos protocolos de notificação existentes desde 2004 através da Portaria 777/2004.” (MATO GROSSO DO SUL, 2012, p. 33), o que pode significar que, apesar de instituída, na prática era pouco operante.

A rede de Cerest

A articulação entre o Cerest Corumbá e os demais de Mato Grosso do Sul (Dourados e Estadual), apesar de destacada em folheto interno do serviço, é uma questão que apareceu pouco em nossa observação.

A relação com o Cerest Estadual ocorria por conta de cursos e eventos. Não havia um contato mais próximo entre os profissionais ou mesmo ações conjuntas e integradas, como seria de esperar quando pensamos na Renast. A necessidade desta integração foi colocada por um profissional do serviço em conversa no Cesteh: “... não só através de capacitações, mas, grupos de estudo e intercambio com outros Cerest”. Com o Cerest de Dourados, até por motivos políticos internos ao município (que levaram ao seu desmantelamento, como nos foi relatado na Cist e pela coordenação nacional do Cesteh) não existia aproximação.

Com os demais Cerest do Brasil, da mesma forma, o contato também ocorria através de eventos, organizados pelo Ministério da Saúde. Por exemplo, o V Encontro Nacional da Renast, ocorrido entre 27 e 29 de setembro de 2012, em Brasília, que reuniu representantes dos Cerest de todo o Brasil e relatado na Cist, pela coordenação do serviço.

A partir dos três aspectos da proposta de rede apresentados podemos perceber que, ao menos na região de Corumbá, a integração inter e intra-setorial eram restritas e pontuais, num caminho oposto aquele esperado para a Ras e a Renast.

No documento ILIDIO RODA NEVES.pdf (páginas 196-200)

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