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A Redemocratização e a Campanha pelas Diretas Já

A Redemocratização e a Campanha pelas Diretas Já

Nos últimos anos do governo militar, o Brasil apresenta vários problemas. A inflação é alta e a recessão também. Enquanto isso a oposição ganha terreno com o surgimento de novos partidos e com o fortalecimento dos sindicatos.

Em 1984, políticos de oposição, artistas, jogadores de futebol e milhões de brasileiros participam do movimento das Diretas Já. O movimento era favorável à aprovação da Emenda Dante de Oliveira que garantiria eleições diretas para presidente naquele ano. Para a decepção do povo, a emenda não foi aprovada pela Câmara dos Deputados.

No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheria o deputado Tancredo Neves, que concorreu com Paulo Maluf, como novo presidente da República. Ele fazia parte da Aliança Democrática – o grupo de oposição formado pelo PMDB e pela Frente Liberal.

Era o fim do regime militar. Porém Tancredo Neves fica doente antes de assumir e acaba falecendo. Assume o vice-presidente José Sarney. Em 1988 é aprovada uma nova constituição para o Brasil. A Constituição de 1988 apagou os rastros da ditadura militar e estabeleceu princípios democráticos no país.

O fim da Ditadura Militar:

Durante o governo Figueiredo, o Brasil mergulhou numa das mais graves crises econômicas e sua história. A inflação era muito alta, a dívida externa assombrosa e as dívidas públicas do governo muito maiores que sua arrecadação.

A sociedade canalizou seu enorme descontento para com o governo militar organizando uma gigantesca companha em favor das eleições diretas para presidente da República.

A Campanha pelas Diretas foi um dos maiores movimentos políticos-populares da nossa história. Nas ruas, nas praças, multidões entusiasmadas, reunidas em grandes comícios, gritavam o lema Diretas-já! e cantavam o Hino Nacional.

Entretanto, uma série de manobras de políticos impopulares, ligados à ditadura militar, impediu a realização das eleições diretas para presidente. O principal grupo que sabotou a emenda das diretas foi liderado pelo deputado paulista Paulo Maluf. Contrariada a vontade do povo brasileiro, teve progressivamente o processo das eleições indiretas, criado pelo regime militar. Nesta fase, concorreram à presidência dois candidatos: Paulo Maluf e Tancredo Neves.

Paulo Maluf era o candidato oficial do PDS, o partido do governo. Entretanto, não contavam com o apoio afetivo das forças tradicionais que estavam no poder.

Tancredo Neves, governador de Minas Gerais, era o candidato de uma confusa aliança política (a Aliança Democrática) composta por ex-integrantes do PDS e membros do PMDB. Em comício popular, Tancredo Neves apresentava-se como a alternativa concreta para que a sociedade brasileira alcançasse o fim do regime militar. Tancredo dizia que iria ao Colégio Eleitoral para acabar com ele e que sua eleição seria a última eleição indireta para presidente da República.

Em 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral reuniu-se em Brasília para escolher entre Tancredo e Maluf. O resultado da votação foi amplamente favorável a Tancredo Neves, que recebeu 480 votos contra 180 dados a Maluf e 26 abstenções.

Tancredo Neves não conseguiu tomar posse da presidência da República. Doze horas antes da solenidade de posse, foi internado e operado no Hospital de Base de Brasília com fortes dores abdominais. Depois foi transferido para o INCOR – Instituto do Coração, em São Paulo. A enfermidade evoluía de forma fatal. Tancredo morreu em 21 de abril de 1985. O país foi tomado de grande comoção, em face da morte de Tancredo e das esperanças de mudança nele depositadas.

O Vice-Presidente em exercício, José Sarney, assumiu de forma plena o comando da nação.

A mídia brasileira e a cultura durante a ditadura militar

Há 47 anos o Brasil atravessava uma profunda e dolorosa mudança política, social e até mesmo jornalística. O Golpe de 31 de março de 1964, que derrubou o então presidente João Goulart, acusado de comunista, foi um importante divisor de águas na história da democracia brasileira. O período da ditadura militar foi marcado, dentre tantas outras características, pela violência contra indivíduos e contra a imprensa. Não é novidade que reportagens que desagradavam o regime fossem simplesmente proibidas de serem publicadas, sob pena de prisão, tortura e morte. Nos veículos de grande circulação, receitas culinárias eram publicadas no lugar de matérias contra o Governo. Com a adoção do Ato Institucional número 5, em 1968,

durante o governo de Costa e Silva, ficou-se ainda mais complicado para os cidadãos e para a imprensa.

Na contramão da censura, foi criado o jornal semanal O Pasquim. Com humor e ironia, matérias sobre a situação política da época eram retratadas “discretamente” por jornalistas como Sérgio Cabral e Tarso de Castro, contando ainda com a participação de cartunistas como Millôr Fernandes, Ziraldo e outros. O Pasquim, apesar de ir de encontro com os interesses dos militares, ia ao encontro do interesse público. Era um tipo de mídia que manifestava características culturais de uma determinada época e de uma determinada população, embora corresse todo o risco da repressão. Mas a publicação não contava somente com noticias do Governo ou manifestações. Era basicamente comportamental, pois abordava assuntos como drogas, sexo, feminismo, divórcio, dentre outros. O lado político foi sendo desenvolvido conforme o amadurecimento da repressão da ditadura. Inúmeros jornalistas da redação foram presos e torturados a mando dos militares e até mesmo bancas de jornais que vendiam o semanário alternativo eram alvo de atentados a bomba. O Pasquim sucumbiu no início da década de 90, com seu último exemplar publicado em 11 de novembro de 1991.

O Pasquim foi um elemento contracultural, uma vez que valores e ideias de uma conjuntura eram questionados, embora maquiadamente.

Um outro veículo importante do século XX foi a revista O Cruzeiro. Apesar de sua criação ter sido dada muito antes do período do regime militar, seu último exemplar foi publicado durante essa época. O Cruzeiro fazia parte das publicações dos Diários Associados, o maior conglomerado de comunicação do Brasil, fundado por Assis Chateaubriand. Entre os variados assuntos abordados, eram destaques notícias sobre os astros de Hollywood, atletas famosos e cinema. Os elementos da midcult elencados naquela revista eram usados para chamar a atenção da massa para os malefícios da ditadura e até mesmo burlar possíveis censuras.

Matérias de interesse público eram sempre produzidas e elementos da offBroadway eram uma constante na revista (uma vez que reportagens sobre a baixa cultura da época eram uma constante). O Cruzeiro misturava realidade com ficção, buscando de uma forma alternativa

expor os problemas da sociedade da época. A cultura, em geral, era o centro das atenções do conteúdo da revista.

Não são apenas importantes veículos midiáticos que fazem parte do leque de cultura de uma determinada época. A presença de O Pasquim e O Cruzeiro foram importantes na construção da imprensa que temos hoje, seja pela forma, seja pelo conteúdo. A cultura era retratada naquelas revistas de forma a expressar para os leitores de um modo claro, certas vezes despojado, e quase sempre irônico, fugindo da repressão militar.

Acerca do assunto estudado, um outro aspecto cultural que pôde ser observado durante os 21 anos do regime militar foi a Jovem Guarda. Fundado pelos cantores Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléia, o movimento teve início na metade da década de 60. Uma mistura de música, moda e comportamento marcou época e gerações, influenciando no modo de agir e pensar de milhões de jovens brasileiros. A midcult determinada pela Jovem Guarda consistia em arrastar, basicamente, os jovens, mas, aos poucos, os mais velhos também foram atraídos pelo movimento. O período de decadência da Jovem Guarda deu-se pela ascensão de um novo grupo. Também formado por compositores, a Tropicália foi um dos responsáveis pelo

“esvaziamento” do movimento liderado pelo cabeludo Roberto Carlos.

“A Tropicália é uma Jovem Guarda com consciência das coisas”. Assim Erasmo Carlos definiu o manifesto liderado por Gilberto Gil e Caetano Veloso. Com influência da cultura pop nacional, o Tropicalismo também tem ligações com o movimento antropofágico das décadas de 20 e 30 (liderado por expressivos artistas como Anita Malfatti, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, dentre outros). O misto de poesias de vanguarda concretista nas letras das canções com a estética do pop art eram características midcult, uma vez que eram mesclados o melhor da hype (poesias concretistas) com o melhor do conceito de offBroadway ( canções pop que estão em ascendência para a hype).

O movimento Tropicalista não se constitui apenas na música popular brasileira. O cinema também sofreu influências . O Cinema Novo, de Glauber Rocha, tinha como característica fugir

das grandes estruturas hollywoodianas e mostrar a realidade brasileira ao povo. Com “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, Glauber Rocha e outros cineastas como Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues e Joaquim Pedro de Andrade faziam de uma produção barata de cinema uma grande história a ser contada a muitas gerações. Era a contracultura chegando, mais uma vez, às grandes massas.

DIRETAS JÁ

No ano de 1979, o regime militar tomou medidas que permitiram o retorno das liberdades democráticas no país. O sistema bipartidário foi substituído por uma reforma política que abriu espaço para a formação de novos partidos dentro do país. Dessa forma, as novas siglas que ao mesmo tempo representavam maior direito de expressão política, também marcavam um atípico processo de fragmentação político-partidária.

Chegado o ano de 1982, estes partidos disputaram eleições para os governos estaduais e demais cargos legislativos. Mediante esse novo quadro, membros de oposição da Câmara dos Deputados tentaram articular uma lei que instituísse o voto direto na escolha do sucessor do presidente João Batista Figueiredo. Em 1983, essa movimentação tomou a forma de um projeto de lei elaborado pelo deputado peemedebista Dante de Oliveira. A divulgação da chamada “Emenda Dante de Oliveira” repercutiu entre vários grupos mais politizados das capitais e grandes cidades do país. Em um curto espaço de tempo, membros do PMDB, PT e PDT passaram a organizar grandes comícios onde a população se colocava em favor da escolha direta para o cargo de presidente. Com a repercussão tomada nos meios de comunicação, essas manifestações se transformaram no movimento das “Diretas

Já!”.

Reconhecida como uma das maiores manifestações populares já ocorridas no país, as “Diretas Já!” foram marcadas por enormes comícios onde figuras perseguidas pela ditadura militar, membros da classe artística, intelectuais e representantes de outros movimentos militavam

pela aprovação do projeto de lei. Em janeiro de 1984, cerca de 300.000 pessoas se reuniram na Praça da Sé, em São Paulo. Três meses depois, um milhão de cidadãos tomou o Rio de Janeiro. Algumas semanas depois, cerca de 1,7 milhões de pessoas se mobilizaram em São Paulo.

Mesmo realizando uma enorme pressão para que as eleições diretas fossem oficializadas, os deputados federais da época não se sensibilizaram mediante os enormes apelos. Com isso, por uma diferença de apenas 22 votos e um vertiginoso número de abstenções, o Brasil manteve o sistema indireto para as eleições de 1985. Para dar a tal disputa política uma aparência democrática, o governo permitiu que civis concorressem ao pleito.

Collor foi primeiro alvo de impeachment na América Latina. Estudantes de hoje não devem lembrar que em 1992, quando muitos eram praticamente bebês, o país passou por um período conturbado, mas que entrou para a história da política mundial: o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.

Em setembro de 1992, estudantes e universitários, vestidos e pintados com as cores da bandeira, foram para as ruas protestar e pedir o impeachment (afastamento da presidência) de Collor. Eles ficaram conhecidos como "geração cara-pintada".

Collor havia entrado na disputa pela presidência conhecido como o "caçador de marajás", devido ao seu trabalho para extinguir a corrupção de funcionários públicos em Alagoas, Estado que governou no final da década de 80.

Empossado, prometeu derrubar a inflação com um golpe, mas seu plano econômico fracassou.

Foi em nome do controle inflacionário que a então ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, confiscou as poupanças dos brasileiros. Forçado a rever sua política, o presidente estendeu a mão para um frustrado entendimento nacional. Isolado, chamou para o ministério nomes do regime militar.

Sua gestão foi marcada por uma série de escândalos e suspeitas de corrupção. As denúncias ganharam força em abril de 1992, quando Pedro Collor, irmão do presidente, revelou a existência do "esquema PC", de tráfico de influência e irregularidades financeiras, organizado por Paulo César Faria, ex-tesoureiro da campanha.

Pressionada pelas manifestações públicas, a Câmara autorizou a abertura do processo de impeachment por 441 votos a 38. Houve uma abstenção e 23 ausências. Em 2 de outubro, Collor foi afastado temporariamente da presidência.

Collor renunciou ao cargo de presidente em 29 de dezembro de 1992, pouco antes de ser condenado pelo Senado por crime de responsabilidade. Em seu lugar assumiu o então vicepresidente, Itamar Franco.

O impeachment interrompeu o primeiro governo eleito diretamente após 29 anos e marcou ainda o cenário político mundial, já que Collor foi o primeiro presidente na América Latina a ser destituído do cargo por este processo. Ele teve ainda seus direitos políticos cassados, tornando-se inelegível por oito anos.

Unidade IV

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