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e os discursos que procuram justificar a existência

1.2 A reforma psiquiátrica no Brasil e em Pernambuco

As críticas feitas à Psiquiatria Asilar desembocaram no desmantelamento de uma estrutura que oprimia, controlava, punia, vigiava e segregava os chamados loucos no interior das organizações manicomiais. Nesse sentido, a “desinstitucionalização não se restringe à reestruturação técnica, de serviços, de novas e modernas terapias: torna-se um processo complexo de recolocar o problema, de reconstruir saberes e práticas, de estabelecer novas relações” (AMARANTE, 2007, p. 5).

No começo da década de 1970, no Brasil, foram iniciados movimentos para direcionar propostas de reformulação e reorganização da política de saúde mental buscando humanizar o tratamento dispensado aos pacientes (SILVA, 2005). A organização de parte da população brasileira trouxe, como principais consequências, o fortalecimento dos movimentos sociais e o aumento das demandas sociais para o Estado (MENDES, 1996).

Segundo Amarante (2007), na década de 80, no cenário brasileiro, começaram a surgir três importantes processos para a consolidação dos moldes atuais da reforma psiquiátrica. O primeiro consistiu na ampliação dos atores sociais envolvidos; o segundo diz respeito à reformulação legislativa feita pelo deputado Paulo Delgado (PT-MG), em 1989, através do projeto de lei n.º 3.567/89, aprovado em 2001 - Lei 10.216 (Anexo A); e o terceiro foi o surgimento de experiências institucionais bem sucedidas nos cuidados em Saúde Mental. Assim, a existência dos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), dos NAPS (Núcleo de Atenção Psicossocial), e do SRT (Serviço Residencial Terapêutico) vem concretizando os princípios para a superação do modelo de atendimento até então vigente, centrado apenas nos hospitais psiquiátricos (BRASIL, 2004).

De acordo com Brasil (2005), a reforma psiquiátrica brasileira, materializada na Lei 10.216/2001 (Anexo A), é um processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, e nos territórios do imaginário social e da opinião pública. Compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais que esse processo avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios.

Segundo Brasil (2002), os CAPS, as residências terapêuticas, os centros de convivência e as emergências psiquiátricas são serviços substitutivos implantados para atender casos graves, severos e persistentes de saúde mental. Esses são abertos e

comunitários, articulados com a atenção básica de saúde e demais dispositivos da rede de saúde mental.

Especificamente falando sobre os CAPS, para Brasil (2004), esse serviço tem valor estratégico para a reforma psiquiátrica Brasileira. Cabe aos CAPS o acolhimento e a atenção às pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu território. De fato, o CAPS é o núcleo de uma nova clínica, produtora de autonomia, que convida o usuário à responsabilização e ao protagonismo em toda a trajetória do seu tratamento. Ainda, de acordo com Brasil (2004), existem diferentes tipos de CAPS, são eles:

 CAPS I e II: Se destinam ao atendimento diurno para adultos com transtornos mentais severos e persistentes, por cinco dias na semana;

 CAPS III: Atende adultos com transtornos mentais severos e persistentes. Funciona de domingo a domingo, em regime de 24 horas;

 CAPSi: É especializado no atendimento diurno de crianças e adolescentes com transtornos mentais. Funciona de segunda-feira a sexta-feira;

 CAPSad: Se destina ao atendimento diário de pessoas com transtornos relacionados ao uso de álcool e outras drogas.

 CAPSad 24 horas: Destinado ao atendimento de pessoas com transtornos relacionados ao uso de álcool e outras drogas, funcionando 24h. (Esse tipo de CAPS foi implantado a partir do ano de 2011).

No cenário pernambucano, no ano de 1992 foi criado o primeiro espaço alternativo aos hospitais psiquiátricos no Estado de Pernambuco, o hospital-dia espaço azul, que pode ser indicado como o primeiro ato administrativo para a reforma em saúde mental no estado (ALBUQUERQUE, 2009).

Em 1994, o Deputado Estadual Humberto Costa conseguiu aprovar a lei estadual nº 11.064/94 (Anexo B), que versa sobre a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede de atenção à Saúde Mental e regulamenta a internação involuntária em psiquiatria. Dois anos após a aprovação da lei, entra em funcionamento o primeiro CAPS da cidade do Recife, dando início à municipalização dos serviços de Saúde Mental, como prevê o princípio da descentralização do Sistema Único de Saúde - SUS (GRUNPETER, 2008).

Além da lei estadual, em 1996 foi aprovada a lei municipal n° 16.232/96 (Anexo C) da Câmara Municipal do Recife que trata da reestruturação da rede hospitalar com redução de leitos, melhoria assistencial e implantação de serviços substitutivos (SILVA, 2010).

Segundo Brasil (2012), dentre os estados da região Nordeste, Pernambuco é o que apresenta o menor indicador “CAPS/100.000 habitantes”. Esse indicador representa o índice de cobertura que o estado está tendo em relação à implantação de CAPS. Na imagem abaixo podemos observar a realidade dos estados que compõem a região Nordeste.

Figura 1 - Indicador de cobertura CAPS/100.000 habitantes por ano nas capitais nordestinas

O estado de Pernambuco apresenta 0,64 de cobertura. Para Brasil (2012), essa margem representa um parâmetro de uma boa cobertura em relação ao CAPS implantados. Esses dados revelam que, embora o estado tenha sido beneficiado com o processo de reforma psiquiátrica, ainda há um longo caminho a ser percorrido para a consolidação desse projeto.

De acordo com Souza, Couto e Freitas (2010), a fundação do primeiro CAPS no estado de Pernambuco ocorre no ano de 1996. Ele foi implementado na cidade do Recife, como CAPS tipo II. Após 8 anos, o estado de Pernambuco foi contemplado com um CAPS III, que funciona em regime de 24 horas, e que também foi instalado na cidade o Recife.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010), Pernambuco possui atualmente uma população estimada em 8.796.032 habitantes. Em conformidade com a Gerência de Saúde Mental - GSM (2013), a rede psicossocial no estado é composta por 86 (CAPS), 54 residências terapêuticas, 11 consultórios de rua e 122 leitos em hospitais gerais, além de alguns projetos de reinserção social por meio de atividades culturais

Fonte: Brasil, Ministério da Saúde. SAS/DAPES. Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (2012).