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A regência de D Luísa de Gusmão

No documento Estudos Sobre o “Mercúrio Português (páginas 45-47)

Com a morte de D. João IV, sobe ao trono o seu filho Afonso VI36,

mas, enquanto este não atingiu a maioridade (na altura, catorze anos), D. Luísa de Gusmão, sua mãe, mulher “inteligente e dotada de forte perso- nalidade” (Labourdette, 2003, p. 342), ficou como regente do reino37. No

entanto, mesmo depois de D. Afonso ter feito catorze anos, em 1657, a regência de D. Luísa foi-se mantendo, indefinidamente, devido à incapa- cidade física e mental que todos reconheciam ao rei em governar (Olivei- ra Marques, 1973, p. 446). Oliveira Marques (1973, p. 446) afirma que neste período compreendido entre 1656 e 1662 não ocorreram grandes mudanças comparativamente ao reinado de D. João IV. Veríssimo Serrão (1983, p. 8) afirma que, de uma forma geral, D. Luísa soube reger o país “com o maior tacto político, sabendo congraçar as duas facções palacia- nas que se tinham reunido em torno dos condes de Odemira e de Can- tanhede.”. De facto, depois da morte de D. João IV e durante a regência

36 A subida ao trono de D. Afonso VI (que não havia sido preparado para reinar) deu-se,

porque o filho primogénito do rei, D. Teodósio, morrera prematuramente, aos 19 anos, corria o ano de 1653. Sobre D. Teodósio, diz D. António Caetano de Sousa (1740, p. 265) que era liberal para com os pobres, magnânimo, de uma sensatez admirável, muito corajoso, e sobretudo muito respeitador da Lei de Deus e que desde a mais tenra idade, sabia e falava a língua latina, tendo chegado a compor alguns tratados curiosos e eruditos sobre diversas matérias. Veríssimo Serrão (1991 p. 36) acrescenta que o príncipe “rece- bera uma boa educação literária, científica e militar, contribuindo para a sua formação o padre António Vieira, que lhe moldou o espírito religioso na consciência do grande papel que o destino lhe reservava. (…) O impulso da juventude o fez visitar em 1651 os castelos do Alentejo, onde animou os soldados e as populações; e, no regresso a Lisboa, viu-se nomeado capitão-general das armas do Reino. Referem os cronistas que era mui- to devoto e, ao mesmo tempo, impregnado de ideal guerreiro.”. Também Labourdette (2003, pp. 341 e 342) se refere ao jovem Teodósio como “um príncipe perfeito em quem depositavam as maiores esperanças”.

37 À data da morte de D. João IV, D. Afonso contava apenas treze anos de idade. Segundo

o testamento de seu pai, a rainha D. Luísa de Gusmão, sua mãe, ficaria como regente, até este atingir a maioridade (Saraiva, 1983, p. 24; Veríssimo Serrão, 1983, p. 8).

de D. Luísa, a nobreza encontrava-se dividida em facções inimigas que, constantemente, se batiam entre si (Saraiva, 1983, p. 24).

Durante os anos de regência, Portugal enviou a princesa Catarina de Bragança38 para Inglaterra, em 1661, a fim de casar com Carlos II e as-

sim criar uma união e conseguir alianças entre as duas nações (Costa, 2004, p. 87; Oliveira Marques, 1973, p. 446). Conforme já foi referido, para que tal união se realizasse, foi preciso entregar Tânger e Bombaim, como dote, aos ingleses. Diz Veríssimo Serrão (1983, p. 9) que a coroa inglesa recebia, assim, “pontos fundamentais para alicerçar o seu império ultramarino”, mas a verdade é que, sem o apoio da Inglaterra, Portugal não teria sobrevivido à força das armas espanholas, nem a independên- cia teria resistido à aliança franco-espanhola, decorrente da Guerra dos Trinta Anos (Veríssimo Serrão, 1983, pp. 9 e 10). Este casamento (e esta aliança) foi negociado numa altura em que a Guerra da Restauração en- trara numa fase perigosa para Portugal – a Paz dos Pirenéus era celebrada entre as coroas de França e a dos Habsburgos de Madrid – e os espanhóis podiam agora dedicar-se de forma exclusiva à guerra com os portugueses. Daí que fosse importantíssimo conseguir fortes alianças (Costa, 2004, pp. 86-87). E, de facto, Valladares (2006, pp. 214 e 215) afirma que o casa- mento da princesa com o monarca inglês representou a mais séria ameaça para Madrid, desde o levantamento de 1640, uma vez que um membro dos Bragança conseguia, pela primeira vez, entrar no círculo das famílias reais europeias, assegurando, desse modo, o respeito pela nova dinastia reinante em Portugal.

Foi também durante este período de regência que ocorreram a maior parte das batalhas com a Espanha, o que desagradava a maioria da popu- lação, que começava a questionar a governação de D. Luísa de Gusmão. Este descontentamento era também causado pelo facto de, neste período, Portugal ter tido de pagar o primeiro dote da infanta Catarina (referente ao casamento), o que obrigou a grandes sacrifícios (Saraiva, 1983, p. 29). O autor refere que D. Luísa viu-se até obrigada a vender algumas das suas

38 Inicialmente, pensava-se em casar D. Catarina com o rei de França, Luís XIV, e assim

obter uma aliança com este país. No entanto, o acordo não se realizou, devido ao elevado dote exigido pelos franceses e a infanta acabou por ir parar a Inglaterra, onde casou com Carlos II (Saraiva, 1983, p. 26).

jóias pessoais, de forma a fazer face a esta despesa (Saraiva, 1983, p. 29). Além do mais, o ano fora de fome. Saraiva (1983, p. 29) menciona que foi este ambiente que tornou possível o êxito do golpe que se preparava.

Em jeito de resumo, Ribeiro (1934d, p. 77) descreve desta forma a regência de D. Luísa:

As circunstâncias em que a animosa princesa tomava conta do governo eram particularmente difíceis. Sobrava-lhe energia, mas, em sua volta, os políticos e os militares ambiciosos engendravam aquela rede de dificul- dades que é peculiar a todas as regências pela menoridade do reinante: dissídios por questões de precedência, rebeldias por apetites insatisfeitos, orgulhos que podem finalmente extravasar, quando a morte gelou para sempre a mão que costumava firmar os decretos de cargos, as cartas im- pondo exílios e abrindo prisões.

Assim, em 1662, um golpe de estado palaciano transferiu o poder para D. Afonso VI e D. Luísa decide afastar-se da corte.

No documento Estudos Sobre o “Mercúrio Português (páginas 45-47)