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A REGIÃO HIDROGRÁFICA DA BAÍA DE GUANABARA: LOCALIZAÇÃO E

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2 CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS E GOVERNANÇA DAS ÁGUAS:

3.2 A REGIÃO HIDROGRÁFICA DA BAÍA DE GUANABARA: LOCALIZAÇÃO E

O Conselho Estadual de Recursos Hídricos do estado do Rio de Janeiro (CERHI-RJ) estabeleceu, por meio da Resolução n° 107/2013, a divisão do estado do Rio de Janeiro em 9 regiões hidrográficas, visando efetivar a descentralização da gestão das águas. O objetivo dessa divisão foi estimular a criação dos CBHs, facilitar a gestão e aperfeiçoar a aplicação dos recursos financeiros.

Figura 1: Divisão hidrográfica do estado do RJ

Fonte: Fórum Fluminense de Comitês de Bacias Hidrográficas (2016).

Segundo Relatório elaborado pela Universidade Federal Fluminense a partir do Projeto Macacu10, a Região Hidrográfica da Baía de Guanabara, que ocupa uma área de 4.198 km2, engloba 15 municípios, sendo 9 integralmente — Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo, Nilópolis, São Gonçalo, Magé, Guapimirim, Itaboraí e Tanguá — e 6 parcialmente — Rio de Janeiro, Niterói, Nova Iguaçu, Cachoeiras de Macacu, Rio Bonito e Petrópolis.

Figura 2: Região Hidrográfica da Baía de Guanabara Fonte: Fórum Rio, 2016.

Observando os contornos dados à Região Hidrográfica da Baía de Guanabara (RHBG), do ponto de vista de gestão, percebe-se que esta corresponde, praticamente, aos mesmos contornos geográficos da RMRJ, o que demonstra os desafios impostos a este comitê de bacia hidrográfica, uma vez que no território metropolitano fluminense incide uma série de projetos e interesses diversificados.

A Baía de Guanabara é estuário, onde deságuam inúmeros rios originados na Serra do Mar e na Baixada Fluminense. As águas captadas pelas bacias hidrográficas desses rios levam à baía, em média, 200 mil litros de água por segundo, resultantes da drenagem de 4.000 km. As maiores bacias são as dos rios Guapi/Macacu, Caceribu, Iguaçu/Sarapui, Estrela/Inhomirim/Saracuruna, Guaxindiba/Alcântara, Meriti/Acari, Canal do Cunha, Canal do Mangue, Bomba, Imboaçu, Suruí, Roncador, Magé e Iriri. Nas áreas densamente urbanizadas, os rios são quase todos canalizados e em muitos trechos são cobertos, conduzindo águas de péssima qualidade.

Segundo censo do IBGE de 2010, a RHBG tem aproximadamente 11.646.133 habitantes. Falta saneamento para a maioria desta população: um terço reside em favelas e outro

terço em condições precárias de urbanização. Em 2009, a região do entorno da Baía de Guanabara tinha 17% do esgoto tratado. Hoje, são 49%, de acordo com o Governo do Estado e estima-se que a universalização do saneamento na região da Baía de Guanabara custará em torno de R$ 27,7 bilhões (RIO DE JANEIRO, 2016).

Historicamente, as águas protegidas da Baía de Guanabara permitiram que se desenvolvesse uma estrutura portuária na região, dando suporte às atividades produtivas. E a partir do século XX, associou-se a essa estrutura portuária um complexo industrial com alto potencial degradante.

A atividade industrial é intensa e representada por indústrias químicas, petroquímicas, farmacêuticas, de alimentos entre outras. Além disso, a região possui o maior porto militar do País, e seus dois portos comerciais são de intensa atividade, tanto de mercadorias, quanto de movimentação relacionada ao turismo.

Se na atualidade o uso industrial é marcante, há algumas décadas eram a pesca artesanal e industrial que marcavam a paisagem e a economia da Baía de Guanabara. Os grupos de pescadores artesanais que ainda resistem nesta atividade vivem em conflito permanente contra a apropriação privada e a poluição dos bens de uso comum que convivem neste território (RIO DE JANEIRO, 2016).

O espelho d’água e a porção terrestre da bacia hidrográfica da Baía de Guanabara são ocupados por indústrias e atividades que fornecem riscos à população que vive no entorno. As áreas de exclusão são definidas pela presença das atividades industriais, portuárias e militares, bem como pela intensificação da poluição, pelo assoreamento e pelas dragagens. Segundo Relatório da ALERJ (2016), os maiores atingidos pelas áreas de exclusão da região hidrográfica da Baía de Guanabara são os pescadores. A pesca artesanal tem, aproximadamente, 12% do espelho d’água sem restrição para a atividade pesqueira.

Além disso, dados do diagnóstico da hidrografia da Estação Ecológica da Guanabara (2009) indicam que as principais fontes poluidoras que degradam os recursos hídricos na região hidrográfica da Baía de Guanabara são geralmente associadas às indústrias, ao esgoto sanitário e aos resíduos sólidos. Cerca de 70% de toda a contaminação de origem industrial das águas da RHBG provinham de aproximadamente 14.000 indústrias de pequeno, médio e grande porte. A região possui duas refinarias de petróleo, sendo uma delas a segunda maior do País, dois aeroportos, dois portos comerciais, 16 terminais de petróleo e derivados, um terminal de gás, 12 estaleiros e 2000 postos de serviços. As principais indústrias com maior significância de efluentes industriais na região são o complexo petroquímico em torno da Refinaria Duque de

Caxias – REDUC – Petrobras (rio Estrela), das indústrias de reaproveitamento de papel e papelão (Rio Soberbo) e da CIBRAN – Companhia Brasileira de Antibiótico (rio Caceribu).

Existem várias iniciativas para a despoluição da Baía de Guanabara em andamento, tais como: o Pacto pelo Saneamento, instituído pelo Decreto Estadual 42.930/2011, que envolve dois programas: o Lixão Zero, parceria das prefeituras com a Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, e o Rio+Limpo, parceria entre a Companhia Estadual de Águas e Esgotos - CEDAE, a Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária - SEAPEC e as prefeituras; o Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (PSAM), que já obteve avanços em relação ao Plano de Despoluição da Baía de Guanabara11 (PDBG), apoiando a formulação dos Planos Municipais de Saneamento Básico. No entanto, a Comissão Especial da ALERJ para a Baía de Guanabara, em seu último relatório (2016), avalia que são inúmeras as ações, muitas vezes sobrepostas, com grande aporte de recursos, e que não conseguem avançar em seus objetivos.

As ameaças à Baía de Guanabara são inúmeras, cumulativas e sinérgicas, o que amplifica os efeitos negativos sobre esse ecossistema e sua população. Importante ressaltar que os grandes problemas da degradação ambiental que abrangem a Baía, afetando os mais diversos ecossistemas, não respeitam os limites da divisão político-administrativa municipal, sendo esta divisão uma das maiores fontes de tensão e conflitos, pois envolve diferentes interesses. Ou seja, sua configuração é o resultado de diferentes formas de apropriação dos territórios, e da consolidação de políticas públicas que regulamentam seus usos sobrepostos neste espaço geográfico.

11 “O Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) foi assinado em julho de 1991 e previa a cooperação

técnica entre os governos brasileiro e japonês, depois da experiência bem-sucedida na despoluição da Baía de Tóquio. Além do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), houve investimento do Japan Bank for Internacional Cooperation (JBIC)”. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014- 07/despoluicao-da-baia-de-guanabara-comecou-na-decada-de-90-sem-eficacia

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