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4. A vitória liberal: o fim do regime despótico de D Miguel e o restabelecimento

4.2. A regulamentação do método eleitoral e a coroação de D Maria II

Consolidada a vitória militar na Convenção de Évora Monte, D. Pedro regulamentou o método eleitoral, pelo decreto de 3 de junho de 1834215, em conformidade com a Constituição liberal portuguesa de 1826.

O sufrágio era masculino e o voto indireto aos maiores de 25 ou 21 anos – de acordo com o estado civil e o estatuto profissional -, condicionado a um censo de renda mínima líquida anual de 100.000 réis para poder votar nas assembléias paroquiais e escolher os eleitores diretos, que deveriam ter renda anual não inferior a 200.000 réis.

Os eleitores diretos se reuniam nas capitais das províncias para eleger os deputados, que, dentre outros requisitos, deveriam ter renda anual não inferior a 400.000 réis.

Após o decreto de 3 de junho de 1834, as eleições foram realizadas e, ao término destas, no dia 15 de agosto, as Cortes se reuniram no extinto convento de São Bento da Saúde. Um outro decreto, anterior a este, de 30 de maio, determinou a extinção das ordens religiosas masculinas no reino, e, embora houvesse restrições, nacionalizou praticamente todos os seus bens. 216

A chegada de D. Amélia e de D. Maria II a Lisboa se deu a convite de D. Pedro. Transferidas da França para a Inglaterra em 22 de setembro de 1833217, permaneceram aos cuidados da corte inglesa em Windsor218 até a chegada de D. Pedro, em um vapor, na companhia de Napier, mais dois ajudantes de campo e quarenta e oito homens.219

215

Cada deputado representava 25.000 habitantes, sendo variável, por conseguinte, o número de

representantes eleitos por província: o Douro, com 21; a Estremadura, com 20; o Minho, com 16, a Beira Alta e a Beira Baixa, com 14 cada; Trás-os-Montes, com 11; Alentejo e Algarve, com 9 cada; Açores, 8; Madeira, 4.” Op. Cit. MATTOSO, s.d.; p. 96.

216

Op. Cit. MATTOSO, s.d.; p. 98. 217

Op. Cit. NAPIER, 1841, Tomo II; pp. 343-4. 218

Op. Cit. NAPIER, 1841, Tomo II; p. 344. 219

Chegaram a Lisboa em outubro de 1833, sendo recebidos pelos oficiais da Corte portuguesa, sob forte esquema de segurança promovido pela Marinha inglesa e pela lusitana.220

Após uma salva de tiros dos navios, foram recebidas pelos escaleres e, ao desembarcarem em terra, receberam as vivas da comitiva, tomando um coche. Depois de passarem pela Catedral de Lisboa, foram instaladas no Palácio das Necessidades. No dia 24 de outubro, houve revista nas tropas do Exército Libertador e o cumprimento de seus principais oficiais e generais. 221

No dia 25, houve uma reunião da Corte em Bemposta222, quando D. Maria II sentou-se no trono pela primeira vez, recebendo os cumprimentos dos cortesãos e dos oficiais das corporações públicas e de um corpo diplomático estrangeiro.223

A coroação da herdeira do trono ocorreria em 24 de setembro de 1834, na Câmara dos Deputados, no Palácio São Bento, pouco antes do falecimento de seu pai e regente224, ocorrido naquele mesmo dia225, no Palácio de Queluz.226

D. Pedro faleceu em decorrência de sintomas de Tuberculose, em uma época em que os recursos médicos eram escassos e pouco eficazes contra essa doença. Além dos sintomas da Tuberculose, D. Pedro tinha comprometido seu organismo com o esforço físico extenuante durante as expedições militares sobre as cidades do Porto e Lisboa.227 O duque de Bragança

220

Op. Cit. NAPIER, 1841, Tomo II; p. 347. 221

Op. Cit. NAPIER, 1841, Tomo II; p.348. 222

Bemposta é uma freguesia portuguesa do concelho de Abrantes. 223

Op. Cit. NAPIER, 1841, Tomo II; p. 349. 224

D. Pedro era regente de Portugal desde 30 de setembro de 1833. 225

“O Rei-Soldado morreria pouco depois (24 de setembro), com 36 anos apenas, vítima de uma

doença que se agravara durante a guerra e o minara irremediavelmente há algum tempo.” Op. Cit.

MATTOSO, s.d.; p. 96. 226

Falece no mesmo quarto em que nascera, a sala Dom Quixote, aos 36 anos incompletos.

teve consciência do risco de morte, preparou seu testamento, tendo nomeado sua segunda esposa como tutora de seus filhos; expirou nos braços de D. Amélia.228

Figura 24

Rainha D. Maria II em medalhão de bronze

D. Maria II se tornava rainha por direito, sem ter de enfrentar uma oposição pública e declarada, mas não contou um consentimento unânime da Corte e da sociedade portuguesa. Após o término da agitação civil, em meio a dívidas interna e externa crescentes229, contraídas, em sua maior parte, devido aos custos da guerra, o Estado monárquico teve dificuldades de controlar a crise na agricultura e na indústria nascente, tornando apática uma burguesia que não vislumbrava perspectivas.

“(...) três séculos de vida mais da exploração do trabalho alheio do que de hábitos de

actividade própria, levaram àquilo que já se chamou o comunismo burocrático. Um operariado industrial e agrícola rasando pela miséria, uma burguesia sem aptidões naturais nem preparação técnica para a criação ou fecundação da riqueza, e assim temerosa do futuro e sem confiança no próprio esforço, compreende-se que tenham, como ideal de vida, assentar- se à mesa do orçamento, a comer a fatia nunca farta, mas quási sempre garantida.”(CIDADE, Hernani. História de Portugal: de D. João VI aos nossos dias. IV vol. Porto: Livraria Lello e irmão, 1936; pp. 54-5.)

228

29/09/1834 - Carta de d. Amélia, duquesa de Bragança, a d. Januária - Descrevendo os últimos

momentos de vida de d. Pedro - Informando que, por disposição testamentária, fora nomeada tutora dos filhos dele. Op. Cit. HORTA; ARGON; COSTA, 1998. CD-ROM.

229

“Na altura em que o governo liberal se instala em Lisboa (em Julho de 1833) só a denominada

“dívida legal” (excluindo, por isso, a “ilegal”, ou seja, a de D. Miguel) somava perto de 39.000 contos de réis.” Op. Cit. MATTOSO, s.d.; p. 99.

4.3. A reforma judiciária portuguesa e a análise teórica e política do Liberalismo na