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As regularizações das ocupações urbanas vêm ocorrendo em várias cidades brasileiras. A Constituição de 1988 já garantia alguns instrumentos urbanos e jurídicos para que as regularizações do acesso irregular do solo urbano se tornasse possível.

A regularização compreende por definição a necessidade de integração e articulação de ações, cuja responsabilidade encontra-se setorizada na administração pública; desse modo, remete-se à questão fundamental da necessidade de reorganização administrativa da máquina pública e de uma gestão urbana com participação social ampliada. A estratégia de identificação de áreas de intervenção específica é um caminho possível [...] (MOTTA, 2002, p.177)

A regularização fundiária em fins da década de 1990 e início dos anos 2000 passou a ser um dos instrumentos mais discutidos nos meios político e acadêmico. Não é um tema novo, mas tornou-se primordial a sua compreensão e utilização principalmente após a aprovação do Estatuto da Cidade, em julho de 2001, que trouxe propostas de instrumentos pra viabilizar o processo de regularização das ocupações urbanas.

A regularização é uma questão ainda muito polêmica e vários argumentos são utilizados tanto para defendê-la quanto para lhe fazer oposição. Os argumentos de oposição são quanto ao meio ambiente, os impactos sócio-econômicos devido à intensificação dos processos de mercantilização da área informal, e até mesmo, questões ideológicas são colocadas para justificar esse posicionamento.

Quanto aos argumentos de defesa, Fernandes (2003) coloca que devido, à falta de uma reflexão crítica, as decisões de estratégias político-jurídicas para se realizar a regularização têm sido justificadas por uma combinação de argumentos religiosos, humanitários, sócio-políticos entre outros.

Existem várias formas de regularização da ocupação urbana. De acordo com Alfonsim (1997), a regularização pode ser fundiária, urbanística e judiciária. Os três tipos podem acontecer separadamente ou em conjunto, conforme a realidade da ocupação urbana. O ideal é que aconteçam as três etapas conjuntamente. Conforme a autora, existe uma confusão conceitual dos termos quando da sua aplicação. A autora faz a seguinte distinção entre os termos:

- Regularização fundiária refere-se a titulação dos lotes;

- Regularização jurídica vai adequar o uso conforme a legislação; - Regularização urbanística refere-se à urbanização do local.

Regularização fundiária, para Alfonsin (1997), é o processo de intervenção pública, sob os aspectos jurídico, físico e social, que objetiva legalizar a permanência de populações moradoras de áreas urbanas ocupadas irregularmente para fins de habitação, implicando acessoriamente melhorias no ambiente urbano do assentamento, no resgate da cidadania e da qualidade de vida da população beneficiária.

Regularizar é a garantia da posse, mas, analisando o caso brasileiro quanto às irregularidades, é fácil perceber o quanto ainda estamos longe de obter uma solução para as desigualdades urbanas, principalmente, quanto ao acesso à terra/moradia.

Não é necessário realizarmos uma pesquisa específica para chegarmos à conclusão de que a maioria do povo brasileiro quer ter a sua casa própria, o título de propriedade, sair do aluguel e fixar-se em algum lugar.

A segurança da posse é um dos maiores desejos da população de baixa renda, que mora irregularmente. Souza (2003), averiguando a existência ou não de relação entre a seguridade da posse e as condições que propiciam a melhoria e consolidação das habitações, realiza um estudo com alguns moradores de Recife e Maceió. No ano de 1996, Recife possuía um total de 65 ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social), incluindo-se 300 dos 600 assentamentos. A penas um destes assentamentos foi completamente regularizado em 1998

Em Maceió, segundo Souza (2003), 100 mil habitantes moravam em mais de 190 assentamentos informais. As invasões organizadas em terras privadas não eram toleradas, mas as realizadas em terras públicas contavam com uma certa tolerância por parte dos poderes municipal e do Estadual. Em alguns assentamentos de baixa renda, os moradores eram privilegiados, não tinham ação de remoção e contavam com serviços urbanos. Em outros assentamentos, os moradores não tinham a mesma segurança e viviam sob a ameaça de serem removidos para outros locais. Segundo Souza (2003), os moradores declaram que sempre alguém está reclamando a posse da terra, além de denunciarem a falta de envolvimento da municipalidade nas questões referentes à melhoria de suas habitações e de seus assentamentos. Mas a questão da seguridade não se resume apenas à posse da terra/moradia, pois, outros fatores devem ser considerados, como a segurança pessoal. Tal insegurança faz com que o morador não realize investimentos em suas casas.

Mesmo não tendo segurança na posse da casa os moradores conseguem ter acesso a alguns benefícios como: créditos e materiais de construção (processos informais de consolidação das casas) melhorando assim suas residências. Em muitos casos esta melhoria significa de acordo com Souza (2003), a segurança de suas vidas e seus pertences, pois os mesmos estão constantemente expostos a enchentes, calor, esgotos, roubos, etc. Os barracos de lona, plástico ou papelão ainda permitem que o morador seja atingido por uma bala perdida, ou seja mais facilmente atacado por pessoas moradoras ou não do local.

[...] a idéia de que o mercado será mais ativo onde seja garantida a posse/ permanência dos moradores pode ser falsa. Os moradores começam uma invasão em busca de um lote e em alguns casos terminam comprando um barraco em locais que não oferecem nenhuma garantia formal de investimento. O lugar metafórico onde a oferta atende à demanda não necessita de seguridade, mas de demanda por habitação. (SOUZA, 2003, p.150)

1.3. –

A importância dos cartórios na regularização Fundiária no