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2.2 O PROCESSO DE INFORMATIZAÇÃO DA SOCIEDADE

2.2.2 A relação de consumo e os produtos eletrônicos

Neste item será analisado o contexto sócio-econômico que promoveu o processo que tornou competente o estabelecimento do processo capitalista voltado ao consumo de eletrônicos. Apesar de haver certa especificidade da apropriação, algumas características gerais que acompanham a sociedade no que diz respeito às mudanças sociais da época da incorporação da rede existe devem ser compreendidas.

Desse modo:

Compreender a transformação estrutural morfologicamente significa que o aparecimento da sociedade em rede como um tipo específico de estrutura social, liberta a análise da sua estrutura de Prometiana, e deixa em aberto o julgamento valorativo do significado da sociedade em rede para o bem estar da humanidade. Nós estamos mentalmente formatados para uma visão evolucionista do progresso da humanidade, visão que herdamos do Iluminismo e que foi reforçada pelo Marxismo, para quem a humanidade, comandada pela Razão e equipada com a Tecnologia, se move da sobrevivência das sociedades rurais, passando pela sociedade industrial, e finalmente para uma sociedade pós-industrial/da informação/do conhecimento, a

62 SANTOS, Milton. Por outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 19. ed. Rio de Janeiro: Recorde, 2010, p. 159.

63 LEVY, Pierre. O que é o virtual. São Paulo: Ed. 34, 1996, p. 28. 64 Idem.

montanha esplendorosa aonde o Homo Sapiens vai finalmente realizar o seu estado dignificante.65

Dentre os fundamentais pontos que definem o período histórico das sociedades está a consolidação das relações através do indivíduo, provocando variações nas relações de trabalho, com a perda da força dos sindicatos, em que no trabalho a flexibilização das relações é negociada com o próprio indivíduo; crise do patriarcalismo, surgimento de movimentos feministas, imersão da mulher no mercado de trabalho; desintegração da família nuclear tradicional; novos modelos de urbanização; desconexão entre megacidades e microlugares; e crise da legitimidade política.

As transformações advindas desde o séc. XVI em termos econômicos, sociais e culturais contribuíram para que se evidenciasse o termo sociedade de consumo. Tais mudanças alteraram o modo e a quantidade dos produtos lançados formando cada vez mais novos e diversos conjuntos de objetos progressivamente distanciados da “necessidade”. Para contribuir com essas mudanças somam-se outros movimentos como, por exemplo, a preocupação com novas formas de lazer e a propagação do modo de ser individualista como uma maneira apropriada e singular de se ser e conseguir sucesso.

A capacidade de trabalhar autonomamente e ser um componente ativo de uma rede tornou-se uma máxima na nova economia. Isto é o que eu conceptualizei como trabalho autoprogramado. As empresas procuram conservar este tipo de trabalhador o mais possível, porque ele é a maior fonte da sua produtividade e capacidade de inovação. Isto parece ir contra a noção de instabilidade da força de trabalho. Contudo, o trabalhador autoprogramado é quem tem poder negocial no mercado de trabalho. Então, o seu contrato pode ser de tipo estável, mas a sua continuidade no emprego tende a ser reduzida em relação a outras classes de trabalhadores, porque ele/ela está sempre em movimento, à procura de novas oportunidades. E não necessariamente para aumentar os seus rendimentos mas para ganhar mais liberdade, tempo mais flexível ou maiores oportunidades criativas66.

Assim, fica evidente que essas modificações impactaram o padrão de consumo adotado por diversos países. Dessa forma muitas indústrias passaram a fabricar inúmeros produtos com o intuito de atender as novas “necessidades humanas” que provocaram inúmeras e profundas alterações no meio ambiente natural. Para Hawken:

É notável que as indústrias fabriquem numerosos produtos para satisfazer as necessidades humanas, mas ao mesmo tempo, geram muitos subprodutosperigosos

65 CASTELLS, Manuel. E CARDOSO, Gustavo. A sociedade em rede: do conhecimento à política. Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2005, p. 18.

como emissões, efluentes e resíduos, que dispersam no ambiente, provocam mudanças na qualidade ambiental e afetam a saúde dos seres humanos, animais, plantas e ecossistemas67.

Em decorrência, toda a produtividade que antes era voltada para satisfazer as necessidades humanas básicas, ficou direcionada ao acúmulo de riquezas por meio da produção em massa de bens de consumo.

Nesse ponto, o computador se apresenta como o propulsor do advento da informação, pois “o nascimento da informação, não só como conceito, mas também como ideologia, está inextricavelmente ligado ao desenvolvimento do computador68”, assim, a grande reivindicação em favor da informação e tecnologia que inicialmente foi aplicada para a o controle militar, ocorrida em fins da década de 1940 e início de 1950.

Segundo Kumar:

A ocasião e o ritmo de crescimento indicam a estreita relação entre o computador e as necessidades do Ocidente, sobretudo da forma como eram interpretadas nos Estados Unidos. Componentes fundamentais do computador, como os circuitos elétricos miniaturizados, foram desenvolvidos pelos americanos para uso militares específicos durante a Segunda Guerra Mundial – nesse caso, os detonadores remotos para bombas. O computador eletrônico digital em si surgiu principalmente para realizar cálculos balísticos e as análises que resultaram na bomba atômica69.

Aliado a essa nova possibilidade de concepção social, desponta a globalização. Ela, enquanto processo, implica em profundas mudanças no campo econômico, político, sociocultural e tecnológico, as quais potencializam diversas discussões, dentre as quais a que se refere aomomento histórico-social que a sociedade se encontra.

A globalização atual é muito menos um produto das ideias atualmente possíveis e, muito mais, o resultado de uma ideologia restritiva adrede estabelecida. Já vimos que todas as realizações atuais, oriundas de ações hegemônicas, têm como base construções intelectuais fabricadas antes mesmo da fabricação das coisas e das decisões de agir. A intelectualização da vida social, recentemente alcançada, vem acompanhanda de um forte ideologização.70

67 SINGH, A.; LOU, H. H.; YAWS, C. L.; HOPPER, J. R.; PIKE, R.W. Environmental impact assessment of different design schemes of an industrial ecosystem Resources, Conservation and Recycling. Vol. 51, 2, p. 294-313, 2007.

68 KUMAR, Krisham. Da sociedade Pós-Industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 1997, p. 19.

69 Idem.

70 SANTOS, Milton. Por outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 19. ed. Rio de Janeiro: Recorde, 2010, p. 159.

Decorre então, que a continuidade das atividades industriais impactou na majoração da capacidade de produção, refletindo no aumento da produção e consumo de bens e no aumento do descarte de produtos, pois para que esses pudessem estar sempre disponíveis, a extração de recursos naturais se tornou freqüente.

Após a extração irracional, a poluição oriunda dos processos de industrialização, sendo na emissão de gases poluentes e resíduos da produção em rios e mares, tem-se atualmente a preocupação dos resíduos eletrônicos como um problema ambiental, representado por grandes quantidades de produtos eletrônicos dispostos de forma incorreta no meio ambiente.