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A recapitulação de Z6, em Z11^, mostra que este capítulo é separado de Z4 e Z5, pois reassume o problema da qüididade sob nova perspectiva. Se este capítulo constitui-se numa reflexão cujo objeto distingue-se daquele analisado nos dois capítulos anteriores de Z, de certo modo, esta mesma reflexão vincula-se à anterior. O próprio

Aristóteles apresenta-a como uma reflexão de algum uso para a

investigação do ser como substância^.

Por adição Aristóteles entende coisas que, na definição, devem ser ditas duas vezes, como ocorre nos exemplos acima citados Cf. Metafísica, Z5,103^-5.

2®’ Cf. Metafísica Z 5, 1031^11-4.

^ Em Z11,1037a33/1037b1-7, resumindo sua reflexão sobre a qüididade e a definição,

Aristóteles afirma: K a i ôxi xò x i riv e ív a i K a i èKao-nov fejii xivcov |xèv xa-uxó, óanep

èni xœv Kpóixojv cuovœv, oíov Kajxji-üXóxriç x a i K a |i7ct)A,óxr|xi e íva i, ei Ttpóxri ecrxív

(Xkyco ôè npcóxTiv fj p,fi A-éygxai xcô áXXo kv àXXœ e ív a i K a i moKeiixèvcú œç

■uiri), ò a a Sè coç -uXri f| cbç a-uveiXrmfxéva xf] ífaX-r], ob xabxó, ol)5’ <ei> Kaxà

cup.pepriKÒç èv, oiov ZcüKpáxrjç K a i xò ¡o.o\xjikóv xaí>xa yàp x a m à Kaxà

ovuPePTiKÓç.

Z6 explora a relação entre as duas seguintes afirmações : O ser substancial de cada coisa é sua qüididade. Cada coisa não é outra que

sua qüididade. Confrontando estas duas afirmações, Aristóteles

estabelece uma clara distinção entre substância e acidente. Inicia o confronto dizendo que cada coisa e sua substância parecem ser o mesmo, e que a qüididade parece ser a substância de cada coisa, mas, nas coisas ditas acidentais, cada coisa e sua qüididade parecem não ser o mesmo. Com o exemplo do homem branco mostra, para o caso das coisas ditas acidentais, suas conseqüências serem o mesmo que sua qüididade; homem branco e homem seriam o mesmo; não serem o mesmo que sua qüididade; músico e branco, em relação ao homem

músico e homem branco, seriam a mesma coisa^.

Deixando de lado a análise das coisas acidentais, Aristóteles questiona se, entre as coisas ditas por si, não há algumas substâncias que possuam naturezas anteriores a si mesmas, como alguns afirmam a respeito das Idéias^®^. Aristóteles conclui que há identidade entre cada coisa por si e sua qüididade^. No caso do ser por acidente, ao contrário do que é por si. a qüididade do branco, por exemplo, em homem branco,

^ Uma coisa não é o mesmo que sua qüididade se ela for um œmposto de um sujeito e

um atributo acidental. Cf. 1031 a19-28. Cf. também Ross Aristotle's Metaphysics il, p. 205.

0 mesmo se pode dizer a respeito de um composto formado de um sujeito e de um atributo próprio; por exemplo, número ím par não pode ser definido.

a partir de Z6.1031a28.

Aristóteles está dizendo que cada coisa por si é o mesmo que sua qüididade, mas afirmou, anteriormente, que o composto de um sujeito e de um atributo próprio (que é um ser por si) não pode ser definido. Isto mostra que, aqui, ele está se referindo a termos náo compostos e, mais especificamente, à substância.

nao e o mesmo que homem, nem o mesmo que homem branco, mas o mesmo que a afecção.

IV - Argumento a favor da prioridade da

forma

Em Z, capítulos 7 a 9, Aristóteles muda de assunto. Este parece ser o motivo da repentina interrupção da análise da qüididade,

tema desenvolvido em Z4 a 6. Se Z7, comparado aos capítulos

anteriores deste livro da Metafísica, trata de um assunto tão diverso, tem-se de buscar uma razão para isto. Alguns intérpretes dizem que os capítulos de 7 a 9 foram adicionadas a Z. Uma evidencia de que um acréscimo foi feito pode ser notada no fato de tais capítulos abordarem temas que estariam melhor situados em outros üvros de Aristóteles como, por exemplo, na Física, ou em Sobre a Geração e a Corrupção. No entanto, analisando o livro Z a partir da idéia de que a substância é, para Aristóteles, sujeito, tem-se uma explicação mais razoável para este aparente acréscimo a Z, ou para esta mudança de assunto em relação a capítulos anteriores. Aristóteles está, nestes capítulos de Z, intercalando um argumento a favor da forma enquanto substância primeira; está, principalmente, voltando a pensar sobre a questão do sujeito. Se esta

afirmação for verdadeira, independentemente de Z7 a 9 terem sido

intercalados posteriormente pelo próprio Aristóteles ou escritos na

seqüência natural de Z, estes capítulos completam uma discussão

o livro Z da Metafísica procura responder à questão o que é

substância, ou melhor, procura saber o que, em cada substância

sensível, determina a sua substancialidade; ou ainda, em outras

palavras, procura dizer, nos sensíveis, qual é a substancialidade da

substância. A resposta a tal questão será indicada em duas perspectivas;

O livro Z mostrará que substância é forma e que forma coincide tanto com qüididade quanto com sujeito. Em Z, sujeito e qüididade vão sendo

explicitados de modo paralelo. Tais perspectivas de análise da

substância não possuem distintos graus de importância e complementam- se mutuamente. Antes de analisar qüididade no nível (p-oaiKcòç, tema que naturalmente continuaria Z6, em Z7, Aristóteles retoma a reflexão sobre

a questão do sujeito, tema em parte desenvolvido em Z3, mostrando

como também este, no nível (p-ucnKÔx;, é a forma. Assim, o livro Z faz,

intencionalmente, um parêntese na análise da qüididade. Antes de

retomar tal análise, ou seja, antes de mostrar que as propriedades mais fundamentais de um ser, aquelas sem as quais algo não só não pode ser definido, como já foi explicitado na análise A,oyikôiç, mas também não pode existir, mostra que a substância é sujeito. Em outras palavras, os dois candidatos à substância, sujeito e qüididade, passam a ser vistos

como complementares. Ambos coincidem com a forma. Esta,

dependendo de como é vista e analisada, pode ser entendida como base determinada e separável do ser e, como tal, como sustentação de todas as outras propriedades de um ser. Forma é sujeito. Mas forma

fundamentais de um ser. Estas coincidem com aquelas que devem ser ditas numa definição de algo; são a qüididade

Estes três capítulos de Z perseguem dois objetivos: o primeiro, baseado no princípio de sinonimia, procura mostrar que uma substância, quando vem a ser, tem o gerador e o gerado idênticos pela forma. O segundo busca mostrar a anterioridade da forma, substância primeira, ou melhor, procura dizer como a forma, na substância concreta, é anterior ao composto, pois toda substância deve ser produto de outra forma. As outras categorias, como, por exemplo, quantidade, qualidade etc. são anteriores ao composto apenas em potência.

Além do tema, o início abrupto do capítulo, constatado devido à falta da partícula Sè, tem sido apontado como justificativa para a consideração de que o conteúdo de Z7-9 foi, originalmente, escrito para contexto distinto de Z. No entanto, esta passagem contém um problema de texto que deve ser levado em conta: Jaeger, em sua edição da

Metafísica inicia Z7 do seguinte modo; TcSv ■yiyvonévoúv.... Ross escolheu iniciar assim; Tcov ôè yi^Y^orévcov... 0 primeiro autor segue n - Consensus codicum E e J, o

segundo autor segue Ab - Codex Laurentianus 87,12 saeculiu X II e Ale - Alexandri citatio. Se, do ponto de vista dos manuscritos, a segunda solução pode ser utilizada,

nada impede que se tomem os textos em questão como parte natural de Z.

Ross comenta que os sumários de Z11,1037a21-b7 e de H1042a4-22 não se referem aos capítulos 7-9. Lembra, no entanto, que eles foram citados em Z,15,1039b26. C f ROSS, D. W. Aristotle's Metaphysics, 181.

Sobre este tema. Bostock entende que o motivo pelo qual Aristóteles inclui aqui tais capítulos é mostrar que forma não é. ela mesma, produzida ou criada. Defende que este ponto é relevante para Z. No entanto, diferentemente do que se está defendendo acima, entende que não é possível acreditar que. no momento em que a discussão contida em Z7-9 foi feita por Aristóteles, seu objetivo central era tratar deste aspecto relacionado a Z. Cf. Bostock. D avid./Ar/stoWe Weíap/?ys/cs,'Books Z and H. p. 119-120.

1. As distintas possibilidades de geração dos

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