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A relação entre jovens e rádio na academia

O Rádio e os Jovens: um mapeamento dos estudos sobre as relações entre

2. A relação entre jovens e rádio na academia

Se o jovem é o motor de muitas transformações na Comunicação, trata- se, portanto, de um público chave a ser estudado. Mais ainda: para um meio que registra crises de audiência, como é o caso do rádio, é estratégico conhecer a

juventude, seus usos e hábitos. A reinvenção do rádio, oua sua adaptação à cultura contemporânea, pode partir então da juventude: o seu consumo mediático ditará as tendências de apropriação e domesticação2 dos meios em geral e do próprio

rádio pelos próximos anos (CUNHA, 2010, p.172). No entanto, quando se volta o foco para as pesquisas desenvolvidas em especial nas Ciências da Comunicação, o que se percebe é outra realidade: não se dá a devida atenção aos jovens como público estratégico ou, no mínimo, não se está a investigá-los atualmente. Ainda que a relação entre jovens e rádio já tivesse sido trabalhada ao longo dos anos, a cultura contemporânea apresenta-nos uma série de mudanças tecnológicas que justificariam uma retomada do tema: “À medida que cresce o número de jovens escutando rádio em seus celulares e smartphones, justifica-se a inclusão mais massiva desse segmento em trabalhos futuros” (KNEWITZ, 2014, p.115). Porém, a visibilidade que a questão juvenil alcançou na sociedade “não foi acompanhada em termo de produção acadêmica, principalmente, no que se refere aos estudos específicos sobre juventude e mídia sonora” (BAUMWORCEL, 2010, p.1).

Essa problematização é ainda mais grave se analisados os pólos da relação – rádio e jovens – separadamente. Os estudos sobre rádio contribuíram, ao longo do século XX – principalmente até os anos 70 –, muito para o campo da Comunicação, uma vez que “parte dos estudos sobre os fenômenos comunicacionais se dedicou à mediação radiofônica, extrapolando, porém, suas conclusões para os meios de comunicação como um todo” (KISCHINHEVSKY, 2012, p.418). No início dos estudos comunicacionais, a partir de 1920 e 1930, alguns teóricos demonstraram interesse pelo rádio; porém, com o advento e o fortalecimento da televisão, a academia concentrou-se mais nas audiências e nos conteúdos televisivos. Nesse sentido, Madalena Oliveira (2015, p.239) analisa que, por ter acompanhado o surgimento de muitas formas de representação visual ao longo do século XX, o rádio “afirmou- se como um meio invisual, uma característica que muitas vezes o confundiu com um meio também invisível” – invisível, principalmente, ao olhar da academia. Mais recentemente, esse movimento repetiu-se em relação ao ciberespaço, com o virtual e a internet tomando grande parte da atenção das pesquisas. Com efeito, “o meio

Se o jovem é o motor de muitas transformações na Comunicação, trata-se, portanto, de um público chave a ser estudado. Mais ainda: para um meio que registra crises de audiência, como é o caso do rádio, é estratégico conhecer a juventude, seus usos e hábitos.

2. O conceito de domesticação refere-se a “um processo de consumo – pelo qual o consumo se rela- cionava com a invenção e o design, bem como com o enquadramento público das tecnologias como objetos simbólicos de valor e desejo” (SILVERSTONE, 2010, p.4).

por: Diego Weigelt e Brenda Parmeggiani

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radiofônico não representa, na verdade, um meio muito expressivo nas Ciências da Comunicação. Ao contrário da imprensa, ou mesmo da televisão, o rádio não conta com uma grande tradição acadêmica” (OLIVEIRA, 2015, p.240).

No que tange aos estudos sobre a juventude, segundo levantamento realizado por Ana Baumworcel (2010, p.7), prevalece uma abordagem sociológica, portanto não comunicacional especificamente. Nas áreas em que os jovens são alvo de investigação no Brasil, tais como Educação, Sociologia, Antropologia e Serviço Social, os meios de comunicação são deixados de lado das discussões: predominam temas como escola, gênero, família, sexualidade e exclusão social (BAUMWORCEL, 2010, p.2).

No caso de Portugal, o rádio não é expressivo nas Ciências da Comunicação. Um exemplo disso é que, apesar de o grau de doutor na área ser concedido no país desde 1991, apenas em 1997 foi apresentada a primeira tese de doutorado em Ciências da Comunicação sobre rádio em uma universidade portuguesa (OLIVEIRA, 2015, p.243). Mesmo em nível internacional, foram poucas as pesquisas realizadas com ênfase na rádio: até meados dos anos 1980, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, os trabalhos concentravam-se na televisão, recepção, usos e efeitos (CHRISTENSON et al., 1985, p.338). Só que, de acordo com Madalena Oliveira (2013, p.76), esse cenário é mais acentuado em Portugal do que em outros países da Europa e no Brasil; no país, “a investigação em comunicação tem reconhecido pouco o papel social e cultural que o rádio tem desempenhado”. Nesse sentido, Meneses (2011, p.54) é enfático: “uma análise mais responsável remete-nos para o desinteresse dos próprios investigadores”. Ainda, Oliveira (2015, p.245) critica o baixo número de periódicos dedicados ao rádio e destaca como exceções a revista Comunicação e Sociedade e a Revista Media e Jornalismo, cada uma com um número sobre o tema.

Por outro lado, a autora defende que os Estudos em Rádio são uma área relevante, promissora e desafiadora em Portugal, pois “oferece uma oportunidade de produção inovadora e original, que poderá contribuir quer para um conhecimento mais vasto da paisagem mediática quer para a revitalização do setor e da sua articulação com outras áreas das indústrias culturais” (OLIVEIRA, 2015, p.247). Além disso, notam-se esforços para dar maior visibilidade ao rádio no país, como a criação do grupo de trabalho Rádio e Meios Sonoros, em outubro de 2013 (OLIVEIRA, 2015, p.245-246).

Nos últimos tempos, especialmente, é possível notar que a investigação sobre o meio apresenta uma tendência para quatro temas em especial: 1) o estudo do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico; 2) sobre os modelos de negócio, calcados na dualidade do acesso gratuito versus a rentabilidade; 3)

o foco voltado para o serviço público; e 4) a respeito das novas demandas de atuação dos radialistas em função da convergência e dos novos dispositivos até o encurtamento do número de profissionais disponíveis para o desempenho de ainda mais funções dentro de uma redação (OLIVEIRA, 2013, p.84). Entretanto, sem questionar a validade de tais estudos, Oliveira (2013, p.84) argumenta que “o rádio e a sua história de afetos reclamam dos investigadores um maior investimento na discussão do seu estatuto cultural e do seu papel de instrução do imaginário social”. Logo, há mais facetas radiofônicas a serem exploradas.

No caso brasileiro, a produção acadêmica voltada para a relação entre o rádio e a juventude também é esparsa. Se os jovens não aparecem como um público de interesse para os pesquisadores da área de rádio, a recíproca parece verdadeira: as questões que cercam a mídia sonora são praticamente inexistentes na agenda de investigação das áreas que se dedicam aos estudos da juventude (BAUMWORCEL, 2010, p.1). Portanto, não se percebe um diálogo entre as disciplinas, uma troca de saberes.

Relativamente à Comunicação, Ana Baumworcel (2010) realizou um levantamento dos trabalhos que problematizaram a relação entre rádio e jovens no Brasil. Para isso, a autora pesquisou a palavra juventude nos anais do Congresso da Sociedade Brasileira de Ciências da Comunicação (Intercom) e do Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós). No primeiro, entre 2000 e 2010, foram encontrados apenas 22 artigos3 relacionados à mídia sonora, cujos autores eram majoritariamente

de iniciação científica (BAUMWORCEL, 2010, p.9). Nos anais do segundo, relativamente ao mesmo período, o resultado denota que a juventude foi muito pouco abordada, menos ainda se associada à mídia sonora. Para a autora, “os inventários apresentados comprovam como o campo de estudos sobre juventude e mídia sonora no Brasil ainda é incipiente e apresenta poucas investigações” (BAUMWORCEL, 2010, p.11).

Sobre os estudos radiofônicos no país, especificamente, “o rádio encontra limitada acolhida como objeto de pesquisas acadêmicas” (KISCHINHEVSKY, 2010, p.189). Nesse sentido, Kischinhevsky (2010, p.188-189) afirma que faltam estatísticas sólidas a respeito do consumo radiofônico e que são raros “os trabalhos de campo que permitem análises mais aprofundadas sobre o meio, particularmente no tocante ao consumo cultural”. Nilda Jacks e Felipe Franke (2006, p.86) debruçaram-se sobre a produção acadêmica na década de 1990: das 1.769 dissertações e teses defendidas nos Programas de Pós-Graduação

3. Embora pareça um resultado significativo, 22 artigos é pouco para um congresso da dimensão do Intercom que reúne milhares de investigadores da área em dezenas de grupos de discussão.

por: Diego Weigelt e Brenda Parmeggiani

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em Comunicação do país, apenas pouco mais de 3% tinha o rádio como objeto de estudo. A maior contribuição para a investigação radiofônica, conforme Kischinhevsky (2010, p.190), vem do Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonorada Intercom, que “tem desempenhado papel de relevo no estímulo aos estudos radiofônicos”, porém ainda com poucos trabalhos focados na juventude.

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