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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.3 A Relação entre Tecnologia e Ciência da Informação

Investigar os aspectos relacionados à Tecnologia na CI ainda é uma questão que divide opiniões dos estudiosos da área. Começando por Ibekwe-Sanjuan (2012), que identificou que a

49 relação da CI com a tecnologia é construída em cima de um panorama dual de atração, em um primeiro momento, seguida de uma repulsão que se observa até os dias de hoje.

Saracevic (1996) observou que a relação existente entre homem-tecnologia seria um ponto fraco, uma espécie de questão não resolvida filosoficamente, cientificamente ou profissionalmente na CI. Essa característica perdura até os dias atuais, conforme observou Souza, Almeida e Baracho (2013) ao afirmarem que ainda há uma resistência em investigar certos aspectos da tecnologia e isso vem redundando na diminuição substancial, migração ou esvaziamento daqueles que poderiam ser considerados objetos legítimos ligados à CI e estão sendo observados por outras áreas do conhecimento.

Ibekwe-Sanjuan (2012) explica que na França, os estudiosos da CI da primeira geração mantinham uma colaboração frutífera com o paradigma físico13 envolvendo os sistemas de informação. Entretanto, os pesquisadores que vieram após essa primeira geração começaram a eliminar as pesquisas com viés tecnológico, ao ponto que, segundo a autora, “tornou-se moda criticar qualquer pesquisa de abordagem tecnológica ou tecnicista”. Uma crítica da escola francesa à tecnologia é que, estudos ligados a esta área, não destacam que são as pessoas que transformam os dispositivos tecnológicos em ferramentas para a comunicação mediada por máquinas e que, sem as pessoas, estas tecnologias permaneceriam façanhas inteligentes de engenharia, porém, inúteis.

Ibekwe-Sanjuan (2012) também sumariza a questão da tecnologia na escola anglófona (língua inglesa) onde seus estudiosos também emitiram avisos sobre os perigos de uma abordagem demasiada tecnológica para as problemáticas da Ciência da Informação, especialmente Hjørland, (1998); Hjørland e Albrechtsen, (1995) e; Saracevic, (1999). Hjørland e Albrechtsen (1995) expressaram o temor de que o paradigma físico simbolizado pela teoria da informação de Shannon e da Ciência da Computação, caso não fosse controlada, iria transformar a Ciência da Informação em um terreno para especialistas vindos de outras disciplinas que trabalham com problemas teóricos de informação, mas a partir do contexto de sua disciplina de origem e isto faria a Ciência da Informação desnecessária como disciplina

13 Fundamentado na divisão de paradigmas proposto na obra de Rafael Capurro (2003). O paradigma

físico é baseado numa epistemologia fisicista, centrada apenas nos sistemas informatizados com fins de organização, recuperação, armazenamento e coleta das informações.

50 científica.

Essa dualidade também é observada no Brasil onde Correa (2014) apresenta uma reflexão sobre a riqueza e a validade das teorias de dois discursos, completamente opostos sobre tecnologia. Ela tenta promover um diálogo entre Gil Giardelli (tecnófilo) e Andrew Keen (tecnófobo) e como os seus pontos de vista antagônicos abrem perspectivas de debate para a CI. Barreto (2007, p.4) é mais incisivo em afirmar que a “CI procura os benefícios políticos de ter as tecnologias de informação, lançam o seu enunciado em seu discurso, mas por muitas razões não operacionalizam esta inovação em suas práticas”.

Borko (1968) coloca a CI como uma ciência interdisciplinar. Mas, considerando-se a relação atual entre CI e tecnologia e a concepção de interdisciplinaridade de Japiassu (1976), onde o mesmo sugere que a interdisciplinaridade exige uma reflexão profunda e inovadora sobre o conhecimento, que demonstra a insatisfação com o saber fragmentado que está posto; parece que a CI entra na contramão do processo interdisciplinar, ao fragmentar o conhecimento sobre fenômenos complexos relativos à Informação e Tecnologia e se apropriando de apenas partes desse conhecimento sem a preocupação de entendê-lo como um todo.

Ademais, Saracevic (1996) aponta a necessidade da CI buscar um equilíbrio entre estudos relacionados ao comportamento humano e a tecnologia, visto que a CI possui três características gerais que são a razão de sua existência. Em primeiro lugar, a CI é interdisciplinar por natureza. Segundo, a CI está inexoravelmente conectada à tecnologia da informação e, em terceiro lugar, a CI é um participante ativo na evolução da Sociedade da Informação, juntamente com outros campos.

Saracevic (1995) discute a natureza da Ciência da Informação e suas relações interdisciplinares no artigo Interdisciplinarity nature of Information Science. Neste estudo, o autor aponta áreas de convergência entre CI e diversas áreas, das quais destacamos as Ciências Cognitivas e Ciência da Computação. A relação com a Ciência da Computação está no uso dos computadores e da computação, dos produtos associados, serviços e redes. Nas ciências cognitivas há duas áreas de relação com a CI, a inteligência artificial (IA) e a interação homem- computador.

51 pode ser usada em várias ocasiões desde os sistemas de recuperação da informação até a construção de agentes inteligentes. O autor mencionado ainda afirma que um agente inteligente pode adaptar-se ao ambiente a ponto de resolver problemas de localização de informações, como se o próprio ser humano estivesse executando a ação. Em outras palavras, o Software recebe informações de um ser humano e as converte em opções de busca em um sistema de informação.

Martins (2010) ainda afirma que a relação da IA com a CI se dá na construção de interfaces inteligentes, assumindo que estas devem adaptar-se às pessoas, e não o contrário. Uma aplicação das interfaces inteligentes é vista nas bibliotecas digitais com a finalidade de melhorar a experiência do usuário à medida que aprimora a recuperação das informações, tornando-a mais precisa possível. Outras aplicações da IA na CI sugeridas por Martins (2010) são: (i) Sistemas de classificação automática de conteúdo (relação com ontologias e sintagmas nominais); (ii) Processamento de linguagem natural (PLN) e; (iii) Gestão de informações (relação com mineração de dados).

Ainda que algumas agendas de pesquisa entre CI e TI estejam sendo desenvolvidas na área da CI, Jorente, Santos e Vidotti (2009, p. 5) afirmam que a CI deveria ter ou criar mais espaços de investigação que permitam a compreensão das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para a potencialização de competências informacionais, para a criação de arquiteturas informacionais e computacionais mais inclusivas, para a conceituação de usos da informação em ambientes informacionais digitais, para a aprendizagem de metalinguagens e para a representação da informação.

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