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3.2 Caracterização da produção, processamento e comercialização de

3.2.1 A relevância da produção orgânica no território das ESG

objetivo o não uso de agrotóxicos, aliado ao uso mínimo de elementos da química inorgânica nas plantações. Busca-se assim substituir os ciclos químicos por ciclos biológicos, sendo comum o uso da adubação orgânica e da policultura. Neste contexto, a pequena propriedade gerenciada pelo núcleo familiar parece ser um lócus adequado para este padrão de produção, conforme discutido no capítulo 2.

Em Santa Catarina, a agricultura orgânica e a agroecológica ainda são atividades emergentes. Precisam impor-se como modelos paradigmáticos de sustentabilidade, expressando sua natureza intrínseca de menor impacto ambiental e de grande alcance social (ZOLDAN; MIOR, 2012). A pesquisa da EPAGRI - Produção orgânica na agricultura familiar de Santa Catarina, publicada em 2012, localizou 603 agricultores orgânicos em 138 municípios catarinenses (ZOLDAN; MIOR, 2012). O Brasil está entre os maiores produtores orgânicos da América Latina, mas sua produção ainda é muito tímida se comparada a países de economia avançada. Também por esse motivo, o Governo Federal tem procurado incentivar a difusão desse sistema de produção por meio de legislação específica, programas institucionais entre outras ações (CARDOSO, 2005 apud EPAGRI, 2010, p. 59).

Diferentes autores apontam que o surgimento da produção orgânica no território das ESG se deu na década de 1990 como alternativa ao cultivo de fumo, que apresentava queda nos preços e elevação dos custos de produção, além do aumento dos problemas de saúde trazidos pelo trabalho exaustivo e pelo uso intensivo de produtos químicos no processo produtivo. Esta iniciativa expressa a busca pela sustentabilidade ambiental e econômica, além de alimentos mais saudáveis. Assim o sistema orgânico de produção configurou-se como alternativa de geração de renda para alguns produtores do território. Inicialmente, a prática orgânica se concentrava nos municípios de Santa Rosa de Lima e Rio Fortuna, mas hoje se espalhou para outros municípios das Encostas da Serra Geral. A maior parte da produção orgânica passa por processamento em agroindústrias, agregando valor e aumentando o prazo de validade dos produtos, que podem ser comercializados com maior facilidade. Em Novembro de 2007 Santa Rosa de Lima foi reconhecida por meio de um projeto de lei do legislativo como capital catarinense da agroecologia (OLIVEIRA, 2004; LACERDA, 2005; EPAGRI, 2010; GELBCKE, 2006; PORAZZI, 2013; MULLER, 2001; GUZZATTI, 2012).

Oliveira (2004) ao analisar a formação e a evolução do arranjo produtivo local, centrado no cultivo e no processamento de alimentos orgânicos, afirma que as origens do arranjo agroindustrial de produção orgânica datam de 1996, surgindo a partir da fundação da AGRECO. Chama atenção para a capacidade dos agentes locais em conseguir formar laços de sustentação com diversas organizações e instituições para o apoio às atividades e aos projetos dos agricultores orgânicos.

A tabela 7 exibe o número de agricultores orgânicos cadastrados em 2010 nos municípios que fazem parte das ESG, segundo o

documento da EPAGRI sobre a produção orgânica na agricultura familiar de Santa Catarina (ZOLDAN; MIOR, 2012).

Tabela 7 - Agricultores orgânicos cadastrados por município nas ESG em 2010 Município Nº de agricultores Lauro Müller 4 São Bonifácio 7 Rancho Queimado 7 Grão Pará 2 Gravatal 3 Rio Fortuna 6

Santa Rosa de Lima 16

Total 45

Fonte: ZOLDAN, P.C.; MIOR, L.C. Produção orgânica na agricultura familiar de Santa Catarina. Florianópolis: Epagri, 2012.

Percebe-se que em 2010 foram cadastrados 45 estabelecimentos que cultivam orgânicos, com maior concentração em Santa Rosa de Lima, onde o arranjo teve origem. Nota-se ainda que Anitápolis, São Martinho e Braço do Norte não figuram como produtores de orgânicos na publicação da EPAGRI. Contudo, durante o estudo exploratório constatou-se a existência, em Anitápolis, de uma pequena propriedade que produz por meio da permacultura. Dados mais recentes demonstram que houve uma evolução no número de propriedades que cultivam orgânicos nas ESG, mesmo considerando apenas os associados à Cooperagreco. Esta cooperativa surgiu a partir de 2009 buscando ampliar o alcance da AGRECO e institucionalizar os esforços iniciados em 1996 (GUZZATTI, 2012).

Guzzatti (2012) aponta que a Cooperagreco possuía 82 propriedades associadas, com áreas variando de 1 a 400 ha e média de vinte e seis hectares, totalizando 177 produtores distribuídos em Anitápolis, Santa Rosa de Lima, Rio Fortuna, Gravatal, Tubarão, Imaruí, Laguna, Imbituba. Desse total, 44% possuíam produção totalmente orgânica; 35% possuíam a propriedade parcialmente orgânica, ou seja, mantêm parte da produção no método orgânico, e outra parte no sistema convencional ou em fase de transição, e 21% estavam com a produção em condição de conversão para a produção orgânica.

As informações levantadas por meio da entrevista de campo realizada com o presidente da Cooperagreco revelaram que em 2013 a cooperativa possuía 200 famílias associadas, incluindo algumas em

processo de transição. Constatou-se ainda que o maior volume de alimentos orgânicos é realmente produzido em Santa Rosa de Lima.

As informações referentes aos anos de 2010, 2012 e 2013 sugerem que a produção orgânica vem crescendo no território ao longo dos anos, o que demonstra a transformação pela qual o território vem passando rumo a um desenvolvimento mais sustentável. Porém, é importante colocar que estas 82 propriedades citadas por Guzatti (2012) ou mesmo as 200 famílias produtoras de orgânicos, representam uma pequena parcela dos estabelecimentos rurais do território. Esta colocação pode ser evidenciada ao verificar o número de estabelecimentos da AF distribuídos entre os municípios de Santa Rosa de Lima (455), Rio Fortuna (657), Anitápolis (376) e Grão Pará (871) conforme foi descrito na tabela 3. Portanto, apesar do território se destacar como produtor de orgânicos no estado, este sistema produtivo proporcionalmente ainda é tímido. Este fato corrobora com as informações descritas anteriormente sobre a produção nacional de orgânicos, que ainda tem muito a crescer no Brasil, reforçando a importância de programas institucionais estimularem a difusão de sistemas produtivos mais sustentáveis do ponto de vista ambiental e social. Por meio da legislação específica, o PNAE preconiza a preferência por alimentos orgânicos ou agroecológicos para o preparo das refeições de milhares de escolares diariamente. Neste sentido, apesar de proporcionalmente o território ainda apresentar um número pequeno de agricultores orgânicos, oferece vantagens para o atendimento das demandas do PNAE, pois já está preparado para fornecer orgânicos, enquanto que outras regiões onde este sistema produtivo ainda não foi implantado levarão algum tempo até terem seus produtos certificados. Cabe frisar que no caso do fornecimento de produtos agroecológicos ou orgânicos para a alimentação escolar, admite-se preços de referência com um acréscimo de até 30% sobre os demais, oferecendo vantagens ao produtor.

Uma característica forte entre os produtores orgânicos das ESG é o alto grau de associativismo e cooperativismo. Do total de 45 produtores sob o regime de produção orgânica, 71,11% (32 produtores) trabalhavam associados a alguma cooperativa, entidade de classe ou associação de produtores (EPAGRI, 2010).

Oliveira (2004) ao se referir ao arranjo produtivo local de alimentos orgânicos do território estudado afirmam que este tipo de arranjo se diferencia dos outros tipos de aglomeração por apresentar, necessariamente, interações entre os agentes participantes, empresas e instituições. São caracterizadas por uma concentração geográfica de

empresas que, a partir de interações, podem obter ganhos de competitividade.

Deste modo, as considerações acima demonstram que os agricultores familiares do território das ESG, já há algum tempo, vem desenvolvendo dinâmicas organizativas voltadas à produção orgânica e a valorização do seu papel enquanto categoria social. As estratégias adotadas dão ideia do protagonismo dos agricultores familiares no processo de governança do território e visam a manutenção de suas famílias no meio rural a partir de uma relação mais sustentável do ponto de vista econômico e ambiental.

A tabela 8 expõe os dados publicados pelo IBGE referentes à produção agrícola municipal dos 10 municípios que fizeram parte do estudo exploratório.

Tabela 8 – Produção Agrícola Municipal 2011 da lavoura temporária e permanente nos 10 municípios estudados

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal 2011. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. NOTA 1: Atribui-se zeros aos valores dos municípios onde, por

arredondamento, os totais não atingem a unidade de medida tonelada. Adaptado pela autora.

Legenda: Anitápolis (AT), Braço do Norte (BR), Grão Pará (GP), Gravatal (GT), Lauro Muller (LM), Rancho Queimado (RQ), Rio Fortuna (RF), Santa Rosa Lima (SRL),São Bonifácio (SB), São Martinho (SM)

Pelos dados apresentados na tabela 8 se tem ideia da produção do território estudado, que como já foi comentado é marcado pela forte presença da agricultura familiar. Destaca-se a produção de cana-de- açúcar, especialmente nos municípios de Rio Fortuna e São Martinho e de tomate em Rancho Queimado e Anitápolis, que também se sobressai pelo cultivo de mandioca e milho. A produção de palmito figura apenas em Gravatal. Percebe-se que a variedade de frutas produzidas pelos

municípios é pequena. Também é importante notar que, com exceção de Racho Queimado, os demais municípios ainda produzem fumo em quantidades variadas, cultura bastante comum na região e que gradativamente vem sendo substituída pelo cultivo de orgânicos.

De acordo com a EPAGRI (2010) alguns produtos orgânicos que são produzidos na região das Encostas são: hortaliças, frutas, mel, chás e ervas. Em algumas propriedades é feito o processamento destes produtos. Produzem melado, produtos em conserva, as frutas geralmente são transformadas em geleias e doces, dos tomates produzem molho, os morangos são congelados para fazer polpas ou doces, entre outros.

A publicação de Guzzatti (2012), apresenta informações relativas às propriedades filiadas à AGRECO distribuídas nos municípios de Anitápolis, Santa Rosa de Lima, Rio Fortuna, Gravatal, Tubarão, Imaruí, Laguna e Imbituba.A autora ressalta que a produção é bastante diversificada em cada propriedade rural associada à AGRECO. A maior parte das unidades produz mais de uma cultura, utilizando, inclusive, técnicas de produção consorciada. A produção por tipo de produto pode ser verificada na tabela 9.

Tabela 9 - Volume anual total de produção da Cooperagreco por tipo de produto

Cultura Nº de Propriedades Volume de Produção Unidade de Medida Aves 7 44.400 Unidades Mel 6 53.900 Quilos Frutas 46 768,05 Toneladas Grãos 8 55 Toneladas Cana-de- açúcar 10 1.636,5 Toneladas Olerícolas 60 1.697,21 Toneladas Fonte: Guzatti (2012).

Os dados da tabela 9 complementam as informações da tabela 3, demonstrando o número de propriedades envolvidas nos diferentes cultivos, destacando-se as que produzem olerícolas e frutas. Percebe-se também que são produzidas aves e mel em quantidades significativas. Cabe frisar que estes produtos são importantes na composição de cardápios adequados às recomendações legais do PNAE.

Por fim, considera-se importante pontuar que parte destes produtos é vendida in natura e parte é encaminhada para processamento nas agroindústrias rurais e posteriormente vendida nos diferentes mercados e estados do país (EPAGRI, 2010).

3.2.2 Processo de agroindustrialização e comercialização de