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II. A Desconstrução da República Federativa brasileira

II.V. A República Federal Repressiva

Art. 1º - O Brasil é uma República Federativa, constituída sob o regime

representativo, pela união indissolúvel dos Estados, do Distrito

Federal e dos Territórios.

Constituição da República Federativa do Brasil de 1967

Em 1964 a paralisia decisória do sistema político e a desconfiança do mercado e da

sociedade civil com o governo deflagraram a crise que culminou em um golpe de Estado civil-

140 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MS nº 895-DF, rel. Min. Macedo Ludolf, do Tribunal Federal de Recursos, convocado em função da ausência do Min. Goulart de Oliveira, em gozo de licença, j. em 25.05.1949. 141 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MS nº 900-DF, rel. Min. Hahnemann Guimarães, j. em 18.05.1949. 142 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MS nº 2.264-DF, rel. Min. Luiz Gallotti, j. em 01.09.1954.

militar e a instauração de um Regime Militar.

144

Mantiveram a Constituição até o ano de 1967,

apesar de a reformarem por meio dos atos Institucionais

145

e por emendas constitucionais. Com

base em tais reformas, políticos opositores ao regime foram afastados de seus cargos, a garantia

constitucional do habeas corpus foi cerceada tal como a apreciação judicial de atos praticados

pelo Comando Supremo da Revolução e pelo Governo Federal. Ainda, foi introduzido o

controle abstrato de constitucionalidade, com a inclusão da ação direta de

inconstitucionalidade, a partir da Emenda Constitucional nº 16/1965

146

.

A partir desses eventos se constitui uma ordem social fincada na repressão das

liberdades, com a centralização na figura do Presidente da República e do Comando Supremo

da Revolução, exercida por meio de um movimento institucional das Forças Armadas.

147

Como

um novo Poder Moderador, as Forças Armadas controlam o Executivo, aparelham o Estado e

exercem total domínio sobre as instituições políticas.

148

Nessa concepção, a ordenação nacional

é determinada pela atuação repressiva e dirigente das Forças Armadas, quais se julgavam

Revolucionárias, para centralizar o poder militar e restringir a política de massas, populares

nos três últimos regimes, em virtude do nacionalismo.

149

Em 1967, com o regime já estabelecido, promulga-se a nova Constituição de modo a

trazer uma roupagem jurídica a realidade fática encontrada no país. A nova carta, ainda que

profundamente alterada pela Emenda Constitucional nº 1, de 1969, visou preservar a legalidade

formal dos atos repressivos cometidos pelo regime militar, a fim de manter a legalidade sob o

ponto de vista jurídico nacional e internacional. Cumpre frisar que essa alteração ocorre face a

fase de consolidação e agravamento do regime ditatorial-militar, presidida por Garrastazu

144 SANTOS, W. G. Op. Cit., 1986. No mesmo sentido, Emilia Viotti da Costa, “Castelo Branco, Odílio Denys, Golbery, Mamede e Olímpio Mourão conspiravam. Os governadores Ademar de Barros, Carlos Lacerda, Magalhães Pinto e lido Meneghetti aderiram à conspiração. No dia 31 de março, Olímpio Mourão Filho, repetindo o gesto de 1937, que criara condições para a implantação do Estado Novo, comandava suas tropas em marcha para o Rio de Janeiro. Mais uma vez, o país assistia à queda de um governo eleito. O dispositivo militar do presidente Goulart não se mostrou capaz de oferecer resistência. Os operários não responderam à convocação de greve geral decretada pela CGT. Isolado, Goulart abandonou Brasília e refugiou-se no Rio Grande do Sul. O Congresso apressou-se em decretar vago o cargo de presidente da República antes mesmo que o presidente tivesse abandonado o país”. COSTA, E. V. da. O Supremo Tribunal Federal e a construção da cidadania. 2ª ed. São Paulo: Editora da UNESP, 2006, p. 157.

145 BRASIL. Ato Institucional Número 1, de 9 de abril de 1964; Número 2, de 27 de outubro de 1965; Número 3, de 5 de fevereiro de 1966 e Número 4, de 7 de dezembro de 1966.

146 BRASIL. Emenda Constitucional nº 16, de 1965. “Art. 2º As alíneas (…) k do art. 101, inciso I, passam a ter a seguinte redação: (...) k) a representação contra inconstitucionalidade de lei ou de ato de natureza normativa, federal ou estadual, encaminhada pelo Procurador-Geral da República;”.

147 O’DONNELL, G. Reflexiones sobre las tendencias de cambio del Estado burocrático-autoritário. Buenos Aires, CLACSO, 1975.

148 STEPAN, A. The Military in Politics: Changing Patterns in Brazil. Princeton: Princeton University, 1971 149 CODATO, A. N. Uma história política da transição brasileira: da ditadura militar à democracia. Rev. Sociol. Polit., nº. 25, Curitiba, nov. 2005.

Médici. Nesse interstício temporal, foi decretado o Ato Institucional nº 5, o mais repressivo

dos atos, ao suspender garantias constitucionais como o habeas corpus, legitimar a suspensão

de direitos políticos e a intervenção nos Estados e Municípios pelo interesse nacional.

150

Nesse sentido, a ordenação nacional é mais uma vez centralizada no governo central,

contribuindo para a formação de um Federalismo de Integração. Ampliados os poderes da

União sobre a competência fiscal e a repartição tributária, além de permitida a livre intervenção

nos Estados e Municípios, a soberania dos estados era cada vez mais esvaecida.

151

A relativa

autonomia estadual construída nos regimes anteriores se deteriorou face à subordinação política

e econômica em relação à União, aproximando a ordem nacional à roupagem de um Estado

unitário descentralizado, tendo em vista a ampla dependência dos entes federados em relação

à União. Durante a fase de consolidação do regime, a influência estadual poderia estremecer as

políticas repressivas em curso, de modo que o poder político deveria estar vinculado às ordens

emitidas pelo governo central, a fim de promover a segurança e o desenvolvimento econômico

nacional. Com efeito, o processo de fusão do Estado da Guanabara e do Rio de Janeiro ilustra

tal ambição da ordem nacional repressiva, já que o Estado da Guanabara, enquanto importante

reduto eleitoral emedebista, ameaçava os interesses do regime.

152

Esta instrumentalização da

ordem nacional repressiva concretizou-se no governo seguinte, por meio da Lei Complementar

nº 20, de 1974.

153

A fase de repressão seria levemente atenuada no governo de Geisel (1974 - 1979) no

momento em que as forças militares insurgem-se para clamar a sua própria ordenação,

fragilizada em razão do regime.

154

Com uma nova facção militar no poder, buscou-se

restabelecer a ordem militar interna, com maior estabilidade institucional e previsibilidade

150 BRASIL. Ato Institucional Número 5, de 13 de dezembro de 1968.

151 ARRETCHE, M. Quem taxa e quem gasta: a barganha federativa na federação brasileira. Rev. Sociol. Polit., Curitiba, 24, p. 69-85, jun.-2005.

152 AMORIM NETO, O.; SANTOS, F. O Rio de Janeiro e o Estado Nacional (1946-2010). Dados, 56 (3), 2013, p. 467-496. Nesse sentido, os autores citam: “Neste quadro de derrota eleitoral [do regime militar] e alternativa oposicionista, a fusão ofereceu para os estrategistas do regime militar, uma alternativa de baixo custo. Independentemente de suas justificações burocráticas ou dos projetos dos próceres da segurança nacional, o fato é o que processo da fusão representou, de imediato, a possibilidade de retirar esta independência do Estado da Guanabara e a nomeação discricionária de um novo governador. Ainda que o MDB continuasse como a força política dominante, uma vez que, no antigo Estado do Rio de Janeiro, o partido também havia vencido as eleições de novembro de 1974, adiava-se o problema da constituição do governo, com a nomeação do almirante Faria Lima.” DIAS, J. L. Partidos e Eleições no Rio de Janeiro - 1974-94. In: M. de Moraes Ferreira (org.), Rio de Janeiro: Uma Cidade na História. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2000. p. 169.

153 BRASIL. Lei Complementar nº 20, de 1º de julho de 1974.

154 MARTINS, L. A política (e os limites) da “abertura”. Rio de Janeiro: Ensaios de Opinião, v. 15, dez. 1979 - ago. 1980, p. 22.

política do regime.

155

Para tanto, as Forças Armadas foram se desvinculando das ações de

comando e dos setores de repressão do Estado, reorganizando-o administrativamente para

centralizar o poder na Presidência da República.

156

Assim, o regime se transformava, de modo

a vestir roupagens mais liberais e institucionalizar o movimento de reabertura política, o qual

culminou com a revogação de todos os atos institucionais anteriores a 1968.

157

A reabertura política, potencializada no governo de Figueiredo (1979 - 1985), finaliza a

ordem repressiva ao regulamentar o processo de redemocratização. Diferencia-se, em razão de

sua dinâmica própria, a qual permitiu um processo eleitoral livre e não mais bipartidário.

158

Essa dinâmica é caracterizada por um processo de negociação entre os militares e as novas

forças democratizantes, com um processo gradual de inclusão de direitos liberais e uma

distensão do controle repressivo à sociedade.

159

Durante a transição, mantiveram-se os

resquícios autoritários do regime, de modo a controlar o seu ritmo e poder exigir maior

compensação nas vindouras negociações.

160

Ao mesmo tempo em que o processo fortalecia a

autoridade do Executivo, as forças militares eram continuamente desligadas das funções

estatais, recredenciando-as à garantia da ordem interna.

Centralizado à figura do Presidente, a mudança política era supervisionada tanto pelos

militares, quanto pelos emedebistas. Com uma crescente importância dos civis no cenário

político e uma redefinição na ordem econômica, as relações de força modificaram-se,

provocando uma nova interação entre o mercado, a sociedade civil e o governo. Optou-se por

um governo de transição lento e gradual, com uma natureza conservadora e ainda com os

resquícios autoritários do regime, de forma que “não houve uma verdadeira substituição dos

grupos ligados à ditadura, mas uma reacomodação no universo das elites, tendo as Forças

Armadas passado para o fundo do palco, sem contudo, perder suas prerrogativas”.

161

Assim, a

antes do processo de redemocratização completa, houve uma democracia relativa, na qual se

155 GASPARI, E. A ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras. 2002.

156 CODATO, A. N. A burguesia contra o Estado? Crise política, ação de classe e os rumos da transição. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, n. 4-5, p. 55-87, jun.-nov., 1997.

157 Art. 3º - São revogados os Atos institucionais e complementares, no que contrariarem a Constituição Federal, ressalvados os efeitos dos atos praticados com bases neles, os quais estão excluídos de apreciação judicial. BRASIL. Emenda Constitucional nº 11, de 13 de outubro de 1978.

158 LIMA JÚNIOR, O. B. Democracia e instituições políticas no Brasil dos anos 80. São Paulo: Loyola, 1993, p. 39.

159 SKIDMORE, T. The Politics of Military Rule in Brazil, 1964-85. Oxford: Oxford University, 1988. p. 323- 325; CODATO, A. N. Op. cit., 1997.

160 LINZ e STEPAN, A. A transição e consolidação da democracia: a experiência do Sul da Europa e da

América do Sul. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 205.

creditava à ordem nacional e social um papel de reconfiguração e realinhamento, incorporando

mudanças graduais do vindouro regime.

Durante o regime, controversa foi a postura do Supremo Tribunal Federal. Sob o regime

da segurança nacional

162

, o STF mostrou-se neutro no deferimento do novo regime, ao passo

que seu Presidente, Ribeiro da Costa, comparece a posse de Ranieri Mazzilli em 1º de abril de

1964.

163

Contudo, o bom relacionamento com o regime não tardou, com a intercorrência de

casos que contrariavam os interesses do regime militar. Já em 1964, a liberdade de expressão

foi questionada em sede do HC 40.910-PE, julgada no mesmo ano.

164

Na ocasião, o professor

Sérgio Cidade de Resende foi acusado de ter subvertido a ordem vigente por distribuir em sala

material contrário ao regime. Na defesa da liberdade de expressão, os Ministros concederam o

Habeas Corpus já que o manifesto não continha elementos para subverter a ordem política e

social do período.

165

O acórdão contrário à nova ordem instigou uma crescente animosidade

das Forças Armadas face ao Supremo Tribunal.

A incompatibilidade do Judiciário com o novo regime seria reiterada em, pelo menos,

dois outros casos. Nestes, envolvendo o afastamento dos governadores do Amazonas e de

Goiás.

166

No primeiro caso, o Supremo concedeu o habeas corpus preventivo ao ex-governador

Plínio Coelho, ameaçado de prisão após já ter sido preso por ordem do governo federal. No

segundo, o Supremo concedeu o habeas corpus preventivo ao governador de Goiás, Mauro

Borges Teixeira, um dos principais líderes do PSD, partido opositor ao regime. É importante

162 A defesa da Pátria, a preservação das instituições, a proteção do cidadão e da coletividade é direito e dever do Estado. Nenhuma Nação pode sobreviver com independência, se não lhe for reconhecida a prerrogativa de defender, com o Poder e pela força, se necessária, o seu território, o seu povo, o seu regime político e o seu sistema constitucional, contra a violência das minorias inconformadas e o ataque das ideologias contrárias à ordem jurídica vigente. (...) Além das atividades subversivas caracterizadas pelo emprego da violência para a tomada do poder, outras existem que podem influir na opinião pública e afetar a segurança nacional, tal como a divulgação de idéias e noticiários tendenciosos, por todos e quaisquer meios de comunicação falada, escrita ou expressa na imagem, pela imprensa pelos filmes, pelo rádio ou pela televisão, as quais, por isso mesmo ficam sujeitas ao controle do Estado, através do poder de polícia. (Hely Lopes Meirelles – Poder de Polícia - Segurança Nacional 1972). LOPES, J. R. de L.; QUEIROZ, R. M. R.; ACCA, T. dos S. Curso de História do Direito. 2ª ed. São Paulo: Método, 2009, p. 623.

163 “Pouco depois de sua posse, o presidente Humberto Alencar Castelo Branco visitou o Supremo Tribunal Federal, onde foi recebido pelo ministro Ribeiro da Costa. No discurso com que saudou o presidente, o ministro, depois de afirmar que a sobrevivência da democracia nos momentos de crise se havia de fazer com o sacrifício transitório de alguns de seus princípios e garantias constitucionais, acusou o governo deposto de ser responsável pela situação em que se encontrava o país (o que era também a opinião dos militares e dos que os apoiavam), mas ressalvou que a Justiça, quaisquer que fossem as circunstâncias políticas, não tomava partido, não era a favor ou contra, não aplaudia nem censurava. Mantinha-se equidistante, acima das paixões políticas”. COSTA, E. V. da. Op. cit., 2006, p.161.

164 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC nº 40.910-PE, rel. Min. Hahnemann Guimarães, j. 24.08.1964. 165 COSTA, E. V. da. Op. cit., 2006, p. 162-163.

166 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC nº 41.049, rel. Min. Vilas Boas, j. em 04.11.1964. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC nº 41.296, rel. Min. Gonçalves de Oliveira, j. em 23.11.1964.

salientar que ainda que tais decisões não tenham sido bem acolhidas pelas Forças Armadas por

contrariar a Lei de Segurança Nacional, eram revestidas de legalidade, atributo apreciado pelo

Presidente Castello Branco. Apesar de tal decisão, Mauro Borges foi deposto na futura

intervenção federal em Goiás.

167

Ainda antes da fase mais repressiva do regime, o STF preservou a liberdade política,

ainda que subversiva ao regime. No julgamento do HC nº 43.424/1966

168

, o STF concedeu

outro habeas corpus para libertar pacientes acusados, sob a Lei de Segurança Nacional, de

possuir uma gráfica e escola de alfabetização de adultos com orientação supostamente

comunista. No mesmo sentido, foi provido o Recurso Criminal nº 1.082, já no ano de 1968.

169

Nesses casos, os Ministros entendem que a mera exposição da teoria marxista não configura a

propaganda pública de processos violentos para a subversão. Entretanto, essa tolerância é

alterada pela superveniência do AI-5 e da Emenda Constitucional nº 1/69, as quais iniciam a

fase mais dura do regime, inclusive com a suspensão da garantia do habeas corpus.

Pelo Ato, três Ministros do Tribunal foram compulsoriamente cassados, além de dois

terem pedido aposentadoria em protesto.

170

Dado que a maior parte dos Ministros teria sido

nomeada pelos presidentes militares, a tensão política entre o Executivo e o Tribunal foi

reduzida.

171

A última animosidade visível deu-se com o pedido de aposentadoria de Adaucto

Lúcio Cardoso após votar, isoladamente, pela inconstitucionalidade do Decreto-Lei nº

1.077/1970, que instituiu a censura prévia na divulgação de livros e periódicos.

172

Nesse caso

movido pelo MDB,

173

o Procurador-Geral da República optou por não propor a ação por

considerar que a propositura da Ação Direta de Inconstitucionalidade era de sua competência

discricionária. Considerava o Ministro Adaucto Lucio Cardoso que a Corte estava vendo

subtraída as suas competências, como de fato ocorria no regime.

167 Cumpre atestar também para o julgamento do HC nº 42.108, rel. Min. Evandro Lins e Silva, julgado em 19.04.1965. Nesse caso, impetrou-se o habeas corpus em favor do Governador afastado de Pernambuco, Miguel Arraes. Em outro julgamento unânime, os Ministros também concederam o remédio constitucional. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC nº 42.108, rel. Min. Evandro Lins e Silva, j. em 19.04.1965. Como elucida, Elio Gaspari, a decisão foi cumprida após três dias de crise e com uma intervenção de Castello Branco. GASPARI, E. Op. Cit., 2002, p. 257.

168 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC nº43.424, rel. Min. Pedro Chaves, j. em 09.08.1966.

169 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Criminal nº 1.082, rel. Min. Aliomar Baleeiro, j. em 21.05.1968. 170 Os Ministros Victor Nunes Leal, Hermes Lima e Evandro Lins e Silva. Em protesto, os Ministros Lafayette de Andrada e Antônio Gonçalves de Oliveira.

171 Desde então, sobretudo com a edição dos Atos Institucionais ns. 5 e 6, cessaram os conflitos, e o Poder Executivo-evolucionário passou a ter no Supremo um órgão administrativamente saudável, tecnicamente ágil, (...), mas politicamente morto. VALE, O. T. do. O Supremo Tribunal Federal e a instabilidade político-

institucional, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976, p. 165-166.

172 PAIXÃO, L. A. Op. cit., 2007, p. 201.

No fim do regime, na fase de transição, havia uma colaboração entre o Tribunal e a

Presidência da República. Um “grande silêncio” movia o Judiciário em relação à reconstrução

do estado de direito e da democracia, na medida em que os litigantes eram frustrados pelo

Tribunal submisso à ética repressiva.

174

Diferentemente de sua fase inicial no regime, após a

edição do AI-5 em 1968, tinha-se um Supremo reprimido, tais quais as camadas civis da

sociedade, adotando medidas compatíveis e em sintonia com o regime em curso. A ordenação

social e nacional, marcadas pelo autoritarismo repressivo, não encontravam no judiciário

caminhos para serem construídas de maneira autônoma, de modo que a aparelhagem militar

era responsável por retirar a altivez e independência que antes marcavam o Tribunal.

175

Marcou-se assim, o fim da quinta fase federativo-republicana do país.

174 O Supremo colaborou para a transição no ritmo estabelecido pela agenda do Planalto. Em diversos episódios onde se buscou o Supremo, tiveram os litigantes suas pretensões frustradas por um tribunal submisso à vontade dos militares. A questão das eleições diretas é significativa para se compreender a afinidade entre o Executivo e o Supremo Tribunal Federal. (...). O Supremo Tribunal Federal colaborou assim, na medida de suas competências, para que o processo de sucessão do Presidente Figueiredo ficasse limitado ao Colégio Eleitoral, como queriam os militares. VIEIRA, O. V. Op. cit., 1994, p. 80-82.

175 ALVES JÚNIOR, L. C. M. O Supremo Tribunal Federal nas constituições brasileiras, Belo Horizonte: Mandamentos, 2004. p. 336.

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