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A responsabilidade civil por erro judiciário e denegação de justiça

4.3 TESES FAVORÁVEIS À RESPONSABILIZAÇÃO DO ESTADO

4.3.2 A responsabilidade civil por erro judiciário e denegação de justiça

O ordenamento jurídico brasileiro contempla a possibilidade de responsabilização do Estado em virtude de erro judiciário, bem como quando alguém ficar preso além do tempo determinado na sentença, estas possiblidades vem elencadas na norma do artigo 5º, inciso LXXV, estabelecendo que “o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença.” (BRASIL, 1988).

Dispondo acerca da regra constitucional Aguiar Junior (2001, p. 173) dispõe que:

O art. 5º, LXXV, da Constituição/88, que é norma especial em relação à do art. 37, § 6º, pois explicitou o que já neste se continha, serviu para realçar dois casos de responsabilidade estatal erigidos em direito fundamental do cidadão: por erro judiciário e por excesso de cumprimento de pena. O

primeiro está sempre e necessariamente inserido no tema da responsabilidade por ato jurisdicional, dada a sua natureza, mas o segundo dependerá das circunstâncias, pois a demora na liberação poderá ser consequência de ato juiz da execução da pena, de falta de serviços cartorários da justiça ou só da falha do serviço administrativo que está afeto o sistema penitenciário, integrante da administração pública centralizada. A norma também serve para evidenciar a existência dos diversos planos onde tem origem a responsabilidade pelo exercício da função jurisdicional: a) a atividade jurisdicional propriamente dita, exercida pelo juiz na sentença de matéria que transita em julgado; b)a atividade jurisdicional pós-sentença ou pré-sentença; c) a atividade dos serviços da justiça.

Analisando o que vem a ser entendido por erro judiciário, Cavalieri Filho (2010, p. 275) assevera que: “Por erro judiciário deve ser entendido o ato jurisdicional equivocado e gravoso a alguém, tanto na órbita penal como civil, ato emanado da atuação do juiz (decisão judicial) no exercício da função jurisdicional.”

Contudo, conforme ressaltam alguns doutrinadores, a regra constitucional refere-se ao dano em virtude de erro cometido na esfera penal, nesse sentido dispõe Di Pietro (2012, p. 719):

A jurisprudência brasileira, como regra, não aceita a responsabilidade do Estado por atos jurisdicionais, o que é lamentável porque podem existir erros flagrantes não só em decisões criminais, em relação às quais a Constituição adotou a tese da responsabilidade, como também nas áreas cível e trabalhista. Pode até ocorrer o caso em que o juiz tenha decidido com dolo ou culpa; não haveria como afastar a responsabilidade do Estado. Mas, mesmo em caso de inexistência de culpa ou dolo, poderia incidir essa responsabilidade, se comprovado o erro da decisão.

Entretanto, cabe ressaltar que a regra do artigo 5º, inciso LXXV, da Constituição Federal não faz nenhuma menção ao erro judiciário penal, abrangendo, dessa forma, também o erro civil na hipótese de indenização. (SERRANO JÚNIOR, 1997, p. 129).

Menciona Cahali (2007, p. 498) que: “[...] mesmo no cível pode haver condenações injustificadas. Assim o funcionamento defeituoso da Justiça pode causar prejuízos diversos, e, algumas vezes, da maior gravidade.”

Ressalta-se que o erro judiciário pode suceder por diversas causas, conforme ressalta Serrano Júnior (1997, p. 127):

Vamos começar pelo erro judiciário, que pode suceder por: 1) dolo do juiz (intencionalidade); 2) culpa do juiz pela negligência ou imprudência, proferindo sentença manifestadamente contrária às provas dos autos; 3) má ou incompleta instrução probatória decorrente da atuação do magistrado cerceando o direito das partes de produzir as provas necessárias para

demonstração das teses de acusação ou de defesa; 4) indução do magistrado a erro, caracterizando a eximente ou atenuante de responsabilidade da culpa da vítima ou de terceiro pela produção de provas falsas, ou não produção de provas necessárias ao esclarecimento da verdade; 5) aparecimento posterior de fatos que venham a contradizer ou anular os elementos de convicção que motivaram a decisão.

Essas causas acabam por se transformar em verdadeira denegação de justiça. Conforme esclarece Annoni (2009, p. 114-115), acerca das consequências que a denegação da justiça acarreta:

A denegação da justiça constitui-se pela ausência da prestação jurisdicional, sua negação, enquanto que o exercício arbitrário do poder discricionário do configura-se pelo abuso no exercício do poder concedido ao magistrado para dizer o direito. Em verdade, é possível afirmar que ambos encontram-se diretamente vinculados, e ainda diretamente ligados outra modalidade de prestação jurisdicional defeituosa: a demora da prestação jurisdicional. Isto porque, ao se materializar o atraso indevido da prestação da justiça, materializa-se, por certo, a denegação da justiça e, em algumas circunstâncias, o exercício arbitrário do poder discricionário do magistrado.

Pois, sendo o direito a jurisdição um direito subjetivo do cidadão, ressalta Delgado (1996, p.37) que “[...] a responsabilidade do Estado pode ser detectada até quando o juiz, ultrapassando os limites da razoabilidade na interpretação e aplicação da lei, profira decisões que causem danos injustificados às partes”.

Entretanto, ocorre que a regra do artigo 5º inciso LXXV, só admite responsabilização em razão do erro judiciário, deixando à mercê a responsabilidade quando a justiça é denegada, ou não funciona como deveria.

Comentando a disciplina da responsabilização do Estado em razão do erro judiciário, Hendges (2008, p. 29) adverte que:

Por outro lado, a previsão inserta nesse dispositivo é insuficiente para fundamentar uma regra geral sobre a responsabilidade do Estado por atos judiciais, porque só abrange a reparação do dano decorrente de condenação, sendo que da atividade judicial podem decorrer danos de todos os atos praticados no curso do processo, não só do ato sentencial, pode se configurar mesmo quando a decisão não for condenatória, ou pode decorrer de omissão e não de ação.

Nessa linha de pensamento, conclui Cahali (2007, p. 517) que: “O erro do Judiciário danoso para o particular, também pode encontrar sua causa no funcionamento defeituoso do órgão encarregado da prestação desse serviço público.”

Dessa forma, cabe que a responsabilidade civil do Estado seja estendida, pois não é apenas do erro judiciário que danos são causados aos jurisdicionados, muitos atos praticados pelo Poder Judiciário são passíveis de ocasiona prejuízos, não merecendo ficar sem reparação, dentre esses atos, o que vem causando maiores danos e provocando frustração e descredibilidade no Poder Judiciário é a demora da prestação da tutela jurisdicional.