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A RESTRIÇÃO POLÍTICA À TRIBUTAÇÃO PROGRESSIVA

CAPÍTULO III – MEDIDAS PARA A PROMOÇÃO DA PROGRESSIVIDADE NO STNB

4. A RESTRIÇÃO POLÍTICA À TRIBUTAÇÃO PROGRESSIVA

Esta monografia se apoiou na proposição – desenvolvida ao longo do primeiro capítulo - de que o sistema tributário deve ser empregado como ferramenta para melhor distribuição de renda e riqueza. No entanto, quais são os obstáculos para a adoção de tributação progressiva?

Keynes (1996) apresenta e refuta o argumento de que o processo de implementação da Justiça Tributátia com foco na capacidade contributiva enfraquece excessivamente o incentivo a correr riscos. Na tese refutada ao longo da obra maior de Keynes, o investimento produtivo seria desestimulado e o crescimento econômico inibido na tributação dos contribuintes de alta capacidade contributiva, que seriam associados ao dinamismo econômico pela sua propensão a poupar e, consequentemente, a investir. Rompendo com os paradigmas então estabelecido, o autor propõe que redistribuir renda – elevando a propensão marginal a consumir - é favorável à acumulação de capital e ao crescimento econômico. Portanto, não se pode dizer que a redistribuição de renda via sistema tributário seja necessariamente deletéria para o investimento produtivo e a acumulação de capital.

Evidencia-se aí a oposição entre uma política fiscal – e em particular política tributária – progressiva e o esforço fiscal voltado para as expectativas de risco dos agentes do mercado financeiro.

Para Kalecki o financiamento estatal por meio de tributação sobre o capital, a riqueza e o patrimônio é o melhor meio de estimular dinamismo econômico e reduzir o desemprego. Os gastos do governo financiados por meio de tributos patrimoniais, são preferíveis ao financiamento tributário com base no consumo e mesmo aos impostos que incidem sobre a renda. No entanto, o autor faz ressalva em relação à viabilidade política de tais instrumentos tributários: “É difícil que a tributação do capital venha a ser aplicada (…) porque ela parece minar o princípio da propriedade privada” (KALECKI,1977, p.70).

redistributivos são consensualmente contestados entre os economistas heterodoxos. A barreira de maior relevância impedindo tal atuação redistributiva do sistema tributário é política. A Justiça Tributária atinge o interesse e privilégios de uma classe dotada de alta capacidade contributiva, que deveria ser mais exigida no financiamento do Estado. Gentil (2011) aponta em particular os interesses ligados ao capital imobiliário e ao capital financeiro como impedimentos à Justiça Tributária. Em nome de uma noção de eficiência destinada a proteger os recursos do grupo dominante, tributar determinadas bases de incidência, associadas à classe dominante, torna-se um anátema dentro da retórica ortodoxa e, de certo modo, para os representantes eleitos que dispõe de poder para modificar a legislação tributária.

CONCLUSÃO

Esta monografia buscou apresentar o Sistema Tributário Nacional Brasileiro e o seu desenvolvimento recente sob uma perspectiva crítica. O sistema tem base na Constituição Federal de 1988, referencial cuja definição de Justiça Tributária aponta para a capacidade contributiva, a progressividade e a redistribuição de renda e riqueza. Esta configuração se coaduna com a noção de que o setor público deve intervir de modo a mitigar os extremos inerentes ao capitalismo.

Malgrado os desígnios constitucionais, o modo que a estrutura tributária efetivamente atua vai de encontro ao que para ela se preceitua. Isso ocorre porque não existe suficiente controle democrático sobre as decisões que afetam os contribuintes. As decisões ora favorecem os grupos influentes através de isenções e renúncias injustificáveis, ora desfavorecem os de menor capacidade contributiva pela via da tributação indireta com baixa visibilidade, muitos dos contribuintes de menor capacidade econômica não têm sequer ciência do ônus sobre o consumo ao qual são submetidos.

Entre meados dos anos 1990 e o anos iniciais da década seguinte, o STNB foi pressionado para funcionar como garantia de sustentabilidade da dívida do setor público e do superávit primário. A austeridade demandava que fossem gerados recursos de forma rápida e exclusiva para o governo federal. Esta demanda, sentida mais intensamente nos momentos abruptos de crise, trouxe consigo a elevação das Contribuições Sociais, tributos identificados com o financiamento da Seguridade Social, mas que recaem sobre o consumidor final sem filtros de acordo com a essencialidade do bem tributado ou a capacidade econômica do contribuinte. Mesmo que a majoração da CTB tivesse sido urgente durante a fase de estabelecimento do Real, não há justificativas para o prosseguimento de tributos que deterioram a composição da estrutura tributária. E o processo de piora da composição do STNB não se reverteu a partir do momento em que a situação econômica do país se estabilizou.

Se, a partir da virada do milênio, o quadro histórico de desigualdade na sociedade brasileira começou a mudar, com avanços que levaram o país a atingir (IPEA, 2013) o coeficiente de Gini mais baixo desde que este é medido, salário mínimo recorde medido a paridade do poder de compra e superação das linhas da pobreza e da extrema pobreza por grandes contingentes de população; estas conquistas ocorreram a despeito do STNB. Este, com a ordem de grandeza dos recursos que movimenta, representa um freio para maiores

avanços.

Em momento algum reduzir a regressividade sistêmica foi o foco dos formuladores de políticas públicas. Nas desonerações tributárias, frequentes após a crise americana de 2008, os focos do governo foram manter o nível de atividade econômica e o nível de emprego. Inexiste política tributária explícita em prol da progressividade.

É de se questionar que em vias de se completar três mandatos presidenciais consecutivos de um governo originalmente identificado com os movimentos sociais e a classe trabalhadora, os Imposto Sobre as Grandes Fortunas e a intensidade da progressividade no Imposto de Renda jamais tenham sido colocados em pauta. Enfim, é imperativo que instrumentos de arrecadação capazes de distinguir a classe média e as classes populares dos grandes proprietários e indivíduos de extrema riqueza sejam considerados.

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