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2 A ARTE RETÓRICA: ANTES DA LINGÜÍSTICA

2.1 A Retórica de Aristóteles

A explicação da arte Retórica será baseada na obra de Aristóteles (2006), que pode ser considerado o primeiro pesquisador científico, no sentido do termo, por ter se empenhado em considerar todas as manifestações do conhecimento humano como ramos de um mesmo tronco. Devemos, assim,

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entender que Aristóteles não idealizou ou convencionou princípios criados por ele para persuadir e convencer, mas apresenta a Retórica como produto da experiência de oradores habilidosos e da análise de suas estratégias para ajudar a exercitar corretamente as técnicas de persuasão.

Aristóteles nasceu em Estagira, Macedônia, em 384 a.C, e, por isso, é chamado de “o estagirita”. Foi discípulo de Platão por vinte anos e após a morte do mestre instalou-se em Asso e depois Lesbos, até ser chamado à corte de Filipe da Macedônia em 343 para cuidar da educação de seu filho, que foi conhecido na história como Alexandre, o Grande. Voltou a Atenas em 333, fundou o Liceu e dedicou treze anos ao ensino e elaboração da maior parte de suas obras, que foram quase todas perdidas, exceto a Constituição de Atenas, descoberta em 1890. As que temos acesso hoje resultam de notas, cursos e conferências do filósofo, ordenadas por alguns discípulos e depois por Andronico de Rodes em 60 a.C.

Como nenhum filósofo antes dele, Aristóteles compreendeu a necessidade de integrar o pensamento anterior à sua pesquisa. Dessa forma, começa tentando resolver o problema do conhecimento do ser a partir das antinomias acumuladas por seus predecessores: unidade e multiplicidade, indentidade e mudança, intelectual e sensível. O seu realismo, em contraposição ao dualismo de Platão (a inteligência separada do mundo das coisas sensíveis), explora a experiência e nela mesma insere o dualismo entre o inteligível e o sensível.

Aristóteles censura Platão por ter trilhado um caminho ilusório, que retira a natureza do alcance da ciência, e visa restabelecer a unidade do homem consigo mesmo e com o mundo. Aristóteles se apóia na psicologia e diferencia a existência do ser na inteligência e nas coisas: o intelecto ativo da primeira capta o que as coisas têm de inteligível e restabelece um plano de homogeneidade.

Para Aristóteles, os que compuseram tratados de retórica até a época ocuparam-se somente de uma parte da arte (e aqui ele fala do mau uso da retórica por se concentrarem no estímulo de uma resposta emocional), pois só os

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argumentos retóricos são próprios dela e tudo o resto é acessório. Ele os critica por dedicarem a maior parte de seus tratados a questões exteriores ao discurso e não abordarem os entimemas, que equivalem ao silogismo retórico.

Expliquemos agora melhor alguns dos termos utilizados acima. Os argumentos Retóricos são as provas, isto é, o meio de persuasão. Aristóteles a divide em duas categorias: artísticas e não artísticas; as primeiras são classificadas em: prova ética (ethos – imagem que o orador constrói), prova lógica (logos – os argumentos lógicos) e prova emocional (pathos – as emoções que o orador suscita no auditório).

As matérias externas ao discurso são descritas como arte (como exemplo temos as partes do discurso), pois, ao cuidar dessas questões, a preocupação recai somente no modo como poderão criar no juiz uma certa disposição. Mas sobre as provas artísticas, ou seja, sobre aquilo que afinal torna o leitor hábil no uso do entimema, as indicações não avançam.

O método artístico (sentido estrito da retórica) é o que se refere às provas por persuasão, que é uma espécie de demonstração, já que somos persuadidos principalmente quando algo é demonstrado. É próprio de uma mesma faculdade discernir o verdadeiro e o verossímil, já que os homens têm uma inclinação natural para a verdade. Assim, discernir sobre o plausível é discernir sobre a verdade.

Dessa forma, a Retórica se torna útil porque a verdade e a justiça são por natureza mais fortes que seus contrários. Além disso, ainda que utilizando a ciência mais exata, seria difícil persuadir determinados tipos de auditórios, pois o discurso cientifico é próprio do ensino, que aqui é impossível, já que é necessário que as provas por persuasão e os raciocínios se formem de argumentos comuns, como Aristóteles (1967) já disse em Tópicos a propósito da comunicação com as multidões. Além disso, é preciso ter a capacidade de argumentar persuasivamente sobre coisas contrárias, mas não para tomar posição de uma ou da outro, pois não se deve persuadir o que é imoral, mas para que sempre que

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alguém argumentar contra a justiça, nós próprios estejamos aptos a refutar os seus argumentos.

Aristóteles (2006, p. 94) explica sobre a função da retórica: “é também evidente que ela é útil e que a sua função não é persuadir mas discernir os meios de persuasão mais pertinentes a cada caso, tal como acontece com as outras artes”.

O orador na época clássica desempenhava liderança e tinha função ativa no tribunal enquanto que no período romano a palavra orador passou também a significar retor, educador, professor de retórica. O esforço de Aristóteles é para mostrar, portanto, que os prejuízos da retórica não estão ligados à arte ou à faculdade oratória, mas à intenção moral do orador.

Então, retórica é a capacidade de descobrir o que é adequado a cada caso com fim de persuadir. Diferentemente de todas as outras artes, que são apenas instrutivas e persuasivas nas áreas de sua competência, a retórica tem a faculdade de descobrir os meios de persuasão sobre qualquer questão e, por isso, suas regras não são aplicáveis a nenhum gênero específico.