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II- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1.4 A retomada do liberalismo, sob nova forma (o neoliberalismo)

ao intervencionismo, num movimento de revivamento do pensamento liberal de Adam Smith, e em oposição ao Estado de bem-estar social. Um dos pensadores que influenciaram o ressurgimento da teoria foi Friedrich Von Hayek, com um texto lançado em 1944 (ANDERSON, 1988). Hayek acreditada que o Estado de Bem-estar era perdulário e inibidor das liberdades individuais responsáveis por movimentar a atividade mercantil.

Hayek e seus companheiros temiam que o igualitarismo promovido pelo Estado de bem-estar retirasse a liberdade dos indivíduos e prejudicasse a concorrência, para eles a intervenção do governo poderia gerar crises econômicas. Segundo Pereira-Pereira et al. (2009), o autor defendeu que não há compatibilidade entre direitos sociais (novos) e civis (tradicionais) e a tentativa de compatibilização poderia destruir a ordem liberal. Compreendia que a origem dos direitos tradicionais (individuais), está nas regras da justa conduta individual, isto é, nas leis, gerais, abstratas e iguais para todos. Em relação aos direitos sociais, apesar de achar desejável a sua aplicação, ele os condenava, dadas as suas possíveis consequências negativas: a abertura para as ações totalitárias, advindas do intervencionismo estatal, e o fim da riqueza, assegurada na sociedade liberal.

Pereira-Pereira et al. (2009) ressalta que para Hayek a riqueza material só pode existir em decorrência da ordem liberal. Apenas via liberdade de ação (liberdade negativa,

43 negadora da interferência do Estado), o indivíduo seria capaz de fazer valer sua vontade e satisfazer suas necessidades.

Em verdade, o ideal de Hayek, segundo Pereira-Pereira et al. (2009) seria a existência do estado de liberdade, ou seja, o mínimo de coerção entre os indivíduos. Para tal, o monopólio da coerção é dado ao Estado e controlado por regras ou leis iguais para todos (indivíduos iguais perante a lei não significa, indivíduos iguais entre si) logo, o governo não poderia conferir tratamento diferenciado a indivíduos. De acordo com essa visão, o mercado seria a melhor instituição para conferir distribuição de bem-estar, pois diante de sua neutralidade, o sucesso ou o fracasso de alguém dependeria unicamente de seu próprio mérito. O mercado não poderia ser considerado moralmente culpado pela geração de pobreza esta seria um fato gerado naturalmente.

Portanto, explica Pereira-Pereira et al. (2009) que a pobreza e a desigualdade são compreendidas pelos liberais e neoliberais como naturais, pois o sucesso ou insucesso dos indivíduos depende de sua atuação no mercado, sem qualquer relação com a justiça social. Ou seja, Hayek não cria que, numa sociedade liberal, havia alguém responsável pelos indivíduos. Em sua concepção se um padrão de igualdade fosse introduzido, haveria destruição da ordem liberal, espontânea, o que poderia ameaçar o fundamento da igualdade perante a lei.

Segundo Anderson (1998), o neoliberalismo, ganhou espaço quando da crise econômica pós-guerra, em 1973. A Inglaterra, com Thatcher foi pioneira na implementação do neoliberalismo, no ano de 1979. Seu governo adotou medidas de emissão de moeda, elevação da taxa de juros, rebaixamento de impostos sobre altos rendimentos, abolição de controle sobre fluxos financeiros, corte de gastos sociais, a privatização massiva, da habitação pública, industria básica (aço, eletricidade, petróleo, gás e água). Como consequência, houve desemprego, movimentos de trabalhadores por meio de greves em resposta à nova legislação anti-sindical. Anderson (1988) relata que este foi uma das experiências mais sistemáticas de adoção do neoliberalismo.

Anderson (1988) explica que os Estados Unidos da América (EUA) também foram exemplo de adoção do neoliberalismo. À época de 1980, Ronald Regean, era o governante. Seu governo adotou uma postura de menor disciplina orçamentária, sua prioridade foi a competição militar com a União Soviética. Regean também diminuiu impostos para os ricos e elevou as taxas de juros, gerando com sua política greves, e endividamento.

44 O autor afirma que outros países da Europa, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Austrália, países da América Latina, tais como o Chile, entre outros, também aderiram ao neoliberalismo. Sua principal luta foi o anticomunismo, o que o fortaleceu. O ponto comum das políticas neoliberais nos países que o adotaram foi a elevação das taxas de juros, a diminuição dos impostos sobre os rendimentos dos mais ricos e o aumento do desemprego.

Os adeptos do neoliberalismo se contrapuseram à Keynes. Segundo Fabrício de Oliveira (2009) a teoria monetarista liderou esta reação, este movimento defendia que as políticas expansionistas voltadas à ampliação da renda e do emprego eram inócuas, pois causavam aceleração dos preços, instabilidades e inflação.

Para Milton Friedman, outro adepto do neoliberalismo, segundo Fabrício de Oliveira (2009), uma das causas do desemprego é gerada pela expectativa inflacionária. Uma espécie de ilusão monetária dos trabalhadores sobre os valores reais dos salários, que segundo ele exerce pressão nas “taxas naturais de desemprego”. Segundo este entendimento não existe desemprego involuntário, apenas voluntário, causado nos casos em o sujeito não se dispõe a trabalhar pelo salário vigente no mercado de trabalho. Por isso, o Estado deve atuar no controle monetário, evitando incorrer em débito público para implementar políticas expansionistas e evitando atuar frente às questões sociais.

Milton Friedman lançou os princípios da restruturação do mercado como instância mediadora elementar e a liberdade econômica. Defendeu a existência de propriedade privada, da liberdade civil e política, o Estado Mínimo, com função restrita à sustentação do mercado e promoção de serviços que o mercado seja incapaz de prover, a liberação de mecanismos de acumulação de capital, e por fim, a amenização da pobreza em detrimento de sua eliminação.

Fabrício de Oliveira (2009) afirma que para os economistas marginalistas a distribuição dos rendimentos é determinada pela utilidade do produto e pela produtividade marginal dos fatores de produção. Enfim, para esta corrente teórica o mercado funciona melhor sem a interferência do Estado, reproduz-se harmonicamente. A eficiência e racionalidade estão pautadas na utilidade. Cada agente busca a maximização dos fatores de produção que são determinados pela restrição orçamentária. Quanto mais eficiente o agente, menos recursos precisará. Existe um ponto de perfeito equilíbrio e máxima eficiência, chamado de “Ótimo de Pareto”. A sociedade é compreendida como uma soma de indivíduos

45 que agem racionalmente e egoisticamente para assegurar sua felicidade e apoiar a realização do bem-estar coletivo. Portanto, não há espaço na perspectiva marginalista para o Estado.

Contribuindo para a compreensão do neoliberalismo, Netto (1995) revela que a pobreza no sentido neoliberal é natural, inerente à condição de convivência em sociedade e até mesmo funcional ao capitalismo, portanto deve ser controlada para evitar que traga entraves à modernização da economia e torne-se fator de instabilidade política. Por isso, onde ocorreram reformas neoliberais as políticas públicas não foram totalmente exterminadas, mas muitos programas foram desmantelados e sua cobertura reduzida. De acordo com (SOARES, 2001, p. 43):

a má distribuição e baixa cobertura dos programas sociais; o caráter predominante de seguro social nos sistemas de proteção, que exclui os não- contribuintes; a existência de uma estratificação de beneficiários nas politicas de proteção social, segundo o valor dos benefícios, que apenas reproduz a desigualdade pré-existente, inexistindo, portanto, um caráter redistributivo na concessão desses benefícios; a ausência de proteção econômica em caso de desemprego; e sobretudo, um padrão de financiamento perverso – regressivo e insuficiente-, entre outras. Essas limitações também explicam, na maioria das vezes, a existência de programas assistenciais de caráter apenas suplementar e emergencial; programas esses, por sinal, dirigidos apenas para os “pobres”, e que passam a substituir as políticas sociais nas alternativas neoliberais.

O gasto social é para os neoliberais um dos principais fatores geradores de crise financeira. Este gasto é alimentado por um Estado Social compreendido como perdulário resultado da excessiva intervenção do Estado no mercado, o que pode causar desestímulos e alimentar comportamentos morais indesejáveis. O ideal é que as instituições públicas não sejam financiadas e que os recursos sejam direcionados às instituições privadas. O bem-estar social pertence ao âmbito privado, ou seja, à família e à comunidade.

O ponto comum das políticas neoliberais nos países que o adotaram foi a elevação das taxas de juros, a diminuição dos impostos sobre os rendimentos dos mais ricos e o aumento do desemprego. Segundo Anderson (1998), do ponto de vista econômico, o neoliberalismo fracassou, pois não conseguiu a revitalização do capitalismo avançado. E em relação ao social, criou sociedades mais desiguais.

Então, em todos estes itens, deflação, lucros, empregos e salários, podemos dizer que o programa neoliberal se mostrou realista e obteve êxito. Mas, no final das contas, todas estas medidas haviam sido concebidas como meios para alcançar um fim histórico, ou seja, a reanimação do capitalismo avançado mundial, restaurando taxas altas de crescimento estáveis, como existiam antes da crise dos anos 70. Nesse aspecto, no entanto, o quadro se

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mostrou absolutamente decepcionante. Entre os anos 70 e 80 não houve nenhuma mudança – nenhuma – na taca de crescimento, muito baixa nos países da OCDE. Dos ritmos apresentados durante o longo auge, nos anos 50 e 60, restam somente uma lembrança distante (ANDERSON, 1988, p. 15).

Independentemente do modelo teórico adotado para orientar as decisões políticas do Estado, um fator de inegável importância é a necessidade de recursos para subsidiá-las. É neste ponto que o entendimento do conceito fundo público e do seu papel torna-se essencial para o entendimento das políticas sociais.