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A revolução tecnológica e o acesso à informação

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CAPÍTULO I JORNALISMO ONLINE NA SOCIEDADE DA

1.3 A revolução tecnológica e o acesso à informação

Um aspecto interessante da revolução das tecnologias de acesso à informação é revelado quando a comparamos com outras revoluções tecnológicas. Foi necessário menos de duas décadas para que as novas tecnologias da informação fossem difundidas pelo planeta. Enquanto algumas revoluções tecnológicas ocorreram em regiões específicas do mundo e de forma limitada, as novas tecnologias da informação foram disseminadas ao mesmo tempo em que eram geradas em um mundo conectado e globalizado.

Mas Castells (1999) alerta que ainda existem lugares no mundo e segmentos da sociedade desconectados e sem acesso ao novo sistema tecnológico. As regiões desconectadas, localizadas em países pobres, áreas rurais e suburbanas, se tornam cultural e espacialmente descontínuas do mundo. “O fato de países e regiões apresentarem diferenças

quanto ao momento oportuno de dotarem seu povo do acesso ao poder da tecnologia representa fonte crucial de desigualdade em nossa sociedade” (CASTELLS, 1999, p. 71).

E se alguns não possuem acesso à tecnologia, outros centralizam o seu poder. Esse aspecto gera também uma ansiedade, conforme explica Wurman (1991).

Nossa relação com a informação não é a única fonte de ansiedade de informação. Também ficamos ansiosos pelo fato de o acesso à informação ser geralmente controlado por outras pessoas. Dependemos daqueles que esquematizam a informação, dos editores e produtores de noticiários que decidem quais notícias iremos receber, dos que tomam decisões nos setores público e privado e podem restringir o fluxo de informação. Também sofremos de ansiedade causada pelo que deveríamos saber para atender às expectativas das outras pessoas a nosso respeito, sejam elas o presidente da empresa, os colegas ou até nossos pais. (WURMAN, 1991, p. 38)

Mas o que impede que parte da população tenha acesso à tecnologia e à informação veiculada por meio dela? A seguir, serão apontadas algumas considerações que podem contribuir para responder a essa pergunta.

Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2013 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2013), o relatório mais recente sobre o desenvolvimento tecnológico em cada país, a democratização da tecnologia e do acesso à informação esbarram em serviços básicos como o fornecimento de energia elétrica. Em países como Angola, Camboja, Madagascar e Timor Leste, menos de 30% da população são atendidos pela rede elétrica. Situação muito diferente vivem as nações que possuem índice de desenvolvimento elevado ou muito elevado, que contam com índices de eletrificação entre 97% e 99%.

A desigualdade econômica também afeta o acesso às novas tecnologias, de acordo com a mesma pesquisa. Enquanto nos Estados Unidos, 74,2% da população utilizam a Internet, o Brasil tem 40,7% de usuários de Internet. A taxa é maior do que a média mundial (30%), mas menor do que nos Emirados Árabes Unidos (78%), Singapura (71,1%), Malásia (56,3%) e Chile (45%).

Ainda de acordo com o relatório, no Canadá, de cada 100 pessoas, 94 possuem computadores pessoais. No Brasil, esse número cai para 16 pessoas e, no Sri Lanca, não chega a 4. Quando o assunto é acesso à Internet por banda larga fixa, apenas 6,8 brasileiros de um grupo de 100 pessoas têm acesso ao serviço. Na Dinamarca, um terço da população dispõe deste tipo de conexão.

Aqui se reconhece que, apesar de todos ganharem com a modernização e incremento dos processos de comunicação, o que vem acontecendo é que a distância se alarga indefinidamente entre os que tinham mais e os que tinham menos acesso à informação, com a implementação sucessiva – e cada vez mais intensa – de mais recursos tecnológicos. De forma concreta, esta constatação nos leva na direção do triste reconhecimento de que as desigualdades não devem mudar de rumo no futuro tecnopolizado (SQUIRRA, 2005, p. 6).

Contudo, o relatório do PNUD (2013) apresenta um panorama positivo para os países do Hemisfério Sul e coloca o Brasil entre as nações com desenvolvimento humano em elevação, apontando que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país cresceu 24% desde 1990. O relatório mostra também que, entre os anos 2000 e 2010, cerca de 60 países em desenvolvimento tiveram um crescimento excepcional da utilização da Internet. Entre os 10 países com o maior número de usuários de redes sociais como o Facebook, seis estão localizados no Sul.

As duas últimas edições da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2011), realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2011 e 2013 para investigar o acesso à Internet e a posse de telefone móvel para uso pessoal, forneceram informações importantes para o conhecimento de aspectos das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) relacionadas com o seu uso pelas pessoas.

Os dados coletados sobre bens e serviços que contribuem para o acesso à informação e comunicação auxiliam no planejamento de políticas voltadas ao desenvolvimento tecnológico do país.

Os resultados apresentados nas duas pesquisas mostram que o número de internautas no país quase triplicou em oito anos. Em 2005, 31,9 milhões de pessoas com idade mínima de 10 anos acessaram a Internet, o que corresponde a 20,9% da população. No ano de 2013, esse contingente chegou a 49,4%, ou seja, 85,6 milhões de brasileiros acessaram a Internet em 2013 (PNAD, 2013), sendo que mais da metade dos internautas tinham de 10 a 29 anos de idade (52,9%). A PNAD (2013) também mostrou que 130,2 milhões de pessoas de 10 anos ou mais de idade tinham telefone móvel celular para uso pessoal, o que corresponde a 75,2% do total da população de 10 anos ou mais. Isso contribuiu para o aumento na proporção de domicílios em que pelo menos um dos moradores tinha acesso ao serviço de telefonia (móvel e/ou fixo) de 58,9% para 93,1%.

Analisando por região, o aumento mais significativo do acesso à Internet foi registrado nas regiões Norte e Nordeste. Se, em 2005, apenas uma em cada 10 pessoas tinha acesso à rede mundial de computadores, seis anos depois, esse número alcançou um terço da

população dessas regiões. No Sudeste, Centro-Oeste e Sul, mais da metade da população tem acesso à Internet desde 2011.

São Paulo, com 59,2%, é o estado com o maior percentual de pessoas conectadas, ficando atrás apenas do Distrito Federal, que conta com 71,1% de indivíduos com acesso à Internet. Maranhão e Piauí foram as unidades federativas que apresentaram os menores percentuais de internautas em 2011, com 24,1% e 24,2%, respectivamente.

Em todas as vezes que foi realizada, a PNAD mostrou que os jovens de 15 a 17 anos lideraram o ranking de grupos etários com os maiores percentuais de acesso, chegando a 74,1%, em 2011. Um dado importante revelado pelo levantamento é que o nível de escolaridade influencia na proporção de pessoas que acessam a web, chegando a 90,2% entre aqueles com mais de 15 anos de estudo. Por outro lado, apenas 11,8% da população com menos de 4 anos de estudo ou sem instrução alguma tem acesso à Internet.

Como mostra a pesquisa, dois nichos populacionais são responsáveis pelos maiores índices de acesso à Internet: os jovens, entre 15 e 17 anos, e os indivíduos com 15 anos ou mais de estudos.

A participação dos estudantes na fatia da população que utiliza a Internet também aumentou. Em 2011, dos 37,5 milhões de estudantes com 10 anos ou mais, 72,6% acessaram a web – mais que o dobro do número apurado em 2005, com 35,7%. Mas a porcentagem de estudantes com acesso à Internet é maior na rede privada. Nas escolas particulares, 96,2% dos alunos utilizam a rede mundial. Na rede pública de ensino, 65,8% dos alunos acessam a Internet. A situação era pior em 2005, quando apenas 24,1% desses estudantes tinham a oportunidade de estar online.

A pesquisa do IBGE revelou que houve aumento considerável no número de internautas em todas as classes de renda. Os números mostram que quanto maior a classe de rendimento, maior é o percentual de pessoas conectadas. Em 2005, apenas 3,8% das pessoas sem rendimento ou que ganhavam até 25% do salário mínimo tinham acesso à Internet. Em 2011, essa proporção alcançou o índice de 21,4%. No grupo que ganha mais de 25% até metade do salário mínimo, o avanço foi de 7,8% para 30%. Entre as pessoas que ganham de 1 a 2 salários mínimos, o aumento foi de aproximadamente 10%, entre 2005 e 2011. Já a penetração da Internet, que era de 57,5% na classe de rendimento que recebia mais de 5 salários mínimos em 2005, chegou a 67,9%, seis anos mais tarde. Contudo, a maior fatia da população que acessa a Internet está no grupo que possui rendimentos entre 3 e 5 salários mínimos, com 76,1% de conectados.

O número de pessoas com idade mínima de 10 anos que residiam em domicílios que possuíam microcomputador com acesso à Internet cresceu 196% entre 2005 e 2011, passando de 14,6% para 39,4% dessa população. Com isso, a porcentagem de pessoas que moravam em residências que não tinham computador com acesso à web diminuiu 22%, passando de 130 milhões para 101,2 milhões em 2011. Em 2013, a proporção de domicílios com microcomputador com acesso à Internet chegou a 43%.

Os profissionais que trabalham nas áreas de ciências e artes são líderes no acesso à Internet, entre os grupos ocupacionais de trabalho. Em 2011, 91,2% das pessoas que atuavam nesses segmentos estavam conectadas. Membros das forças armadas com 89,6%, e empregados em serviços administrativos, com 85,5%, também se destacaram na utilização da

web naquele ano. Enquanto isso, os trabalhadores rurais e encarregados de serviços de

manutenção e produção de bens de consumo estão, praticamente, fora da rede mundial de computadores. A penetração da internet nesse grupo de trabalho é de apenas 8,7%.

As duas pesquisas analisadas, uma em âmbito nacional (PNAD) e a outra internacional (PNUD), mostram avanços significativos no processo de democratização do acesso à Internet. Em regiões com baixo poder econômico, porém, o desenvolvimento tecnológico e educacional ainda está estacionado e muito distante de países com altos índices de desenvolvimento humano:

[...] se o desenvolvimento e o acesso às tecnologias são importantes, é preciso antes assegurar sistemas político-econômicos centrados na valorização do ser humano. A partir dessa perspectiva, o debate sobre as brechas digitais, por exemplo, aponta para uma nova forma de exclusão, que se soma a outras tantas exclusões históricas e ainda sem solução. E as exclusões ou brechas só podem ser enfrentadas numa perspectiva integradora. (RABELO, 2005, p.158)

Os resultados das análises realizadas apontam para um crescimento desigual do acesso à informação e, consequentemente, do acesso ao conhecimento no mundo. E como Mattelart (2006, p. 173) sentencia, faz de todos os habitantes do planeta candidatos com mais ou menos chances de conseguir ascensão na aldeia tecnoglobal. “O mundo é distribuído entre lentos e rápidos. A rapidez se torna argumento de autoridade que funda um mundo sem lei, onde a coisa política é abolida”.

O papel do meio de comunicação seja ele impresso, eletrônico ou digital, é democratizar o acesso à informação e, por que não, oferecer subsídios para a aquisição de conhecimento. Lutar pela popularização das tecnologias que possibilitam esse acesso também pode fazer parte da agenda de discussões dos jornalistas. A Internet pode ser um espaço

propício para a defesa desse direito. O jornalismo online possui características, como veremos no próximo tópico, que fazem dele um meio multimidiático e democrático com espaço para interação com o usuário online, que hoje é consumidor e produtor de conteúdo.

No documento Download/Open (páginas 34-39)