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Apreciação global da prática educativa

4.3. A RTICULAR S ABERES

Perspetivar um ensino baseado no construtivismo e na elaboração de aprendizagens significativas para os alunos é assumir a importância da articulação de saberes nas diferentes áreas (Pereira, 2012). Esta articulação é um critério fundamental para a existência de um currículo que contempla “o conhecimento de maneira mais abrangente, global e, portanto, integrante”, isto é, interdisciplinaridade (Guará, 2009, p. 70).

Durante a prática pedagógica, a professora estagiária evidenciou a importância da interdisciplinaridade dentro e fora do contexto de sala de aula, a qual consiste na interação entre duas ou várias áreas, que pode ir da simples comunicação de ideias até à integração mútua de conceitos (Reis & Adragão, 1992). Desde a realização de atividades, de projetos, até à conceção de aulas, foi evidente a presença desse diálogo interdisciplinar, que possibilitou o desenvolvimento de processo de ensino e de aprendizagem de forma desejada.

A articulação disciplinar pode resultar na motivação dos alunos e envolve-los, principalmente, com as áreas que menos apreciam, a partir da integração de uma área do seu agrado. Esta mesma articulação pode facilitar o cumprimento de extensos programas pelo professor, já que é possível, numa aula, articular conteúdos de áreas diferentes. Exemplo desta afirmação é uma aula lecionada pela professora estagiária e pelo par pedagógico, em que estiveram presentes as seguintes áreas: Português, Expressão Plástica, TIC e Ciências Naturais.

No 1.º ciclo, numa das aulas de Matemática, a professora estagiária, abordou o tema OTD, a partir da realização de um ato eleitoral. Os alunos tiveram de votar na sobremesa preferida, em cartões de voto, colocados em

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urnas, para que, posteriormente fosse efetuada a contagem. A partir de um conteúdo matemático, os alunos abordaram um importante direito cívico:

direito de votar. Deste modo, é clara a capacidade construtivista deste tipo de interações onde a criança poderá construir o seu conhecimento não só nas suas ações individuais como também, e principalmente, nas ações sociais.

Outro exemplo decorrido no 1.º Ciclo foi a aularealizada pela professora estagiária e pelo par pedagógico, promovendo uma articulação entre as áreas:

Português, Ciências Naturais, Expressão Plástica e TIC. Inicialmente, como elemento motivador, foi projetado uma imagem criada num programa que permite a escrita criativa, isto é, a colocação de palavras de modo harmonioso e atrativo numa figura selecionada que, neste caso, era um hipopótamo22 ……

que continha o nome de animais de porte pequeno: traça, mosquito, escaravelho, libelinha, grilo, etc. Os nomes destes animais estavam relacionados com a obra que iria ser abordada: Histórias pequenas de bichos pequenos de António Torrado. Como nessa obra surgia um animal diferente de todos os outros, porque era de porte grande, a imagem produzida tinha esse aspeto. Durante a exploração da imagem foram colocadas algumas questões relativas ao nome, à figura e ao porte dos animais. Foi, ainda, questionada a forma da figura que incluía todos os nomes dos animais. Os alunos partilharam várias sugestões, desde o nome de animais, objetos e até sentimentos. A dúvida ficou no ar, para ser desvendada mais tarde, e, assim, os alunos ficaram curiosos e motivados para as atividades seguintes.

Após a motivação, seguiu-se a atividade: Vamos ler… Em 3,2,1! Para tal, a professora estagiária utilizou um avatar com forma humana, feminina, sendo que este assumiu a personagem de “Teresa”, uma jovem menina que adorava estudar os animais. Aproveitou-se esta personagem para apresentar o livro Histórias pequenas de bichos pequenos e o autor Álvaro Magalhães, não deixando de fazer recomendações quanto à postura que os alunos deveriam adotar durante a leitura e algumas indicações sobre a leitura modelo do conto

“Escaravelho” que foi realizada pela mestranda. É fundamental que os alunos

22 Cf. Anexo 11.1.

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ouçam, em primeiro lugar, a professora, para se apropriarem de bons modelos de leitura” (Reis et al., 2009). Após a referida leitura, a “Teresa” pediu a alguns alunos para lerem o conto Os alunos ficaram fascinados com o avatar

“Teresa”, que captou-lhes por completo a atenção, principalmente quando disse o nome de alguns alunos, o que mostra a importância da emoção na aprendizagem, sendo que se constatou que aumenta o desempenho dos alunos na sala de aula.

Um dos alunos perguntou: “Professora, como é que ela sabe o meu nome?

Foste tu que lhe disseste?”. Estes momentos são o reflexo do uso de práticas inovadoras mas, ao mesmo tempo, motivadoras e eficazes no processo de ensino e de aprendizagem. Acresce que Flores, Escola & Peres (2011) mostram que efetivamente as TIC têm potencial para melhorar a qualidade da educação, permitindo um maior envolvimento de todos os alunos numa aprendizagem centrada na compreensão e na participação, melhorando os resultados escolares e fomentando o trabalho colaborativo.

Num momento posterior, foi realizada a atividade Todos os animais e mais um!. À medida que os alunos sugeriam ideias para uma possível história em torno das duas personagens – escaravelho e hipopótamo –, a professora estagiária registava-as no quadro, enquadrando-as e auxiliando os alunos a formar uma narrativa coesa e coerente. Os alunos participaram na construção da narrativa, tinham muitas ideias, e, por vezes, foi necessário pedir aos alunos para votarem na ideia de que mais gostavam, de forma a avançar e a enquadrar outras ideias possíveis. Após o registo no quadro da narrativa, os alunos assentaram no caderno e, posteriormente, numas folhas em cartão. A primeira folha foi para os alunos registarem o título e o seu nome; a segunda e terceira para afixarem as imagens do escaravelho e do hipopótamo, em formato pequeno, entregues anteriormente, e as estruturas referentes a cada personagem, que foram completadas pelos alunos; a quarta e a quinta para registarem e ilustrarem a história; e a última folha era a contracapa. Todas as folhas foram unidas com um fio e cada aluno ficou com um livro da história “O

“F” da amizade”23 elaborada pela turma.

23 Cf. Anexo 11.2.

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Nessa aula foi, ainda, desvendado o nome do animal que estava na imagem inicial. Para tal, a mestranda projetou a capa do livro (que ainda não tinha sido exposta propositadamente), que apresentava o hipopótamo. Os alunos ficaram tão surpreendidos, que um deles disse: “Eu estava mesmo convencido de que era um coração!”.

No 2.º ciclo, a mestranda e os professores estagiários da Escola Básica Vallis Longus, realizaram o projeto Olimpíadas de Abril24. Este projeto promoveu a articulação das áreas: Português, Matemática, Ciências Naturais, Expressão Musical e História e Geografia de Portugal, em torno da comemoração dos 40 anos do 25 de abril de 74.

Para além do projeto mencionado, a professora estagiária e o par pedagógico orientaram os alunos para a participação no concurso “Ler é uma festa”25. A partir desta temática, os alunos destacaram a importância da leitura a partir de dramatizações, do desenho e da pintura, da preparação de receitas e uso de meios de comunicação, como o telemóvel.

Numa aula de História e Geografia de Portugal, a mestranda utilizou como elemento motivador a exploração de uma lenda sobre o descobrimento da Madeira. A exploração da lenda, um conteúdo programático da área de Português, permitiu a abordagem a vários conteúdos históricos envoltos na descoberta da ilha, como o ano da descoberta, o trajeto realizado pelos navegadores até chegarem à ilha e nome dos navegadores.

Em todas as aulas de Matemática, a Expressão Plástica foi uma área que sempre esteve presente – na abordagem às áreas de figuras geométricas, na construção de triângulos quanto à medida dos comprimentos dos lados e da amplitude dos ângulos, e na construção de triângulos a partir dos critérios de construção. A manipulação dos materiais facilita a integração do aluno na construção do conhecimento, permitindo uma aprendizagem mais rápida e eficaz dos conteúdos.

24 Consultar o anexo 12.2.

25 Consultar o capítulo 4.4.1.

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De forma geral, a realização de aulas, de pequenas atividades e de projetos que promoveram a interdisciplinaridade, constituem aspetos positivos na formação da mestranda. É exequível que a articulação entre as áreas permita às crianças aumentarem as suas competências ao nível da metacognição, da autonomia, da criatividade e, ainda, de competências sociais e de autorregulação das suas aprendizagens. Assim, os alunos são os construtores dos seus conhecimentos, resultando daí aprendizagens significativas. Cabe ao profissional de educação ter em mente a importância desta articulação das diferentes áreas e conseguir demonstrar, nas suas aulas, a mesma. Para a mestranda, a interdisciplinaridade surge com mais facilidade no 1.º ciclo do que no 2.º ciclo. Como no 1.º ciclo, apenas um professor está responsável pelas diversas áreas, automaticamente faz a articulação entre elas. Já no 2.º ciclo, como há um professor para cada área, a interdisciplinaridade implica um trabalho de cooperação entre os professores envolvidos (Pombo, Guimarães &

Levi, 1994).

Com os exemplos expostos, decorridos na prática pedagógica, as experiências e os saberes de várias áreas integraram a elaboração do mesmo conhecimento, que culminou numa nova descoberta.

4.4.

P

ARTICIPAÇÃO EM PROJETOS E EM DINÂMICAS NO SEIO DA