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A S TRANSFORMAÇÕES U RBANAS DAS D ÉCADAS DE 1930 E

Discorreu-se até agora sobre o panorama político nacional para entender o contexto de Campina Grande. Parece necessário também compreender um pouco da evolução do urbanismo no Brasil nessa fase. Vejamos então, resumidamente, quais eram as questões urbanas que estavam sendo colocadas no país na Primeira República e no início do período Vargas.

Ribeiro e Cardoso (1996, p.58-59) apontam duas heranças no Brasil da Primeira República: um viés das concepções de caráter racista e outro ruralista, em que as elites olhavam “a população das cidades como “classes perigosas”, e a cidade como o locus da desordem social e política, e da improdutividade econômica”. A cidade não era vista em sua totalidade, sendo colocadas apenas algumas questões pontuais entre o final do século XIX e início do século XX, tais como o melhoramento das áreas centrais, modernização dos portos e realização de aterros para extensão da área urbana. Exemplos de intervenções localizadas nesse período são a Reforma Passos, no Rio de Janeiro, com a abertura da Avenida Rio Branco, e os projetos para o Anhangabaú (1911), em São Paulo.

As primeiras intervenções urbanas realizadas no país “visavam principalmente criar uma nova imagem da cidade, permitindo às elites dar materialidade aos símbolos de distinção relativos à sua nova condição”, e é por isso que o tema da modernização estará presente também no urbanismo, tornando-se o “princípio organizador” dessas intervenções (RIBEIRO; CARDOSO, 1996, p.59). Elas tinham como objetivo produzir uma nova imagem de cidade que não a de “desordem social e política”, isto é, uma imagem de cidade salubre e “civilizada”.

Ao longo dos anos 1920, surgem os debates sobre a necessidade da introdução do urbanismo no país, em especial na imprensa especializada. Alguns exemplares da mudança de concepção são percebidos, como o Plano de Avenidas e o Plano Agache, ambos de 1930. Questões viárias, estéticas, de fluidez e de legislação urbanística estavam presentes através da elaboração dos códigos de posturas e dos códigos de obras, que eram, em geral, copiados de uma cidade para outra. A década de 1930 representa, portanto, um período de gestação de idéias e das práticas urbanísticas, com a construção de uma cultura e de um ideário em que novas questões de legislação são vislumbradas, muito mais para atender a questões de salubridade e embelezamento. Daí, boa parte dos primeiros planos preverem a abertura de novas vias, destruindo áreas consideradas insalubres e que necessitavam ser retiradas ou remodeladas (geralmente compostas por “cortiços”).

Para Ribeiro e Cardoso (1996, p.64), a reprodução do discurso higienista e urbanístico produzido nos países centrais desde o final do século XIX sofreu algumas transformações na finalidade de sua utilização no Brasil, com as idéias de nacionalidade e modernização sobrepondo

uma reflexão sobre o social, ou seja, o “padrão higiênico funcional” de “caráter modernizador e afirmador da nacionalidade emergente” guiou as primeiras intervenções nas cidades brasileiras, assim como a Campina Grande das décadas de 1930 e 1940.17

Sobre a configuração urbana de Campina Grande nesse período, Queiroz (2008, p.50) descreve que:

Seja por um tipo de ocupação do solo e de construção de cidade que vinha desde os séculos anteriores, seja pelo novo elemento da transformação das terras citadinas em mercadoria pela iniciativa privada (...), ao chegar à década de 1930, praticamente toda a zona urbana de Campina Grande estava fracionada em lotes característicos do sistema de produção das cidades coloniais, estreitos e compridos. Conseqüentemente, a maior parte das construções seguia esses mesmos padrões de implantação, sem afastamento em relação à rua e às edificações vizinhas.

Além disso, como a cidade apresentava um crescimento espontâneo, com “pouco ou nenhum controle da municipalidade sobre a produção do seu espaço”, esses espaços foram ocupados por diferentes usos e classes sociais distintas, situação que se agravou com o surgimento e multiplicação de novas atividades urbanas. Segundo Queiroz (2008, p.52-54), “os conflitos daí resultantes iam desde questões e julgamentos estéticos, morais e higiênicos até reclamações por causa dos ruídos emanados pelas fábricas e pelas novas atividades noturnas de lazer (como os prostíbulos)”.

Um exemplo desse tipo de reivindicação foi observado por Sousa sobre a feira de Campina Grande, que havia crescido consideravelmente entre 1920 e o final dos anos 1930:

Ruas centrais sujas, bêbados incômodos, algazarras, brigas, roubos, muita gente disputando com carros e caminhões espaços cada vez menores e estreitos e o odor daqueles movimentos começando a se fazer sentir nas narinas das elites e dos administradores municipais. Uma promiscuidade, vociferavam os letrados. Surgiu a idéia da construção de um mercado novo (muito em voga nas cidades brasileiras da época) e o prefeito Bento de Figueiredo decidiu dotar Campina Grande de um que estivesse à sua altura, iniciado em 1938. Antes mesmo de estar concluído, a feira foi transferida para suas imediações, em 1941, quando o prefeito da cidade já era Vergniaud Wanderley. (SOUSA, 2001, p.158-159)

Provavelmente uma das últimas imagens da feira de cereais no centro da cidade seja a da figura 04, que ilustra a Rua Maciel Pinheiro no início da década de 1940, com o edifício do Grande Hotel (inaugurado em abril de 1942) visto no canto superior direito. Mesmo tendo sido oficialmente deslocada para as imediações do Mercado Público (1941), a feira continuou na Maciel Pinheiro por algum tempo (CABRAL FILHO, 2007, p.119). A sua retirada da região central de Campina Grande e

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Para um maior aprofundamento da evolução do urbanismo brasileiro, ver: LEME, Maria Cristina da Silva; FERNANDES, Ana; GOMES, Marco Aurélio Filgueiras (org.) Urbanismo no Brasil 1895-1965. São Paulo: Studio Nobel/FAU USP/FUPAM, 1999; VILLAÇA, Flávio. Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil. In: DEÁK, Csaba; SCHIFFER, Sueli Ramos (org.) O processo de urbanização no Brasil. São Paulo: EdUSP, 1999, p.169-243.

transferência para um mercado público é um bom exemplo desse propósito de higienização e civilidade.

FIGURA 04:Feira na Rua Maciel Pinheiro, década de 1940. Fonte: Cabral Filho, 2007 (Acervo Severino Bezerra de Carvalho).

Segundo Queiroz (2008, p.91), entre fins de 1920 e começo dos 1930, “é visível um maior esforço das administrações municipal e estadual no sentido de organizar seus serviços sanitários, objetivando agir e exercer um maior controle sobre as condições de salubridade do município”. É nesse período que alguns órgãos são criados ou incrementados: Inspetoria Municipal de Higiene, Dispensário, Posto de Profilaxia Rural, Posto Médico, Centro de Saúde, Hospital de Isolamento.

Ademais, como nesse período alguns planos urbanísticos estavam sendo elaborados para as grandes cidades, o interventor Gratuliano de Brito e o secretário do Interior e Segurança Pública, Argemiro de Figueiredo, convidaram Nestor de Figueiredo para uma visita a Campina Grande em 1933. Essa visita foi acompanhada pelo Jornal de Campina, que veiculou a reportagem intitulada “Campina Grande vai entrar no Plano de Urbanização das grandes cidades brasileiras”. Tratava-se de uma extensão dos trabalhos que o urbanista vinha realizando em João Pessoa, Cabedelo e em Brejo das Freiras, a serviço da interventoria federal na Paraíba; infelizmente esses serviços não tiveram prosseguimento em Campina Grande (SOUSA, 2001, p.245-247).

Cinco anos mais tarde, o prefeito Bento Figueiredo decidiu dar continuidade ao levantamento com Nestor para elaboração do Plano de Remodelação, Extensão e Embelezamento de Campina Grande. De acordo com Queiroz (2008, p.101), essas preocupações com a salubridade pública, as legislações urbanísticas e a atuação das repartições municipais de obras e higiene “guiaram, em um primeiro momento, os esforços para o estabelecimento de novas dinâmicas para o

uso e a produção da cidade”. Em paralelo, o poder público tratava de melhorar a infra-estrutura, investindo na região central e nos “subúrbios mais abastados”.

Quanto aos projetos de edificações, Queiroz (2008, p.133-135) aponta que em 1933 o poder público passou a arbitrar com maior rigor também sobre os aspectos físicos das construções, buscando o controle das condições sanitárias. Nesse ano aparece o projeto arquitetônico segundo preceitos técnicos, elaborado não apenas por arquitetos, mas também por engenheiros e desenhistas. Os arquitetos e engenheiros estavam devidamente licenciados pela prefeitura e registrados nos conselhos regionais de regulamentação profissional. Ainda segundo o autor, o primeiro “escritório de arquitetura”18

É dentro desse contexto de controle do espaço urbano e de busca de uma “modernidade” que, em janeiro de 1935, o então prefeito da cidade, Antônio Pereira Diniz, lança o decreto nº 51, publicado no jornal O Rebate:

foi instalado na cidade nesse mesmo ano, pelo arquiteto Isac Soares. Pesquisando nos projetos existentes no APMCG, Queiroz (2008, p.133, nota 149) afirma ter encontrado papel timbrado do arquiteto, que tinha seu escritório na Praça Epitácio Pessoa, trabalhava com “Architectura, Construcções Civis, Decorações e Desenhos” e teve grande atuação na cidade nos anos 1930 e 1940, “praticamente sem concorrentes estabelecidos na cidade durante os anos 1930”.

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DECRETO Nº 51 (...)

O Prefeito...

- considerando que Campina Grande apesar de ser uma cidade bastante adiantada, distancia-se, porém, das outras cidades importantes do país, pelo seu aspecto material, pois as construções e reconstruções em suas principais ruas são geralmente feitas de um só pavimento;

- considerando que o poder Público tem o dever de interessar-se pelo embelezamento da cidade, pois, é ele inquestionavelmente que impressiona os que nos visitam;

- considerando que para isso é preciso obrigar-se que as construções nessas ruas sejam de mais de um pavimento (...).

DECRETA

Art.1 – Nas ruas João Pessoa até Major Belmiro Barbosa Ribeiro, Marquês do Herval, Maciel Pinheiro, Monsenhor Sales e Cardoso Vieira e nas Praças João Pessoa, do Rosário e Praça Epitácio Pessoa, as construções e reconstruções só serão permitidas de mais de um pavimento (...).

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Seria necessário rever o termo “escritório de arquitetura”, já que durante os anos 1930 ainda não havia um mercado de arquitetura estabelecido. A separação das atividades de construção e projeto acontece nos anos 1950, com a institucionalização profissional. Daí o fato do arquiteto Isac Soares trabalhar também com construções, desenhos etc.

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Sousa (2001) encontrou o decreto nº 51, em arquivo do cronista Cristino Pimentel, sem referências sobre a fonte, mas escreve que provavelmente tenha sido publicado em O Rebate. Ainda segundo Sousa (2001, p.281), essa iniciativa caiu nas graças do cronista, que passou a agir como um severo fiscal para que o decreto fosse respeitado e implementado pelos prefeitos que sucederam Antônio Diniz.

Quando Vergniaud Wanderley candidatou-se às eleições municipais em fins de 1935, o clima de urgência em transformar a cidade e proporcionar-lhe uma imagem progressista e “moderna” já estava praticamente formado. Não é, portanto, apenas por um ideal seu que promete mudar o aspecto da cidade antes de eleito: “O casario de Campina Grande, com exceção de alguns edifícios residenciais tipo bungalow20, é acanhado e sem o menor gosto arquitetônico. É uma das minhas cogitações estimular a construção de prédios modernos que substituam os casebres inestéticos pelo menos na principal artéria da cidade [Maciel Pinheiro]” (A ELEIÇÃO [...], 1935 apud SOUSA, 2001, p.284).21

Eleito no ano seguinte, a Câmara Municipal aprovou um projeto que concedia ao prefeito Wanderley autorização para desapropriações na Rua Floriano Peixoto. De acordo com Queiroz (2008, p. 184-185), constava no documento22

1º - Considerando que a Praça Floriano Peixoto, aliás, a principal da cidade, constitui um verdadeiro monstrengo ao embelezamento e alinhamento que os preceitos do Urbanismo impõe;

que:

2º - Considerando que foram intimados pela Prefeitura todos os proprietários de predios desalinhados, para os removerem para o alinhamento urbanisante (sic), sob pena de serem judicialmente desapropriados deles, dentro do prazo marcado; 3º - Considerando que alguns de tais proprietarios se fazem costumazes, desrespeitando assim as posturas municipais, em vigor, e as determinações legais da Prefeitura Municipal;

A CAMARA MUNICIPAL DE CAMPINA GRANDE, PELA SEGUINTE RESOLUÇÃO, DECRETA:

Art. 1º - Os proprietarios contumazes (sic), até presente data, á intimação do Prefeito para avançarem ao alinhamento legal, os prédios sitos à Floriano Peixoto, têm o prazo improrrogável de quatro mezes para a fazerem sem multa (...).

O período inicial das reformas na Rua Grande (1935-1937), como era chamada a Rua Maciel Pinheiro, coincidiu com o surgimento do Cassino Eldorado na Mandchúria23

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Naslavsky (1998, p.62) escreve que os bangalôs eram residências típicas do campo e arredores, e que assumiram vários significados e conotações de acordo com o país em que se desenvolveu: “Entre nós, ele se desenvolveu, provavelmente, devido à influência inglesa e, posteriormente, se popularizou devido à influência da arquitetura americana e às constantes revistas para cópias de projetos de origem americana”. King (1995, p.10) aponta que no período entre 1890-1914, seja na Inglaterra, na Autrália ou nos Estados Unidos, o bungalow tornou-se um modelo para o conceito moderno de casa de férias ou “mass vacation”. Mais a frente, o autor revela que se o bungalow moderno desenvolveu-se na Inglaterra, passou por um processo de maturação nos Estados Unidos, com as residências dos subúrbios norte-americanos.

, uma forma de controle e retirada dos prostíbulos da região central. O saneamento e o embelezamento das ruas centrais, segundo Sousa (2001, p.225) demandou um tempo maior e foi marcado por conflitos.

21

A ELEIÇÃO municipal de Campina Grande. A União, nº 212, João Pessoa, 24 set. 1935, p.01.

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Projeto de resolução de 13 de Março de 1936, disponível no Arquivo Público Municipal de Campina Grande.

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A palavra Mandchúria é sinônimo de zona de prostituição. Segundo Sousa (2001, p.208), os termos Mandchúria ou bairro chinês eram utilizados para designar a área que concentrava os prostíbulos e foram associados à invasão nipônica à região chinesa da Mandchúria e os suplícios a que foram submetidos os mandchus (habitantes dessa região da China).

A partir dessas modificações e regulamentações que iam sendo implantadas, aliadas às novas posturas do poder público e da própria população frente a esse processo de modernização, as construções também passaram a apresentar algumas transformações:

Das áreas de expansão até os espaços de ocupação mais antiga da cidade, grande parte das construções novas e reformadas incorporou recuos, jardins, terraços, varandas, janelas em todos os ambientes, pátios e poços de iluminação. Por conseqüência, as plantas ganharam arranjos mais recortados e os telhados tiveram que se adequar a desenhos mais complexos. Com as possibilidades abertas por todos esses elementos, a volumetria e o aspecto geral das fachadas passaram a ser mais explorados, com a utilização de telhados desencontrados, platibandas em níveis diferentes, beirais, marquises, jardineiras, gradis em aberturas, muros e portões. (QUEIROZ, 2008, p.138)

Essas mudanças foram mais perceptíveis nas residências mais abastadas, na medida em que a riqueza dessa nova camada da população campinense – reflexo da pujança econômica que a cidade foi alcançando, em especial com a importância do algodão na economia nacional – levava-a a requerer programas mais complexos para as suas habitações, assim como a criação de novos espaços, com funções distintas: salas de costura, de música, gabinete etc. (QUEIROZ, 2008, p.139). Não é nosso objetivo analisar profundamente a arquitetura dos anos 1930 e 1940, mas precisamente mostrar como os processos de modernização podem influenciar na conformação de uma nova linguagem arquitetônica ou, no sentido inverso, como uma linguagem arquitetônica pode representar esse processo, buscando simbolizar uma modernidade pretendida.24

Iremos, portanto, ilustrar algumas das principais modificações desse período nas construções e espaços urbanos para entender a situação da cidade na segunda metade da década de 1940. Verificou-se, até aqui, uma necessidade de ordenamento do espaço, acompanhada de práticas de controle das construções, através de demolições, reconstruções ou alinhamento de ruas, saneamento, embelezamento, separação de funções e usos desse espaço etc. – práticas essas defendidas e amparadas por um discurso progressista de que a cidade estava em franca expansão e precisava modernizar-se para acompanhar esse crescimento.

FIGURA 05:Calçamento da Rua Venâncio Neiva, década de 1940.

Fonte: Cabral Filho, 2007 (A União, fev./1942).

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FIGURA 06:Aspecto das transformações urbanas na Rua Marquês do Herval, 1942. Fonte: Cabral Filho, 2007 (Acervo Severino Bezerra de Carvalho).

Durante a primeira administração de Bento Figueiredo (setembro a dezembro de 1935), além da tentativa de retomar o plano de Nestor de Figueiredo, identifica-se a demolição da antiga cadeia pública para ampliação da Praça Clementino Procópio, inaugurada em janeiro de 1936, já na gestão de Vergniaud (CABRAL FILHO, 2007, p.48).

FIGURA 07:Aspecto da Praça Clementino Procópio depois da ampliação, década de 1940. Fonte: Cabral Filho, 2007 (Acervo Severino Bezerra de Carvalho).

Dois importantes edifícios foram construídos durante a gestão de Vergniaud Wanderley para simbolizar esse período de mudanças e de “modernização” da cidade: o Grande Hotel e o edifício da Prefeitura Municipal. Cabral Filho (2007, p.49) fala de uma “simbólica dessas novas construções”,

que definiam não apenas um novo momento da cidade, mas também as modificações que se operavam nas relações de poder, isto é, a chamada “modernização conservadora” do governo autoritário, prestes a adentrar no Estado Novo.

FIGURA 08:Grande Hotel, atual Prefeitura Municipal de Campina Grande.

Fonte: Arquivo de Antonio F. Bióca.

FIGURA 09:Prefeitura Municipal de Campina Grande, atual Biblioteca Municipal. Fonte: Arquivo de Antonio F. Bióca.

Esses dois edifícios, com quatro ou mais pavimentos, eram considerados pelos jornais locais como “símiles de arranha-céus” (SOUSA, 2001, p.219, nota 101), já uma primeira impressão do tema da “verticalização” como representação da modernidade, que será retomado a posteriori. Poucas são as informações sobre a construção dos edifícios do Grande Hotel e da Prefeitura, mas, segundo informou o médico Severino Bezerra de Carvalho a Cabral Filho (2007, p.52, nota 99), ambos foram

projetados pelo arquiteto francês Georges Munier25

Boa parte dessas novas edificações foi construída seguindo uma linguagem Art Déco, todavia parece existir, ainda, certa ambivalência a respeito da poética do edifício do Grande Hotel. Por exemplo, para Queiroz (2008, p.226), definir o Grande Hotel como Art Déco seria reduzir a análise a seus poucos ornamentos de fachada. E tanto este edifício, como o edifício dos Correios e Telégrafos (1950), teriam sido construídos para atender a programas modernos, complexos e em escalas novas, imbuídos de conceitos como funcionalidade, economia e eficiência:

, e construídos pela empresa Construtora Figueira e Jucá.

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(...) o Grande Hotel, com seu jogo de volumes, limpeza formal, exploração do concreto armado e integração espacial entre os cinco pavimentos através de um grande vazio circular central, aproximava-se mais de uma modernidade que tentava romper com o comum das construções da época. Vale lembrar que, tanto o Grande Hotel quanto o novo prédio da Prefeitura Municipal, introduziram o elevador de forma pioneira nos edifícios da cidade, símbolo máximo de um modelo urbano que pregava a verticalização como sinônimo de progresso e de reprodução do solo citadino. (QUEIROZ, 2008, p.226)

Retomando a simbologia das transformações, os jornais locais logo trataram de comparar o prefeito Vergniaud Wanderley ao prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos. A vontade de munir Campina Grande de uma Avenida Rio Branco talvez explique a carga simbólica que a Avenida Floriano Peixoto representa para Campina Grande. Como vimos, a determinação para retificação da Floriano Peixoto data de 1936, e talvez tenha sido uma das ações mais enérgicas desse período (QUEIROZ, 2008, p.170).

FIGURA 10: Avenida Floriano Peixoto, década de 1940.

Fonte: Cabral Filho, 2007 (Acervo Severino Bezerra de Carvalho).

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Georges Munier foi, segundo Naslavsky (1998), professor da Escola de Belas Artes de Pernambuco, Recife, cidade em que teve uma produção arquitetônica significativa nas primeiras décadas do século XX. Retomaremos a discussão sobre o edifício do Grande Hotel e a produção de Munier no capítulo seguinte.

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Outro grande empreendimento dessa época para Campina Grande foi a construção da barragem de Vaca Brava para o abastecimento de água, iniciada em 1939. A barragem foi construída com aporte financeiro do governo federal, sob o comando do Instituto Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS)27, em parceria com o governo estadual, na figura de Argemiro de Figueiredo. De acordo com Cabral Filho (2007, p.79), houve um contrato da obra entre a empresa do engenheiro Saturnino de Brito Filho e o governo do Estado da Paraíba.28

Pode-se dizer com alguma segurança que uma obra inaugural, significativa do processo de modernização na cidade de Campina Grande foi a construção da adutora de Vaca Brava, obra realizada juntamente com a instalação de um sistema de saneamento sanitário. Com esta empreitada a cidade passou a contar com um item que, sob muitos aspectos, representou a emergência de um novo padrão, moderno, de abastecimento de água. (CABRAL FILHO, 2007, p.57)

Essa obra teve grande repercussão na cidade e, também, para Argemiro que, seguindo as diretrizes apontadas por Vargas, cuidou em dotar a Paraíba de obras infra-estruturais que