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CAPÍTULO 2:A HIERARQUIA DA IGREJA CONTRA O MUNDO MODERNO

2.3 A secularização

A tese da secularização crescente no século XIX tem dupla valoração tanto no sentido espiritual quanto no sentido jurídico. O ato político que inaugura essa cultura secularizada não é a ruptura entre estado e igreja em 1794, durante a Revolução Francesa, no período da Convenção Nacional, pois não se chegou a termo propriamente dito, servindo mais à propaganda do que a uma concordata efetiva entre estado e igreja. Já na coroação de Napoleão é o fato simbólico por excelência que irá conferir sentido as novas relações entre estado e igreja graças a autocoroação empreendida pelo próprio Bonaparte quando retira a coroa das mãos do papa para ele mesmo introduzir a si o poder soberano do estado. Desta feita, não há mais um direito divino sagrando os reis como era na longa tradição do sacro império romano, mas fruto da produção burguesa de um homem livre é por si só responsável por seu telos. O subproduto deste ato é a humilhação do papa que assiste incólume aquele épico guardado pelo pintor oficial, Jacques Louis David, da corte de Bonaparte.

Reagindo contra o racionalismo, a idéia de igualdade entre as confissões religiosas e os efeitos diretos que incidiam sobre registro civil (nascimento, casamento e óbito) correspondendo a três rituais de confirmação religiosa de entrada e saída na vida, na

(idêntico aos outros vigários). Em 23/3/1872 do mesmo teor endereçado a D. Antonio Macedo Costa evidencia as contravoltas sobre a aplicação da lei.

constituição de família, os cemitérios civis; o reconhecimento civil dos atestados da outras confissões religiosas e por fim o direito de autoconsciência, o livre pensar como impulsionador da cultura secular que se despe da espiritualidade como bem entendeu a igreja e por isso reagiu a esta tentativa racionalizar a teologia.

Difícil foi para a igreja disponibilizar uma pele que pudesse aderir à revolução burguesa, permitindo um transplante de alguns de seus valores e absorvendo outros ―estranhos‖ da cultura moderna, embora houvesse membros do clero cuja tempera tinha sido afetada pela experiência da cultura da ilustração; porém como instituição não há uma incorporação da cultura material e imaterial nascida da revolução social, antes havia era o desafio das forças que a igreja mobilizava, quando o direto civil era invocado, a igreja respondia com o direito eclesiástico; quando as políticas sociais eram reivindicadas pelas camadas populares, lá estava a igreja acenando com sua doutrina social; frente aos reclamos das nacionalidades a igreja contrarrestava com seu universalismo.

A autoconsciência da igreja é um processo autofágico de grande envergadura, pois se considerarmos os 80 erros do Syllabus observamos a crítica ao panteísmo, naturalismo e racionalismo absoluto e moderado; à indiferença religiosa e o latitudinarismo; ao socialismo e ao comunismo, ao lado das sociedades secretas republicanas e liberais; não há concessão às sociedades bíblicas ou, sociedades clérico-liberais, não há espaço para ecumenismo; sobre os direitos da Igreja e da sociedade civil só há um acordo com a primazia da igreja; sobre a ascendência da moral natural frente à cristã e sobre o matrimônio cristão, mais uma vez deve ser refutado erro e dado voz à verdade revelada; sobre o direito de governar como príncipe civil do Pontífice Romano esta é a pedra de toque para não ser apeado do poder secular.

Ludwig Hertling, S.I 130, confirma a necessidade que a igreja tinha para anunciar estar

viva, e bem preparada para continuara a exercer o pasto espiritual como outrora fizera na idade média. Trata-se de uma obra de síntese, mas trás à baila um élan religioso militante, lembrando ao sentido já conferido por Kaustky na sua analise sobre a igreja na idade média como uma eclésia militans, organismo político e religioso, e vice-versa, com o intuito de assegurar uma reprodução institucional da igreja e do mundo conforme esta pugnava.

Temendo a descristianização, a igreja católica assume um a postura universalista quanto ao problema da formação de igrejas nacionais. Se isso era uma neurose da igreja não podemos atestar, mas sem dúvida, a possibilidade de que ramos liberais mais exaltados pudessem propor formas de independência das igrejas nacionais da sede de Roma faz sentido quando

130Hertling, Ludwig Historia de la Iglesia /. Ludwig Hertling ; [traducción castellana de Eduardo Valentí]

consideramos, por exemplo, o caso de Feijó na constituição do Brasil batia-se para uma efetiva separação entre o estado e a igreja. O caráter místico da igreja católica apostólica romana reveste-se de seu clamor pela universalidade. Isto é, o catolicismo erigiu sobre a categoria da universalidade sua mensagem salvífica, ou seja, é parte significativa da identidade católica, sua doutrina expressa esse conteúdo de conclamação de salvação nessa igreja experimentando a religião dentro dessa comunidade religiosa católica.

Consoante a essa postura doutrinária, reage a igreja quando lhe imprimem condições para manifestar a vivência religiosa através de uma autoridade civil que no entender dos religiosos é carente de sabedoria para arbitrar questões relativas às causas da igreja. Não há como justificar uma postura absenteista deixando que a igreja do Brasil ficasse subordinada ao exemplo do que havia se tornando a igreja da Inglaterra, ou dos paises nórdicos, sob a inspiração do protestantismo.

Em França, essa ruptura entre estado e igreja galvanizou o fluxo ao estatuir um novo paradigma das relações hierarquizadas no poder com a ascensão do estado tendo necessariamente de subjugar a igreja, quando não, perseguisse a plena separação entre as duas instituições. Dar lugar a algo não é parto fácil, pois as saídas cada vez mais não vinham do céu e sim das opções próprias tomadas pelos indivíduos buscando em si mesmo sua salvação. Nesse sentido, as arengas entre uma cultura secular e uma cultura religiosa deveriam ser postar em par, mas com as discrepâncias apuradas por séculos de existência. Só indo fundo até as relações mais invisíveis do átomo circunscrevendo a um só tempo a fé e a razão poderá perceber as nuances das perspectivas determinantes e determinadas a fazerem a igreja a sair do proscênio principal, voltando a este somente em momentos específicos.

Há um consenso bastante expressivo quanto à capacidade da igreja em dirigir, dominar e subsumir a sociedade medieval graças à noção de unidade cultural empreendida pelo catolicismo quando confirmava uma só salvação para todos na igreja, embora houvesse clivagens a denunciar a necessidade de reformas profundas. Porém, esses problemas acabaram sendo agravados pelo surgimento de novos atores sociais com pendência para justificar sobre sua subjetividade uma experiência única e indissolúvel do individuo como o suporte da nova era. Sem se fazer esperar, a igreja apontou a nova postura como temível e herética, colocando sob ameaça aquilo até então inquestionável - a posição gozada pela igreja na direção das consciências; paralelo a essa confrontação, havia ainda uma disputa pelos recursos matérias que se acirraram quando forças produtivas incrementadas permitiram a expansão da sociedade ocidental sobre todo o globo, conformou alianças para assegurarem o prestigio e a capacidade dos grupos dirigentes continuarem como tal.

Lortz, historiador católico, atenta quão prejudicial foi a tentativa de reformar a igreja desconectada da experiência única forjada ao longo de séculos para estabelecer uma reflexão teológica, dentro de determinados processos sujeitos à hierarquia para não desencadearem forças incontroláveis sob pena de renegar a necessidade de religião e de esclarecimento mediado pela igreja. Essa é uma crítica aos católicos liberais. À altura da revolução francesa, parecia á realização de uma profecia, o irromper da revelação apocalíptica de um mundo sem igreja estava fadado ao infortúnio e a danação eterna.

Em principio, a igreja não conseguia agir como uma instituição capaz de produzir uma intervenção centralizada, subordinando politicamente todo o clero para mobilizar os católicos na defesa de sua visão de mundo. Contudo, não subscrevo a tese auto proclamada pela igreja de um cerco ao seu ministério, revivendo a experiência dos primeiros cristãos quando foram martirizados, e estabelecendo um conteúdo bem explicito de demonstração de fé na vivencia do martírio131. A causa dos santos foi sem duvida alguma uma pedagogia portentosa na atração de

fies, este modo de ser dos cristãos configurou um modelo sempre atualizado, motivador dos cristãos quando em ameaça, ou mais precisamente em ações de expansão da boa nova como foram os casos do novo mundo, África e Ásia. Embalados em motivações muito diferenciadas, a igreja teve de instrumentar muitas alternativas para reagir à perda de poder acentuada com a revolução francesa.

Quando a chefia da igreja envolvia-se em demasia nas alianças do estado, na prática atuava como um poder temporal bem definido dispondo de território, relações de vassalagem que excediam em muito os outros príncipes, além de ter a mais completa elaboração do direito sobrevivente da cultura jurídica romana do ocidente. Entretanto, a salseira da reforma, instalou uma cunha entre o monopólio de salvação até então em voga no catolicismo romano, ferindo senão de morte, ao menos paralisando muitos dos recursos, sobretudo, os materiais a permitir o acumulo de rendas necessárias para viabilizar a atuação da igreja. Despossuída materialmente, a igreja vê serem subtraídas terras, rendas, mosteiros, abadias, castelos, e não menos significativo, clérigos, púlpito e templos, doravante convertidos em cabeça-de-ponte do protestantismo, ainda não necessariamente movidas por ondas do secularismo.

Os regimes de padroado têm sido responsabilizados pela fragilidade da igreja no período posterior ao renascimento, nessa senda confirmam Huges, Lortz, Hertling quanto à precarização sofrida pela igreja por não ter autonomia de gerencia sobre seu clero e patrimônio, estando sempre a sorte dos benefícios estatuídos pelos regimes absolutistas aliados à Sé de Roma. Bem como, as redes econômicas paralelas das ordens dirigidas por suas estratégias de intervenção tanto interna quanto externamente à igreja foi percebido como desperdício de

recursos concretos para alavancarem uma pregação mais decidida da religião católica. Tal assertiva não encontra sustento quando consideramos a entronização do catolicismo nas áreas mais recônditas do mundo, embora subsistindo uma variedade de ―modo de ser‖ católicos, e de alguma maneira sensível às demandas da Sé de Roma, ou do catolicismo do lugar. Com efeito, o catolicismo não serve de exemplo de uma multinacional da era do capitalismo, mas sinaliza a edificação de um bloco orgânico de concepções, códigos, condutas e ações verticalmente solidificadas como um esteio sujeito a equilibrar-se conforme se esparrama horizontalmente a doutrina e a pastoral católica.

O catolicismo romano unge a si como a cultura a moldar o ocidente, lapidando as características do paganismo e da barbárie. Esta noção alto edificante sempre sugere a responsabilidade da igreja com um projeto humano sem se deixar reduzir ao humanismo, pois como se atestou em Trento não poderia haver realização sem a coroação da igreja na condição de guia para o transcendente e a utopia terrestre.

È a dupla revolução burguesa que altera irremediavelmente altera a posição que a igreja ocupava no bloco de poder, e como lhe faltava organicidade para perseguir seu próprio projeto universal obriga-se a refazer sua estrutura para poder dar cabo à situação de recuo que lhe havia sido imposta pela perda de recursos materiais de grande e importante significação econômica. Essa subtração de recursos, terras, benefícios e outras tantas regalias fez com que a hierarquia da igreja temesse perder a capacidade de continuar a influenciar a mentalidade cristã. Reagindo ferozmente, a igreja irá decidir-se por combater essa revolução burguesa que rompia o pacto que unia estado e igreja na caminhada de salvação. A aliança histórica entre a coroa e a igreja será consolidada pela identificação de ambas132 como forças políticas desafiadas a empreenderem

uma modernização, ainda que contivesse um caráter conservador, como já ocorrera no que se convencionou chamar de despotismo esclarecido, revelando-se sobremaneira muitas das vezes mais despótico que esclarecido.

O estigma da tradição não era algo que pudesse ser facilmente apresentado como uma força social do atraso, ela representava antes a segurança, a responsabilidade, a ordem, e

132 Essa cumplicidade pode ser atestada como segue: ―Pal. Do Governo do Pará. 21 Mço 1870. 2. S. Ilmo

Revmo Sem. Devendo solenizar-se o dia 25 do corrente Aniversario do Juramento á Constituição Política do Império com todas as demonstrações de publico regosijo, rogo a V. S. se digne de providenciar para que o Te Deum, que se ha de celebrar na Cathedral por ser motivo e possa ter lugar ás 11 horas da manhã. Deus Guarde a V. S. Ilmo Revmo Sr. Provisor e Governador do Bispado‖. Outro documento completa o sentido ―Ilmo Sem 21/2/1870. Devendo solenizar-se o dia 25 do corrente Aniversario do Juramento á Constituição Política do Império com todas as demonstrações de publico regosijo, convido ao reverendíssimo Cabido da Cathedral para concorrer ao cortejo, ás Efiges de Suas Majestades Imperiaes, que terá lugar no Palácio da Província, em seguida ao Te Deum, que se ha de celebrar na mesma Cathedral. Deus Guarde V... o Revmo Cabido da Cathedral‖. CÓDICE 1439. OFICIOS AS AUTORIDADES DO BISPADO. APEP.

sobretudo o élan com o divino. Assentado em quase dois milênios de historia, a igreja era manifestamente uma idéia de continuidade, de permanência até mesmo de eternidade. Logo se fez sentir a importância da igreja quando os levantes católicos quanto da subtração do poder do rei pelas forças burguesas fora objeto de intenso combate militar, chegando até a ameaçar o êxito da revolução. Esses católicos sentiram-se na obrigação de se insurgirem contra uma nova ordem que não lhes prometia a redenção como outrora era feito133.

Se entre os revolucionários do século XIX iremos encontrar muitos católicos liberais, devotos das duas filosofias, nem por isso a igreja foi tomada pelo conteúdo da ilustração sem resistência, obviamente porque parte substantiva de seu índice voltava-se contra as verdades doutrinais e práticas desta. Através da divulgação da filosofia ilustrada, os críticos da igreja debruçaram-se contra ao que chamavam de violação das consciências pelos tribunais de inquisição e decididamente evidenciam à categoria mais cara do iluminismo – o livre pensamento.

Porém, entre as classes populares a igreja ainda gozava de grande prestigio graças ao seu papel de mediador com o transcendente, a exceção dos paises em que o protestantismo erigiu-se hegemônico, nestes lugares houve até uma ação anticatólica declarada em favor da montagem do estado burguês. Mas as generalizações tendem a serem enganosas, os processos de unificação nacional da Itália e Alemanha são bastante ilustrativos de como se pode mudar de posição de acordo com os interesses134.

Católicos alemães também tiveram a oportunidade de optar entre as alternativas da Santa Sé e a identidade nacional em curso no processo de unificação, mas a segunda alternativa era carregada de problemas devido a supremacia dos protestantes nessa conformação do estado nacional; por seu turno, a coroa não queria deixar a lealdade dos católicos em dúvida. Ao passo de outros paises, a Alemanha procura solidificar a identidade nacional também sob o signo religioso e não só o nacional, porém a igreja considerava um frontal ataque à supremacia

133

Para uma apreciação do problema: Burke, Edmund. Reflexões sobre a Revolução Francesa, UNB, Brasília, 1969; Furet, François. Pensando a Revolução Francesa, Paz e Terra, São Paulo, 1989 (2. ª edição); Furet, François e Ozuf, Mona (orgs.). Dicionário Crítico da Revolução Francesa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1989, Hobsbawn, Eric. Ecos da Marselhesa: dois séculos revêem a Revolução Francesa, Companhia das Letras, São Paulo, 1996; Lefebvre, Georges. 1789, O Surgimento da Revolução Francesa, Paz e Terra, São Paulo, 1989; Michelet, Jules. História da Revolução Francesa, São Paulo, Companhia das Letras, 1989; Soboul, Albert. A Revolução Francesa, Difel, Rio de Janeiro, 2003 (8. ª edição); Vovelle, Michel. A revolução francesa contra a Igreja: da razão ao ser supremo, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1989.

134 Desconfiando dos conservadores, os católicos deixam as alianças burguesas enquanto não tem certeza

de terem seus direitos de fé assegurados. Mommsen, Wolfgang. Imperial Germany 1867-1918: politics, culture, and society in an authoritarian state, translated by Richard Deveson from Der Autoritäre Nationalstaat, London: Arnold, 1995

dos direitos que o catolicismo até então gozava em similaridade com os cultos protestantes de fazerem parte do ministério dos cultos prussiano ( Hertling, 1961: 447), ficando para os católicos o calvário expresso em seguida com a expulsão dos jesuítas, lazaristas, redentoristas, e a ordem feminina da sagradissimo coração, além da primazia para destituir religiosos do lugar segunda a lei de 1873 e da confiscação dos bens, perda de cidadania para a investidura em cargo eclesiástico não reconhecido pelo estado. Anteriormente consagrado na constituição prussiana de 1850 foram ab-rogados seus direitos, Kulturkampf, vitoriosa política levada adiante por Bismark fez com que a igreja não conseguisse preencher as dioceses e paróquias vacantes, alem de reprimir a realização de ofícios santos. Reagindo a compressão, os católicos organizaram-se politicamente para responder aos ataques na articulação de um campo, depois propriamente em Partido do Centro Católico, baseados no sul da Alemanha, atinava para manter seu direito de crença sem a intromissão do estado como já vinha consagrado desde a paz de Augsburgo, o federalismo e uma legislação social nos termos da doutrina da igreja completava a identidade do campo católico; mas segundo Hertling, (1961: 449) os políticos católicos não eram títeres do papado e não aceitaram serem usados pela política do Vaticano na tentativa de acelerar uma concordata entre este e o estado alemão recém egresso da guerra franco-prussiano. Desde 1878 se entabulou negociações para suprimir todos os entraves a livre confissão da fé católica, mas a igreja temia que o caráter social do partido católico pudesse aproximá-lo dos socialistas e para tal não descuidou de reprimir qualquer associação nesse sentido.

No grande jogo, na teia, ou no palco, os atores estavam encarnados em suas personagens, mas o enredo é continuamente traçado ao longo das disposições que vão se encetando. A igreja se vê obrigada a denunciar a alma da filosofia ilustrada, ou na falta dela se preferirem – o secularismo. A separação entre igreja e estado é o anuncio da indisponibilidade da igreja seja para vocação material, seja para a vocação espiritual, obviamente a hierarquia, o clero e o mais humilde dos católicos não estavam convencidos da magnitude dessa transformação e conformaram um campo de ação católica em oposição aberta à revolução burguesa. As classes populares nesse período não são tocadas tanto pela questão do poder, mas sim pela vivência da religião com os compromissos atados entre fiel e esta.

Diante das humilhações, dos desafios, das contestações à igreja, esta respondia conforme a correlação de forças no plano temporal e atemporal. As excomunhões lançadas, o index, o recolhimento aos conventos, as dispensa de ordens, os confiscos eram punições que perdiam força largamente devido à indisponibilidade dos meios materiais necessários para implementação dessas decisões, ficando evidente apenas o caráter simbólico; na prática desnudava a ausência de poder efetivo para a igreja validar sua doutrina no mundo.

Plena habilitação de Trento foi a resposta da romanização no século, uma igreja unitária, centralizada verticalmente, portadora de uma mensagem revelada, interpretada pelos sacerdotes com a responsabilidade de orientar os católicos ao seu serviço.O advento da Reforma Protestante foi uma ruptura sensível na unidade católica no ocidente. Voltando-se sobre a cultura religiosa, a hierarquia da igreja reunida em Trento teve de avaliar profundamente como se produziu aquele rompimento em larga escala com a Sé de Roma. Se a reforma religiosa do catolicismo pode ser apresentada em uma longa duração como propõe Michel Vovelle135,

Jean Delumeaue, Michael Mullet, não temos duvida que a reforma protestante seja uma clivagem nessa reforma. Doravante, as igrejas reformadas resolvem seguir um caminho independente e por isso são perseguidas quando o braço do catolicismo lhes pode alcançar (também essas igrejas reformadas promoveram perseguições aos católicos, não deixando a desejar nos abusos contra a vida). A atualização dos instrumentos e recursos utilizados em larga escala, anteriormente, foi ratificado no concílio, além de outras que foram emendados e novas prescrições foram estabelecidas.

Saídos do concilio, os combatentes do catolicismo mobilizam suas armas para esgrimirem contra a perda de almas e de poder. A assimilação desse arsenal foi extremamente desigual, seja na hierarquia da igreja, seja entre os católicos, senão vejamos, as ordens religiosas

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