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4. Enquadramento Operacional

4.1. Área 1: Organização e gestão do ensino e aprendizagem

4.1.2 Planeamento do processo de ensino-aprendizagem

4.1.3.6 A sensibilização para a inclusão

A escola alberga crianças e jovens com diferentes caraterísticas, por isso a diversidade está muito presente. A famosa premissa da “escola para todos” assenta na ideia da inclusão e da igualdade de oportunidades. As aulas de EF por norma são palco para que isso aconteça, onde alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE) ou com algum tipo de deficiência são inseridos numa turma com um objetivo académico, de ter um ensino regular, mas sobretudo social. Neste ano de EP pude ter essa oportunidade de ter nas minhas turmas alunos com NEE, como é o caso de um aluno com dislexia na minha turma de 11º ano e outro no DE de natação, mas nenhum deles exigiu uma adaptação das atividades.

3 Nome fictício de um aluno da turma

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Durante o meu percurso académico, a abordagem que ia sendo feita acerca dos desportos para populações especiais, quer seja na licenciatura quer em mestrado, suscitou-me sempre curiosidade e levou-me a ver o desporto de uma forma aprimorada, na sua vertente de integrador absoluto, isto é, onde realmente todos são incluídos e podem participar. Uma das modalidades abordadas foi o

Goalball. O Goalball, para Nascimento e Morato (2006) é uma modalidade criada

para pessoas com deficiência visual e está dependente de perceções auditivas, táteis e de orientação espacial. A ideia de lecionar a modalidade junto dos meus alunos partiu do facto de ter de abordar o basquetebol no espaço G5, o que não era possível, tendo de arranjar uma alternativa. Pensei assim em escolher um desporto desconhecido para eles, possível de executar naquele espaço de aula, que no fundo fosse uma experiência talvez única nas suas vidas. Se para mim, que me considero uma sortuda por ter experimentado desportos adaptados na faculdade, gostava que eles também tivessem essa oportunidade de experimentar. Tinha também ao mesmo tempo o objetivo de os consciencializar para as dificuldades com que essas pessoas têm que lidar diariamente. Louro em 1981 (cit. por Cunha, 2006, p. 1) entendeu que “a escola tem um papel fundamental na formação da personalidade do indivíduo, representando para todos uma preparação para a vida social, não se esgotando no fornecimento de conhecimentos académicos”. Concordo plenamente com esta afirmação e relaciono-a muito com a EF em que considero que não são transmitidos apenas conhecimentos das modalidades mas sobretudo são partilhados valores importantes para a relação com a sociedade, principalmente na aceitação da diferença. Indo de encontro a Oliveira Filho (2008, p. 15) “…é imprescindível oferecer oportunidades aos alunos de interagirem com as diversidades e diferenças, aprendendo com elas principalmente a importância do respeito pelo outro”, e no contexto da escola essa proposta faz sentido, “por trazer para a escola uma realidade diferente” (Oliveira Filho, 2008, p. 15), neste caso em particular, o da deficiência visual.

Após esta escolha de lecionar o Goalball, e uma vez que tinha oportunidade e conhecimentos para lecionar a modalidade, foi-me fácil planear e abordar a mesma. Um professor na faculdade mostrou-se acessível e disponível para me

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emprestar o material que necessitava e assim no dia da aula tinha vendas para todos os alunos bem como bolas oficiais (3+ bolas envolvidas em sacos de plástico). Sabia que o processo das marcações do campo iria ser demorado e uma vez que a aula era de apenas 45 minutos, fui mais cedo para que quando os alunos chegassem, pudesse estar tudo montado e eles conseguissem praticar o maior tempo possível. Para as marcações do campo foram utilizadas cordas (de escalada e de saltar) presas com fita adesiva ao chão de modo a que os alunos tivessem uma perceção através do tato do sítio onde estavam. Os alunos chegaram e, ao verem o espaço de aula totalmente marcado, ficaram intrigados sobre que modalidade iriam praticar. Só neste momento inicial ganhei- lhes a curiosidade para o resto da aula. Decidi explicar-lhes um pouco do que era o Goalball e da forma como era jogado- por quem, como, qual o objetivo e o que se pode e não pode fazer. Após colocarem as vendas, a dificuldade em se movimentarem e a insegurança de o fazerem foi sendo percetível. Foi uma questão de “hábito” e após passar aquela sensação de estranheza, conseguiram aproveitar a experiência e no fundo sentir na pele a dificuldade de se orientarem apenas por uns sentidos.

“Notei o entusiasmo dos alunos por esta modalidade nova. Queriam sempre experimentar mais vezes e o tempo da aula passou a correr... Propus ao PC que para o ano fosse lecionada uma unidade de desporto e populações especiais, que abordasse desportos como por exemplo boccia, goalball, voleibol sentado, entre outros, visto serem desportos novos para os alunos e possivelmente não terão mais oportunidade de os praticarem.” (Reflexão Aula Goalball, 17 Maio de 2016)

Esta proposta surgiu pelo facto de os meus alunos terem gostado da experiência e de na aula a seguir perguntarem se seria Goalball novamente. Embora tenha trabalhado com alunos com NEE, gostaria de ter tido a oportunidade de ter nas minhas aulas alunos com outro tipo de deficiência, para experimentar o desafio da adoção de diferentes estratégias de ensino pois estou ciente que hoje em dia,

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nas escolas, cada vez há mais jovens com NEE e é necessário conseguir incluí- los. Vemos que muitas vezes quando existe um aluno com qualquer tipo de deficiência numa turma, os professores de EF tentam adaptar as modalidades que estão a dar a esse mesmo aluno e, na minha opinião, seria interessante que a inclusão pudesse ser feita da forma inversa: os alunos ditos “normais” praticarem um desporto adaptado às caraterísticas do aluno com deficiência. É na aceitação das desigualdades que no fundo nos tornamos iguais.

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