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1 INTRODUÇÃO

1.6 A Serra do Espinhaço em sua porção meridional

A delimitação geográfica propriamente dita da área de estudo, que é o Mosaico de Áreas Protegidas do Espinhaço: Alto Jequitinhonha - Serra do Cabral será apresentada no capítulo 3 desta tese, visto que a criação deste limite se configura como um dos objetivos deste estudo. Neste capítulo iremos apresentar as

27 As Biorregiões são grandes regiões que apresentam características naturais e culturais muito próprias, nas quais estão contempladas diversas formas de relevo, espécies de flora e fauna e traços culturais particulares.

características ambientais da região de estudo, onde o Mosaico do Espinhaço encontra-se inserido.

A grande cordilheira denominada Serra do Espinhaço estende-se por 1200 Km desde a região central do estado de Minas Gerais até o extremo norte da Bahia. Configura- se como um grande divisor hidrográfico interposto entre as bacias do centro-leste brasileiro e a do rio São Francisco (SAADI, 1995). Devido à grande extensão e abrangência pode se falar em Espinhaço Baiano em sua porção norte e em Espinhaço Mineiro em sua porção sul. Uma divisão utilizada por pesquisadores da área é a denominação de Serra do Espinhaço Meridional (SdEM) a uma faixa da Serra de cerca de 300 Km de direção norte-sul localizada em sua porção mineira e que foi segmentada da Serra do Espinhaço Setentrional (porção contida em parte no estado da Bahia e de toponímia “Chapada Diamantina” por um sistema de falhas transcorrentes sinistrais de direção nordeste que compõem a Faixa Araçuaí. Os planaltos meridional e setentrional, com direções gerais, SSE-NNW e SSW-NNE respectivamente, são separados por uma zona deprimida alongada na direção SE- NW, passando nas proximidades do município de Couto de Magalhães de Minas, pouco a norte do município de Diamantina (SAADI, 1995). A SdEM localiza-se desde o Quadrilátero Ferrífero até a região localizada nas proximidades do município de Olhos D'água (Figura 8).

Em termos climáticos, a região denomina-se como tropical de altitude do tipo Cwb – Mesotérmico, segundo a classificação de Köppen. Apresenta duas estações bem definidas, ocorrendo verões brandos e úmidos e inversos com baixas temperatura e seco. Devido a característica montanhosa da região, a altitude é um fator que condiciona significativamente o clima na região, visto a característica da temperatura diminuir com a aumento da altitude. A precipitação média na região fica por volta de 1250 e 1600 mm anuais, com temperaturas médias em torno de 21º C. De acordo com Nimer (1979) a configuração do relevo favorece a concentração das precipitações a leste da serra, pois esta é uma área mais exposta à incidência de ventos alíseos Sudeste e Leste que avançam do litoral para o interior. As áreas localizadas à oeste da serra possuem a tendência de ser mais secas, tendo em vista apresentarem índices pluviométricos mais baixos, observando-se que o ar perde umidade no momento em que transpõe a serra (RICKLEFS, 2003).

Sob o ponto de vista geomorfológico, a SdEM apresenta relevo rugoso, com vastos domínios de rochas expostas e com uma altitude média de 1250 metros acima do nível do mar. Apresenta uma cobertura rígida predominante quartzítica com presença de fraturas e cisalhamento em sua extensão. Representa um relevo proeminente em relação às áreas adjacentes, sendo marcado por íngremes escarpas. O ponto culminante é o Pico do Itambé com altitude aproximada de 2037 metros. De acordo com Saadi (1995) as formas de relevo desenvolvidas a partir da dissecação fluvial são representadas por cristas, escarpas e vales profundos adaptados às direções tectônicas e estruturais. Caracteriza-se como um importante divisor hidrográfico no sudeste do Brasil, interpondo-se entre a bacia do rio São Francisco e as bacias do centro-leste. Os solos desenvolvidos em grande parte da SdEM são essencialmente arenosos e, por serem muito rasos e com alta porosidade e permeabilidade, são pobres em nutrientes, sustentando desta forma os tipos de vegetação adaptados a essas condições.

A SdEM é palco de uma grande geodiversidade, dando suporte a uma riquíssima biodiversidade, abrangendo dois grandes biomas brasileiros (Cerrado e Mata Atlântica) que são particionados pela própria Serra. Para muito além de um divisor de biomas, o Espinhaço é um conjunto de relevância idem a um bioma em si. De acordo Gontijo (2008) mesmo sendo concebida com um faixa de transição e divisão de

biomas, é necessária a consideração do conjunto da Cadeia do Espinhaço como um bioma em si, o dos Campos Rupestres de Altitude, que vão muito além de um mero arranjo florístico / fitofisionômico. O Campo Rupestre de Altitude, enquanto tipo vegetacional não ocorre apenas na Cadeia do Espinhaço, existindo tipologias similares na Serra da Mantiqueira e Serra do Mar, daí a existência de classificações e subdivisões deste tipo de vegetação por alguns especialistas. Rizzini (1979) realiza uma subdivisão deste bioma em Campos Altimontanos para as tipologias que ocorrem sobre rochas cristalinas em geral, tais quais as ocorrentes nas Serras da Mantiqueira e do Mar e os Campos Quartzíticos, para áreas sobre quartzito tal qual a formação característica do Espinhaço. No mesmo sentido Eiten (1983) faz uma divisão em Campo Rupestre e Campo Montano, para formações sobre quartzito e sobre granito, respectivamente. É reconhecido que ambas as formações são rupestres, porém se diferenciam quanto a litologia de base predominante.

A SdEM representa uma faixa orogênica que limita o sudeste do Craton do São Francisco e se orienta para nordeste com a Faixa Araçuaí, mostrando-se segmentada e deslocada em relação a parte setentrional da cadeia do Espinhaço, sendo considerada como de estruturação final no evento tectônico relativo ao Ciclo Brasiliano (cerca de 600 – 560 M.a) (ALMEIDA, 1977; ALMEIDA ABREU, 1993). A época da ocorrência da estruturação do orógeno pela inversão tectônica desperta controvérsias entre estudioso do tema. Baseando-se em semelhanças metamórficas e estruturais entre as unidades do Supergrupo Espinhaço e do Grupo Bambuí em suas regiões de contato, alguns autores defendem uma formação de caráter monocíclico de idade Brasiliana (UHLEIN et al., 1986). Outros estudiosos indicam um modelo policíclico com estruturação principal no final do Mesoproterozóico (Ciclo Uruaçuano) e reativação no Neoproterozóico (Ciclo Brasiliano) (ALMEIDA-ABREU, 1993; ALMEIDA-ABREU & PFLUG, 1994, ALMEIDA-ABREU, 1995). No mapa da (Figura 9) abaixo apresenta-se as características fisiográficas da região da SdEM.