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A sinopse como instrumento de descrição dos dados

2 CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO DE PESQUISA E DOS MODOS DE

2.3 MODOS DE GERAÇÃO, DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

2.3.2 A sinopse como instrumento de descrição dos dados

Utilizamos a sinopse como instrumento metodológico de descrição e análise

de dados. O modelo sinóptico pelo qual optamos é baseado no modelo apresentado

por Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz e Christophe Ronveaux que fazem parte do

GRAFE – Grupo Romando de Análise do Francês Ensinado

29

. Para esse grupo, a

sinopse é um instrumento metodológico especializado utilizado para estudar a

evolução do objeto ensinado no âmbito das práticas de classe (2005, p.1). O

objetivo da sinopse em nosso trabalho é apresentar de forma resumida as atividades

desenvolvidas pelo professor em sala de aula, organizando os modos de trabalho

docente em relação ao objeto de ensino, dando, dessa forma, suporte para a análise

do corpus. Inspirados na proposta dos autores, elaboramos um quadro sinóptico

para cada um dos sete episódios

30

gravados sobre texto narrativo onde constam

alguns elementos organizadores, tais como: marcação de tempo, os instrumentos

por ele utilizados e a descrição resumida das atividades.

Segundo Schneuwly, Dolz e Ronveaux (2005, p.1), deve-se levar em

consideração dois aspectos na elaboração da sinopse: i) é necessário adotar um

ponto de vista múltiplo (por níveis, multidimensional e multifocal) que facilite o estudo

dos objetos ensinados; ii) é necessário adequar o instrumento de investigação ao

objeto ensinado.

A sinopse é, portanto, “um instrumento metodológico que contribui para

revelar a configuração e a dinâmica do objeto ensinado” (Schneuwly, Dolz e

Ronveaux, 2005, p.4)

31

. Ou seja, por meio da sinopse podemos observar quais os

objetos de ensino apresentados em sala, quais os modos como são trabalhados tais

objetos, e verificar como acontece a reconfiguração do objeto de ensino do

planejamento didático para as práticas efetivas em sala de aula, dando a devida

atenção à flexibilidade constitutiva do plano de aula e dos gestos profissionais do

29 Em Francês a sigla significa « Groupe Romand d'Analyse du Français Enseigné »

30 O conceito de episódio foi emprestado da narratologia e é definido como uma unidade de análise

cronológica. Dentro de uma interação didática, episódio é conceituado por Schneuwly (2000, p. 25) como «um acontecimento de duração variável cuja extensão temporal é definida pelo fato de o meio criado continuar idêntico, em direção a um mesmo objetivo didático.» No original: «un évènement d’une durée variable dont l’étendue temporelle est définie par le fait que le milieu crée reste identique, tendu vers un même objectif didactique.» O episódio pode ser constituído de uma tarefa ou de diversas tarefas.

31 No original: «un outil méthodologique qui contribue à devoiler la configuration et la dynamique de

professor. As principais características que justificam o caráter multidimensional

desses gestos são:

A temporalidade do objeto (memória e antecipação didática); os dispositivos didáticos (formulação das tarefas, de apoios e de formas de trabalho); a regulação e a memória didática; a reação ao imprevisto e o efeito dos obstáculos encontrados sobre a construção do objeto; a institucionalização de novos conhecimentos; a avaliação, etc. (SCHNEUWLY, DOLZ E RONVEAUX, 2005, p.4)32

A seguir apresentaremos, para efeito de ilustração, um dos quadros

sinópticos que servirá de base para a análise no próximo capítulo. Sua construção

foi baseada na proposta acima exposta. Ele se configura do seguinte modo:

Quadro 1:

Proposta de sinopse do percurso didático-pedagógico

Sinopse de seqüências de ensino: Texto narrativo Professor: Mateus Episódio: Fala dos personagens Série: 4ª Etapa DVD: 2 Início: 22’26” - Término: 34’57”

DVD: 3 Início: 00’02” - Término: 20’19”

Data: 31/10/2006 - terça-feira

Nível Marcadores Instrumentos Descrição das Atividades 0

Intermediário

Episódio 4/7 Reconstituição

Livro didático O professor escreve no quadro o assunto “Fala dos personagens” 0 Transição 22’26” a 24’37” t.1 Exposição oral Instruções orais

Retomada das aulas anteriores

1 24’38” a 34’57” 0’02” a 12’56” t. 1 a 71 Exposição oral Instruções orais Livro didático

Reconhecimento das modalidades do discurso, em especial do discurso direto com intuito de produzir um texto narrativo. 1-1 13’08” a 17’04” t. 72 a 98 Exposição oral Instruções orais Livro didático

Atividade de produção textual em forma de discurso direto

32 No original: «la mise en temporalité de l’objet (mémoire et anticipation didactique) ; les dispositifs

didactiques (formulation des tâches, supports et formes de travail) ; la régulation et la mémoire didactique ; la réaction à l’imprévu et l’effet des obstacles rencontrés sur la construction de l’objet ; l’institutionnalisation de nouveaux savoirs ; l’évaluation, etc. »

1-1-1 13’08” a 17’04” t. 72 a 98 Exposição oral Instruções orais Livro didático

Produzir um texto narrativo, empregando o discurso direto, seguindo as instruções oralizadas pelo professor a partir de um livro didático.

Os itens do quadro são:

a) Coluna um: Níveis hierárquicos do episódio – organização, em níveis, das

seqüências de ensino aprendizagem das aulas. O nível 0 – intermediário e 0 –

transição diferenciam-se no seguinte aspecto: o primeiro refere-se a um gesto ou

uma ação do professor que dá início ao evento aula, entretanto, não requer,

necessariamente, a participação dos alunos, ou seja, o professor não se reporta aos

alunos nesse nível; o segundo diz respeito a uma atividade interativa – como a

retomada de aulas anteriores. Nesse nível, o professor dá inicio à interlocução para

introduzir o subtema do episódio. Os níveis n e n-n envolvem o nível n-n-n e são em

parte resultado de inferências feitas pela pesquisadora. O nível n-n-n corresponde

às atividades escolares descritas de forma minuciosa.

b) Coluna dois: Marcadores – Trata-se da marcação de tempo em que

ocorreu determinada atividade na aula e da marcação dos intervalos dos turnos de

fala que enumeramos na transcrição. São marcados os minutos e segundos que

iniciam e que finalizam a atividade. Os minutos serão marcados por ‘ e os segundos

por “. O intervalo de fala será marcado com o turno que inicia e com o turno que

fecha o nível descrito (por exemplo, t.129 a 192, leia-se “inicia no turno 129 e

termina no turno 192”).

c) Coluna três: Instrumentos – São os dispositivos didáticos utilizados pelo

professor para encaminhar as práticas de ensino aprendizagem.

f) Coluna quatro: Descrição das atividades – Trata-se de uma sumarização

das atividades desenvolvidas em sala de aula pelo professor.

Neste capítulo mostramos a orientação metodológica que direcionou este

trabalho. Primeiramente contextualizamos o lócus e a população participante da

pesquisa (a escola, a turma e o professor). Depois falamos sobre a disciplina Língua

Portuguesa no contexto pesquisado e sobre a geração, descrição e coleta de dados.

No capítulo seguinte, faremos a descrição e a análise dos dados utilizando a sinopse

que estará exposta no início de cada seção das aulas.

3 A CIRCULAÇÃO DE SABERES SOBRE O TEXTO NARRATIVO

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