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1.6 O Consultório na Rua

1.6.1 A situação no município de Goiânia

O município de Goiânia possui rede de saúde mental, com 18 unidades especializadas, dentre elas sete CAPS, um pronto socorro de psiquiatria e um ambulatório, além de 14 Centros de Atenção Integral à Saúde (CAIS) e Centros Integral de Assistência Médica Sanitária (CIAMS) que realizam atendimento psicológico na atenção básica. Esses serviços funcionam como rede municipal de saúde mental, de forma integrada com a rede de saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia e ainda, com outras instituições do município, de acordo com as diretrizes do SUS. A Figura 1 apresenta as unidades de saúde mental existentes no município de Goiânia, que apoia o Consultório na Rua, dispositivo de interesse do presente estudo, que também faz parte dessa rede.

É importante ressaltar que o projeto para implantação do Consultório na Rua foi construído de forma intra e intersetorial, com incentivo político, técnico e financeiro da Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde. Contou ainda com o apoio do Conselho Municipal de Saúde de Goiânia (CMS-GYN), da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Goiás, da Rede Goiana de Redução de Danos e Direitos Humanos – REGORD, bem como da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) de Goiânia.

Inicialmente, a equipe foi composta por uma assistente social, uma médica, quatro psicólogas, incluindo esta pesquisadora, um profissional de educação física, uma enfermeira e um redutor de danos, que representavam a SEMAS, a Coordenação de Estratégia de Saúde da Família, a Divisão de Saúde Mental, o Departamento de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde (DGTES), o CAPS ad i, a Coordenação de DST/Aids, e a ONG ABORDA, respectivamente. O projeto foi construído pela equipe, respaldado pela DAS e Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, aprovado pelo CMS-GYN e pelo Ministério da Saúde. A partir dessa aprovação, a equipe pode contar com o apoio de outras instâncias da SMS de Goiânia e, assim, ampliaram-se as parcerias intra e intersetoriais. Com a transferência desta pesquisadora

para o Departamento de Epidemiologia, foi nomeada outra psicóloga para a coordenação do projeto que permaneceu até o primeiro semestre de 2012.

Fonte: dados da SMS de Goiânia

Figura 1. Serviços da rede de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, 2013 Tipos de Serviço Clientela atendida Observações

CAPS II

CAPS III

Adultos com transtornos mentais severos e persistentes

Adultos com transtornos mentais severos e persistentes

Quatro unidades, nas regiões Leste, Oeste, Sudoeste e Sul, sendo uma em cada região. Dois projetos aprovados, em

fase de implantação, um na região Leste e outro na

Noroeste. CAPS i Crianças e adolescentes com

transtornos mentais e vítimas de violência.

Apenas uma unidade na região Sul.

CAPS ad e ad i População com uso abusivo de álcool e outras drogas

O primeiro para adultos e o segundo para crianças e adolescentes, na região Sul. Pronto Soc. de

Psiquiatria

Urgência e emergência em saúde mental

Unidade que funciona 24 horas, na região Sul. Ambulatório de Psiquiatria Centro de Convivência Unidades de Referência regionalizadas (CAIS e CIAMS)

Adultos com transtornos mentais leves a moderados

Adultos atendidos na Rede de Saúde Mental de Goiânia

Crianças, adolescentes e adultos, com transtornos mentais.

Duas Unidades por região, com psicólogos, para acompanhar e

supervisionar as mesmas. Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF Unidade de Acolhimento Transitório/UAT Consultório na Rua

Acompanhar as demandas de saúde mental e apoiar as equipes da Estratégia de Saúde da Família.

Unidade de apoio e abrigo para crianças e adolescentes em uso e

abuso de drogas.

Crianças, adolescentes e adultos jovens, em situação de rua, com uso

abusivo de substâncias psicoativas.

O NASF tem equipes multiprofissionais na região

O Consultório na Rua tem como área de abrangência a região Campinas-Centro abarcando; a Praça do Trabalhador, localizada próxima ao Terminal Rodoviário de Goiânia; as imediações do Terminal de Ônibus na região do antigo Departamento de Estradas e Rodagem do Estado de Goiás (Dergo); e em áreas adjacentes a uma igreja, no bairro de Campinas, locais nos quais se encontra parcela considerável de pessoas vivendo em situação de rua no município. O CR de Goiânia abordou cerca de 450 pessoas que vivem em situação de rua no município, desde o início de sua implantação, sendo que a maioria dos contatos aconteceu uma ou duas vezes. Em 2013 há 150 pessoas em atendimento, sendo 70% do sexo masculino e 30% do feminino. A faixa etária predominante situa-se entre 20 a 40 anos de idade, 85% fazem uso de alguma substância psicoativa, em especial álcool e crack. Quanto ao local de nascimento há pessoas de Goiânia e da região metropolitana, de outras cidades do estado de Goiás, e também de outras regiões do país, sendo que a maioria residiu em Goiânia e em cidades do entorno antes de ir para as ruas. A motivação para migrar para o espaço de rua e estar em situação de rua decorre de problemas familiares (causados ou não pelo uso de drogas), desemprego, e desejo por liberdade. Alguns usuários apresentavam pendências com o sistema judiciário e a maioria possui nível de escolaridade igual ao ensino fundamental incompleto e completo (Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, 2013).

Quanto aos recursos materiais, um veículo tipo kombi, caracterizado com a logomarca do Consultório na Rua e dois aparelhos celulares, foram disponibilizados pela SMS de Goiânia. Em relação à estrutura física e da logística, definiu-se o CAPS ad i para reuniões de equipe, supervisões clínico-institucionais, encontro e preparação da atuação antes do trabalho in loco, utilização de telefone fixo, computadores e outros equipamentos, bem como a realização de reuniões para ações de sensibilização, educação continuada e oficinas com outros profissionais da rede de saúde mental de Goiânia.

À época da coleta de dados, a equipe contava com 16 profissionais, nove do sexo feminino e seis do sexo masculino, sendo uma assistente social, uma enfermeira, um médico clínico geral com formação em psiquiatria, um oficineiro, quatro psicólogas, três redutores de danos e cinco estagiários do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde Mental (PET– Saúde Mental) dos cursos de psicologia, medicina, musicoterapia e enfermagem da UFG. É importante ressaltar que quanto à escolaridade, quatro possuíam nível médio, cinco tinham superior incompleto e sete possuíam nível superior completo ou pós-graduação (especialização). O CR é um dispositivo com implantação recente e que, por isso, ainda se encontra em processo de implementação e com possibilidade de inserção de profissionais na equipe atual, bem como de implantação de outros dispositivos no município. Cabe ressaltar que é uma

experiência única, com funcionamento em outros municípios brasileiros, fruto de incentivos do MS.