• Nenhum resultado encontrado

2.2 CONSTRUÇÃO IDEAL DE SOBERANIA E SEUS IMPACTOS NOS

2.2.1 A Soberania na Aviação Civil Internacional

A aviação civil internacional segue regras para seu funcionamento, que são formuladas por uma organização internacional, a Organização da Aviação Civil Internacional – OACI (ou ICAO, em inglês). Para o funcionamento desse órgão internacional, houve a apreciação da questão da Soberania em seus normativos. Desde sua origem, com a Convenção de Chicago, em 1944, a organização expressa que os Estados são dotados de Soberania exclusiva e absoluta, conforme se pode notar no artigo 1º “Soberania” da convenção “Os Estados contratantes reconhecem ter cada Estado a soberania exclusiva e absoluta sobre o espaço aéreo sobre seu território” (OACI, 1944, p. 1). Isso mostra que desde o início da união dos Estados acerta de atividade de transporte aéreo já havia a necessidade de verificar a situação do impacto dela sobre a Soberania de cada Estado.

Como na Convenção não se identifica uma definição clara do que seria a Soberania entendida pelos membros, observa-se que isso é sempre questão de discussão dentro do órgão, tendo a última ocorrida em 18 de março de 2013, na sexta reunião da Conferência Mundial de Transporte Aéreo, em que o tema foi Soberania

do Espaço Aéreo. Ao analisar o primeiro item da discussão se verifica que eles

esclarecem o entendimento do órgão sobre a Soberania Estatal, e suas aplicações, e trazem a problemática abordada neste trabalho, que a definição de Soberania não é algo consolidado, podendo haver diversas interpretações:

Las leyes internacionales establecen como principio fundamental la Soberanía del Estado. Sin embargo, el término se utiliza muy a menudo en un sentido político, con diferentes interpretaciones según el contexto y la intención. La noción de soberanía es dinámica, y evoluciona junto al desarrollo del entorno institucional a nivel global. En el campo de la aviación, el término "soberanía" hace referencia a la propiedad o titularidad del espacio aéreo. En otras palabras, se refiere a la competencia exclusiva del Estado para ejercer sus competencias legislativas, administrativas y judiciales dentro de su espacio aéreo nacional”. (OACI, 2013, p. 1)

Seguindo analise da Conferência se nota que há uma preocupação acerca da interferência de um Estado na execução de serviços de navegação aérea, que devem ser uniformes a todos os países, pois podem prejudicar aeronaves, e causar mortes de cidadãos de qualquer Estado. Por isso, defendem uma forma global de organização, onde “los servicios de navegación aérea requieren un enfoque global,

sin fisuras, que se base en los resultados derivados de la gestión del espacio aéreo, en lugar de basarse en las fronteras nacionales” (OACI, 2013, p. 1).

Com isso, observa que, apesar de a ideia de Soberania ser algo fundamentalmente consolidado no órgão, e consequentemente na aviação civil internacional, ela pode trazer muitos malefícios ao desenvolvimento da aviação, por isso que é defendida junto com a ideia de gestão global do espaço aéreo, e que os Estados sigam os fundamentos e normativos desta gestão, para que não tragam prejuízos a outros Estados, indivíduos e bens materiais.

Isso pode ser entendido como suprimento da Soberania de um Estado, constrangendo-o a deixar de legislar sobre uma atividade por si só, para seguir regras globais, determinadas na gestão da Organização da Aviação Civil Internacional. Porém, no documento de discussão, o órgão apresenta que com a Soberania, também há a responsabilidade de cumprir as obrigações contidas no tratado de Chicago, e os regulamentos vindos posteriores, que foram acordados e aceitos pelos Estados. Estando o Estado obrigado a empreender medidas para garantir o cumprimento de

todo relativo à segurança e eficiência operacional da aviação, para a manutenção da saúde de cidadãos, seus e de outros Estados (OACI, 2013).

O foco da discussão está na regulação e fornecimento de serviços de tráfego aéreo, que é responsabilidade normativa e supervisora do Estado, segundo o órgão, e que ele pode cumpri-la, ou delega-la a outros Estados:

La soberanía nacional no se puede delegar. Sin embargo, sí se puede delegar la responsabilidad en cuanto al cumplimiento de responsabilidades funcionales (como la prestación de servicios de navegación aérea). El Estado tiene absoluta libertad para designar a terceros que presten dichos servicios, ya una entidad nacional o extranjera. La delegación sobre una entidad extranjera no implica en modo alguno la renuncia a la soberanía; las competencias soberanas no se verán afectadas. Es más, la delegación en cuanto a la prestación del servicio constituye en sí misma un acto de soberanía. Es el Estado que delega quien estipula las condiciones bajo las que se acuerde la delegación en sí, y ésta se puede revocar en cualquier momento. (OACI, 2013, p. 2)

No documento se observa alguns exemplos apresentados pelo órgão sobre delegação de prestação de serviços de navegação aérea, como ocorre na Europa, EUA e Canadá. Demonstrando que tal atividade ocorre, e que o Estado que delega deve obrigar o delegado a cumprir os regulamentos global sobre aviação. E que a maior preocupação dos Estados em relação a delegação de serviços aéreos é a garantia de controle de seu espaço aéreo, por razão de segurança nacional, com a capacidade de responder a ameaças de segurança e militares, a qualquer momento.

A discussão no órgão é concluída com o reforço que delegar serviços e regulação sobre aviação é um ato de Soberania, e:

la soberanía debe considerarse como un facilitador (no como un obstáculo), para hacer los cambios necesarios para una gestión más eficiente del sistema mundial de navegación aérea. La soberanía, utilizada de forma constructiva, puede impulsar proactivamente las mejoras necesarias para el funcionamiento de la ATM5 tanto a nivel mundial como regional. Esta

comprensión más madura de la soberanía debe ser promovida activamente por todos los interesados en la industria de la aviación (OACI, 2013, p. 3)

E recomenda que os Estados trabalhem com todos os atores relevantes que impactem a indústria da aviação para promover uma compreensão “mais madura” da Soberania no plano político (OACI, 2013).

O que se observa no documento consolidado pela Organização da Aviação Civil Internacional, que o órgão não adentra a debates políticos, sociais e econômicos

sobre a Soberania dos Estados, e que apresenta seu entendimento do conceito de forma simples, sendo a Soberania a “competência exclusiva do Estado para exercer as suas competências legislativas, administrativas e judiciais no prazo de seu espaço” (OACI, 2013), entendendo espaço como área territorial sob sua jurisdição, e que ao delegar essa competência a outros, também é um ato de demonstração de Soberania. A partir deste ponto, que se seguirá o debate que o órgão não realiza, sobre a definição de Soberania nos aspectos políticos, econômicos e sociais, e seus impactos nos territórios e na aviação.