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2 DA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NO PROCESSO DE EXECUÇÃO ANTE A

4.2 A solução da Lei dos Juizados Especiais Cíveis

Historicamente, a criação dos juizados de pequenas causas, que precederam os juizados especiais, teve como objetivos principais a concecussão de um processo mais célere e informal, tudo com o intuito de promover a efetivação do direito pretendido em prazo mínimo, como medida de justiça.

Na Lei 9.099/95, que regulamenta os juizados especiais, encontram-se explícitos os critérios que orientam o processo nessa seara especial. Prevê o art. 2º da mencionada lei que: “o processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação”.

Com esteio nesses critérios orientadores, quiçá princípios instrumentais, mais adiante, ao tratar do específico tema que a esse estudo interessa, achou por bem o legislador, ao invés de suspender o processo quando não encontrados bens penhoráveis, simplesmente extinguir o processo. Assim determina o art. 53, §3º, para a execução de títulos extrajudiciais que não excedam 40 (quarenta) salários mínimos:

Art. 53. A execução de título executivo extrajudicial, no valor de até quarenta salários mínimos, obedecerá ao disposto no Código de Processo Civil, com as modificações introduzidas por esta Lei.

§ 4º Não encontrado o devedor ou inexistindo bens penhoráveis, o processo será imediatamente extinto, devolvendo-se os documentos ao autor.

Analisando o dispositivo, Misael Montenegro destaca a aplicação em respeito ao princípio da especialidade:

Norma específica da Lei 9.099/95: o §4º do art. 53 da lei em exame prevê que não encontrado o devedor ou não existindo bens penhoráveis, o processo será imediatamente extinto, devolvendo-se os documentos ao autor. A consequência alinhada na norma (extinção, ao invés da suspensão) prevalece, em respeito ao princípio da especialidade.55

O dispositivo dá a entender que nos casos em que aplicável o rito sumaríssimo dos juizados especiais, ainda mais delicada seria a solução legal. O processo seria extinto de plano, não se facultando ao credor qualquer dilação para que ele perquirisse a satisfação da dívida.

Aponta a doutrina especializada, todavia, que a interpretação conferida ao dispositivo não é bem essa. Na realidade, conforme leciona Ricardo Cunha Chimenti56, inexiste óbice ao rastreamento de bens ou do próprio executado antes de se extinguir a execução. Tal posicionamento, inclusive, corrobora com o entendimento das instâncias recursais dos juizados especiais:

Execução – Extinção decretada por inexistência de bens penhoráveis – Direito de exequente à oportunidade de indicá-los – Recurso provido. No Juizado Especial a extinção por inexistência de bens penhoráveis somente se justifica se o credor não dispõe de condições de indicá-los ao Juízo, conferido que lhe seja, previamente, o direito de diligenciar a respeito. (Recurso 648, 2º Colégio Recursal da Capital-SP, rel. Dr. Marciano da Fonseca, RJE, 3:157)

Sentença prolatada, extinguindo-se de ofício processo de execução, em face da mudança de endereço do executado. Nulidade. Não pode o juiz extinguir de ofício a execução, apenando o exequente pela má-fé do executado, se cabia apenas a este informar sua mudança de endereço. O dispositivo legal invocado somente poderá ser aplicado após esgotados dos os meios para satisfação do crédito do exequente –, o juiz deverá adotar as providências cabíveis, atendendo ao fim social da lei, para satisfação do crédito. Nulidade da sentença. Recurso provido. (Recurso JET01- TAM-00755/97, rel. Juíza Rosita Falcão de Almeida Maia, j. em 11-3-1999, RJE- BA, 2:39)

Em verdade, o mesmo doutrinador argumenta que seria admissível inclusive a quebra do sigilo bancário e fiscal, sobretudo contra aqueles que visivelmente ocultam seus bens para não se sujeitar à execução:

Esgotados os meios ordinários para a localização do devedor ou de seus bens, admite-se a quebra do sigilo bancário e fiscal do executado, com a expedição de ofícios à Receita Federal, ao Banco Central e aos demais órgãos cujo acesso direto seja vedado ao credor (v. item 5.1 e arts. 6º da Lei n. 9.099/95 e 399 do CPC). Não faz sentido excluirmos tais informações daqueles que confiaram no Sistema Especial para a satisfação do seu direito, sobretudo em benefício daqueles que praticam atos atentatórios à dignidade da Justiça ocultando bens passíveis de execução (art. 600, IV, do CPC).57

Também é esse o manifesto entendimento jurisprudencial no tocante a este específico ponto. Destaque para o relator do processo, hoje Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Teori Zavascki.

EXECUÇÃO. PENHORA. REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES À RECEITA FEDERAL. POSSIBILIDADE. O sigilo fiscal não constitui, por si só, embaraço insuperável à providência requisitória, devendo ele ceder passo quando, não sendo possível a localização de bens pelos meios ordinários, se configurar a inviabilidade do prosseguimento da execução, atividade jurisdicional que interessa não apenas ao exeqüente, mas ao próprio Estado.

56 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis estaduais e federais – 10. ed.

rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2008.

(TRF4, AG 95.04.18814-1, Segunda Turma, Relator Teori Albino Zavascki, DJ 15/01/1997)

Finalmente, ainda no âmbito dos juizados especiais, salutar trazer à baila solução encontrada por magistrados do Maranhão, conforme informa Chimenti, para os casos em que não seja possível a continuidade da execução. Assim descreve:

Há controvérsias quanto à aplicação do §4º do art. 53 às execuções de título judicial. Decisão intermediária que merece destaque foi encontrada pelos juízes do Maranhão, dentre os quais o magistrado Raimundo Moraes Bogéa, que, após esgotados os meios de satisfação do débito sem que a execução fosse satisfeita, expediu uma certidão com o valor da dívida e consignou os nomes do credor e do devedor, a origem da dívida (número do processo) e seu valor. Essa certidão foi entregue ao credor, que pôde executá-la dentro do prazo prescricional (Súmula 150 do STF)58

A solução autorizada aos Juizados Especiais, entretanto, padecem do mesmo defeito da Lei de Execução Fiscal, qual seja, a especialidade. Mais ainda, a solução da Lei 9.099/95 sequer é cogitada seriamente pela doutrina para solucionar o problema da suspensão

sine die. Ocorre que, além de bastante específica, a medida mostra-se excessivamente gravosa

ao credor, caso aplicada como determina a lei.

Ainda se poderia refletir sobre a aplicação da solução dos mencionados magistrados maranhenses, que defendem uma espécie de “extração” de um título executivo do processo extinto. Mais adiante, entretanto, esbarraria a exigibilidade do título na mesma discussão concernente à prescrição, tema basilar do presente estudo.

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