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CESQT intensidade de burnout

5.2. A SPECTOS MOTIVACIONAIS E DO CONTEXTO ESCOLAR

Com relação aos aspectos motivacionais, foi encontrado que 12,12% do grupo de professores que tem interesse em outra ocupação não tinham em mente nenhuma profissão ou função específica. Referiram como principal interesse apenas o de que a atividade não envolvesse contato com pessoas ou com alunos. Essa manifestação nos parece diretamente relacionada à percepção desses participantes de sua atual dificuldade no contato interpessoal, contato que é fundamental ao processo educativo e que é também a principal fonte de desgaste associada ao burnout (MASLACH et

al., 2001).

A falta de recursos materiais necessários, além do incômodo com o barulho na sala de aula e com o barulho na escola foram os aspectos mais criticados quanto ao ambiente físico do trabalho.

Na amostra estudada, o sentimento de realização profissional, apresentou associação

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Estes autores referem ao “burnout no século XXI” o crescente número de pessoas a serem assistidas, acompanhado do aumento dos requisitos a serem oferecidos em descompasso à insuficiência dos recursos humanos e ou materiais para atender a tais demandas (p. 208 e 209).

com aspectos físicos e com aspectos do contato interpessoal no contexto de trabalho. Quanto aos aspectos físicos, observamos associação com: acústica da sala de aula, nível de poeira, nível de limpeza e incômodo com o ruído da sala. Segundo o relato de muitos professores o excessivo número de alunos em sala leva à maior dificuldade em controlar a turma, aumentando o ruído e forçando o professor a falar mais alto e com repetições constantes. Uma professora observou que a proposta pedagógica (baseada na construção de competências) é interessante e vem de outros países onde, no entanto, o número de alunos em sala é de 15 para dois profissionais, enquanto aqui são 35 alunos para apenas um professor.

Relacionadas ao contato interpessoal, as seguintes variáveis apresentaram associação com o sentimento de realização profissional: atender até 70 alunos diariamente, sentir incômodo no contato com os pais dos alunos e sentir incômodo no contato com os alunos. Esses resultados mostram que o sentimento de realização profissional está em conexão com os aspectos do contato interpessoal, intrínsecos ao trabalho docente, como ao número de alunos atendidos diariamente.

Em relação ao contato com os alunos, a mais referida causa de incômodo: agressividade e indisciplina da parte dos alunos (27,53%) foi apenas um pouco maior que a referência ao sentimento de falha pessoal ou insegurança relatado em 20,29% das causas desse incômodo. Esse último dado nos parece relacionado a sentimentos de culpa em relação ao trabalho; a culpa por sua vez, tem sido considerada um dos sintomas vinculados ao desgaste profissional, isto é, à síndrome de burnout (GIL- MONTE, 2005).

Em relação à razão do incômodo no contato com os pais, as respostas se referiram a: atitudes ou deficiências dos pais (como alcoolismo, por exemplo), críticas à coordenação da escola e também, em relação aos pais, aparece a referência dos participantes aos próprios sentimentos negativos e à percepção do professor quanto a seu despreparo para esse contato interpessoal. Aparentemente o sentimento de despreparo, relacionado tanto ao contato com os pais como aos alunos, se vincula a sentimentos de culpa relacionados ao trabalho por parte dos entrevistados.

Entre as razões referidas ao incômodo no contato com os pais, observamos que os participantes retrataram a coordenação pedagógica e a direção da escola como omissas, inoperantes ou ainda aliadas aos pais no “ataque” aos professores. Além disso, os participantes apontaram uma postura por vezes intrusiva da parte dos gestores e coordenadores pedagógicos, bem como foi referida a falta de apoio por essas instâncias escolares.

Consideramos que o aparente distanciamento e falta de apoio mútuo entre professores, coordenadores pedagógicos e direção da escola poderia ser mais um aspecto do ambiente escolar vinculado ao burnout, uma vez que este último é considerado como afetando a todos os envolvidos na situação de trabalho (CODO, 2002).

5.3.ASPECTOS DE SAÚDE

Considerando que a amostra foi composta por pessoas em tratamento em unidade hospitalar e que 46,05% delas têm mais de 50 anos de idade, é esperado que o uso de medicações e que a necessidade de tratamentos de saúde apresentem prevalência importante.

Aparentemente há uma confirmação da avaliação de 35,52% dos participantes que consideraram a própria saúde frágil ou ruim, uma vez que a soma das referências ao uso de remédios relacionados apenas à síndrome metabólica (anti-hipertensivos, diuréticos, antidislipidémicos ou hipocolesterolemiantes e antidiabéticos) correspondeu a 33,96% do total de referências a medicamentos em uso regular.

Por outro lado, a soma de referências ao uso de remédios relacionados a problemas psíquicos (antidepressivos, ansiolíticos, anticonvulsivantes e estabilizadores de humor) correspondeu a 30,82% do total de referências ao uso de medicamentos, dado que parece vinculado às características da amostra investigada, ou seja, professores com indicação de atendimento psicoterápico.

Apesar das fragilidades, 2,63% da amostra referiu nunca ter se afastado do trabalho por licença médica até o momento da pesquisa.

Em relação ao período de licença mais longo, foi mais prevalente a duração de até 6 meses (28,38%); seguida pela duração de até 1 mês (25,68%) e de até 3 meses (18,92%). Foram incluídas nesse item as licenças gestante que atualmente na Prefeitura do Município de São Paulo correspondem a seis meses. Consideramos que a amostra, apesar de utilizar serviço terciário de atenção à saúde, em sua maior parte, utilizou licenças médicas curtas ou de média duração.

Por outro lado, as licenças de duração superior a dois anos concentraram-se entre os participantes com mais de 25 anos de carreira docente, ou seja, as licenças mais longas foram utilizadas pelos servidores que estão em serviço há mais tempo; e observamos associação entre a duração da licença médica e o sentimento de realização profissional.

Em sua maior parte, o motivo da última licença médica utilizada pelos participantes foram os problemas emocionais, dado que se relaciona ao critério de seleção da amostra: indicação de tratamento psicoterápico. Notamos que o número de alunos atendidos diariamente pode se relacionar ao afastamento por licença médica devida a problemas emocionais (p = 0,069), hipótese que poderia ser melhor avaliada se pudéssemos atingir número maior de participantes. Observamos o relato de irritabilidade, medo e insegurança diante dos alunos por parte de vários profissionais. Uma docente relatou ter desenvolvido estresse pós-traumático após episódio em que os alunos puseram fogo na sala (literalmente), fecharam a porta e esconderam o trinco, em outro episódio, relatado pela mesma professora, os alunos soltaram uma bomba dentro da sala de aula. Soma-se aos temores dos profissionais o fato de se sentirem responsáveis pela segurança de seus alunos, e de terem de prestar contas caso ocorra algum acidente ou lesão. Uma participante passou por episódio de depressão com sintomas paranoides após o acidente de um aluno. Ele quebrou o braço no parque da escola e seus pais abriram boletim de ocorrência policial visando ressarcimento de danos. Todos os funcionários tiveram de prestar depoimentos e a

escola passou por perícias em várias ocasiões – situações que foram vivenciadas com extrema tensão por parte da professora.