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II.2 U M OLHAR SOBRE A ECONOMIA SOLIDÁRIA EM B ELO H ORIZONTE

II.2.2 A NÁLISE DESCRITIVA DAS VARIÁVEIS

II.2.2.3 A SPECTOS POLÍTICOS

Entre os aspectos a se analisar este talvez seja o mais complexo e, para a ES, possivelmente o mais importante. É certo que um questionário genérico e simples como o que foi utilizado nessa parte da pesquisa não poderá nos fornecer informações muito significativas para isso, o que poderá ser mais bem desenvolvido na parte seguinte, onde será apresentado o resultado das entrevistas realizadas durante as visitas aos empreendimentos. Ainda assim, de forma objetiva, podemos apresentar as questões, lembrando sempre dessa restrição.

Primeiramente, verificamos que as respostas sobre questões como formas de participação (questão 10 do questionário) devem ser observadas de forma subjetiva, de acordo com o tipo de atividade e com a franqueza que entrevistador consegue perceber no entrevistado. A forma de se entender este tipo de proposição para uma cooperativa é perceptivelmente diferente de um pequeno grupo informal. E no caso de uma associação, o estudo fica mais complexo, já que esta pode tanto representar toda uma comunidade quanto pode ser apenas um canal de comercialização de grupos isolados. Ao final, essa questão não teve grande utilidade para se entender as especificidades de cada grupo, sendo que na maioria dos questionários ao menos 4 dos 7 itens estavam marcados (ver questionário). O que se pode depreender nos grupos informais foi uma alta freqüência dos itens ‘decisão sobre o destino das sobras’, ‘plano de trabalho / divisão de tarefas’, ‘participação nas decisões cotidianas’ e ‘decisões sobre investimentos e administração do negócio’. Entre as cooperativas, se reduz o primeiro item e entra ‘eleição de diretoria’ e ‘assembléias’ (este em outros). Nas associações há uma combinação dos dois. Vale citar que 5 grupos (6%) afirmaram não haver participação. Entre esses, 3 são grupos informais e 2 estão entre outros (uma instituição social e um definido como particular).

Figura 7 - Grupos segundo formas de articulação

60 1 2 5 22 Fórum de EPS Central de comercialização Federação de Cooperativas Outros Não participa

Para melhor percebermos a questão político-social podemos observar os tipos de

articulação das quais os grupos participam (questão 11). A FIG. 7 apresenta o resultado

obtido68. Como já se poderia esperar, a maior parte dos grupos afirmou participar do

Fórum Mineiro de Economia Solidária. Ainda assim, a quantidade de grupos que não

68

Na FIG.7, assim como na FIG.8, note-se que os números apresentados na figura referem-se ao número de

grupos e não ao percentual. Este é superior a 84, já que alguns (poucos) grupos participam de mais de uma forma de articulação (FIG.7) ou recebem mais de um tipo de apoio (FIG.8).

participa de nenhuma articulação é elevada. Duas cooperativas afirmaram participar de federação de cooperativas, um grupo afirmou participar de uma central de comercialização e em outros se inseriram articulações como associações de bairro e programas de governo.

Para reforçar, mais da metade dos grupos afirmou não receber qualquer tipo de apoio. Na FIG.8, se vê que entre os grupos que recebem apoio, as entidades de apoio estão à frente do governo e a Igreja foi selecionada por apenas um grupo. Eis um resultado que parece contraditório, visto o grande trabalho que se sabe ser realizado pelas instituições religiosas. Possivelmente, isso se deu porque geralmente a Igreja não fornece apoio diretamente aos grupos, mas por meio de instituições que fazem parte da Igreja, como por exemplo, a Cáritas. Em “outros”, uma cooperativa afirmou receber apoio de contribuintes, 2 grupos informais de ONG’s, 3 do Banco Popular e 1 do Banco do Brasil. Observando-se o tipo de apoio técnico, gerencial ou financeiro, percebe-se uma distribuição equilibrada na FIG.9.

Figura 8 - Grupos segundo apoio recebido

47 22 9 1 8 Não recebe Entidade de Apoio Governo Igreja Outros

Figura 9 - Tipo de apoio recebido pelos grupos

30% 28% 14% 28% Técnico ou gerencial Financeiro Ambos Outros (transporte, informações)

Por fim, procurou-se saber se, objetivamente, os grupos desenvolvem ações voltadas para o desenvolvimento da comunidade, mais do que apenas para seus trabalhadores. Nesse sentido, apenas 32% dos grupos afirmaram desenvolver alguma ação social ou comunitária. No GRAF.2 esse resultado é verificado de acordo com a forma de organização dos grupos, o que revela que o elevado número de grupos informais destorce o resultado total. Entre estes, apenas 20% afirmou participar de algum tipo de ação social. Se observarmos os demais grupos, com exceção dos informais, teríamos 62,5% de grupos desenvolvendo atividades sociais. Entre as cooperativas, metade forneceu uma resposta positiva. Entre as associações, mais de 60% afirmaram desenvolver atividades sociais. Nos grupos classificados como ‘outros’ apenas um entre os seis, afirmou não desenvolver atividades sociais (justamente o que se afirmou como ‘particular’). Para o restante, a própria instituição era a ação social desenvolvida, já que não se constituíam em empreendimentos strito sensu.

Diversas foram as formas citadas de participação na comunidade. Além dos grupos que por si próprios já representam uma ação social, como os centros de reforma da juventude ou de auxílio a deficientes e idosos, alguns grupos afirmaram oferecer cursos e oficinas voluntariamente para a comunidade, em associações ou escolas. Alguns declararam ainda fornecer auxílio para os filhos dos trabalhadores freqüentarem a escola ou ainda outros afirmaram contribuir para o resgate cultural da comunidade, entre outras atividades69.

0 10 20 30 40 50 60 N ú m e ro de gr u pos

Cooperativa Associação Grupo Informal

Outros Gráfico 2 - Desenvolvimento de ações sociais

Não Sim

69

De fato, algumas manifestações de solidariedade e de assistência comunitária não podem ser computadas diretamente aqui, como no caso de um assentamento rural, onde uma senhora relatou que o caminhão da associação é muitas vezes utilizado para o transporte de membros da comunidade que necessitam de tratamento médico na cidade (independentemente de pertencerem à associação).