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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.4 A subnotificação dos acidentes de trabalho

A comunicação do AT com material biológico foi referida por 75,95% dos profissionais. Já a subnotificação ocorreu em 24,5% dos acidentes, dado considerado alto e semelhante aos da literatura, em que se verificaram taxas elevadas de subnotificação, atingindo índices de 34,4% para acidentes envolvendo material perfurocortante na enfermagem (NAPOLEÃO, 1999). Em apenas um estudo, realizado em um hospital universitário de São Paulo, essa taxa foi menor, no qual verificou-se uma subnotificação dos acidente de trabalho na ordem de 7,7% na equipe de enfermagem (GONÇALVES, 2007).

Tabela 12 – Frequência dos fatores que contribuíram para a subnotificação do

acidente de trabalho com material biológico. HC/UFTM, Uberaba, MG, 2008-2009.

Fatores determinantes n %

Acidente irrelevante 10 52.63 Paciente-fonte com exames recentes negativos 3 15.79 Displicência ou negligência 2 10.53 Dificuldades administrativas para o registro 2 10.53 Desconhecimento de como se faz a notificação 1 5.26

Outro 1 5.26

Frequência elevada de acidentes 0 0.00 De acordo com a Tabela 12 é possível verificar que os dados encontrados neste estudo se assemelham com os apresentados por Gonçalves (2007), em que os principais fatores que contribuíram para a subnotificação dos AT foram: irrelevância do acidente, desconhecimento do protocolo de rotina e displicência e sobrecarga de trabalho, todos correspondendo a 22,7% dos acidentes. Outros

autores descreveram alguns fatores conhecidos por influenciarem a subnotificação entre profissionais de enfermagem como medo, estigma, implicações legais, punições e, até mesmo, receio de demissões (MONZANI et al., 2006; NAPOLEÃO et al., 2000). O medo de perder o emprego não foi um fator que justificou a subnotificação neste estudo, uma vez que 78,94% dos trabalhadores que não preencheram o CAT trabalhavam sob o Regime Jurídico Único, e consequentemente apresentavam estabilidade no emprego.

A importância do registro de acidente, principalmente envolvendo material perfurocortante, parece não sensibilizar os trabalhadores de saúde, mesmo com a possibilidade de contaminação por doenças infecto-contagiosas como as hepatites e a AIDS. Uma das formas de minimizar a subnotificação ocorre por meio da informação sobre a importância e a obrigatoriedade do registro dos acidentes. Entretanto, apenas 5,26% dos profissionais de saúde acidentados relataram desconhecer essa necessidade ou a negligenciaram (Tabela 12). Estes dados demonstram que o conhecimento acerca da obrigatoriedade da notificação é acessível aos trabalhadores, de modo que este não pode ser considerado um dos motivos da subnotificação dos acidentes.

Outro causa importante da subnotificação é a falta de esclarecimento sobre o registro como forma de garantir direitos trabalhistas e base para reivindicações de melhores condições para segurança no trabalho, conforme descrito por Marziale (2003). Destaca-se também, as dificuldades relacionadas à qualidade e a quantidade de informações disponibilizadas no protocolo para o registro de acidentes, o que sugere a necessidade de uma mudança no sistema de registros dos acidentes do trabalho no Brasil (MARCELINO,1999). A autora considera que esse fato possa estar contribuindo, de forma efetiva, para a subnotificação de acidentes do trabalho em nosso país.

6 CONCLUSÃO

O presente estudo analisou a ocorrência de AT envolvendo material biológico que vitimaram os trabalhadores de enfermagem do HC/UFTM durante o período de 2008 a 2009. A população-alvo foi composta principalmente de profissionais do sexo feminino, sem companheiro.

A categoria profissional mais acometida pelos AT com material biológico foi a dos técnicos de enfermagem, seguida dos enfermeiros e auxiliares de enfermagem, com índices de 27,1%, 23,7% e 17,6%, respectivamente. Os resultados demonstraram uma alta incidência de AT na instituição, sendo a sobrecarga de trabalho o principal fator desencadeante dos acidentes.

Os acidentes foram mais frequentes no turno vespertino e acometeram principalmente os trabalhadores que possuíam contrato de trabalho com a UFTM e não apresentavam dupla jornada de trabalho.

Mais da metade dos profissionais acidentados relataram ter sofrido apenas um acidente durante o período estudado, sendo os acidentes mais comuns aqueles envolvendo perfurocortantes. Quanto à área corporal, foi demonstrado que as mãos e dedos foram os mais acometidos e a punção venosa a atividade mais envolvida nos AT.

O sangue foi o material biológico mais frequentemente envolvida nos AT, e os setores onde ocorreram o maior número de acidentes foram o pronto socorro adulto e bloco cirúrgico, em concordância considerados setores críticos pela literatura.

Quanto ao EPI utilizado no momento do acidente, os acidentados relataram usar apenas luvas e óculos, verificando que a utilização incompleta destes equipamentos é uma prática comum entre os trabalhadores de enfermagem.

Em relação à conduta adotada pós-acidente, é preocupante a observação de que apenas a metade dos trabalhadores executou algum procedimento local logo após o acidente. Uma parte considerável dos trabalhadores realizou a profilaxia somente após terminarem o procedimento que executavam enquanto uma minoria não realizou qualquer medida profilática. Estes dados demonstram a situação entre

os profissionais de enfermagem da UFTM de não-adesão às condutas pós-acidente, mesmo diante do alto índice de AT na instituição.

Entre os indivíduos que relataram alguma conduta pós-acidente, destaca-se que a maioria lavou a região atingida com água e sabão, fez uso de anti-séptico, buscou auxílio médico e relatou a realização de exames para HCV, HBV e HIV, inclusive no paciente-fonte.

É intrigante a observação de que uma grande parcela dos acidentados comunicou o AT por meio do preenchimento do CAT, mas não realizou as condutas pós-acidente. Isto pode ser explicado, em parte, pelo despreparo dos médicos em instruírem adequadamente os profissionais acidentados, por se tratarem de clínicos e não médicos do trabalho. Isto demonstra a necessidade de orientação destes profissionais, por meio de cursos ou palestras, ou a contratação de profissionais especializados, a fim de que os trabalhadores sejam esclarecidos de quais condutas tomarem após o acidente com material biológico.

Os principais fatores que contribuíram para a subnotificação dos AT neste estudo foram a irrelevância do acidente percebida pelo acidentado, o desconhecimento do protocolo de rotina e a, displicência e sobrecarga de trabalho. Os resultados demonstram a vulnerabilidade dos profissionais de enfermagem aos riscos ocupacionais, em especial ao risco biológico. Diante disso, sugere-se a implementação ou a reformulação de treinamentos acerca da adoção de medidas de biossegurança, programas de imunização, vigilância dos acidentes de trabalho, palestras informativas sobre os benefícios e o fluxo da notificação dos acidentes e amparo legal do trabalhador.