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3 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

3.6 A subteoria do núcleo central

A ideia de um núcleo central foi proposta e indica um movimento planejado, organizado e com base nos fenômenos que atribuem ou formam as impressões. Essa ideia, proposta em 1976 por J. C. Abric na Universidade de Provence, apenas exerceu alguma interferência sobre as representações sociais a partir dos anos 1990, por considerar a importância e o empenho de preparação técnica e metodológica que complementam a teoria do núcleo central (SÁ, 1996).

Tal proposição permite inferir sobre a elaboração das representações sociais à medida que se dão as suas transformações e no intuito de se descobrir soluções para a prática e a pesquisa. Sá (1996) afirma que, a teoria central não impede a construção de um processo de elaboração das representações sociais, o que julga a aplicação dessas tanto naquelas já instituídas, como naquelas representações, ainda em processo de mudança.

Sá (1996) afirma que a teoria ou núcleo central busca elucidar o problema fundamental por meio da constatação de que as representações sociais apresentam duas características já afirmadas, mas que, no entanto, se contradizem, pois, ao mesmo tempo em que se apresentam de forma estável são móveis, e também podem aparentar rígidas, mas também flexíveis, assim como podem ser consensuais e ainda serem fortemente marcadas por diferenças individuais. A forma de condução dessa situação pelo grupo é que formará novos conceitos e medidas e fará com que cheguem a uma conclusão menos conflitante.

Para tal, deve-se considerar a priori a existência de um sistema central que encerra um núcleo central da representação, e que Sá (1996) indica como a apresentação das características pontuadas pela memória de um grupo, respaldado em construções sociais, históricas e nos valores vivenciados por este grupo e que constituem os fundamentos comuns, consensuais, divididas as experiências pelo coletivo para adotar uma identidade mais igualitária no grupo social. São as memórias do grupo que ajudarão na tomada de decisões, pois se basearão nas experiências anteriores desse grupo social.

O sistema central tem estabilidade, coerência e indica, por meio dessa segurança, resistência às transformações, uma vez que se tende a adotar medidas que outrora deram certo e no qual se garantem o prosseguimento e a conservação das representações, com pouca alteração ao contexto social e material atual nos quais as representações ocorrem e cujas funções apontam os pilares da representação social e da organização de todo o processo. Em outras palavras, trata-se do nó das representações sociais. É o núcleo central que mantém o propósito do grupo, pois está ligado ideológica e historicamente ao contexto social do coletivo

e concentra as informações e administra as alterações periféricas, capazes de “gerar” outras concepções e representações.

Esse ponto considerado por Sá (1996), diz respeito a um sistema periférico que integra as demais categorias da representação e que conecta a realidade concreta e o sistema central, no qual atualiza e contextualizam as resoluções legais e consensuais do sistema central para resultar em mobilidade, flexibilidade e expressão individualizada. E ainda traz características como o encontro das experiências e histórias individuais, o suporte das divergências existentes no coletivo e os contrapontos levantados por essas diferenças. E por fim, o crescimento em consequência do que é sujeito às mudanças vivenciadas. Em resumo, suas funções indicam a adaptação à realidade do cotidiano e ao mesmo tempo, possibilita a distinção entre o conteúdo da representação e cobertura do sistema central.

Moscovici (2003) considera as transformações do abstrato no concreto como objetivação o que modela as ideias e as torna objetivas, o que o autor chama de face figurativa, traz o desconhecido à luz da existente, e segundo Jodelet (Apud Sá, 1995), tem 3 fases distintas:

- seleção e contextualização: construção da realidade a partir de apropriação por meio da cultura, de experiências pessoais e/ou coletivas;

- formação de um núcleo figurativo: busca de elementos mentais pessoais para explicar novos acontecimentos;

- naturalização dos elementos do núcleo figurativo: sistematização do conceito, tornando um elemento da realidade.

Já a ancoragem traduz a informação para o contexto familiar, dando significado e materialização às ideias torna-se possível imaginar, representar e sedimentar um registro simbólico, é a familiarização do novo, conhecimento capaz de influenciar pessoas e grupos.

Pela classificação do que é inclassificável, pelo fato de dar um nome ao que não tinha nome, nós somos capazes de imaginá-lo, de representá-lo. De fato, a representação é, fundamentalmente, um sistema de classificação e de denotação, de alocação de categorias e nomes (MOSCOVICI, 2003, p.62).

Vale destacar que a objetivação e a ancoragem desenvolvem-se simultaneamente, relacionam-se entre si e embasam a representação social. Nesse sentido, Moscovici (2003, p.78) menciona que:

Ancoragem e objetivação são, pois, maneiras de lidar com a memória. A primeira mantém a memória em movimento e a memória é dirigida para dentro; está sempre colocando e tirando objetos, pessoas e acontecimentos que ela classifica de acordo com um tipo e os rotula com um nome. A segunda, sendo mais ou menos direcionada para fora (para os outros), tira daí conceitos e imagens para juntá-los no mundo exterior, para fazer as coisas conhecidas a partir do que já é conhecido.

Como objetivação e ancoragem o ambiente de análise foram as escolas de Frutal como foco o trabalho desenvolvido na Educação Inclusiva dessa cidade, sendo refletido no questionário preparado, desenvolvido, aplicado, analisado e apresentado os reais níveis de inclusão que o município se encontra, o perfil do corpo docente existente atualmente, a significação do que vem a ser Educação Inclusiva para cada profissional ali atuante e os conceitos apresentados na sua representação social, mesmo sendo na disposição de buscar conhecimentos por meio de experiências vivenciadas, compartilhadas, buscadas no conhecimento de uma formação continuada, mudando de estratégias, permeando em reflexões para busca deste aprofundamento de saberes para contribuir com uma Educação Inclusiva para todos com excelência.

O próximo capítulo trata dos procedimentos de análise, assim como do perfil dos profissionais professores de Atendimento Educacional Especializado (AEE) e de Apoio do Ensino Fundamental I das Escolas Municipais do município de Frutal no que se refere às funções e na construção de uma análise desse perfil comparada ao instrumento aplicado (questionário). As reflexões que se rompem dessa análise, possibilitarão o surgimento dos indicadores da Educação Inclusiva a partir desse estudo e apontarão os pontos fortes e frágeis da formação docente e do trabalho do AEE.

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