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3.1 Superação dos precedentes (Overruling)

3.1.3 A superação de precedentes fixados no julgamento do IAC e dos casos

JULGAMENTO DO IAC E DOS CASOS REPETITIVOS

O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR), o Incidente de Assunção de Competência (IAC), em conjunto com os recursos repetitivos (RR), compõe o microssistema de formação de precedentes127. E por esta razão serão tratados em tópico único no que diz respeito à superação dos padrões decisórios formados nestes mecanismos.

O Incidente de Assunção de Competência, cabível quando houver julgamento de recurso, de remessa necessária ou de processo de competência originária envolvendo relevante questão de direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos (art. 947, caput, do CPC/2015), após formar acórdão, vinculará todos os juízes e órgãos fracionários, exceto se houver revisão da tese (art. 947, §3º, do CPC/2015).

Isso significa, em outras palavras, que o legislador determinou ser possível que o padrão decisório vinculante firmado durante o Incidente de Assunção de Competência fosse superado. Para tanto, é necessário que se observem as disposições contidas nos §§ 2º

125

CÂMARA, Alexandre de Freitas. Levando os padrões decisórios a sério. 1ª ed. São Paulo: Atlas. 2018. p. 308 – 309.

126 PEIXOTO, Ravi. Superação do precedente e segurança jurídica. 3ª ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2018.

p. 213.

127

CÂMARA, Alexandre de Freitas. Novo CPC reformado permite superação de decisões vinculantes. Conjur. Disponível em:< https://www.conjur.com.br/2016-fev-12/alexandre-camara-cpc-permite-superacao- decisoes-vinculantes>. Acesso em: 01 out. 2018.

a 4º do art. 927 (que, apesar de não se referir expressamente ao IAC, a ele se aplica, justamente por ser parte do microssistema de formação de precedentes)128, que são:

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:

§2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese.

§3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.

§4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia. É necessário, portanto, para que haja a superação da tese firmada anteriormente, a ampliação do contraditório, por meio de audiências públicas e participação de pessoas, órgãos ou entidades (amicus curiae) que possam contribuir para a rediscussão da tese.

Apesar de o IAC fazer parte do microssistema de formação concentrada de precedentes, não integra o microssistema de resolução de demandas repetitivas o qual compreende as técnicas destinadas ao julgamento de recursos especial e extraordinário repetitivos e o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR). Ambos buscam conferir tutela jurisdicional diferenciada para a litigância de massa129.

De acordo com o Código de Processo Civil, as decisões proferidas no julgamento dos casos repetitivos tem eficácia vinculante. É o que dispõe os artigos 985 e 1040 do CPC/2015:

Art. 985. Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada:

I – a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive àqueles que tramitem nos juizados especiais do respectivo Estado da região;

128

CÂMARA, Alexandre de Freitas. Levando os padrões decisórios a sério. 1ª ed. São Paulo: Atlas. 2018. p. 310 – 311.

129 TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016. p. 27 –

II – aos casos futuros que versem idêntica questão de direito e que venham a tramitar no território de competência do tribunal, salvo revisão na forma do art. 986.

Art. 1040. Publicado o acórdão paradigma:

I – o presidente ou o vice-presidente do tribunal de origem negará seguimento aos recursos especiais ou extraordinários sobrestados na origem, se o acórdão recorrido coincidir com a orientação do tribunal superior;

II – o órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, reexaminará o processo de competência originária, a remessa necessária ou o recurso anteriormente julgado, se o acórdão recorrido contrariar a orientação do tribunal superior.

Ambos os padrões decisórios formados por meio do microssistema de julgamento de casos repetitivos são superáveis por procedimentos comparticipativos130.

Ao discorrer sobre a superação do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, Sofia Temer explica que a tese fixada não é imutável, apesar de possuir estabilidade. Essa mutabilidade (superação) poderá ocorrer quando a tese tornar-se inadequada ou inefetiva131. É o que expõe, também, o art. 986 do CPC/2015:

Art. 986. A revisão da tese jurídica firmada no incidente far-se-á pelo mesmo tribunal, de ofício ou mediante requerimento dos legitimados mencionados no art. 977, inciso III.

De qualquer forma, é possível aduzir dos dispositivos legais que para que seja superada a tese jurídica firmada no IRDR deve ser observado um amplo debate e participação; fundamentação exaustiva e a modulação dos efeitos132.

A superação, portanto, poderá ocorrer desde que preenchido os requisitos necessários, previstos nos artigos §§2º a 4º do CPC/2015, já expostos anteriormente neste trabalho.

Já em relação à superação de padrões decisórios fixados por recursos excepcionais repetitivos, há uma grande discussão a ser enfrentada: a possibilidade de que o órgão ad

130

CÂMARA, Alexandre de Freitas. Levando os padrões decisórios a sério. 1ª ed. São Paulo: Atlas. 2018. p. 310 – 311.

131 TEMER, Sofia. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016. p. 253. 132

quo, ao realizar o juízo de admissibilidade do recurso repetitivo, negue o seu seguimento pelo fato de a decisão proferida estar em conformidade com o paradigma firmado (art. 1.030, I, b, III e V do CPC/2015). Isto, por óbvio, ocasionaria um engessamento do direito.

Segundo Alexandre Câmara, é inaceitável este engessamento, então, é necessário que ao ser interposto o recurso especial ou extraordinário sobre matéria que já tenha sido decidida pela técnica de julgamento dos recursos repetitivos, o órgão ad quo, ao realizar o juízo de admissibilidade, verifique se o recorrente apresentou elementos destinados a demonstrar que há motivos para a superação do precedente. É o que diz:

Interposto recurso especial ou extraordinário contra decisão proferida em conformidade com padrão decisório estabelecido no julgamento de recursos repetitivos, ao fundamento de existir motivo para sua superação, deverá o recurso excepcional ser admitido (desde que, evidentemente, todos os demais requisitos de admissibilidade tenham sido preenchidos)133.

Caso o órgão ad quo negue o seguimento do recurso, invocando o disposto no art. 1.030, I, b, caberá recurso interno ao qual será o Pleno ou o Órgão Especial o responsável por examinar a matéria. Entretanto, caso o agravo interno seja igualmente negado, caberá interposição de recurso especial ou extraordinário (conforme a matéria seja infraconstitucional ou constitucional) contra o acórdão que julgou o agravo interno134.

De qualquer forma, assim como os demais padrões decisórios analisados até aqui, para que ocorra a superação de tese firmada em julgamento de recursos repetitivos é necessário que seja admissível a participação de amicus curiae e a realização de audiências públicas, “a fim de permitir que se assegure um espaço para que a sociedade, por mecanismos garantidores do desenvolvimento comparticipativo do processo, participe do debate acerca da superação (ou preservação) do precedente firmado”135

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133

CÂMARA, Alexandre de Freitas. Levando os padrões decisórios a sério. 1ª ed. São Paulo: Atlas. 2018. p. 320 – 321.

134

CÂMARA, Alexandre de Freitas. Levando os padrões decisórios a sério. 1ª ed. São Paulo: Atlas. 2018. p. 320 – 321.

135 CÂMARA, Alexandre de Freitas. Levando os padrões decisórios a sério. 1ª ed. São Paulo: Atlas. 2018. p.

3.2 . A ARGUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A SUPERAÇÃO

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