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1. O FENÔMENO DAS INUNDAÇÕES – FATORES INTERVENIENTES E SUA

1.3. A SUSTENTABILIDADE NO FENÔMENO DAS INUNDAÇÕES

Relacionando-se os fatores abordados nos itens anteriores com o fenômeno das inundações, vê-se que todos estão interagindo sobre o meio ambiente de maneira direta e indireta. Fica evidente que em qualquer época, em qualquer lugar, os problemas gerados a partir das atividades antrópicas possuem uma profunda relação com a dimensão ambiental e suas soluções dependem de um uso racional e sustentável dos recursos naturais para que os mesmos sejam preservados.

O meio ecológico regula as ações a que o homem pode exercer, visto que a base física de matéria e energia apresenta-se como limitador da ação do indivíduo. A sociedade e o meio ambiente apresentam-se como órgãos naturais, independentes do propósito humano, pois o segundo possui uma existência autônoma que precede o aparecimento do primeiro. Visto desta maneira, observa-se que o sistema econômico, uma ferramenta de controle da sociedade, pertence a um subsistema implícito no ecossistema, do qual depende como fonte de recursos e como

receptor de rejeitos das atividades antrópicas. Assim, explicita-se a dependência do sistema econômico em relação ao ambiente, sendo que o primeiro deveria submeter-se aos princípios e leis de funcionamento da natureza, os quais não admitem exceção e supremacia.

No mundo atual, a realidade explícita demonstra o descaso com que a globalização e os sistemas econômicos mundiais têm tratado o meio ambiente, de tal maneira que os recursos naturais se apresentam como inesgotáveis. A cada aumento de produção e a cada nova tecnologia, ampliam-se os horizontes do consumo e não se suavizam as degradações por parte do homem em relação aos recursos naturais, mesmo no primeiro mundo. Cita-se, por exemplo, a redução das emissões de efluentes atmosféricos proposta em diversas reuniões globais sobre meio ambiente, nas quais os países do Grupo dos Sete Países Mais Ricos do Mundo - G-7, principalmente os Estados Unidos, se recusam a diminuir a sua produção de efluentes, mesmo através da adoção de medidas de uso de tecnologias limpas, pois o custo desta redução poderia ser negativo para sua economia.

O crescimento da economia consubstanciado por um aumento de produção e por um consumo exacerbado, aumenta a desordem observada nos processos de produção de bens e serviços, pois os mesmos transformam a matéria disponível na natureza em matéria não-disponível, reclusa e degradada, perfazendo- se, desta maneira, uma sobrecarga sobre o meio ambiente e seus processos naturais de recuperação. Estes processos são cada vez mais ignorados, apesar da conscientização da sociedade em relação aos problemas ambientais, visto que os condicionantes relativos aos mesmos não se apresentam consolidados na análise dos problemas sociais. A questão ambiental aqui retratada refere-se àquela relacionada à base

biofísica, na qual se sustentam todos os processos de vida do planeta, ou seja, matéria e energia, onde se localiza a base das necessidades humanas.

Assim, não se trata apenas de uma simples perda de paisagem, da poluição atmosférica, da poluição hídrica, da destruição de ecossistemas naturais e de santuários ecológicos, que representaria a perda da essência ambiental, mas a ambigüidade da sociedade atual, na qual se necessita de crescimento para o combate à pobreza e a conseqüente sobrecarga do meio ambiente, levando à escassez econômica. Insere-se, assim, o termo desenvolvimento sustentável, o qual se propõe a procedimentos orientados pelas regras da natureza e seus procedimentos de auto- regulação dos ecossistemas. Desta forma, apresenta necessidade do abandono de algumas práticas econômicas convencionais em prol de um comportamento mais equilibrado em relação aos recursos naturais.

Logo, a natureza deve ser considerada como fator condicionante às atividades antrópicas, onde se deve buscar uma máxima eficiência em sua utilização e um mínimo de perdas em seu manuseio. Assim, a sustentabilidade deve buscar a prudência ecológica calcada em um uso racional e planejado dos recursos e consubstanciada na consciência global do que somos e do que precisamos, em todas as atividades antrópicas.

Enfocando-se especificamente o nosso país, desde os anos 60, os processos de industrialização e urbanização apresentam-se acelerados e não planejados, na maioria dos casos.

Figura 1.16 – Fatores relacionados ao Fenômeno das Inundações e o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos

Conforme se observa na figura anterior, as inter-relações existentes entre as diversas áreas do conhecimento se complementam para o planejamento e gestão dos recursos hídricos, principalmente no que tange ao fenômeno das inundações.

As alterações observadas nos processos de industrialização e urbanização brasileiros têm provocado vários impactos nos fatores que regem o fenômeno das inundações.

Observa-se que estas alterações aliadas às inter-relações entre os diversos fatores relacionados ao fenômeno da inundação indicam a necessidade de

Atividades Antrópicas Geomorfologia Pedologia Clima Hidrologia Vegetação Processos Erosivos Geologia Qualidade da Água

Ferramentas de suporte/auxílio à decisão Planejamento e Gerenciamento de Bacias Hidrográficas

uma análise integrada dos mesmos, levando-se em conta o conceito de desenvolvimento sustentável e da interdisciplinaridade.

Analisando-se o processo de crescimento acelerado e desgovernado, no Estado de São Paulo, o mesmo contribuiu para o agravamento dos problemas ambientais. Os governos municipais apresentaram-se incapazes de acompanharem o crescimento acelerado, especialmente quando se analisa a questão do saneamento básico, pois a preocupação inicial era apenas de se prover o abastecimento de água à população.

O processo de expansão territorial, no Estado de São Paulo, se apresentou de forma dispersa e a baixas densidades. Os loteamentos mostraram-se descontínuos em relação à malha urbana, formando bolsões de especulação imobiliária entre os mesmos e a cidade, atendendo assim aos interesses do mercado imobiliário, pois os moradores de áreas loteadas pressionaram pela extensão de serviços urbanos, valorizando-se, assim, os vazios entre os loteamentos e a cidade e aumentando o custo dos serviços urbanos.

Assim, as questões relacionadas à drenagem urbana, ao uso racional do solo, à vegetação existente e sua importância e ao controle das atividades antrópicas (importantes para o fenômeno da inundação) se apresentaram relegadas a segundo plano, principalmente quando se analisa o descaso da administração pública relacionado à estes problemas e a corrupção vigente em praticamente todas as esferas do poder. Neste sentido, durante várias décadas, as palavras planejamento e gestão do ambiente nem sequer eram levadas em conta na definição das políticas públicas.

Recentemente, devido aos inúmeros problemas causados por este modelo, repensou-se a questão do ambiente e, especificamente, do fenômeno da inundação, como um problema complexo a ser enfrentado através da integração de

diversas áreas do conhecimento e de diversos profissionais, analisando suas várias interfaces, nas quais somente através do conceito de sustentabilidade pode-se alcançar o equilíbrio entre as atividades antrópicas e os fenômenos naturais.

Desta maneira, destacam-se as mais variadas conseqüências observadas deste modelo de crescimento em relação ao meio, sendo que as mesmas vão desde problemas e situações sem retorno às condições para as quais existem ações mitigadoras para a recuperação. No que tange às inundações, se apresentam os seguintes problemas, citados anteriormente direta ou indiretamente:

• Desmatamento: perda da biodiversidade, aumento da perda de

solos (erosão), assoreamento dos rios e destruição das matas ciliares;

• Qualidade da água: aumento da poluição hídrica através de

resíduos sólidos, resíduos industriais, nutrientes, entre outros, causando assoreamento de rios e diminuição de sua seção útil; • Problemas sociais: aumento da pobreza, da favelização nas

malhas urbanas e respectiva ocupação de áreas marginais aos cursos d’água;

• Drenagem: impermeabilização da superfície e a execução de

sistemas inadequados de drenagem;

• Resíduos sólidos: deposição de resíduos em lixões e

conseqüentemente nos corpos d’água;

• Clima: alterações no micro e macro-clima local e regional.

Conforme visto no início deste tópico, a sustentabilidade liga-se diretamente ao controle e planejamento dos processos antrópicos, dentre os quais a

questão econômica. Não fugindo deste escopo, o fenômeno das inundações mostra-se diretamente relacionado ao planejamento e uso dos recursos naturais de forma integrada e sustentável nos processos e atividades humanas realizadas hoje em dia.

Conclui-se, então, que a sustentabilidade ambiental quer seja no âmbito político, social e econômico, quer no ecológico, permeia pela exploração e gestão adequada dos recursos naturais, incluindo o gerenciamento das bacias hidrográficas. Enfatizando-se este escopo, o gerenciamento de bacias hidrográficas está diretamente relacionado ao planejamento e uso dos recursos naturais integrando os processos, os recursos humanos ligados à análise e solução dos problemas observados e as atividades humanas no cotidiano (Figura 1.16).

Em todo este capítulo, procurou-se explicitar os fatores relacionados às inundações e sua ocorrência, visando um maior conhecimento e aprofundamento de um fenômeno que se apresenta cada vez mais comum nas cidades. O viés econômico aliado a um modelo de crescimento não controlado e à falta de planejamento de nossas cidades se mostra como o fator preponderante da ocorrência das inundações, as quais têm exposto a pobreza de nossa população “excluída”, as doenças, à falta de preparo na manutenção e preservação de nossos recursos naturais (especialmente, os recursos hídricos) e à falta de uma prudência e consciência ecológica global, no sentido de garantir às próximas gerações um futuro melhor e equilibradol. Logo, se apresenta de fundamental importância, a visão integrada e sustentável deste fenômeno no intuito de salvaguardar o ambiente e as comunidades que dele dependem no sentido de construir a sustentabilidade neste e em outros fenômenos relacionados ao embate entre o ambiente e as atividades antrópicas.