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Anexo 5 Autorização dos encarregados de educação 90 Anexo 6 Tabelas resultantes da análise dos dados

2. REVISÃO DO ESTADO DA ARTE

2.3. A tecnologia na intervenção na dislexia

2.3.1. A tecnologia assistiva

“Tecnologia assistiva” é um termo recente, que resulta dos avanços tecnológicos. É utilizado para identificar diversos recursos e serviços que proporcionam ou ampliam habilidades funcionais a pessoas com necessidades especiais e consequentemente promoverem a vida independente e a inclusão (Sartoretto & Bersch, 2014). No entanto, verifica-se que a palavra “assistiva” não existe na língua portuguesa, ao contrário do termo assistive que existe em inglês. Tanto em português quanto em inglês, trata-se de uma palavra que foi surgindo aos poucos no vocabulário técnico e/ou popular. No entanto, em português europeu também é designada por tecnologia de apoio ou, ainda, por ajudas técnicas.

No entanto, embora seja uma expressão nova, no que se refere ao conceito, a tecnologia assistiva remonta aos primórdios da humanidade. Note-se o seguinte: uma bengala improvisada, resultante da transformação de um pedaço de madeira, caracteriza o recurso à tecnologia assistiva (Filho, 2009). De modo simples, tecnologia assistiva é um produto já existente otimizado.

De acordo com Filho (2009) e Sartoretto & Bersch (2014) o termo tecnologia assistiva surgiu pela primeira vez em 1988, como Assistive Technology, quando foi registado na legislação

norte-americana, em particular na Public Law 100-407, que compõe, entre outras leis, oAmerican with Disabilities Act (ADA).A partir desta definição e do respetivo suporte legal, os americanos com deficiência e/ou necessidades educativas especiais passaram a usufruir de serviços e recursos especializados com o objetivo de lhes proporcionar uma vida mais independente, produtiva e incluída no contexto social. Para o ADA, um recurso é “todo e qualquer item, equipamento ou parte dele, produto ou sistema fabricado em série ou sob medida, utilizado para aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência”; serviços são “aqueles que auxiliam diretamente uma pessoa com deficiência a selecionar, comprar ou usar os recursos acima definidos”.

Filho (2009), refere que Cook e Hussey, em 1995, baseados nos critérios do ADA, definiram a tecnologia assistiva como “uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minorar os problemas funcionais encontrados pelos indivíduos com deficiência”.

Segundo Junior & Redig (2012), a Secretaria de Educação Especial, do Ministério da Educação Brasileiro, define a tecnologia assistiva como ”uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços com o objetivo de promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social “.

Em Portugal, o CNAT – Catálogo Nacional de Ajudas Técnicas, que é uma iniciativa do INR - Instituto Nacional para a Reabilitação (CNAT, 2008), refere o termo “ajudas técnicas”. Para Bersch (2006) “ajudas técnicas” é sinónimo de tecnologia assistiva no que diz respeito aos recursos. O CNAT define as ajudas técnicas como “qualquer produto, instrumento, estratégia, serviço e prática, utilizado por pessoas com deficiência e pessoas idosas, especialmente produzido ou geralmente disponível para prevenir, compensar, aliviar ou neutralizar uma deficiência, incapacidade ou desvantagem e melhorar a autonomia e a qualidade de vida dos indivíduos”.

Estes recursos e serviços da tecnologia assistiva são organizados de acordo com os objetivos funcionais a que se destinam e são classificados de acordo com a norma ISO 9999. Em Portugal, a classificação está de acordo com a lista anexada ao Despacho n.º 16313/2012, de 21 de dezembro, II Série, e está conforme a norma ISO 9999:2007. Entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2013 (INR, 2014).

Nos últimos anos, têm surgido vários dispositivos e software com vista a auxiliar as pessoas com necessidades educativas especiais. Neste estudo, procura-se abordar as tecnologias assistivas, no apoio às pessoas com dislexia, em contexto educacional. Sendo a Internet um valioso recurso para promover aprendizagens, apresenta-se, a título de exemplo, dois programas assistivos para auxiliar o individuo com dislexia na descodificação dos conteúdos das páginas Web: WebHelpDyslexia e o Speakit.

O WebHelpDyslexia (Avelar, 2013) tem como objetivo auxiliar pessoas com dislexia na leitura de páginas na Internet. É uma extensão para o navegador Google Chrome que possui diversas funcionalidades para ajustar o conteúdo da página Web face às diferentes necessidades das pessoas com dislexia, como a escolha de tipo de letra, tamanho e cor do texto e do fundo; remoção de itálico e negrito; ajustes no espaçamento e alinhamento de parágrafos; além de uma ferramenta que funciona como uma “régua de leitura” para auxiliar na concentração e um dicionário de sinónimos.

Figura 2.2: Página da Wikipédia: a) normal b) personalizada com WebHelpDyslexia.

Caso o utilizador com dislexia aplique as configurações com as ferramentas anteriores e continue a manifestar dificuldades de leitura, tem ainda a possibilidade de ouvir o conteúdo do website através de ferramentas designadas por “text-to-speech”, de entre as quais destaca- se o SpeakIt1, que também é uma extensão para o Chrome capaz de transformar qualquer texto em áudio. O SpeakIt faz o reconhecimento automático de idiomas, sendo possível ouvir textos escritos em mais de 50 idiomas. Após a sua instalação, acrescenta um ícone ao lado da barra de endereços do navegador. Para iniciar o processo de leitura, basta selecionar o texto a ser lido e clicar no ícone.

Para Junior & Redig (2012), as tecnologias assistivas ajudam a eliminar barreiras, sejam de acesso, comunicação ou até mesmo de informação são, portanto, inclusivas porque garantem acessibilidade. Nesse aspeto, as tecnologias de informação e comunicação podem ter um papel de grande importância no desenvolvimento da autonomia e aprendizagem das pessoas com necessidades educacionais especiais, podendo mediar processos de ensino- aprendizagem.

Por norma, as crianças estabelecem os primeiros contactos com as tecnologias de informação e comunicação através dos jogos. Assim, na próxima secção será demonstrado que os jogos digitais podem ser usados para promover a aprendizagem.