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A Tecnologia Assistiva para a promoção do conforto

JACINTA SIDEGUM RENNER

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.3. A Tecnologia Assistiva para a promoção do conforto

Quando questionados sobre o que representa o conforto na posição sentada na cadeira de rodas, muitos colaboradores reportaram o conforto ao uso de uma boa almo- fada, um bom encosto, e quanto ao funcionamento, manutenção e estrutura da cadeira de rodas. Itens estes que são considerados Tecnologias Assistivas (TAs) para as pessoas com deficiência. A TAs proporcionam “maior independência, qualidade de vida e inclusão social, através da ampliação de sua comunicação, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado e trabalho” (BERSCH, 2009, p.2). Os usuários de cadeira de rodas são os grandes beneficiários de sistemas especiais de assentos e encostos que

levem em consideração as suas medidas, peso, alterações músculo esqueléticas, entre ou- tros, pois passam grande parte do dia na mesma posição (BERSCH, 2009). Neste sentido, um colaborador diz que: “uma cadeira bem lubrificada e com pneu cheio ajuda bastante”. Já outro colaborador diz: “uma cadeira adequada e uma almofada boa”. Portanto, para os colaboradores, o conforto está diretamente ligado ao bom funcionamento e adequação das suas TAs.

A almofada é outra TA muito utilizada pelos usuários de cadeira de rodas, e direta- mente relacionada ao conforto de acordo com os colaboradores. Outro entrevistado diz: “dependendo da almofada é impossível sentir conforto”. Ou seja, ele condiciona o conforto a utilização de uma boa almofada na sua cadeira. Neste sentido, outro colaborador afirma que a almofada “gera um conforto”, e outra colaboradora complementa: “a almofada repre- senta conforto. Tu tem que ter o bem-estar do teu bumbum, né, porque se tu está direto sentada 24 horas por dia”. O relato da colaboradora vai ao encontro do que preconizam Werner et al. (2002), quando relacionam o aumento do bem-estar com a diminuição do desconforto. Outra entrevistada comenta: “eu percebo que a minha almofada já está na hora de trocar, isso já me descontrola todo o meu dia, eu já fico mais cansada, mais desa- nimada, influencia até nisso. A gente está o dia todo sentado. Eu dou uma deitadinha às vezes quando estou em casa”. Percebe-se nos relatos dos colaboradores a importância da almofada para a promoção de conforto na cadeira de rodas. Já outro entrevistado explica que para ele conforto é:

Estar bem ajustado na cadeira. Uma vez por semana, como a gente não consegue olhar, eu peço para a minha esposa olhar a parte de trás, para ver se não está vermelho em algum lugar, isso quer dizer que se estiver vermelho em algum lugar quer dizer que não está confortável, entendeu. Que alguma coisa está errada. Ai exatamente eu peço para ver. Porque como eu, tu não tem a sensibilidade, quanto antes tu ver, antes tu pode curar, nesse sentido, isso que me mantém. É a prevenção. Se tu não prevenir é bem complicado.

Este colaborador faz referência à região das nádegas, onde ele não tem sensibi- lidade e não tem visão para saber se está com início de uma lesão por pressão. Outro colaborador relata no mesmo sentido: “é um conforto básico. Como é que tu vai viver sem almofada? Se tu ficar sem a almofada, tu vai sentir dor, tu vai acabar se machucando. Se tu vier a se machucar e ter uma escara, tu vai demorar 8 meses para sarar ela. Por isso a importância de utilizar a almofada”. Quando o colaborador cita a “escara” no seu relato, ele se refere às lesões por pressão, das quais muitos usuários de cadeira de rodas são acometidos. Estas lesões acometem a extremidade da pele ou estruturas internas dos indi- víduos, devido ao grande tempo que estes permanecem sentados ou deitados, exercendo uma grande pressão sobre determinada região. Huet e Moraes (2003) explicam que, após 30 minutos na mesma posição, ocorrem as seguintes mudanças fisiológicas: a pressão da gravidade inibe a circulação e o corpo tenta manter os vasos sanguíneos abertos dimi- nuindo a espessura do tecido em torno dos vasos; aumenta a concentração de ácido lático nos músculos locais; o tecido subcutâneo sofre com o aumento de água; é formada uma almofada líquida sob as tuberosidades isquiáticas; e ocorre liberação da prostaglandina E2,

devido ao dano causado pelo atrito, diminuindo a velocidade dos reflexos e contribuindo para a depressão e fadiga.

A pressão em demasia entre a pele e o assento interrompe o fluxo sanguíneo, cau- sando morte celular, ocasionando uma lesão em um curto período de tempo (BAPTISTA, 2010). Esse processo causa dor e desconforto, o que faz com que a pessoa que possui o recurso da mudança de postura altere regularmente sua posição para redistribuir a pressão. No entanto, muitos usuários de cadeira de rodas não possuem sensibilidade e/ou função motora, e consequentemente, não podem realizar as medidas que auxiliam na prevenção das lesões. Portanto, as almofadas são um dos componentes do assento mais importantes e devem ser consideradas como uma substituição do assento da cadeira de rodas. Uma vez que, apenas a base de sustentação do assento em tecido não é o suficiente para dar estabilidade e conforto ao usuário, e pelo fato do mesmo utilizar a cadeira de rodas durante todo o tempo em que permanece acordado e em atividades de seu cotidiano, além de se- rem responsáveis por sustentar a maior parte do peso do corpo.

Cabe ressaltar que, segundo Engström (2002), um assento/almofada considerado confortável de início (em relação à maciez e à conformação anatômica), causará incômodo depois de certo tempo, ou seja, até o assento mais confortável não evitará o desconforto após um período longo na posição sentada. Sobre a importância da almofada, fica evidente no discurso dos colaboradores que além de ela gerar conforto, é indispensável e essencial na vida dos usuários de cadeira de rodas. Que sem ela, a cadeira de rodas “não é nada”, vendo a almofada e a cadeira como um “conjunto” só.

Além da almofada, um dos colaboradores também relata incômodo no seu encosto, alegando que o seu está muito alto, e sugerindo que esta parte do encosto poderia ser ajustável na sua cadeira de rodas. Outro colaborador complementa: “o encosto cede mui- to. Daí conforme o tempo vai cedendo, é bom colocar uma almofadinha. Eu mesmo fiz a almofadinha”. Observa-se com os relatos dos colaboradores a necessidade de um encosto adequado para manter uma boa postura, e consequentemente, o conforto. Os encostos se deformam com o tempo de uso da cadeira de rodas, fazendo com que a coluna do usuário se adapte à deformação, influenciando no conforto e prejudicando a sua coluna vertebral. Segundo Nordin e Frankel (2008), a coluna lombar apresenta menores cargas na posição sentada com a utilização de encosto, e Dudgeon e Deitz (2013) dizem que eventualmente podem ser necessárias alterações do encosto suspenso da cadeira de rodas a fim de me- lhorar a postura. Eles citam como exemplos a utilização de um encosto suspenso regulável ou flexível, encostos com curvatura, ou suportes laterais para o tranco adicionais.

Portanto, a partir das narrativas, e possível inferir que para proporcionar o conforto na posição sentada, a cadeira de rodas deve estar em boas condições de uso e estar adap- tada para a estrutura de cada usuário. Para tanto, a utilização da almofada é indispensável, sendo considerada a substituição do assento da cadeira de rodas. Já o encosto deve estar adaptado para cada indivíduo com um material que não ceda tão fácil com o tempo de uso. Esses resultados vão ao encontro de Coggrave e Rose (2003), que afirmam que para os

usuários de cadeira de rodas é essencial que o sistema de assento da cadeira de rodas (cadeira, almofada e acessórios) melhore suas funções físicas, seu psicológico e promova bem-estar, contribuindo significativamente para a qualidade de vida. Um sistema eficaz pode contribuir para esses objetivos, promovendo a viabilidade do tecido, uma postura equilibrada e boa mobilidade e funcionalidade. Por consequência, esse sistema trará con- forto para os usuários de cadeira de rodas também.

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