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A tecnologia da internet e da comunicação sem fio à serviço da democratização

Na atualidade, o avanço da tecnologia da rede internacional de computadores (Internet) e da comunicação sem fio, via telefones celulares, tablets, e outros, permitiram uma dinâmica de informação completamente nova. Aqueles que não estiverem conectados a essa rede mundial, ficarão praticamente excluídos da vida social, econômica, científica e política que se desenrola, em tempo real.

As possibilidades de uso dessas tecnologias, que vêm se revelando como forte mobilizador em potencial, apontado por Castells (2017), têm sido usadas em favor da ampliação dos espaços deliberativos, da liberdade de expressão e da democracia. Em contrapartida, isso vem alterando significativamente o cenário das modernas sociedades. Estas transformações afetam não somente o modo substancial das relações sociais, mas também o funcionamento das atuais instituições e estruturas políticas.

Os debates acerca da revitalização da democracia criados pelos novos espaços gerados pela internet intensificam-se a cada dia. A ciberdemocracia2 (ou ainda, democracia eletrônica, democracia virtual, democracia digital), por exemplo, é o lugar onde o cidadão, por meio da utilização dessas novas tecnologias, pode, de alguma forma, participar dos processos democráticos.

Nesta perspectiva, a ciberdemocracia consiste na criação de processos e mecanismos de discussão, a partir de um diálogo mais próximo entre cidadão e cidadão ou entre cidadão e Estado. O objetivo é alcançar uma política de decisões, em que se possibilite uma participação popular mais real e efetiva.

A internet é tida como o canal mais promissor para a ciberdemocracia, porém não a única. Já que o desenvolvimento da telecomunicação móvel, aliado ao uso da internet, por exemplo, pode servir igualmente de suporte tecnológico para essa ciberdemocracia.

Uma das discussões mais destacadas da atualidade reside em analisar qual o papel da tecnologia no fortalecimento da democracia. Dizendo de outra forma: qual é o verdadeiro papel das novas tecnologias e dos equipamentos que surgem atrelados a elas? Seria a atribuição de um agente de “democratização”?

Esse otimismo faz com que muitos teóricos vejam a internet como uma oportunidade para a revitalização da democracia ao franquear novas formas de participação cidadã, horizontal, independentemente das grandes estruturas políticas e organismos de comunicação de massas. Logo, isso torna o Estado mais ágil, transparente e próximo do cidadão.

A arquitetura em rede da internet, somada às ferramentas de interação, têm possibilitado novas formas de organização sociais e uma criativa agenda de ações políticas, que podem significar um avanço no desenvolvimento dos processos de

2 Nomenclatura trazida por Pierry Lévy em sua obra Ciberdémocratie: Essai de philosophie politique, significando reconfiguração da esfera pública perante uma expansão e popularização do ciberespaço, focando nas ações coletivas de inteligência e como estas, através do ambiente virtual, potencializam as ações da democracia na sociedade.( LEMOS; LÉVY, 2000).

democratização. Essas tecnologias possibilitam novos meios de comunicação com o Estado e auxiliam na promoção de ações democráticas, criando novos mecanismos de atuação da sociedade civil, tal como no surgimento dos movimentos sociais.

As Tecnologias da Informação e comunicação móvel atuam no alargamento dessa interação entre cidadão e a esfera pública, porque possuem uma capacidade de mobilização e articulação entre os cidadãos, dinamizando e otimizando uma maior participação dos atores da sociedade civil.

Assim, é possível constatar a relação estreita entre a ampliação do uso das tecnologias da informação e comunicação, as ações políticas e formas de organização sociais que possibilitam uma maior inclusão dos cidadãos nos processos democráticos, a exemplo dos movimentos sociais deflagrados sobre a influência dos meios virtuais.

Outro aspecto relevante para essa mudança na dinâmica da comunicação se dá pela visibilidade e pelo acesso à informação. O fato de alguma informação não ser divulgada pelos veículos de comunicação tradicionais (jornal, rádio ou televisão), seja por motivos de desinteresse das empresas de comunicação, seja por imposição do governo, não impede que a mesma seja divulgada por algum meio alternativo, através da internet.

Essa alteração do aspecto comunicacional, por meio da Internet, interfere diretamente nos meios tradicionais de comunicação, outrora detentores de toda informação, mas hoje, pelo fluxo informacional, se é capaz de democratizar o acesso à informação.

Além disso, Estados autoritários que controlam os jornais, a televisão e o rádio e praticam imposições contra o uso livre da internet, terão dificuldades em obter êxito, inclusive através de imposições e restrições ao uso e ao fluxo da internet, que acabam sendo ineficazes, tendo em vista que a alimentação de dados e a busca de informações podem ser feitas por meio de um servidor em outro país.

A velocidade da ampliação da comunicação e o poder que isso representa na mobilização de pessoas pode ser ilustrado com movimentos sociais pelo mundo e nos movimentos sociais e passeatas de 2014, ocorridos no Brasil. Ambos deflagrados exclusivamente através de aplicativos, como o Whatsapp, Youtube e sites da internet. Esses exemplos mostram que a mobilização social das massas através da Internet é uma realidade, pois ela é uma ferramenta de democratização da informação capaz de mobilizar pessoas para qualquer fim.

1.5.1. A internet como ferramenta para o surgimento e deflagração dos movimentos sociais

Castells (2017), em sua obra “Redes de Indignação e Esperança”, analisa a natureza e os objetivos dos movimentos sociais surgidos a partir da rede, objetivando verificar os novos rumos das mudanças sociais e as implicações práticas desses movimentos na política atual.

Cabe elucidar, neste momento, que em geral esses movimentos sociais não repelem a democracia representativa, apenas repudiam a forma como ela está sendo exercida hoje e, por isso, questionam a sua legitimidade (CASTELLS, 2017), posto que permeada por interesses escusos dos seus representantes.

A par disso, o autor parte da premissa de que as relações de poder são constitutivas de uma sociedade, já que aqueles que detém o poder moldam as instituições de acordo com seus valores e interesses. Segundo ele, o poder é exercido por meio de coerção (violência, por exemplo) e/ou pelo significado embutido na mente das pessoas (igrejas), esse último mediante mecanismos de manipulação simbólica. Nos locais em que o poder se manifesta, existe, também, o contrapoder que pode ser identificado quando os atores sociais se rebelam contra o poder, para reivindicar seus interesses e valores.

Dessa forma, a luta fundamental pelo poder reside na formação de significados na mente das pessoas, interagindo com o ambiente natural e social, conectando as redes neurais com as redes da natureza e com as redes sociais. Em síntese, a comunicação, como abordado, é fundamental para a constituição dessas redes, como bem assevera Castells, “Comunicação é o processo de compartilhar significado pela troca de informações” (CASTELLS, 2017, p. 21).

E, continua afirmando, que a constante transformação da tecnologia de comunicação na era digital amplia o alcance dos meios de interação em todos os domínios da vida social. Essa ampliação genérica e global atinge diretamente as normas de construção do significado, e, por conseguinte, as relações de poder.

Como tradicionalmente os meios de comunicação de massa estão nas mãos do governo ou de empresas de mídia, as redes sociais digitais possibilitam coordenar e deliberar ações se forma ampla e desimpedida. Mesmo assim, precisam, em geral, de um espaço público que os tornem visíveis e é por isso que ocupam o espaço urbanos, se

tornando um espaço de deliberação, ou seja, um espaço político para que se realizem assembleias soberanas, de acordo com seus interesses e valores, e recuperem o direito de representação, indevidamente apropriados por instituições políticas desvirtuadas, que desnaturam a democracia representativa. (CASTELLS, 2017)

Por outro plano, o surgimento desses movimentos sociais, ocorrem também impulsionados por motivos emocionais de indignação e não surgem, somente, por conta do surgimento de um programa ou uma estratégia política, estes, podem vir posteriormente ao surgimento do movimento social.

Na verdade, as mobilizações sociais surgem quando a emoção se transforma em ação, segundo Castells (2017). Esse fator desencadeante está diretamente ligado ao sentimento de medo e de entusiasmo suportado pelos cidadãos.

Nesta linha de pensamento, o medo está ligado à ansiedade e à raiva, que leva a assunção de riscos, que estimulados pela indignação faz com que ações sejam tomadas sem temor. O entusiasmo, em contrapartida, está ligado à esperança. Dessa forma, superado o medo pelo indivíduo, o entusiasmo ativa a ação e, paralelamente, a esperança prevê os frutos de uma ação de risco.

Ressalte-se que, é imprescindível não somente em relação ao indivíduo, mas coletivamente, para o surgimento de um movimento social, uma ativação emocional, capaz de conectar os indivíduos entre si. Esse fenômeno acontece através de um processo de comunicação, que dissemine os eventos e emoções.

No contexto atual, as redes de comunicação, via internet e via comunicação sem fio, são os veículos mais rápidos, mais autônomos, interativos e autoconfiguráveis de todos os tempos. Dessa forma, quanto mais interativa e autoconfigurável a comunicação, menos se dá a necessidade de hierarquia e com isso o movimento ganha em participação. Essa caraterística acaba por tornar as mobilizações sociais, deflagradas pela Internet, uma nova espécie em seu gênero, dado que a maioria deles apresentam-se como agitações organizadas sem uma liderança definida. (CASTELLS, 2017).

É importante destacar que, a rede da Internet e as redes de telefonia celular não determinam os movimentos sociais e as formas de comportamento social. Logo, elas não são suas fontes de ocorrência (CASTELLS, 2017) e sim, apenas ferramentas, que se apresentem como formas organização e como plataforma para a autonomia cultural e política. (CASTELLS, 2017).