• Nenhum resultado encontrado

1. PROBLEMÁTICA DE INVESTIGAÇÃO

1.3 A TEMÁTICA NO CONTEXTO DA VIDA DA PESQUISADORA

Iniciei a minha trajetória no Magistério em 1981, quando optei por fazer o segundo grau Técnico com Habilitação Profissional para o Exercício do Magistério de 1ª a 4ª série, na Escola de 1º e 2º Graus Araribóia, em Pancas- ES. Nesse município o mundo educacional formal se estrutura e as maneiras de ensinar e aprender ganhava uma nova dimensão; as vivências de educanda confrontaram-se com a de educadora. Os aspectos teóricos práticos na arte de ensinar lhe pareceram distantes de uma realidade que gritava por intervenções, capazes de transformá-la nos seus aspectos sociais, políticos, econômicos e intelectuais.

A primeira experiência profissional começou numa escola rural também do município de Pancas: a Escola Pluridocente “Córrego Boa União”. Lá atuei como professora regente de classe, numa sala de 1ª série com 23 alunos, dos quais 15 eram iniciantes e 8, repetentes. A maioria dos iniciantes quase não teve contato com “o mundo letrado”. Era uma classe heterogênea, que exigia práticas pedagógicas que valorizassem o ensino diferenciado, atendendo às especificidades de cada um. Não foi fácil esse primeiro ano de trabalho. Sem o apoio pedagógico, caminhei sozinha. Tive nas colegas de trabalho a troca de

experiências e nos livros tive a fundamentação teórica para levar avante a profissão que havia abraçado.

Como todas as professoras das escolas do campo, tive que conciliar a atividade docente com a de servente e merendeira. Sem desconsiderar as precariedades que isso representa na configuração da nossa atuação profissional, foi uma experiência riquíssima que fundamentou minha prática docente e constituiu base para as demais atividades pedagógicas que exerci mais tarde.

Na posição de professora, iniciei um estudo informal da comunidade escolar, levantando aspectos culturais, históricos e econômicos, compondo os elementos básicos para a construção de uma ação docente consistente. Era preciso aproximar-me dessa comunidade e entrelaçá-los ao fazer cotidiano educacional. Enfrentei resistência dos órgãos centrais, que defendiam metodologias formais engessadas na composição de uma proposta pedagógica que não levava em consideração o ambiente dos alunos, que porventura, aprendiam e conheciam outras realidades sem identificar sua própria situação local.

Ainda em Pancas, fiz um trabalho com o conjunto da comunidade, promovendo reuniões de pais, que mais tarde transformaram-se em reuniões comunitárias regulares. Além das discussões e informações sobre a vida acadêmica dos alunos, eram discutidas as necessidades da comunidade.

Paralelamente aos quatro primeiros anos de trabalho cursei a Faculdade de Pedagogia e habilitei-me em Supervisão Escolar. Em 1987, fui convidada a assumir uma sala de aula de 1ª série, numa escola urbana. Era uma sala formada a critério da direção, separando os alunos tidos como negros, pobres, repetentes e deficientes físicos que foram avaliados como tendo dificuldades de aprendizagem. Nessa heterogeneidade pude exercer de maneira mais livre a minha capacidade de trabalhar, como se fosse uma sala multisseriada atendendo às necessidades específicas de cada criança a mim confiadas. Em 1989 prestei concurso público para a Prefeitura Municipal de Pancas para a Supervisão Escolar. Fui aprovada e assumi em fevereiro de 1990 a supervisão

das escolas mantida por essa instituição. Fiquei responsável pela modalidade de ensino de Jovens e Adultos (EJA) e pela EI de 3 a 6 anos. Na EJA, o meu trabalho de supervisão teve como foco o planejamento coletivo, o estudo em grupo, a construção de uma proposta metodológica que garantisse a alfabetização de jovens e adultos e fosse pautada nas interações entre professores, alunos e comunidade, com vistas ao fortalecimento do ambiente educacional do município.

Na EI, iniciei o trabalho em 1992 com o objetivo de elaborar as diretrizes educacionais para essa etapa de ensino que fosse capaz de romper com a visão assistencialista e de vencer com uma prática reducionista, transformando os ambientes de creche em ambientes educacionais, estimulando professores e as crianças da faixa-etária de 3 a 6 anos a desenvolver suas potencialidades. No final do ano de 1993, buscando novas experiências educacionais e em busca de melhores condições de trabalho e salário, prestei concurso público para a Supervisão Pedagógica, pleiteando uma vaga na Escola Técnica Federal do Espírito Santo – Unidade de Ensino Descentralizada de Colatina, hoje, Instituto Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo - IFES. Fui aprovada e admitida em abril de 1994. Diante de um novo cenário - O Ensino Médio Profissionalizante - o desafio era exercer a função pedagógica de forma humanista numa estrutura tecnicista, conteudista e fechada nas novas formas de organização do ensino.

Em novembro de 2004 fui convidada a assumir a Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esportes, Turismo e Lazer de Pancas, na gestão 2005 a 2008, com o desafio de modernizar essa secretaria e atender aos objetivos e metas educacionais previstas para essa gestão, em consonância com as políticas públicas em nível Estadual e Nacional. Concluída essa gestão, pensando na continuidade do trabalho, o atual Prefeito solicitou a minha permanência no município e continuei até a minha entrada no Mestrado em Educação – MINTER, convênio entre a UFES e o IFES.

Dentre as ações, durante a função de gestora municipal, propomos a implementação, em caráter experimental, das salas extensivas de EIC. Cientes

dos desafios a serem enfrentados, bem como, da necessidade de oportunizar o ingresso das crianças de 3, 4 e 5 anos na escola iniciamos essa política pública. Acreditávamos nas possibilidades de aprendizagens significativas e na oportunidade de as crianças se relacionarem com seus pares, favorecendo a socialização. Sabemos que essa iniciativa não universaliza a EI em sua abrangência, que inclui a faixa-etária de 0 a 3 anos, mas abre para novas experiências, fortalecendo o debate de ampliação ao atendimento nesta etapa de ensino enquanto política pública. Cabe ao poder público municipal ofertar uma educação de qualidade para todos, o que inclui também a educação para os filhos daqueles que residem nas áreas rurais, respeitando sua história e sua cultura. Enfim, os seus saberes/fazeres.

Apresentamos a composição da rede municipal de ensino: Nº de Estabelecimentos Estabelecimento Nível Etapa de Atendimento Nº de alunos Nº de Professores 52 Escolas do campo com

salas multisseriadas Ensino Fundamental 832 62 02 Escolas urbanas Ensino Fundamental 1268 75 04 Centros de Educação Infantil Urbanos Educação Infantil 873 35

06 Salas Extensivas Educação

Infantil 62 6

Total --- --- 3035 178 Figura 3: Composição da rede municipal de ensino. Fonte: Secretaria Municipal de Educação – Setor Inspeção e Escrituração Escolar - Ano: 2012.

Nesse quadro, nosso recorte de pesquisa envolve as 6 salas extensivas considerando sua articulação com os 4 CMEIs de vinculação. Assim, vamos pesquisar uma política de que fiz/faço parte, sendo gestora municipal de educação implicada com a causa educacional e preocupada com a inclusão de crianças no sistema educacional.

Segundo dados do Plano Municipal de Educação de Pancas, aproximadamente 42% da demanda escolar de 0 a 6 anos estão fora da escola sendo que a maioria dessas crianças residentes do meio rural tem os seus direitos negados. Assim, como forma de amenizar esse impacto e atender algumas comunidades que vinham exigir esse atendimento, com apoio do Conselho Municipal de

Educação, foi implementada, em março de 2005, uma sala extensiva, em um dos distritos do município, o que foi se ampliando nos anos seguintes chegando ao quantitativo atual de 6 salas. Essa vinculação nos acena com desafios para a metodologia da pesquisa com vistas a mobilizar nosso “estranhamento do familiar” (VELHO, 2004, p. 121-132).

Com esses desafios a mobilizar nossos estudos, partimos para conhecer o campo dos trabalhos produzidos, com vistas a compor a revisão de literatura do nosso trabalho.

Documentos relacionados