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3 A MOTIVAÇÃO

3.1 A MOTIVAÇÃO E A PSICOLOGIA

3.1.4 A teoria da autodeterminação

A teoria da autodeterminação (Self-Determination Theory – SDT) criada pelos psicólogos Deci e Ryan em 1981 com base na teoria da avaliação cognitiva (VROOM;

1964; PORTER; LAWER, 1968) é uma das teorias mais citadas nos estudos que buscam a motivação em diferentes campos de trabalho. Em estudos posteriores os autores (2000, p.54) defendem que as pessoas não têm somente diferentes quantidades, mas também diferentes tipos de motivação (orientações). Ou seja, a motivação pode não só variar em níveis (isto é, o quão motivado alguém está), mas também na orientação daquela motivação (o que gerou a ação – tipos de motivação). Assim, a motivação pode ter diferentes níveis em seu foco e em sua natureza (RYAN; DECI, 2000).

Esta teoria distingue os diferentes tipos de motivação e de acordo com as diferentes razões ou metas que originam uma ação. Deci e Ryan (1985) postulam uma distinção básica de motivação, a saber: a motivação intrínseca e a motivação extrínseca15. Basicamente, uma ação é realizada mediante a motivação intrínseca quando o “fazer algo” é internamente interessante, enquanto que uma ação é realizada mediante a motivação extrínseca quando o “fazer algo” leva a algum resultado.

Abaixo encontramos o esquema formulado por Deci e Ryan, em 1985.

15 É importante lembrar que Gardner (1959) já havia proposto a divisão da motivação em instrumental e integrativa, como veremos na seção 3.3.1.

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são intrinsecamente interessantes e que, por conseguinte, geram mais motivação. Logo, atividades que contribuem para o sentimento de competência, juntamente com a autonomia, podem aumentar a motivação intrínseca, porque permitem satisfação de necessidades psicológicas básicas, que são as necessidades inatas de competência, autonomia e parentesco. Entretanto, no ambiente sociointeracional, recompensas contingentes ao desempenho de tarefas, ameaças, prazos e pressão da concorrência diminuem a motivação intrínseca, pois as pessoas as experimentam como controladoras de seu comportamento (RYAN; DECI, 2000). Logo, podemos afirmar que a cultura também controla e modela o nível de motivação dos indivíduos. Portanto, quando o indivíduo faz escolhas e tem a oportunidade de autodireção, sua motivação intrínseca pode aumentar, pois ele obtém um maior senso de autonomia.

Deci e Ryan (2000) explicam que a maioria das atividades que o ser humano exerce não são intrinsecamente motivadas, mas são motivadas extrinsecamente. A motivação extrínseca diz respeito a uma atividade realizada para alcançar um fim, seja este uma nota, um salário melhor, evitar brigas, o reconhecimento de alguém, ou um reconhecimento de si mesmo. Sendo assim, os autores propõem que a motivação extrínseca pode variar em graus, relacionados com um sentimento de escolha ou uma conformidade ao realizar uma atividade. A SDT propõe quatro tipos de motivação externa, que refletem diferentes graus de autonomia e autodeterminação. Estas serão explicados abaixo.

A Regulação externa refere-se a comportamentos realizados para satisfazer demandas externas ou condições de recompensas impostas, e é totalmente externa. Este tipo de motivação extrínseca é o que geralmente é contrastado com a motivação intrínseca, em comportamentos operantes17, como os elencados por Skinner (1957). A Regulação introjetada reporta ao comportamento com sensação de pressão para evitar culpas ou ansiedade, buscando focar na aprovação dos outros e de si mesmo. Desta forma, ela é relativamente externa, pois está relacionada com a autoestima. A Regulação de identificação pertence à identificação da ação com uma importância pessoal, com reconhecimento do valor da ação para si, por isso é relativamente interna.

Por fim, a Regulação integrada trata da forma mais autônoma de motivação extrínseca.

A integração ocorre quando a regulação identificada é assimilada ao “eu”, ou seja,

17 Comportamentos aprendidos entre nós e o ambiente, sendo respostas aos estímulos, positivos ou negativos, que recebemos do mesmo.

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novos valores e necessidades entram em jogo. A motivação extrínseca integrada é bastante parecida com a motivação intrínseca, mas ainda é extrínseca porque o comportamento é feito por razões instrumentais, com relação a algum resultado que é separado do comportamento, mesmo que seja volitivo e valorizado pelo “eu” (RYAN;

DECI, 2000, p. 62). Os autores propõem, por fim, a Amotivação, que é um estado sem intenção de ação, ou seja, não há intenção e sentido de causalidade pessoal no comportamento. Uma pessoa amotivada sente-se incompetente para realizar a ação, não acredita na produção de resultados desejados ao realizá-la e não encontra relevância na ação a ser realizada.

Por conseguinte, os autores concluem sua teoria mostrando que os diferentes tipos de motivação propostos visam à autonomia e à determinação na realização de ações. Deci e Ryan (2000) discutem que a principal razão para as pessoas estarem dispostas a realizar uma ação é a valorização, o sentimento de família ou grupo em uma sociedade. Assim, eles sugerem que para facilitar a interiorização é preciso proporcionar um sentimento de pertença com pessoas, grupos, culturas que disseminam uma meta, ou seja, ter a sensação de afinidade (sense of relatedness), como sugere a SDT. Ou seja, as relações interpessoais podem auxiliar na integração do motivo da ação com o “eu”, podendo, posteriormente, tornar-se até uma motivação intrínseca. Portanto, para os autores, “[...] as condições contextuais sociais que sustentam os sentimentos de competência, autonomia e parentesco são a base para manter uma motivação intrínseca e apresentar maior autodeterminação em relação à motivação extrínseca”18. (Ibidem, p.

65, tradução nossa). No ensino, a facilitação de uma aprendizagem mais autodeterminada remete a condições em sala de aula que permitam a satisfação dos três elementos humanos básicos necessários, ou seja, sentir-se conectado, eficaz e agente ao ser exposto a novas ideias, para conseguir exercer novas habilidades.