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A Teoria da variação e mudança: conceitos básicos

Capítulo 3: Pressupostos Teóricos e Procedimentos Metodológicos

3.1. A Teoria da variação e mudança: conceitos básicos

O uso das formas do presente do subjuntivo na fala de Salvador-Ba é analisado no presente trabalho à luz dos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Quantitativa Laboviana. Entendendo a língua como um fato social, Labov foi o pioneiro a desenvolver um estudo relacionando a língua falada a fatores sociais. Seu primeiro estudo de cunho variacionista foi sobre a variação entre ditongos no inglês falado na ilha de Martha’s Vineyard, no Estado de Massachustetts em 1963. A essa pesquisa sucederam os estudos sobre a estratificação social do /r/ na comunidade de fala de Nova Iorque e também sobre o inglês falado por negros de Harlem, isto é, a língua do gueto dessa comunidade.

De acordo com o referido modelo teórico, todo sistema linguístico se caracteriza pela sua sistematicidade e heterogeneidade e, por isso, está suscetível a possíveis variações e mudanças ao longo do tempo. A heterogeneidade linguística reflete a variabilidade social e a variação no uso das formas linguísticas associa-se à diversidade dos grupos sociais e à sensibilidade que esses grupos mantêm em termos de uma ou mais normas de prestígio. (MONTEIRO, 2002).

A variação linguística, objeto de estudo dessa teoria, não se desenvolve aleatoriamente sendo, portanto, condicionada por fatores estruturais (ou internos) ao sistema linguístico, atrelados aos níveis fonológico, morfológico, sintático e semântico e, também, por fatores não estruturais (ou externos) à língua, tais como faixa etária, sexo, escolaridade, posição social, etc. Consoante Labov (1972), a variação é consequência do fato de a

linguagem nunca ser idêntica em suas formas através da multiplicidade do discurso. A ocorrência de uma determinada variação pode se caracterizar como uma mudança em progresso ou como uma variável estável.

Uma variável linguística consiste em duas ou mais formas de se realizar um conteúdo informativo num mesmo contexto, então denominadas de variantes linguísticas. Quando se mostra como uma variável estável, a variação pode se manter até mesmo durante séculos. Para se analisar o comportamento de uma variável linguística, faz-se necessário estabelecer o número exato de variantes que a compõem e os contextos em que elas se encontram, buscando os índices quantitativos que permitam mediar os valores das variantes.

Uma mudança linguística resulta de um processo de variação; entretanto, nem todo processo de variação necessariamente pode desencadeá-la. A concretização de uma mudança não se desenvolve por uma simples substituição discreta de um elemento por outro, mas por um processo histórico pressupondo sempre um quadro sincrônico de variação. Nesse ínterim, as variantes passam por fase de concorrência para, finalmente, de sobreposição de uma sobre a outra. A mudança é um fenômeno imprevisível, embora haja princípios que a regulem: (i) uniformidade em que prediz que as mudanças remotas podem ser compreendidas mediante o estudo daquelas que estão ocorrendo atualmente, visto que o mecanismo é sempre o mesmo; (ii) mecanicidade, que prediz que a seleção de variantes não é determinada pela necessidade de se preservar informação, mas é influenciada pela tendência a manter um paralelo de estrutura e articulação. (MONTEIRO, 2002).

Para Labov (1972 e 2008), as forças sociais que influem nas formas linguísticas são de duas espécies: as pressões que “vêm de cima” e as que “vêm de baixo”. Estas atuam abaixo do nível da capacidade consciente e exercem influência em todo sistema linguístico como resposta a motivações sociais relativamente obscuras que alcançaram um grande sentido

para a evolução geral das línguas; aquelas representam um processo ostensivo de correção social aplicado às formas linguísticas individuais. Existem formas alternantes que perduram por longo tempo sem que se possa prever se uma delas desaparecerá ou se será transformada. Em vista disso, uma mudança pode ser estudada em tempo aparente, em que se considera o padrão de distribuição do comportamento linguístico através de vários grupos etários num dado momento do tempo, ou pode ser estudada em tempo real, cujo desenvolvimento relaciona-se ao aspecto diacrônico da língua. Este tipo de estudo possibilita evidenciar com mais precisão se uma variante se caracteriza como uma mudança em progresso, ou não.

Labov propõe que para se desenvolver uma abordagem utilizando o constructo do tempo real pode se valer da amostra para estudos do tipo painel e do tipo de tendência. O estudo do tipo painel consiste na comparação de amostras da fala de um mesmo falante em diferentes pontos do tempo. Esse estudo possibilita perceber a mudança, ou a estabilidade, no comportamento linguístico do indivíduo, auxiliando o estudo de uma determinada mudança nas gerações e na comunidade. O estudo do tipo de tendência consiste em comparar amostras aleatórias de uma mesma comunidade de fala, considerando extratos sociais em dois momentos do tempo. Com esse tipo de estudo, torna-se possível deduzir a direcionalidade do sistema na comunidade linguística, bem como verificar em que caminhos a mudança configurada em grupos sociais pode refletir na propagação, na estabilidade ou no recuo do processo de mudança. (DUARTE, 2003).

O estudo de mudança em tempo aparente, para Monteiro (2000), refere-se:

ao padrão de distribuição do comportamento linguístico através dos vários

grupos etários num determinado momento do tempo. Ou seja, se o uso da variante for mais freqüente entre os jovens, decrescendo em relação à idade dos grupos mais idosos, tudo indica que se trata de uma situação de mudança em progresso. (MONTEIRO, 2000, p. 132).

O presente do subjuntivo na fala de soteropolitanos, por exemplo, o qual se constitui o objeto de estudo da pesquisa que ora se desenvolve, configura uma variável linguística que comporta as seguintes variantes: a presença das formas do presente do subjuntivo em contexto de subjuntivo; a ausência das formas do presente do subjuntivo em contexto de subjuntivo.

A Teoria da Variação objetiva interpretar o uso de formas variantes em uma comunidade de fala, condicionado por fatores linguísticos e sociais, fazendo uso dos dados coletados nesta comunidade. Na pesquisa em questão, assume-se essa teoria com intuito de analisar o comportamento da variável linguística na comunidade urbana de Salvador \BA.

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