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Abric (1998) autor da Teoria Estrutural aponta a organização das Representações Sociais como uma característica, na qual estas Representações se organizam em torno de um núcleo central que dá significado à representação. A abordagem contribui massivamente no esclarecimento de lógicas sociocognitivas implícitas nas organizações gerais das representações sociais (RATEAUR, 2012). Esta ocorrência será aprofundada no decorrer deste trabalho.

A base da teoria considera que a imagem completa dos elementos cognitivos que compõem uma representação determinados elementos desempenham um papel diferente dos outros (RATEAUR, 2012). De acordo com Abric (1998), este núcleo central é determinado

pela natureza do objeto representado e pelas relações que o grupo mantém com este objeto. Estas relações são definidas pelas crenças, sistemas de valores e normas sociais que compõem o meio ambiente ideológico do momento e do grupo.

Como característica, o núcleo central é resistente às mudanças e é o elemento mais estável da representação. Toda e qualquer modificação no núcleo acarreta uma transformação completa da representação. Os elementos que estão presentes no núcleo possuem, antes de tudo, uma dimensão qualitativa e estão ali presentes por sua capacidade de dar significado à representação (ABRIC, 1998).

Ainda de acordo com Abric (1998, p.31) estão em torno do núcleo central os elementos periféricos que “[...] constituem o essencial do conteúdo da representação: seus componentes mais acessíveis, mais vivos e mais concretos”. Para o autor, os elementos periféricos possuem três funções: a função de concretização, pois os elementos periféricos resultam da ancoragem da representação, constituindo a interface entre o núcleo central e a situação na qual a representação é colocada em funcionamento; a função de regulação, pois tem um papel importante na adaptação das representações às evoluções, desta forma, as novas informações são alocadas nesta periferia e, por fim, a função de defesa, que se refere às transformações das representações, uma vez que, o núcleo central é muito resistente. Esta função significa, portanto, a tolerância das contradições (ABRIC, 1998).

As representações sociais funcionam por meio do núcleo central e do Sistema Periférico, determinando aquilo que Abric (1998) define como duplo sistema. Este duplo sistema permite compreender características contraditórias como o fato de as representações serem, ao mesmo tempo, estáveis e móveis, rígidas e flexíveis, consensuais e marcadas por experiências individuais. Nas palavras do autor o núcleo central

é a base comum propriamente social e coletiva que define a homogeneidade de um grupo através dos comportamentos individualizados que podem parecer contraditórios [...] o sistema periférico permite uma adaptação, uma diferenciação em função do vivido, uma integração das experiências cotidianas (ABRIC, 1998, p.33).

O Sistema Periférico protege o núcleo central e permite a ancoragem da realidade, sendo que os dois são importantes e não sobressaem um ao outro (ABRIC,1998). “Se o núcleo central pode ser entendido como a parte abstrata, o sistema periférico deve ser entendido como sua parte concreta e operacional” (RATEAUR, 2012).

O Sistema Periférico é consonante com as contingências cotidianas e possibilita que uma representação seja adaptada a vários contextos sociais. No núcleo central é encontrado o

consenso das representações, constituindo sua base comum partilhada comumente. É graças a este núcleo que os membros de um grupo reconhecem um ao outro e diferenciar-se de grupos vizinhos e isto contribui em grande parte para a identidade social (RATEAUR, 2012).

A conceituação de Identidade Social foi definida por Tajfel (1981) na Teoria da Identidade Social, que pauta princípios para explicar as relações intergrupais dos indivíduos. Como identidade social, consideramos aquela parte do autoconceito do indivíduo que se deriva do reconhecimento de filiação a um (ou vários) grupo social, juntamente com o significado emocional e de valor ligado àquela filiação (TAJFEL, 1981 apud BRAGA; CAMPOS; TUZZO, 2012). Assim, entendemos que a identidade social é também pertencente ao processo em que se estruturam as Representações Sociais, pois em detrimento destas, os indivíduos se reconhecem como parte de um grupo e compartilham suas representações.

O que o autor defende é que, ao participar de determinado grupo o indivíduo detém sua identidade social. A teoria esta dividida em três conceitos: o primeiro conceito é o de

categorização do individuo como membro de um grupo é uma condição preliminar dos

fenômenos sociais de etnocentrismo. A identidade social pode ser entendida como o “nós” e constitui-se em comparação em diferenciação com os outros (definido como exogrupo); o segundo conceito é o de identidade pessoal, constituída pelas referidas imagens de si mesmo e se posicionam em um contínuo no qual em um extremo estão as características individuais (eu) e, na outra extremidade, as características sociais e categoriais (nós e eles); o terceiro e último conceito é o da comparação, através da qual as pessoas avaliam se os seus comportamentos e atitudes são socialmente aceitáveis (se estão dentro do "normal" e das margens ou limites socialmente definidos), isto é o que permitirá uma identidade social positiva (TAJFEL, 1981 apud CONSTANTINO, online).

Este processo também leva as considerações que envolvem a mudança social e a mobilidade social. A mudança social pode ser compreendida por um movimento social que representa um esforço de muitas pessoas para resolver coletivamente um problema sentido como comum. O comportamento coletivo surge quando a identidade social está ameaçada e o indivíduo se empenha em ações de grupo para alterar as relações intergrupais, tendo como principal objetivo a promoção do “nós”. A identidade torna positiva porque o estatuto do grupo melhora. Já a mobilidade social é o comportamento individual que resulta da identidade pessoal estar em jogo e de o indivíduo se empenhar em ações pessoais de promoção de si mesmo (TAJFEL, 1981 apud CONSTANTINO, online).

Desta maneira podemos entender que estas características se associam à própria função do sistema periférico, levando em conta sua operacionalidade e adaptação. Assim, os

indivíduos através do sistema periférico concretizam as ações de mobilidade e mudança social, pois é este sistema quem permite tamanha flexibilidade. A categorização se enquadra pela ancoragem, ao classificar e dar nome aos grupos, na diferenciação uns dos outro, concretizando e dando lógica a uma representação.

A mudança social demonstra também uma adaptação às evoluções da sociedade e estas informações referentes ao que é novo são dispostas no Sistema Periférico, pois estes permitem uma contemporização às transformações da sociedade.

O reconhecimento dos grupos sociais permite a efetivação da funcionalidade do núcleo central e a adaptação às condições sociais pode demonstrar o funcionamento do Sistema Periférico como regente de uma função que adapta os indivíduos na sociedade. Abric (2005), também desenvolveu seus estudos em relação, a Zona Muda das representações sociais, que “[...] faz parte da consciência dos indivíduos, ela é conhecida por eles, contudo ela não pode ser expressada, porque o indivíduo ou o grupo não quer expressá-la pública ou explicitamente” (ABRIC, 2005, p. 22).

Como aponta Menin (2006), determinados elementos das representações são “mascarados” e para conseguir revelá-los são necessários métodos específicos de investigação, pois

[...] para certos objetos, em certos contextos existe uma zona muda de representação social. Esta zona muda é composta de elementos da representação que não são verbalizáveis pelos sujeitos pelos métodos clássicos de coleta de dados (MENIN, 2006, p.44 apud ABRIC, 2003, p.61).

Neste sentido Abric (1998), aponta que os elementos do núcleo central podem ser normativos ou funcionais. A dimensão funcional é atribuída aos elementos facilmente percebidos para a eficácia da ação, já a dimensão normativa é suscetível de privilegiar os julgamentos, estereótipos, opiniões admitidas pelo sujeito ou grupo social que ele se insere (MENIN, 2007 apud ABRIC, 2003). Os elementos que estão na Zona Muda são normativos, por estarem ligados a avaliações e valores, que aparecem como ilegítimos para o grupo cujo indivíduo pertence.

Por este aspecto, encontramos na Zona Muda também a afirmação de que os elementos das representações presentes aqui são contra-normativos, por irem contra valores morais de um determinado grupo (MENIN, 2006 apud GUIMELLI; DESCHAMP, 2000).

As relações entre os grupos mediam-se e definem-se pelas características da Identidade Social, pois assim as pessoas identificam seu pertencimento dentro da cadeia social. Entretanto, podemos pensar também que estes elementos encontrados na Zona Muda, e

dificilmente expressados pelos indivíduos, são ocultados pelos indivíduos para garantir sua sobrevivência como parte dos grupos. Assim, relacionamos então a própria Zona Muda com a definição do consenso (DOISE; MOSCOVICI, 1991), pois a chegada de um grupo a um consenso pode mostrar também que o pensamento individual possa ser suprimido.

Em relação às celebridades, podem existir inúmeras representações sociais, que nascem e evoluem através de um processo participativo com os meios de comunicação. Tais representações podem evoluir e envolver as questões referentes à identidade, pois se as pessoas mudam, há possibilidade de transformar suas opiniões. As celebridades possuem exposição midiática, logo, a mídia pode participar do processo de formação de suas representações. Podemos pensar que, se uma pessoa é famosa as pessoas falam diretamente o que pensam sobre ela, ou talvez omitam (Zona Muda) seus pensamentos.

Todas estas relações e condições podem e são mediadas pelos fenômenos da comunicação midiática, pois estes possuem respaldo, alcance social e quiçá permitem a reconhecimento dos grupos. As interpretações dos conteúdos midiáticos revelam uma maneira de pensar em como as representações sociais existem socialmente e como se deixam transparecer, ou não, pelos indivíduos. Além disso, a comunicação midiática participa efetivamente na circulação dos sentidos sociais em uma perspectiva interacional, cujos efeitos são mediados pelas representações sociais dos indivíduos.

2.3 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E OS FENÔMENOS DA COMUNICAÇÃO